Apesar do mundo digital engendrado nos últimos anos, o papel ainda é a melhor maneira de guardar informações para uso futuro. A forma pode ser a do livro, que é mais perene e mais resistente; ou a do jornal, efêmera e circunstancial.
Os acadêmicos, sobretudo, costumam encarar com desconfiança o que os jornais contêm. Não dão lá muito crédito às suas informações. Por isso ainda não é muito frequente, ao menos no Brasil, a citação de jornais na bibliografia dos trabalhos científicos. A imprensa periódica padeceria do mal da inconfiabilidade, por ser empírica demais.
No entanto, os jornais são uma fonte indispensável e rica sobre o cotidiano, os acontecimentos rotineiros ou excepcionais do dia a dia de pessoas que vivem em locais determinados, em condições específicas. O que elas fazem e é levado ao registro jornalístico ainda não está sacramentado pelo sinete formal da história, mas é história.
Principalmente quando, na revisão que se faz (cada vez menos) nos arquivos dos jornais, chega-se a essa dimensão de continuidade que dá sentido à história, ou ao menos revela que a progressão do avanço humano no tempo não é um ziguezague sem algum elemento de acumulação. Quando nada, para nos fazer crer no sentido da vida.
É essa a crença da Memória do Cotidiano, publicada pelo Jornal Pessoaldesde 2002, por herança da Agenda Amazônica, publicação mensal que viveu em paralelo com seu irmão mais velho nos dois anos anteriores, sem ter sua mesma sorte: o JPse aproxima da marca quase inatingível para uma publicação alternativa, de um quarto de século, se ela persistir até 2012.
Já a Memória atinge seu quarto volume, na expectativa de continuar ativando a reflexão, o saber e o prazer dos seus leitores. Desde a semana passada ela está à disposição nas bancas e livrarias dos leitores que apreciam essa seção do JPe que queiram contribuir para sua continuidade adquirindo o livro.
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[Lúcio Flávio Pinto é jornalista e editor do Jornal Pessoal (Belém, PA)]