O primeiro mês do novo ano chega ao fim e, até agora, não há nada indicando mudanças na rotina ‘conservadora’ que cerca o setor de comunicações em 2007. Nem no que se refere a propostas de políticas públicas, nem no que respeita à cobertura jornalística do cotidiano pela grande mídia.
A disputa pela presidência da Câmara dos Deputados – cujo resultado é crítico para o sucesso dos projetos do Executivo – parece ter adiado sine die a definição do novo (?) ministério, incluídos aí aqueles que diretamente lidam com as políticas públicas do setor de comunicações, em especial os ministérios da Cultura e das Comunicações.
Não se falou mais do I Fórum Nacional das TVs Públicas – que deveria ser realizado em fevereiro – e o ainda ministro das Comunicações anunciou a intenção do governo de criar uma rede pública de rádio. Ao que se sabe, o MiniCom trabalha sem o conhecimento dos outros setores do mesmo governo que articulam a realização do fórum das TVs públicas. Nada de novo nessa desarticulação conflitante de ações no mesmo setor.
Jornalismo antecipatório
As medidas do PAC pouco afetam as comunicações, a não ser no que refere a incentivos para acelerar os projetos de inclusão digital, o que certamente é positivo.
Até agora não aconteceu também a prometida mudança de atitude do presidente da República em relação à rotinização de entrevistas coletivas periódicas.
Por outro lado, a grande mídia continua com a má vontade costumeira na cobertura do governo Lula. Foi assim em relação aos dez dias de férias do presidente no início do mês, à reunião do Mercosul no Rio de Janeiro, ao lançamento e às repercussões do PAC. Está sendo assim em relação à disputa para a presidência da Câmara dos Deputados, onde existe uma indisfarçável ‘simpatia’ pelo candidato que não é da base governista.
Certamente é esse o papel que a grande mídia atribui a si mesma: estar sempre em posição vigilante e crítica a qualquer governo. Talvez mais em relação a uns do que a outros.
Por outro lado, as principais tragédias do início do ano confirmam a incapacidade crônica da grande mídia brasileira de antecipar situações potencialmente desastrosas para parte significativa da população, em particular da população mais pobre. Vale dizer, sua dificuldade em identificar e servir ao interesse público.
Qual veículo antecipou que o tipo de contrato feito pelo governo de São Paulo com as empreiteiras do metrô poderia ocasionar um desastre das proporções do que ocorreu?
Qual veículo foi capaz de antecipar e cobrar providências das autoridades – locais, estaduais e federais – para as previsíveis conseqüências das chuvas de verão em regiões, cidades, vilas e rodovias de todo o país?
Agenda necessária
O observador atento haverá também de ter notado o desequilíbrio usual na cobertura dos dois fóruns mundiais que ocorrem nessa época: o de Davos e, este ano, o de Nairobi. O segundo longe e distante da pauta usual da grande mídia.
Como no Brasil o ano só começa depois do Carnaval, pode ser que algo novo ainda venha a acontecer.
A conferir a capacidade dos atores sociais excluídos do reduzido grupo que até hoje tem decidido os rumos do setor de comunicações de se organizar e fazer valer uma agenda nova. Se isso não acontecer, 2007 caminha para ser uma repetição dos anos anteriores: nada de novo e a conseqüente manutenção do mesmo de sempre.