A Polícia Federal tem se esforçado muito nos últimos anos para merecer o adjetivo ‘republicana’. Seria uma instituição impessoal e independente que, como dizem, ‘não persegue e nem protege’. A questão é que, volta e meia, ocorrem escorregões. Basta lembrar da história do caseiro Francenildo dos Santos Costa e da inócua investigação sobre o dossiê dos ‘aloprados’. Graças a esses deslizes, ela muitas vezes é definida como uma ‘polícia política’.
Apesar das controvérsias, o fato é que a Polícia Federal vem ocupando espaços nos últimos anos. Tempos atrás, ela se limitava a combater o contrabando e a vigiar fronteiras. De repente, passou a atacar o crime organizado, prendendo, algemando e até a invadindo os escritórios de advocacia – quase sempre com a mídia a tiracolo. Agora, a Polícia Federal se volta contra a própria imprensa. E pela segunda vez.
A primeira foi em 2004, quando se criou a sinistra ‘Operação Gutenberg’, anunciada e defendida na coluna ‘Radar’, da revista Veja. Seu objetivo seria prender jornalistas concorrentes, supostamente responsáveis por ‘vendas de reportagens’. Segundo informava ‘Radar’, os vendilhões da mídia seriam aqueles envolvidos na cobertura do ‘caso Kroll’ – evidentemente, com um viés contrário ao desejado pelo governo.
Fui o alvo daquela ação, porque enxerguei as arbitrariedades cometidas pelo governo e critiquei abertamente a Polícia Federal, que solicitou a quebra do meu sigilo telefônico. Por sorte, havia um juiz no meio do caminho, que impediu que a operação prosseguisse. Mas que ela existiu, existiu.
Tempo precioso
Agora, surge uma nova etapa dessa ofensiva. É a versão 2.0 da Operação Gutenberg. Enquanto a primeira ocorreu às escondidas, esta se dá às claras. Foi solicitada pelo ex-ministro Luiz Gushiken, que se imagina vítima de um complô contra a sua honra. Segundo informou no site Conversa Afiada o jornalista Paulo Henrique Amorim, amigo de Gushiken, há três jornalistas investigados pela Polícia Federal. Mais uma vez, estou entre eles, só que agora, por ironia do destino, na companhia dos colegas Lauro Jardim, titular da coluna ‘Radar’, e de Diogo Mainardi, também da revista Veja.
Claramente, estamos diante de mais um inominável abuso. O ex-ministro Gushiken, citado no escândalo do mensalão e enredado em várias investigações criminais, julga-se no direito de denunciar, de forma caluniosa, seus desafetos. E a Polícia Federal, que tem tanto do que se ocupar no Brasil, acata e gasta seu precioso tempo com isso. Será isso republicano?
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Editor das revistas IstoÉ Dinheiro e Dinheiro Rural