Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Defesa sanitária para europeu ver

Todos os veículos especializados do país e de Mato Grosso do Sul estão dando a notícia de que desde a manhã de sexta-feira, 7 de julho, o estado recebe Missão Européia que avalia os segmentos da cadeia produtiva da carne bovina, a implantação da rastreabilidade animal e, principalmente, as medidas tomadas em relação aos focos locais de febre aftosa, fator que desencadeou crise generalizada na economia local.

É certo o que todos têm divulgado: a ausência clínica de febre aftosa no estado, restando apenas agora medir a circulação viral – os animais têm o vírus, mas não estão doentes – em testes laboratoriais. Outro fator é que todas as ações necessárias após a identificação da enfermidade recomendada pela Organização Mundial de Saúde Animal foram executadas. Também é fato que temos (pelo menos no papel) um sistema de rastreabilidade que atende ao sempre exigente mercado europeu, ainda que o conhecido Sisbov (Sistema de Rastreamento de Bovinos e Bubalinos) tenha sido aprovado na última semana de junho, numa corrida contra o tempo.

Sem recursos

A missão fica 12 dias em Mato Grosso do Sul, porque visitará a área dos focos; o novo Sisbov deve agradar aos visitantes, tendo como base as vistorias já feitas nos estados de Mato Grosso e São Paulo. O parecer parcial fica pronto 30 dias após o retorno da missão à Europa e deve declarar estado, maior produtor e exportador de carne bovina do país (até a contaminação pelo vírus) livre para a retomada da exportação.

Entretanto, apesar da tragédia que devastou a economia estadual e da maioria dos municípios, a imprensa geral e especializada, os órgãos responsáveis e os governos federal e estadual não conseguiram aprender com mais esse surto da aftosa. A região de fronteira entre Mato Grosso do Sul e Paraguai continua sendo cuidada da mesma forma que era antes da descoberta do foco. Ou descuidada.

Apesar dos esforços da Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal (Iagro) e do Ministério da Agricultura para livrar a região da doença e impedir a contaminação de outras localidades, a realidade é bastante trágica. O resultado após o surto foi, é certo, a eliminação da doença no território sul-mato-grossense, mas não sem uma série de reuniões com entidades, autoridades, pesquisadores e técnicos e uma troca de acusações entre brasileiros e entre brasileiros e paraguaios – mas nenhuma política eficiente, ou mesmo ineficiente, foi criada para impedir novamente a entrada do vírus, estando ele em qualquer um dos países.

A mídia pouco aborda a questão, talvez pela distância, cerca de 420 quilômetros de Campo Grande), de que a Iagro continua sem recursos para diárias dos técnicos, para gasolina, para compra de equipamento, manutenção. Além disso, o governo determinou que seus escritórios fechem às 13h30. E isso tudo poderia ser muito pior, afinal, o agora ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues conseguiu, no apagar das luzes, dias antes de entregar o cargo, R$ 7 milhões para a Iagro. Com isso, garantiu a sobrevivência do órgão até março ou abril do ano que vem. Em tempos de futebol em evidência, é fácil entender o risco: sem defesa adequada, a possibilidade de se afastar o adversário da área é muito pequena, e a defesa de Mato Grosso do Sul – sem recursos financeiros para suas ações – não se agüenta mais em pé.

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Jornalista do Canal do Boi e www.agronoticiasms.com.br, mestre em Produção e Gestão Agroindustrial