Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Mídia dos EUA tenta equilibrar a cobertura

Diante dos 10 anos dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, a mídia – em todo o mundo, mas especialmente a americana – tem decisões difíceis a tomar. Aniversários de eventos marcantes são sempre grandes ocasiões midiáticas, com edições especiais e grande potencial para venda de espaço publicitário. Mas documentar a primeira década dos atentados que mataram quase três mil pessoas e mudaram para sempre os EUA e o mundo é uma tarefa delicada que exige muito cuidado para não ultrapassar limites tênues entre a lembrança e a exploração do evento.

Desta forma, nos EUA, revistas, jornais e emissoras de TV, ao planejar suas edições especiais, começaram a avaliar o quanto o público pode aguentar e o quanto uma ocasião tão solene pode ser vista como uma oportunidade de lucrar com vendas. Não há regras para ocasiões como esta, e cada veículo de mídia age de forma diferente. A revista Time, por exemplo, não terá anúncios. Newsweek e People decidiram vender a quantidade de espaço publicitário que venderiam para uma edição normal. Os canais de notícias a cabo, em sua maioria, vão ter a quantidade normal de comerciais, mas a CNN é exceção: terá um especial, em parceria com a HBO e a Time, sem anúncios. Na edição de 11 de setembro, no próximo domingo, o New York Times publicará uma seção especial apenas com anúncios dedicados à data.

Lawrence C. Burstein, publisher da revista New York, diz que não esperava que a procura dos anunciantes seria tão grande – a revista teve aumento de anúncios de 46% na edição de 5 a 12 de setembro, em comparação com a mesma data no ano passado. A revista havia decidido não aplicar os procedimentos promocionais usados em edições especiais e deu aos anunciantes que já tinham espaço comprado liberdade para, se quisessem, sair da edição. “É algo que toca as pessoas de diferentes formas, e eu senti que cabia ao anunciante decidir o que fazer”, conta.

A New York, por sinal, decidiu publicar seu especial sobre o aniversário – um compêndio de A a Z sobre o 11 de setembro – antes da data. A People fez o mesmo. Sua edição especial, com reportagens sobre 10 crianças cujos pais morreram nos ataques antes de seu nascimento, chegou às bancas na semana passada. “Eu acho que, em determinado ponto da semana que vem, absorver tudo isso vai ser duro para todo mundo”, explica o editor Larry Hackett.

Reflexão

Os semanários Time e Newsweek aumentaram o número de exemplares sobre o aniversário em 40 mil e 30 mil, respectivamente. Houve também debates nas redações das revistas noticiosas sobre como o evento deveria ser coberto – com ensaios de grandes pensadores sobre o que os atentatos representaram para o país ou relatos das pessoas que viveram os ataques?

Na Time, a decisão foi por fotos e histórias de pessoas que foram diretamente afetadas pelos acontecimentos do 11 de setembro. “Este, para nós, foi o diferencial”, diz Richard Stengel, diretor de redação da revista. Tina Brown, editora-chefe da Newsweek, conta que, ao planejar a edição de aniversário, percebeu o quanto seria difícil produzi-la. “Meu pensamento foi, ‘como vou ser afetada de novo?’. Mas descobri que minha capacidade de ser tocada por isso ainda é enorme”. A Newsweek terá artigos de autores conhecidos, como o jornalista e escritor Andrew Sullivan, que irá examinar como o medo definiu a vida nos EUA após os ataques.

Houve pouca dúvida, no entanto, de que uma revisão ampla do dia dos ataques era necessária. “É um período intenso de reflexões para os americanos”, explica Mark Lukasiewicz, vice-presidente que comanda as produções especiais da emissora NBC News. O que provocou mais discussões nas redações, no entanto, foi a decisão sobre o tempo que deveria ser dedicado aos atos terroristas em comparação aos 10 anos de consequências provocadas por eles. Alguns executivos de mídia e jornalistas acreditam que os dias que precedem o aniversário são uma boa oportunidade para tratar de outros temas ligados ao 11 de setembro, como a segurança nacional, as ações militares dos EUA, as restrições às liberdades civis e as mudanças na política do país.

Diferentes abordagens

Serão raras as publicações e canais de TV que não vão abordar, de alguma forma, o assunto. Canais com temática específica encontraram maneiras particulares de lembrar os atentados. O Military Channel, por exemplo, terá um programa avaliando por que o Pentágono foi menos danificado do que as Torres Gêmeas. O Animal Planet vai exibir um episódio especial da série Saved sobre a relação de sobreviventes dos ataques com seus animais de estimação, e como esta relação os ajudou a lidar com a dor e a perda. O Showtime irá transmitir um documentário sobre os esforços do músico Paul McCartney para organizar um concerto beneficente. O canal de notícias conservador Fox News apresentará um documentário sobre a construção da “Torre da Liberdade”, em Nova York. O National Geographic conseguiu uma entrevista exclusiva com o ex-presidente George Bush – e, para se antecipar à enorme cobertura, decidiu exibi-la em 28 de agosto.

O canal de notícias liberal MSNBC também começou sua cobertura cedo. Na semana passada, já exibia um programa especial de três horas intitulado “Dia de Destruição, Década de Guerra”. “Eu acredito que há espaço infinito para falar sobre o que aconteceu naquele dia e as decisões, certas ou erradas, tomadas pelo governo”, afirma a jornalista Rachel Maddow, uma das apresentadoras do documentário.

E, entre todas as decisões que deveriam ser tomadas pelos veículos de mídia, talvez a mais difícil tenha sido como – e se – usar as imagens fortes do 11 de setembro. A Newsweek optou por não colocar as torres em chamas em sua capa. Já a ABC News irá exibi-las na cobertura – algo que não faz desde o primeiro aniversário dos ataques. Informações de Jeremy W. Peters e Brian Stelter [The New York Times, 4/9/11].