Wednesday, 25 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Projeto amplia controle sobre atuação da imprensa

Leia abaixo os textos desta terça-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Terça-feira, 11 de julho de 2006


ZIDANE
Luiz Fernando Vianna


O homem e a fera


‘RIO DE JANEIRO – A Copa do Mundo já foi tarde, e chega de falar de futebol. Mas a imagem de Zidane cabeceando o peito do grandalhão italiano tem uma força dramática que transcende em muito um jogo. Como escreveu Tostão ontem, na Folha, o gesto ‘simboliza bem a ambivalência e a estranheza do ser humano diante do mundo’.


Fiquei impressionado com a revolta de alguns colunistas contra Zidane. Desde a primeira vez em que a imagem foi mostrada, não consegui sentir mais do que espanto e compaixão. Não é que ele não merecesse ser expulso, pois não estamos falando de futebol. O espantoso é como um homem brilhante em seu ofício, nos últimos minutos de sua carreira, se vira e investe como um touro contra outro homem, criando uma cena entre o patético e o trágico. Naqueles segundos em que ouviu barbaridades de Materazzi (não faço leitura labial, mas não me pareceram versos de Dante o que dizia), Zidane ultrapassou a linha fina que separa homens e bestas. Reagiu não como uma pessoa ofendida, mas como uma fera ferida. É estranho que, tendo distanciamento para julgá-lo, muita gente se valha da mesma agressividade.


Na semana passada, em uma noite do Leblon, um homem mostrava a foto de seu filho distante. Devia parecer louco aos olhos dos outros. Mas como ser sempre cordato e ‘animal racional’ quando não se tem o filho por perto? A besta-fera fica ali à espreita, do outro lado da linha. É, a mui grosso modo, o que diferencia traços neuróticos de psicóticos. Alguém como Zidane ou o órfão às avessas do Leblon pode sentir tanta dor em certos momentos que se torne incapaz de contê-la. Já um psicopata, como mostra a ‘Superinteressante’ deste mês, é capaz de destruir a vida de várias pessoas, inclusive crianças, sem derramar uma gota de remorso. Quem é o homem e quem é a fera?’


 


França perdoa Zidane, mas mídia não


Clóvis Rossi


‘O meia Zinedine Zidane, que ao mesmo tempo foi o melhor jogador do Mundial da Alemanha, segundo a Fifa, e o vilão que deu uma cabeçada no italiano Materazzi, ganhou o elogio natural do presidente Jacques Chirac e o perdão do torcedor número 1 da França, que ontem recebeu os atletas no Palácio dos Campos Elíseos.


Chirac transmitiu ao capitão francês ‘a admiração e o afeto’ de ‘todo o país’, com superlativos que se tornaram uma constante nos últimos dias, até a expulsão a dez minutos do fim da prorrogação: ‘Você é um virtuoso, um gênio do futebol mundial, homem de coração, de envolvimento, de convicção. É por isso que a França o admira e o ama’.


Já a mídia francesa, no dia seguinte à derrota, foi menos apoteótica. ‘Le Figaro’, por exemplo, publica uma foto de Zidane de costas, ocupando três quartos da capa, com uma legenda que termina afirmando: ‘Uma triste final’. ‘Le Monde’ dedica seu editorial à derrota, no qual afirma que ‘de um golpe, um ícone se quebra’.


O público preferiu a versão presidencial à da mídia: esperou sob um sol inclemente na avenida dos Campos Elíseos que os jogadores se apresentassem à sacada do luxuoso Hotel Crillon, e só teve aplausos para todos, Zidane incluído. O único ausente foi o goleiro Barthez, que alegou motivos de família.


Em meio aos elogios de praxe, que já haviam aparecido na véspera, quando outra multidão se concentrou na avenida para festejar o vice-campeonato, o assunto predominante era a especulação em torno dos motivos que teriam levado Zidane à violenta reação que causou sua expulsão de campo.


Por enquanto, tudo o que há são especulações, já que o agente do atleta, Alain Miggliaccio, jogou para ‘dentro em breve’ uma palavra do craque contando as razões de seu ato.


Sempre segundo Miggliaccio, ‘Materazzi disse alguma coisa muito grave, mas ele [Zidane] não me disse o que foi’.


O agente acrescentou que Zidane ‘é um homem que normalmente deixa passar tais coisas, mas, no domingo à noite, alguma coisa explodiu nele’.


O que explodiu é tema para um quadro publicado pelo ‘Le Monde’, com as especulações:


1) Insultos racistas. É a especulação favorita. Materazzi teria chamado Zidane de ‘terrorista sujo’, o que o italiano desmentiu em Roma, alegando que, ‘ignorante’ como diz ser, não sabe o que é terrorista sujo.


2) Insultos contra a família. Bernard Tapie, ex-dirigente de clube, diz que só xingar a mãe poderia tirar Zidane do sério. Materazzi teria chamado a irmã de Zidane de prostituta, antes de insultar o próprio meia.


3) Doping. O jornal britânico ‘The Independent’ afirma que Materazzi teria acusado Zidane de ter se envolvido em um escândalo de uso de esteróides quando atuava pela Juventus italiana, no fim dos anos 90.’


 



CAMPANHA
Folha de S. Paulo


Presidente diz ao TSE que não fez propaganda ilegal


‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Educação, Fernando Haddad, apresentaram ontem suas defesas ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em relação a acusação do PSDB e do PFL de que eles fizeram propaganda eleitoral antecipada.


No dia 2 de julho, foi ao ar na rádio CBN o programa ‘Educa Brasil’, produzido pelo MEC. A lei proíbe a publicidade institucional nos três meses que antecedem as eleições.


A defesa de Lula alega que ele não era candidato quando o fato ocorreu, já que seu registro de candidatura só foi entregue ao TSE em 5 de julho.


Também diz que o presidente não tem responsabilidade sobre a transmissão do programa e que este não teria conteúdo eleitoral.


Já a defesa do ministro diz que ele não autorizou a veiculação do programa e que não se trata de publicidade institucional, mas sim de programa de conteúdo jornalístico, que teria função de utilidade pública.


Não houve julgamento ainda da representação. Nela, PSDB e PFL pedem que seja aplicada multa a Lula e a Haddad, além da cassação do registro da candidatura à reeleição do presidente da República.’


 



Jefferson substitui filha em programa na TV e usa espaço para atacar Lula


‘Mesmo sem poder disputar as eleições, o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), cassado em setembro de 2005, terá três minutos na TV de segunda a sexta. Ele começou ontem a apresentar o programa ‘Terceira Idade’ -exibido no Rio, no canal aberto CNT- em substituição à sua filha, a vereadora Cristiane Brasil, candidata a deputada federal.


Realizado por uma produtora independente, o programa vai ao ar às 12h27, em horário alugado pela emissora. O de ontem resumiu-se a uma fala sem cortes de Jefferson, que usou a tribuna eletrônica para atacar o governo Lula.


O alvo era o veto do presidente à extensão do reajuste de 16,67% para aposentados e pensionistas que ganham mais de um salário mínimo.


‘Os aposentados que se revoltarem e se indignarem mandem suas reclamações para cá. Vamos fazer um grande barulho’, disse ele.


Em duas entrevistas à Folha em 2005, Jefferson detonou a crise do mensalão. Passou a ser inimigo do governo federal, de quem foi aliado nos dois primeiros anos.


Inelegível por causa da cassação, quer voltar a ter voz política elegendo sua filha para a Câmara. Ele não citou o nome de Cristiane Brasil, mas fez um discurso voltado aos eleitores mais velhos, público-alvo do programa.


A cassação interrompeu o seu sexto mandato de deputado federal na Câmara.’


 




TODA MÍDIA
Nelson de Sá


As palavras


‘Por e-mail ou por blog, no Brasil e na Europa, a segunda-feira na internet foi de distribuição viral do jogo on-line que permite ao internauta dar cabeçadas, como o francês Zidane, no italiano Materazzi. A história surgiu ou pelo menos foi amplificada no site do ‘Corriede della Sera’.


Ao mesmo tempo, da home do ‘New York Times’ ao ‘Jornal Nacional’, a pergunta era uma só, ‘O que disse Materazzi para Zidane ficar tão irritado?’.


Foi manchete na Folha Online e outros sites:


– Zidane diz que irá revelar ‘as palavras de Materazzi’.


O que estimulou tal repercussão foi a suposta ofensa política, especulação atribuída originalmente ao ‘Guardian’, que registrou em sua reportagem de ontem:


– Houve sugestões no domingo de que Materazzi chamou Zidane de ‘terrorista’.


O italiano, ontem em despacho da agência Ansa, negou.


Mas o agente do francês de família argelina Zidane espalhou, por BBC e outros, que a ofensa foi ‘muito séria’.


A Globo, ainda no ‘Fantástico’, correu com aquilo que a própria emissora descreve como mais entretenimento que jornalismo. De Pedro Bial:


– A nossa equipe muito especial de investigadores trabalhou rápido para decifar o que disse Materazzi.


Locução de Zeca Camargo, sobre imagens do jogo:


– O italiano agarra Zidane. O francês reclama e sai andando. Mas Materazzi continua e provoca. Xinga a irmã de Zidane de prostituta. Termina usando outro palavrão pesado, dirigido a Zidane. O francês, enfurecido, reage.


Pela Globo, nada de terror.


Nas enquetes, por toda parte, apoio a Zidane.


Até o estreante Blog do Emir, do cientista político e professor da Uerj Emir Sader, saiu em apoio a Zidane e seu prêmio de melhor jogador.


Citou o ex-treinador da seleção João Saldanha, que reagiu ao ser questionado sobre um meia que convocou:


– Não quero jogador para casar com a minha filha.


A VELHA MÍDIA VENCEU


Do ‘New York Times’, ontem em título:


– A velha mídia, não a nova, venceu a Copa do Mundo.


Segundo a reportagem, que ouviu publicitários, ‘num tempo em que muitos dão as costas à mídia tradicional [mainstream], a Copa demonstra o persistente poder dos eventos esportivos para reunir as audiências em massa que os anunciantes tanto desejam’. Aliás, ‘o sucesso da Velha Mídia não se limitou à TV’ e chegou aos jornais.


FIM DO RECREIO


No fim de semana que encerrou a Copa, Chico Buarque foi tema de longo perfil no francês ‘Le Monde’ e espalhou que vai votar em Lula de novo. Questionou a ‘disparada’ de ataques a Lula, por sua ‘classe social’:


– Ele foi tratado de ignorante, de analfabeto, como se o recreio tivesse acabado!


O PONTEIRO


O blog de Emir Sader, até agora a reação mais articulada a Cesar Maia e outros, entrou no ar saudando que ‘O ponteiro da desigualdade se move pela primeira vez no Brasil’.


Era referência às manchetes da Folha e de ‘O Globo’ sobre os milhões que saíram das classes D/E para a classe média. Mas Sader diz que os levantamentos deixam uma questão ‘para o governo’:


– Esgotou-se a forma de melhoria social sem mudar a política de emprego (que na situação atual gera emprego formal, mas de baixo nível).


DESGASTE E DESGASTE


O veto de Lula ao reajuste dos aposentados foi manchete da Folha Online ao ‘Jornal Nacional’ -este com o registro, antes de qualquer coisa, na escalada, do prejuízo que causaria aos cofres públicos.


Mas não deve parar aí. Nos ‘+ lidos’ da Folha Online, ‘Oposição prepara novo desgaste para o presidente’.


Do outro lado, o blog de Josias de Souza e a rádio Jovem Pan divulgaram no domingo, mas só foi ecoar ontem na televisão, ‘Jornal da Record’ à frente, o ameaçador depoimento de Marcola, do PCC.’


 




COPA 2006
Copa foi sucesso para mídia convencional


Eric Pfaner


‘DO ‘NEW YORK TIMES’ – No campo de jogo, a Copa do Mundo de futebol produziu apenas um vencedor. Na arena do marketing, no entanto, o torneio criou muitas oportunidades de glória, bem como algumas decepções. O surpreendente desempenho da França provou que jogadores de futebol ‘velhos’ como Zinedine Zidane, 34, ainda têm capacidade de manter um padrão superior de qualidade. Em um momento no qual muitos dos consumidores vêm se afastando das formas convencionais de mídia, a Copa do Mundo demonstra o poder que os eventos esportivos ao vivo têm de atrair as audiências de massa pelas quais os anunciantes anseiam. Kevin Alavy, analista da agência de compra de mídia Initiative, de Londres, disse que, até as semifinais, as audiências de televisão subiram em média 15% em 49 dos principais mercados, comparadas aos números da Copa do Mundo mais recente, em 2002. Um dos motivos para a ascensão foi o fuso horário mais conveniente para os torcedores da Europa, Oriente Médio, África e América. A Copa do Mundo de 2002 foi disputada na Coréia do Sul e no Japão. Comparada à Copa do Mundo de 1998, na França, disputada no mesmo fuso horário que o torneio deste ano, a audiência média caiu em entre 3% e 5%, disse Alavy. Ainda assim, considerado o fato de que o número de canais de televisão disponíveis em muitos domicílios da Europa se multiplicou desde então, ‘a Copa do Mundo se saiu melhor do que boa parte dos outros tipos de programa, no que tange à sua capacidade de sobreviver à fragmentação’, ele afirmou. Os sucessos da mídia tradicional não se limitam à televisão. De acordo com o jornal financeiro francês ‘La Tribune’, o diário esportivo ‘L’Équipe’ teve esgotada uma tiragem de 900 mil cópias no dia seguinte à vitória da França sobre o Brasil nas quartas-de-final, três vezes mais do que sua média diária.


Copa no celular


Embora a maioria das pessoas ainda opte por assistir futebol pela televisão, seja na sala de estar, seja em bares, o torneio de 2006 foi a primeira Copa do Mundo na qual havia certo número de alternativas realistas disponíveis. Em vários países, os jogos foram transmitidos ao vivo pela internet. Em outros países, era possível assistir a jogos ou aos melhores momentos das partidas em celulares. Ainda que as informações sobre o uso de novas mídias sejam fragmentadas, ao que parece elas desempenharam basicamente um papel suplementar, permitindo que operadores financeiros ficassem de olho em seus times enquanto monitoravam os preços das ações em outra janela de suas máquinas, por exemplo. A televisão móvel conquistou alguns avanços na Austrália, onde os horários das partidas ao vivo não eram convenientes para a maioria dos telespectadores. Amanda Hutton, da Hutchison 3, operadora de telefonia móvel australiana, disse que os assinantes da empresa podiam se conectar para obter destaques das partidas em seus celulares ou assistir a jogos inteiros e que 300 mil usuários o fizeram nas duas primeiras semanas da Copa, antes da eliminação da Austrália. ‘Talvez nossos usuários simplesmente tivessem preguiça demais para sair da cama na madrugada e assistir ao jogo em suas TVs’, ela disse.


Jogadores


O jogador de futebol mais bem-sucedido do mundo em termos de contratos publicitários, David Beckham, não deixará a arena comercial no futuro próximo, apesar de sua decisão de renunciar ao posto de capitão da seleção inglesa depois do desempenho decepcionante do time na Copa do Mundo. Beckham recentemente assinou um contrato de três anos para representar a Motorola, e continua a ter presença proeminente em anúncios da Pepsi, Gillette e outras marcas. Mas os analistas acreditam que os anunciantes terão de aproveitar mais a imagem de Beckham como celebridade do que sua imagem como jogador de futebol, daqui por diante. ‘Isso não quer dizer que ele desaparecerá, mas com certeza sua imagem sofreu abalo’, disse Richard Pinder, presidente da divisão européia, africana e do Oriente Médio da agência de publicidade Leo Burnett. A marca Nike também perdeu certo ímpeto de marketing ao atrelar sua sorte à do Brasil. No começo do torneio, a empresa montou sua campanha de publicidade para a Copa do Mundo em torno do lema ‘joga bonito’, referência ao suposto futebol-arte da seleção brasileira, patrocinada pelo grupo. O Brasil, campeão da Copa do Mundo passada e favorito à vitória nas semanas que antecederam o torneio, jogou de forma medíocre e terminou eliminado nas quartas-de-final. Outra seleção patrocinada pela Nike, Portugal, perdeu nas semifinais. Isso transformou a final em batalha entre Puma e Adidas, ou Itália e França. A Adidas atingiu suas metas como fornecedora de bolas oficiais da Copa do Mundo -a empresa previa vender 15 milhões de unidades. E seu patrocínio à seleção da Alemanha foi igualmente frutífero, dado o desempenho bom do time, que foi às semifinais. A Adidas disse que as vendas de camisas relacionadas à seleção alemã foram duas vezes maiores que o esperado. Para a Puma, o patrocínio às cinco seleções africanas que disputaram a Copa do Mundo parece ser um investimento no futuro, já que o torneio de 2010 acontecerá na África do Sul.


Tradução de PAULO MIGLIACCI’


 




TV DIGITAL
Maria Inês Dolci


Avanço ou atraso digital?


‘VOCÊ SABERIA dizer, agora, de bate pronto, se os telespectadores ganham ou perdem com a opção pelo padrão japonês de TV digital? Provavelmente, não. E esse, acima de qualquer outro argumento, é o principal motivo pelo qual estamos com um pé atrás em relação à escolha do governo brasileiro descartando outras três opções: tecnologia própria, norte-americana ou européia.


Ao estilo da literatura policial, há outro aspecto que incomoda: as discussões sobre o modelo ideal de TV digital para o Brasil vêm se arrastando há vários anos. Por que decidir, rapidamente, às vésperas de uma eleição presidencial? E -mais uma pulga atrás da orelha- justamente pelo modelo que mais agrada às redes de TV, que, ninguém pode negar, têm um papel primordial em eleições de âmbito nacional?


Há argumentos técnicos de quem ficou satisfeito ou insatisfeito com a opção governamental. Porém, quando sabemos que o Brasil tem excelentes pesquisadores em telecomunicações, lembramo-nos do saudoso padre Roberto Landell de Moura. Recentemente, foi lançado o livro do jornalista Hamilton Almeida, que pesquisa, há 30 anos, a história do injustiçado padre-cientista. Nele, fica comprovado que o Brasil poderia ser hoje a principal potência mundial em telecomunicações se tivesse compreendido, respeitado e apoiado as pesquisas de Landell. Perdeu o bonde da história e importou tecnologia de radiodifusão inferior à desenvolvida no país, sem recursos nem apoio, por Landell.


O que o telespectador brasileiro ganha com a TV digital japonesa? Ainda não estou convencida de que haja vantagens tão evidentes.


Embora o ministro das Comunicações, Hélio Costa, argumente sempre que houve inúmeras reuniões para debater o padrão de TV digital, o lado do consumidor não parece ter sido tão debatido assim.


Para ficar na área de comunicações, parece um pouco a questão do telefone pré-pago, pretensamente popular. Esse telefone não terá franquia de pulsos, como no plano básico de telefonia fixa. E, embora pague menos pela assinatura mensal, sobrará para o consumidor uma taxa de atendimento, sem direito às tarifas reduzidas em horários especiais.


Já a TV digital obrigará os telespectadores brasileiros a adquirir um conversor se quiserem usar o mesmo aparelho que têm em casa. Uma pergunta chata: por que não avisaram isso antes, por exemplo, de muitas famílias investirem em um televisor de melhor qualidade (mais caro) para assistir à Copa do Mundo? Talvez preferissem esperar mais um pouco e comprar um aparelho já adaptado ao padrão de TV digital.


O que se sobressai, em mais esse processo em que um governo decide algo que impactará a vida de milhões de cidadãos, é que as discussões levaram em conta muitas características técnicas, aspectos industriais, interesses das redes de televisão.


Se os interesses do consumidor foram privilegiados ou não só teremos certeza quando houver televisores, conversores e programação nesse modelo digital. Ou seja: depois de tudo definido, e não antes, quando poderíamos mudar de idéia. Se a opção tiver sido a mais correta, ótimo. Se não, paciência, mais uma vez!


NA INTERNET http://mariainesdolci.folha.blog.uol.com.br’


 



TELINHA
Daniel Castro


Gugu se livra de processo criminal por PCC


‘O apresentador Gugu Liberato não corre mais o risco de ser preso ou de ter que cumprir pena alternativa por causa da exibição de ‘entrevista’ com falsos membros do PCC, no ‘Domingo Legal’ (SBT) de 7 de setembro de 2003. Na encenação, encapuzados faziam ameaças a Hélio Bicudo (então vice-prefeito de SP) e a José Luiz Datena e Marcelo Rezende.


A ação que corria na 2ª Vara Criminal de Osasco foi suspensa quinta-feira. Em despacho, a juíza Izabel Irlanda Castro Araújo comunicou que não irá proferir sentença porque os crimes pelos quais Gugu e mais cinco pessoas foram acusadas prescreveram no último dia 24.


O benefício também vale para os dois jornalistas do SBT, os dois encapuzados e Amilton Tadeu dos Santos, que recrutou os ‘atores’. Os cinco foram denunciados pelo Ministério Público do Estado por dois crimes da Lei de Imprensa e pelo de ameaça, cujas penas variam de seis meses a quatro anos de reclusão. Como os crimes da Lei de Imprensa prescrevem em dois, a denúncia perdeu punibilidade antes de ser julgada.


A juíza de Osasco só não mandou arquivar o processo porque aguarda o recebimento de resultado de julgamento de habeas corpus impetrado por Gugu no Superior Tribunal de Justiça. Foram os recursos de Gugu (para não ser indiciado nem processado) que acabaram travando o processo, retardando o julgamento.


APAGÃO NO AR 1 Fernando Vanucci começou a apresentar o ‘Bola na Rede’ (Rede TV!) de anteontem falando mole e com dificuldade de articular frases. Sua sofrível introdução foi cortada por um intervalo de 11 minutos. Ele não voltou. Os ex-goleiros Ronaldo e Zetti assumiram o comando do programa por alguns minutos, até a entrada do apresentador Augusto Xavier.


APAGÃO NO AR 2 Segundo a Rede TV!, Vanucci tomou dois comprimidos (e não um) do tranqüilizante Lorax, que tem forte efeito calmante e é usado (como seria o caso do apresentador) como regularizador do sono.


FIM DE NOITE A Band exibe domingo, às 23h30, especial inédito de Marisa Monte gravado em março.


FINAL AZUL Rendeu 41 pontos para a Globo Itália x França, anteontem. Nada excepcional para uma final de Copa do Mundo. A audiência ficou dez pontos acima da média dos jogos do Brasileiro, mas foi menor até do que amistosos da seleção brasileira.


VOLTA POR CIMA Depois de um mês fora do ar, por causa da Copa, o ‘Caldeirão do Huck’ marcou 15 pontos sábado, entregando com 21 para Alemanha x Portugal, que cravou média de 25 na Grande SP.


REPRISEM MAIS Fãs de ‘Anos Incríveis’ estão protestando contra a TV Cultura, que em junho deixou de reprisar a série (o que fazia havia anos). A emissora informa que seu contrato para exibição do programa venceu. Mas negocia uma renovação para 2007.’


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O Globo


Terça-feira, 11 de julho de 2006


IMITAÇÕES
Arnaldo Jabor


A ‘cornidão’ é um sentimento nacional


‘Sou vítima de escritores-fantasmas que se escondem na internet. Já reclamei disso, mas não adianta, os falsários continuam forjando minhas pobres moedas. A ‘rede’ tem artigo com meu nome falando das mulheres de bundinha dura, tem uma defesa sensual da celulite, tem um famoso artigo meio veado sobre a beleza dos gaúchos, saudado com viril alegria por homenzarrões que me agarram na rua: ‘Ché, tua escritura estava macanuda, trilegal!’ Eu nego aos bigodudos ter escrito aquele ditirambo farroupilha, mas falo num tom vago, para não ser esculachado: ‘Tu não escreveste? Então tu não amas nossas ‘prendas’ lindas, e negas ter escrito que a gente já nasce montado num bagual? E que por baixo do poncho também bate um coração? Tu tás tirando o seu da reta, ché?’ — e me aponta o dedo, de bombachas e faca de prata. Apareceu agora um artigo sobre a ‘mulher brasileira’ e logo chega a menina sorrindo: ‘Finalmente, alguém diz a verdade sobre as mulheres na internet! Mandei isso pra mil amigas, principalmente porque você diz: ‘Elas são tão cheirosinhas… elas fazem biquinho e deitam no teu ombro…’ e ‘quando a mão dele toca tua nuca, tu derretes feito manteiga’ ou ‘elas têm horror a qualquer carninha saindo da calça de cintura, tão baixa que o cós acaba!’…


‘Eu jamais escreveria ‘cós acaba!’, minha filha!’. ‘Ah… Não seja modesto! É a melhor coisa que você já fez!’ — e sai rebolando, feliz….


Agora surgiu mais um, onde eu ensino aos homens do meu Brasil como evitar chifres, como não serem cornos, ou ‘córnos’? Todos nós já levamos nossas chifradinhas (saibamos ou não…), mas não sou um especialista nessa desdita. E o texto é de amargar:


‘As ‘mulheres modernas’ têm um pique absurdo em relação ao sexo e, principalmente dos 30 aos 38 anos, elas querem fazer sexo todos os dias, e nem precisa dizer que se não for com você… Nem pense em provocar ‘ciuminhos’ vãos. Como pude constatar, mulher insegura é uma máquina colocadora de chifres. Quem não dá assistência, abre concorrência e perde a preferência’. Assinado, eu.


Que vou fazer? Sei que a cornologia é uma ciência respeitável. Conheço vários tipos famosos de chifrudos, como o ‘corno Papai Noel’ — aquele que não vai embora por causa das crianças, sei do ‘corno asmático’, que chega em casa avisando a mulher com tosse e assobio, ouvi falar do vacilante ‘corno cético’, que vê a mulher entrar no motel com o grande Ricardo e pensa: ‘O que me mata é essa dúvida…’ E, claro, o magnífico ‘corno churrasquinho’, aquele que põe a mão no fogo pela mulher…


O corno é um solitário. Ninguém tem pena dele; até os amigos exultam quando surge um novo corno na praça. ‘Antes ele do que eu’, pensam, como nos velórios. O corno é objeto de riso. Quem sofre pelos chifres alheios? Uma boa infidelidade acaba com a onipotência de qualquer um. ‘Eu sou craque com mulher…’ e paff!… lá vem o chifre, e o sujeito cai na sarjeta mais próxima.


O corno sofre sozinho, com pena de si mesmo, e ainda por cima, depois de Freud, dizem que ele é culpado pelos próprios chifres. Ou, pior, que ele não passa de uma boneca enrustida que ‘desejava’ a traição, por oblíquo amor ao Ricardão. E, se ele se recuperar rápido demais, causa desconfiança, por falta de hombridade. O corno compreensivo, progressista, é visto apenas como ‘manso’.


Ao corno não adianta reclamar, pois o mal já foi feito: nada refará a virgindade conjugal perdida. Raramente, os cafajestes são cornos, ao contrário do que se pensa. Em geral, os bonzinhos é que dançam, pelo erro de dar garantias de vida à mulher. Mulher só ama o impalpável, e o cafajeste tem uma aura mitológica. Mulher detesta homem frágil, que pede ajuda. É chifre na certa (cartas feministas à redação…), o que lhe faz apaixonado pela mulher traidora. A dor da paixão é seu consolo. A mulher não é corna, a mulher até se consagra com a traição do homem — mártir e heroína de um amor perdido.


Hoje em dia, o brasileiro está em pânico com os chifres porque se sente corneado na vida real. Acabamos de levar mais um chifre na Copa, com o Zidane comendo nossos craques, nós que confiávamos tanto neles. Choramos em meio-fios e botequins as lágrimas da ingratidão. Somos cornos na política também, com deputados, senadores e o Lula fazendo conosco o que ricardões executam com nossas mulheres. Com os mensaleiros se candidatando de novo, com os sanguessugas impunes, com o PMDB nos Correios, estamos com uma galhada florescente nas cabeças. Humilhados e ofendidos, e não temos a quem nos queixar.


A propósito, recebi outro dia um e-mail de um corno ‘histórico ou político’, para quem a crise nacional e a crise pessoal se misturam numa única dor:


‘Boa tarde, meu caro Arnaldo. Após ler sua coluna sobre as traições da política, me senti como um namorado traÍdo que esperava uma entrega total por parte de sua namorada, pois há um bom tempo estávamos planejando morar juntos. Para minha surpresa, o que recebi como resposta aos meus anseios foi aquela famosa frase: ‘Sente aqui que precisamos conversar’… Um calafrio correu em minha espinha, e o inimaginável aconteceu. Ela decidiu que cada um iria em direção oposta ao outro. A decepção tomou conta de mim, pois aquilo que de bonito havia em minha vida transformou-se em frustração. Eu me senti com a dor causada pelo fracasso gigantesco na Copa. Do alto de meus 37 anos, vejo que sou apenas mais um refém da situação caótica em que vivemos neste País de Ladrões, Políticos Corruptos e Governantes Marionetes… Hoje, é difícil bater no peito e dizer que sou Brasileiro. É angustiante e estarrecedor ver que até os jogadores não são mais brasileiros, venderam-se por um punhado de dólares e esqueceram suas origens. Aí, vos pergunto, seu Arnaldo: ‘Esse País está fadado ao fracasso, ou posso sonhar com a volta de minha amada?


Atenciosamente…’


Está aí. Imito minha imitações, mas é tudo verdade. Podem publicar na internet. Eu negarei que tenha escrito.’


 




HQ
Rodrigo Fonseca


Esnobado no Brasil, amado pelos franceses


No traço, a HQ ‘Aldebaran’ lembra o Moebius de ‘A garagem hermética’. No texto, parece Milan Kundera, em ‘A insustentável leveza do ser’. Mas quem assina a história em quadrinhos recém-despejada nas bancas brasileiras pela Panini Comics não é nem o copiado quadrinista francês, nem o best-seller tcheco, e sim um carioca que nos anos 60 engrossou o coro de vaias contra os militares. Até consagrar-se na França sob o pseudônimo de Leo, Luiz Eduardo de Oliveira, hoje um senhor de 61 anos, mudou muito de endereço. Algumas vezes para escapar da repressão pós-1968. Outras porque oportunidades de batalhar o pão de cada dia lhe foram abertas. Mas editar no Brasil, jamais. Até agora.


— Ver minha história editada no Brasil é um grande prazer, mas, ao mesmo tempo, mostra a ironia da coisa. Enquanto morava aí, tentei por todos os meios publicar as minhas HQs. E não tive sucesso, exceto por uma pequena história publicada na revista ‘O Bicho’, nos anos 70. Fui obrigado a vir para a Europa para poder ser publicado no Brasil — conta Leo, em entrevista por e-mail ao GLOBO, numa folguinha de seu trabalho em ‘Kenya’, série que publica pela editora Dargaud.


Dilemas existenciais em um planeta líquido


Qualquer leitura rápida de ‘Aldebaran’ sugere uma catarse. A série é um épico de conspiração política e dilemas existenciais que confronta as angústias dos jovens Marc e Kim com a fauna inóspita de um planeta formado quase que inteiramente por água. A idéia de que a Terra, daqui a quase dois séculos, tenha formado colônias num mundo longínquo fala de êxodo, de utopias jogadas no lixo e de resistências — pessoais e coletivas. Se alguém aí pensou ‘Mas isso é típico de quem penou na ditadura!’, terá o endosso de Leo.


— Minhas posições se repercutem fatalmente nas minhas histórias, é inevitável, mas de maneira mais ou menos indireta. Por exemplo, o fato de que os bandidos em ‘Aldebaran’ são militares não é gratuito — diz o artista, que, entre 1971 e 1974, exilou-se no Chile e na Argentina, regressando em seguida para São Paulo.


Em 1981 Leo arrumou novamente suas malas tendo a França como destino. Penou até se firmar no mercado das BDs, as bandas desenhadas, como os álbuns de luxo são chamados lá fora. Mas conseguiu. Em 1986, o mito Jean-Claude Forest (1930-1998), criador de ‘Barbarella’, ofereceu-lhe um convite para desenhar tramas calcadas no realismo para a HQ ‘Okapi’. Três anos depois, ele estaria ilustrando uma biografia quadrinizada de Ghandi, escrita por Benoît Marchon, para a Les Editions Centurion. Em parceria com o roteirista Rodolph, ele desenha, em 1991, seu primeiro trabalho expressivo: ‘L’Homme mort’.


— Para conseguir publicar meus álbuns na França, eu tive que batalhar durante anos a anos. Eu cheguei em 1981 e só comecei a ser publicado regularmente em 91, ou seja, dez anos depois. Nesse período, eu não conseguia sobreviver só com quadrinhos e fui obrigado a trabalhar em publicidade. Mesmo após ter começado a fazer só quadrinhos de maneira regular, o dinheiro continuou sendo curto durante anos — diz o quadrinista, que em 1995 lançou o primeiro dos cinco volumes do ciclo que compõe ‘Aldebaran’. — Foi somente após uns sete ou oito álbuns publicados, e com o sucesso da série ‘Aldebaran’, que eu consegui viver de quadrinhos de maneira mais confortável. O mercado de quadrinhos aqui é bem dinâmico, mas a concorrência é enorme. Todos os desenhistas e roteiristas que querem fazer quadrinhos na Europa vêm para a França ou para a Bélgica.


Eleição de Lula pareceria fantasia nos Anos de Chumbo


Vivendo atualmente em Malakoff, próximo a Paris, Leo continua signatário das propostas da esquerda. Ocupado em desenvolver séries paralelas ramificadas de ‘Aldebaran’, como ‘Bételgeuse’, ele diz acompanhar de longe a situação política do Brasil. Ainda mais neste ano eleitoral.


— A eleição do Lula, eu a vivi como uma grande vitória, algo inimaginável na minha época. Mas desde o início eu sabia que iria ser muito difícil. O PT é um saco de gatos e, para poder ser eleito, o Lula teve que fazer certas alianças complicadas. Mas eu fiquei bem desiludido e triste com os erros cometidos: eles não eram inevitáveis. Que desperdício! — diz o desenhista, que desenvolve neste momento a HQ ‘Antares’. — O aprendizado da democracia é um processo longo e complicado. Seja como for, espero que o Lula seja reeleito, e que ele consiga superar os erros cometidos.’


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O Estado de S. Paulo


Terça-feira, 11 de julho de 2006


A VOLTA DO CFJ
O Estado de S. Paulo


Novo golpe da Fenaj


‘Na lista de projetos que o Senado aprovou a ‘toque de caixa’ com o objetivo de descongestionar a pauta e liberar seus integrantes para fazer campanha eleitoral, um dos mais polêmicos é o que amplia as ‘atividades privativas’ dos jornalistas. Concebido a pretexto de redefinir as funções da carreira e ampliar a exigência do diploma de jornalista para ingresso na profissão, o projeto – que surpreendentemente passou até agora despercebido da imprensa – foi apresentado pelo deputado Pastor Amarildo (PSC-TO), a pedido da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), e saiu da Câmara praticamente sem emendas e discussões.


A entidade é a mesma que, há dois anos, levou o então ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini, com apoio do então chefe da Casa Civil, José Dirceu, a enviar ao Congresso o projeto de criação do Conselho Federal de Jornalismo (CFJ), atribuindo-lhe a prerrogativa de ‘orientar, disciplinar e fiscalizar’ a atividade jornalística no País. Entre as competências atribuídas a esse órgão corporativo, destacavam-se a definição de quem estaria habilitado para exercer o jornalismo, a emissão de carteira de trabalho para funcionários dos veículos de comunicação e a aplicação de sanções por ‘comportamento inadequado’ que variavam de simples advertência até a cassação de registro profissional.


Por entregar ao CFJ o controle absoluto de uma atividade em cuja essência estão as liberdades de expressão e de informação asseguradas pela Constituição, o projeto era tão autoritário e foi objeto de críticas tão contundentes que não restou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva outra saída a não ser ordenar sua retirada do Congresso. Como o lobo perde o pêlo, mas não a manha, o projeto apresentado pelo deputado Pastor Amarildo a pedido da Fenaj corresponde a uma parte da proposta de criação do CFJ em sua versão original.


Trata-se da parte relativa à ampliação da reserva de mercado de trabalho no setor de comunicações. Concebido com o objetivo de aumentar o alcance do Decreto-Lei 972, que institucionalizou a profissão de jornalista e foi editado pela Junta Militar em outubro de 1969, quando o Congresso estava fechado e as liberdades fundamentais tinham sido suprimidas pelo famigerado Ato Institucional nº 5, o projeto aprovado pelo Senado, entre outras inovações, estende a exigência de diploma de curso superior de jornalismo para o exercício de funções específicas de coordenador de pesquisa, coordenador de imagens, comentarista, ilustrador, chargista e ‘produtor’ de jornalismo, este último definido como ‘o profissional que apura as notícias, agenda entrevistas e elabora textos jornalísticos de apoio ao trabalho de reportagem’.


O projeto abarca todas as formas de noticiário veiculadas pela internet e contempla funções surgidas com o advento de novas tecnologias, como é o caso do ‘processador’ de texto, definido como ‘o profissional encarregado da elaboração de informação jornalística por meios eletrônicos de impressão, reprodução de fac-símiles ou assemelhados, quer para a pesquisa em arquivos eletrônicos ou não, quer para a divulgação por quaisquer meios’.


Além disso, o projeto inclui no elenco das ‘atividades privativas’ do jornalista a figura do assessor de imprensa e interfere na autonomia das instituições de ensino superior, exige que professores de disciplinas teóricas e práticas de jornalismo tenham diploma de jornalista. Com isso, economistas, diplomatas e cientistas políticos não mais poderão ensinar economia, teoria política e relações internacionais nos cursos de jornalismo. Antigos jogadores da seleção brasileira ficam proibidos de atuar como comentaristas em jogos de futebol. E economistas e pedagogos respeitados, como Cláudio Moura Castro e Maílson da Nóbrega, não podem ter colunas nos jornais, o que inviabiliza a informação especializada.


Prendendo o jornalismo na camisa-de-força do corporativismo da Fenaj, o projeto aprovado pelo Senado inviabiliza a transmissão da informação especializada, compromete a criatividade das redações, interfere na autonomia das empresas de comunicação e burocratiza a imprensa com base numa legislação cuja espinha dorsal é um decreto da ditadura. É por isso que Lula tem de vetá-lo, agindo com a mesma determinação com que mandou engavetar o projeto de criação do CFJ.’


 


ZIDANE
Zidane, a explosão da própria imagem


Gilles Lapouge


‘A cabeçada violenta que Zinedine Zidane, fria e deliberada e vergonhosamente deu contra um dos jogadores italianos, deixou a França inteira estupefata. Consternada. O que aconteceu com o ídolo? Jamais um jogador esteve tão perto da apoteose – apoteose esportiva, porque seu gênio ficou reconhecido pelo mundo todo, e apoteose moral porque Zidane reinava sobre seus companheiros de equipe não só pelo seu brio de jogador mas por sua estatura intelectual, sua calma, sua generosidade.


Ora, a poucos minutos do triunfo, essa ‘cabeçada’ terrível fez Zidane tombar no abismo. O ídolo ficou maculado. Foi como se víssemos, ao vivo, um fenômeno quase ‘sobrenatural’ e, em um segundo, a estátua do deus, edificada pacientemente por um jogador francês, vira pó.


Como explicar? Nervosismo? Cansaço? Tensão? Com certeza. Mas um jogador com essa têmpera, essa experiência, sabe se controlar. Circula uma versão, de que o jogador italiano o teria insultado, com xingamentos racistas contra Zidane, que é francês mas de origem argelina. Teria chamado Zidane de ‘terrorista árabe’? Nada é certo.


Serviços sofisticados de informação tentarão decifrar, pelo movimento dos lábios do italiano, a frase que teria provocado essa crise de loucura de Zidane. Contudo, mesmo que o trabalho de pesquisa confirme que houve o insulto e que de fato teve um caráter racista e ignóbil, isso não justifica de modo nenhum o enorme escorregão do jogador.


Não será caso de procurar a explicação em outro lugar? Talvez na psicanálise. O sentimento que existe é de que a França assistiu a uma espécie de ‘suicídio’ em público desse homem reverenciado. Como se, no momento de receber o troféu da glória infinita, esse jogador soberano, tomado por uma espécie de desvario, decidiu fazer explodir, na vergonha, sua própria imagem.


Gilles Lapouge, correspondente em Paris’


 




INTERNET
Empresa busca proteção online


Eve Tahmincioglu


‘É pico de temporada para o Groople, um pequeno site de agenciamento de viagens americano, e ele não pode sofrer nenhum tropeço tecnológico. Nos dois últimos anos, o Groople investiu U$ 55 mil para modernizar a segurança de rede a pedido de grandes clientes como Travelocity e Cendant. E considera pequeno o preço a pagar.


‘Honestamente, não acreditamos que seja uma opção’, disse Scott Larsen, diretor de TI da empresa. ‘Se quisermos fazer negócios com as grandes corporações hoteleiras, é uma exigência cumprirmos requisitos de segurança. Caso contrário seremos apenas mais uma pequena empresa querendo brincar com as grandes.’


Hoje, ter uma conexão de alta velocidade não basta. Tudo que é transmitido – dados financeiros, sobre clientes, produtos – precisam estar seguros e fora do alcance de hackers, ciberladrões e mesmo empregados descontentes. ‘A segurança é uma questão importante para pequenas e médias empresas’, disse Gary Chen, analista da Yankee Group. Os grandes clientes, acrescentou, fazem muita pressão.


A Bill Grant Ford-Mercury, uma empresa americana com 26 empregados, gastou cerca de U$ 7 mil para modernizar a segurança de rede nos últimos 18 meses, segundo seu vice-presidente, Kelly Grant. ‘Todos os nossos fornecedores têm algum nível de conexão de internet e todos querem conexões seguras, seja para pagar contas ou registrar pedidos’, disse.


Com o aumento do fluxo de informações online, aumenta o risco de brechas de segurança, como mostrado em várias notícias recentes sobre quebras de segurança graves. As grandes organizações podem ter uma rede segura, mas quando permitem que suas redes sejam conectadas a sistemas de fornecedores, cresce a probabilidade das quebras. ‘O foco vai a toda a cadeia de suprimento, até seus fornecedores menores’, disse Gary Chen.


No ano passado, a MasterCard International informou que uma quebra de segurança expôs potencialmente milhões de cartões de crédito à fraude. Ela acusou a firma de processamento de dados Card Systems Solutions. Em fevereiro, a Card Systems concordou em fazer um acerto sobre as acusações de ‘não tomar medidas de segurança apropriadas para proteger informações’.


Além das violações, há os incômodos que acompanham defeitos, spams e spyware, um tipo de software que se infiltra em computadores para obter dados sigilosos. Esses aborrecimentos podem se avultar em problemas maiores e até desligar uma rede, disse Jon Clay, gerente para pequena empresa da Trend Micro, firma de Tóquio. O foco das pequenas empresas em segurança fez desse negócio o que mais cresce da sua empresa.


Larsen diz que é decisivo também considerar ameaças internas, criando e fiscalizando o uso de logins (identificação do usuário para o acesso a redes) para empregados e impedindo que dados importantes sejam acessados por todos indiscriminadamente.’


 



CINEMA NACIONAL
‘O Brasil vai voltar ao enlatado’


Patrícia Villalba


‘Um grupo de cineastas, produtores e jornalistas conversava animadamente num bar há alguns meses, numa dessas mesas que se formam depois dos festivais. Entre um ou outro comentário, alguém perguntou: ‘Ei, como anda a nova Lei do Audiovisual?’


Deu para sentir os músculos contraindo e os sorrisos murchando. Pudera, porque o governo não havia enviado até então a nova proposta que esticaria os benefícios fiscais que financiam o cinema e, se não fizesse isso logo, poderia haver um colapso da produção. A turma caiu em triste reflexão, perguntando se o governo seria capaz de um desserviço daqueles. Um minuto depois, um dos mais experientes da mesa falou: ‘Relaxa, gente, que o Barretão não vai deixar isso acontecer!’ Todo mundo respirou aliviado, e veio mais uma rodada de chope.


Luiz Carlos Barreto é Barretão por ser o chefe de uma das famílias mais famosas do cinema nacional, por causa também da voz de trovão e principalmente pelo poder que lhe atribuem no meio. Ele não gosta muito, nega que faça lobby pessoal e diz que tem medo de virar um fantasma antes do tempo. ‘Querem me transformar no coronel do cinema nacional, e eu não tenho vocação para isso’, devolve.


Mas o fato é que se há polêmica, e no cinema nacional vira-e-mexe há alguma, o nome dele não demora a aparecer. A da vez é o edital de patrocínio da Petrobrás. Barreto, que há três anos não era contemplado pela estatal e no ano passado reclamou bastante dos critérios de escolha dos vencedores, não teve seu projeto selecionado pelo júri, mas recebeu uma homenagem pelo conjunto de sua obra. Isso repercutiu como um cala-boca, e acirrou ânimos quando somado ao placar de 20 projetos cariocas contemplados ante apenas 3 paulistas. Em São Paulo, há quem diga que o bom desempenho do Rio no edital é resultado da movimentação de Barreto.


Mas com quase 80 anos de vida e 40 anos de cinema, ele quer mudar de assunto, e o rumo da discussão recai sobre a TV digital. Quer saber o que o governo pretende fazer para fomentar a produção audiovisual, de maneira a dar conta da imensa demanda que o novo sistema de difusão vai criar. De olho no novo mercado, ele acaba de se associar sua LC Barreto à produtora Movie Art, de São Paulo. A joint venture vai produzir conteúdo para celular, internet, televisão e, claro, cinema. O primeiro produto da parceria é o filme Caixa 2, dirigido por Bruno Barreto e que estréia em 2 de novembro. É um dos três filmes – os outros dois são Sonhos e Desejos, de Marcelo Santiago e que estréia em 27 de outubro, e Polaróides Urbanas, de Miguel Falabella e previsto para 19 de janeiro – que a produtora realizou em menos de um ano.


No salto da empresa, está previsto também o distanciamento do patriarca, que já começa a passar o comando para os três filhos, Paula, Bruno e Fábio. ‘Daqui a dois anos vou ser um octogenário, tenho de começar a passar a bola’, brinca ele.


Você ficou de fora dos editais da Petrobrás por três anos, e fez críticas públicas ao processo de seleção dos projetos. Agora, mais uma vez de fora, acabou recebendo uma homenagem. Dessa forma, ela não soa como um cala-boca?


A Lucy (Barreto, produtora e mulher dele) me disse ontem que andam falando isso por aí. Mas não é nada disso. Eu fui surpreendido porque o meu projeto também não foi aprovado pela comissão. Há três anos eu não ganho lá. O que acontece é que a diretoria da Petrobrás não se mete nas decisões dessa comissão , mas resolveu me dar uma homenagem. E isso não teve nenhuma influência de minha parte. Estou ficando com medo de virar um figura folclórica e o fantasma de muita gente. ‘Não saiu o projeto do cara na Petrobrás? Ah, foi o lobby do Barretão.’


O comentário é mesmo de que você faz lobby e pressiona.


Quem faz lobby para mim são os meus filmes, é o meu currículo. Jamais vou fazer lobby contra alguém, em nenhuma dessas instâncias de financiamento a projetos, porque isso foge à minha visão ética. Quando eu vou fazer lobby é no Congresso, no Ministério, em função das questões gerais do setor e todo mundo sabe disso. Eu fiquei três anos indo a Brasília, de segunda a sexta-feira para batalhar a aprovação da Lei do Audiovisual. Agora, quando chega a época dos editais das estatais, as pessoas começam a achar que eu faço lobby em benefício próprio, e não é possível. Quem indica as comissões é o José Carlos Avelar, com quem eu não troco um telefonema há anos. Fui eliminado de editais da Petrobrás por três anos seguidos. Como é que eu ia fazer lobby lá agora? Isso é atribuir para mim um poder que eu não tenho. Querem me transformar no coronel do cinema brasileiro. Embora seja nordestino, não gosto do coronelato político, e nunca tive a aspiração de ser o coronel do cinema brasileiro. Mas sou um militante do cinema nacional, isso sim. Tinha um exibidor que me dizia: ‘Barreto, fique tranqüilo, que você já conseguiu o seu busto na Cinelândia. ‘


Nunca pensou em seguir carreira política?


Já recusei várias vezes convite para ser candidato. O (Leonel) Brizola vivia me perseguindo para eu me candidatar pelo PDT. Eu dizia que não podia, porque sou do PCB: do Partido do Cinema Brasileiro. Alguns colunistas daqui do Rio me chamam de presidente do PCB.


Está vendo só a fama…


Mas é um partido que não existe. O que existe é o espírito de militância na atividade, porque no Brasil ela não foi devidamente planejada e pensada como indústria. Por isso, há essa configuração de um agrupamento político.


Agrupamento que passa a impressão de que briga demais internamente, não acha?


Sim, cada edital é uma cisão. É normal, quando erros são cometidos. Não há dúvida de que houve um erro neste edital (da Petrobrás), quando se conferiu apenas três prêmios para São Paulo. Mas não acredito que não tenha sido com uma idéia de se prejudicar o cinema paulista, a Petrobrás não tem esse tipo de visão. Não podemos ficar contribuindo para desgastar a imagem de quem quer patrocinar o cinema. Se a gente acha que tem erros nos critérios, nossas entidades têm de se reunir e fazer propostas de mudanças, uma contribuição concreta. Há coisas mais importantes para se discutir, em vez de se criar imagens fantasiosas de que eu influenciei um edital.


O quê, por exemplo?


A TV digital. O novo sistema vai multiplicar os canais, e teremos só na TV aberta, no mínimo, 30 canais. Estão discutindo muito o sistema, a tecnologia, e não o fundamental que seria o que vamos produzir para abastecer essas tecnologias. Vamos cometer o mesmo erro da época da implantação da TV no País, quando se discutiu também o sistema e não o que iríamos produzir aqui para passar nos canais. O Brasil vai voltar ao enlatado. Deveria haver, urgentemente, uma política nacional de conteúdos audiovisuais. Era nisso que o Brasil deveria estar pensando. A empresa que vai explorar o nosso mercado deveria ser obrigada a contribuir para um fundo de produção de audiovisual. Fico incomodado porque a gente está sempre discutindo o acessório. É por aí que a gente se perde quando começa a eleger os fantasmas. Parece até que virei um fantasma antes do tempo.


Você acredita que a proposta de ampliação dos benefícios do artigo 3.º da Lei do Audiovisual às TVs brasileiras vai ajudar mesmo na produção?


Foi um grande passo. Isso vai permitir que as TVs brasileiras invistam parte de seu Imposto de Renda na co-produção com produtoras independentes para a produção de conteúdo. É uma questão de Justiça (as distribuidoras estrangeiras já tinham o benefício). A TV vai naturalmente se tornar co-produtora das independentes. A nossa produtora mesmo está planejando a produção de conteúdos, para TV, telefonia e internet, além de cinema. É um projeto de expansão, que tem até um núcleo de produção de animação, que estamos tentando criar na Paraíba, onde está um dos grandes animadores do mundo, o Silvio Toledo. Temos um projeto de um longa com ele, chamado Gesebel, e vamos montar a estrutura toda lá.


Você tem mesmo planos de filmar a história do presidente Lula?


Sim. Vamos filmar logo, com reeleição ou não, no próximo ano. Será ficcional, não vai ser mais documentário. Vamos conversar com a autora do livro, a Denise, para fazer o roteiro. Temos uma perspectiva de co-produção com as televisões da França e da Espanha. Deixamos passar, para não parecer eleitoreiro. Mas a história do Lula é mais emocionante que a de 2 Filhos de Francisco. Nós vamos fazer.’


 



CANIBAIS, NÃO!
O Estado de S. Paulo


China censura Piratas do Caribe 2


‘O filme Piratas do Caribe 2: O Baú da Morte não recebeu autorização para estrear na China por ter cenas de canibalismo, segundo o jornal oficial Shanghai Daily. O longa, estrelado por Johnny Depp e Chow Yun-Fat no papel de um pirata chinês, estreou na sexta-feira nos EUA, mas não será exibido nos cinemas chineses por não ter sido aprovado pelo governo.’


 



SOPHIA LOREN
Adriana Del Ré


‘Não sou diva, sou uma pessoa normal’


‘Às vésperas de completar 72 anos, a atriz italiana Sophia Loren continua ‘una bella donna’, como diriam com propriedade seus compatriotas. Insuportavelmente bela. Basta vê-la de perto para comprovar a tese. E La Loren, que tem espelho em casa, segue usando a beleza a seu favor. Na última semana, causou furor a notícia de que ela posaria para o Calendário Pirelli 2007, publicação famosa por trazer beldades do mundo artístico e da moda em fotos sensuais.


A informação, divulgada pela revista italiana Gente, logo foi confirmada pela atriz. Junto com a confirmação, veio o diz-que-diz-que. Primeiro de que Sophia havia topado fazer um nu artístico, ‘vestindo’ apenas um par de brincos de diamantes. Depois, seu agente, sem muita paciência para a boataria, desmentiu a história do nu e jurou de pé junto que sua cliente seria clicada com um magnífico vestido de noite, do amigo Giorgio Armani. No final, o que correu pelos quatro cantos foi uma foto de bastidor em que ela aparece na cama, de combinação preta e coberta por um lençol.


Sophia, que já havia sido sondada pela Playboy não faz muito tempo e declinado do convite diz para quem quiser ouvir que está feliz com a experiência para o calendário. Poucos dias antes de o fato vir à tona, no entanto, La Loren estava em Veneza, na Itália, e não deu nenhuma pista da nova empreitada. Estava lá a convite da poderosa família italiana Aponte, dona de uma frota de navios e da qual a atriz é amiga pessoal há anos. Mais uma vez, ela seria madrinha de um dos navios do clã. Por falar nisso, Sophia parece ter se especializado em um novo papel: a de madrinha em inaugurações. Até na abertura de um shopping no Rio, há coisa de seis anos, ela marcou presença.


Voltando a Veneza, mais especificamente a bordo do navio, ela conversou com uma imprensa internacional ávida por trocar nem que fosse meia dúzia de palavras. A certa altura, parecia cansada com a maratona de entrevistas que teve de enfrentar, mas isso não foi o suficiente para tirar seu bom humor.


Elegantíssima, de roupa clara e seus inseparáveis óculos, estava longe da imagem da mulher do povo que eternizou no cinema italiano, em filmes como o belo Um Dia muito Especial, de Ettore Scola, e Duas Mulheres, de Vittorio De Sica (que lhe deu um Oscar). Não poderia ficar de fora aquela pergunta básica: o que você faz para se manter assim tão bonita? ‘É segredo (risos)’, criou suspense La Loren, para logo em seguida aceitar revelar uma coisa ou outra aos mortais. ‘Realmente, não tenho uma fórmula: levo uma vida normal, gosto do que faço, acredito muito no que faço, tenho uma família maravilhosa.’ Para ela, passar um dia com a família, filhos e netos a revigora. ‘Meu dia perfeito é passar o dia com eles.’


Há de se ter outros cuidados especiais, ensinou a musa de De Sica, Scola, Altman entre tantos outros cineastas. ‘É um grande sacrifício… (risos). Às vezes, você precisa renunciar a coisas que você gosta de comer e beber. Não comer doces, pasta. Faço exercícios, nada exagerado porque não preciso mais tanto assim.’ Prefere a boa e velha caminhada à nova febre entre as estrelas: a ioga. ‘Gosto de me exercitar, de caminhar.’


NOVOS PROJETOS


Em nenhum momento, Sophia colocou no pacotão a cirurgia plástica. Provavelmente, preferiu deixar esse seu segredo em suspenso. Mas afirmou considerar ruim quem se submete ao bisturi de um cirurgião muito jovem. ‘Para se ter uma vida feliz, não basta um médico mudar seu rosto. Isso não vai fazer sua vida melhor.’


Fala de experiência própria. Quando ainda era uma jovem atriz, ouviu do produtor Carlo Ponti (que a descobriu e, mais tarde, se tornou seu marido e pai de seus filhos), que deveria diminuir o nariz e os quadris para sua figura ficar melhor diante das câmeras. Contrariando as recomendações, a atriz não mexeu em nenhum milímetro de seu corpo. Pelo menos, não naquela época. E alimentou a estampa de mulher italiana, bronzeada e de formas fartas. Até hoje, ela faz questão de exibir o que Deus lhe deu em decotes generosos.


Questões da atualidade. Ela, que é uma diva notória, consegue identificar no cinema de hoje alguma candidata ao posto?, indagou a repórter do Estado. ‘Se há divas hoje? Não tenho idéia.’ Mas você se considera uma diva, não? ‘Não, sou uma pessoa normal. Não me considero uma diva, para mim diva não significa nada’, retrucou, modesta. Digamos que a resposta não convenceu muito quem estava no recinto.


Ainda no campo das atualidades, ela disse estar com dois projetos engatados para estrear na ‘próxima primavera’. Não adiantou detalhes sobre eles, mas garantiu que serão produções italianas. ‘Não sei se serão para o cinema ou para a TV, mas vou fazer.’ Seus mais recentes trabalhos foram Vendredi et Robinson (2005), para o cinema, e Peperoni, Ripieni e Pesci in Faccia (2004), para TV – este último, sob direção da italiana Lina Wertmüller. Aliás, era com a amiga Lina que Sophia tinha planos de estrelar, anos atrás, a adaptação para o cinema de Tieta do Agreste, de Jorge Amado. O projeto ficou na vontade e o cineasta Cacá Diegues acabou filmando sua versão.


La Loren disse não conhecer nada de cinema brasileiro. Nem lhe veio à memória que foi ela a portadora da má notícia para os brasileiros, naquele Oscar de 1999. Anunciou, com entusiasmo, a vitória de A Vida É Bela, do também italiano Roberto Benigni, na categoria melhor filme estrangeiro, desbancando Central do Brasil, de Walter Salles. ‘Eu adoro o Brasil, a música brasileira’, elogiou ela, apesar de ter vindo poucas vezes para essas bandas, em rápidas passagens. ‘Gosto de João Gilberto. Sempre fico feliz quando ouço música brasileira.’


A repórter viajou a convite da MSC Cruzeiros’


 



ROBERTO CARLOS
Keila Jimenez


Globo luta pelo Rei


Ele aparece na TV uma vez ao ano, quase não dá entrevistas, faz mil e uma exigências e mesmo assim a Globo luta para renovar o seu contrato. Há pelo menos dois meses a emissora negocia a renovação da permanência do rei Roberto Carlos em seu cast.


O contrato do cantor com a rede termina este ano e um dos impasses na renovação seria o tempo de duração do acordo. A Globo quer um contrato longo de exclusividade com o cantor, algo em torno de cinco anos. Roberto Carlos estaria disposto a assinar uma parceria menor: de dois ou três anos.


Por muitos ou poucos anos, o fato é que a Globo não abre mão de ter exclusividade das imagens do rei no novo contrato, como faz há mais de duas décadas. Em 2001, a emissora comprou uma briga feia com a MTV, que gravou um acústico do cantor e não pôde exibi-lo. Apenas lançá-lo em DVD e retalhá-lo em videoclipes.


Resolvido isso, o contrato de RC não tem motivos para não ser renovado, sem maiores impasses e sem novidades. Apenas duas garantias: o mesmo e já manjado especial de fim de ano e a famosa entrevista dele a Glória Maria no Fantástico.’


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