Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Al-Jazira aluga canal em Nova York

A al-Jazira English chegou a Nova York – mas teve que alugar espaço de um canal já existente. O canal em língua inglesa, filhote da rede árabe al-Jazira, foi lançado em 2006 para competir com as versões internacionais da americana CNN e da britânica BBC. Com sede no Catar, a al-Jazira era classificada pelo governo de George W. Bush como uma plataforma para a propaganda anti-EUA. A emissora era demonizada, em grande parte, porque exibia vídeos enviados pelo grupo terrorista al-Qaeda. Em 2001, mísseis americanos atingiram os escritórios da al-Jazira no Afeganistão. Em 2003, o mesmo ocorreu no Iraque. Os EUA afirmaram, nos dois casos, que os ataques foram erros.

Ao longo dos anos, no entanto, a rede do Catar foi conseguindo suavizar sua imagem. No início deste ano, a al-Jazira English se destacou pela cobertura das revoltas populares no Egito e em outros países do Oriente Médio – o canal chegou a ser elogiado pelo governo americano e até por algumas emissoras rivais. Aproveitando o bom momento, seus representantes deram início a uma campanha para que os telespectadores americanos escrevessem às operadoras de TV paga pedindo o canal na grade. Lobistas também se esforçaram em Washington para convencer os políticos americanos de que a al-Jazira English faz jornalismo de alta qualidade.

Seis meses depois dos elogios pela cobertura da chamada “Primavera Árabe”, no entanto, o canal descobriu o quanto é difícil entrar no mercado de TV paga nos EUA. As operadoras de TV por cabo e satélite, como Comcast, DirecTV e Dish Network, têm um poder imenso para controlar que canais entram ou não na grade de programação. Ou seja: que canais são assistidos ou não no país.

Barreiras

A al-Jazira não tem uma grande companhia para apoiá-la – como fez a News Corporation, há alguns anos, ao usar a grande popularidade da emissora Fox News para ganhar espaço para seu canal financeiro, Fox Business. A rede também não tem como provar que seria um bom negócio para as operadoras, já que a maioria dos americanos ainda não teve acesso a ela. Al Anstey, diretor administrativo do canal,cita 70 mil cartas de apoio recebidas no site da al-Jazira para argumentar que existe, sim, interesse do público americano.

As operadoras citam outro problema: o espaço limitado para novos canais. A al-Jazira não é a única a requisitar espaço. A BBC, por exemplo, também tenta emplacar seu canal mundial de notícias nos EUA. Anstey sugere que a al-Jazira English não faria questão da taxa que os canais recebem por assinante, o que seria um ponto positivo para as operadoras. “Nossa prioridade não é receita; é sermos vistos”, afirma. O canal é financiado pelo governo do Catar, mas garante que seu conteúdo não sofre influência governamental.

Há alguns anos, o sinal ao vivo da al-Jazira English é transmitido pela internet gratuitamente. Alguns distribuidores alegam que a transmissão online é uma boa alternativa para o canal. Mas seus representantes dizem que não é o suficiente, já que exclui as pessoas que não possuem internet banda larga e aquelas que simplesmente preferem assistir à televisão.

Aluguel

O jeito, para conseguir “ser visto” nos EUA, foi apelar para uma parceria com outro canal. Em Nova York, a partir desta semana, a al-Jazira English vai ser exibida por 23 horas diárias no canal a cabo RISE, que é ligado à estação local WRNN. O RISE é exibido na cidade de Nova York pelas operadoras Time Warner Cable e Verizon FiOS. Ele foi criado quando a Time Warner Cable quis trocar a WRNN do sistema analógico para o digital. A estação então negociou e ganhou um segundo canal.

O RISE já fez uma parceria deste tipo com uma rede hispânica. Pelas regras, ele tem que exibir pelo menos uma hora de programação local por dia. As outras 23 horas serão da al-Jazira English. Os detalhes do acordo não foram divulgados. Richard French Jr, presidente da WRNN, afirmou em entrevista ter ficado impressionado com a estrutura da al-Jazira, que inclui 70 sucursais. Informações de Brian Stelter [The New York Times, 1/8/11].

 

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