“A manchete de quarta-feira da Folha anunciava que o Brasil parou de crescer. Depois de dois anos de PIB positivo, o terceiro trimestre registrou uma mudança de rumo, com a estagnação da economia.
Era notícia importante, mas o jornal foi econômico. O noticiário se restringia a dois textos e uma análise, que ocupavam um pouco mais de uma página. Nenhum texto comparava o PIB brasileiro com o de outros países (havia apenas um quadro), não se discutiu a freada no consumo das famílias, que não acontecia desde 2008, não se destacou o bom desempenho agrícola. A queda do investimento, fundamental, foi citada de passagem.
Faltou ainda uma boa repercussão, promover um debate, como é costume do jornal. Parte dos economistas pregava corte de gastos e aumento de juros para estancar a inflação e o crescimento ‘exagerado’. Quando o Banco Central baixou a Selic, em agosto, surgiram críticas duras. Seria o momento agora de ouvir quem achava que o país estava acelerado e quem dizia que não.
O tom era pessimista, apontando para uma lenta recuperação e para mais efeitos nocivos da crise europeia, sem espaço para o contraponto dos que acreditam que o país se sairá bem da atual conjuntura.
A Folha apostou tudo na concisão, o que não é, a princípio, ruim. As pessoas têm cada vez menos tempo, mas exagerar na dose do remédio pode matar o paciente -no caso, torna o jornal dispensável, o que é um perigo em tempos de internet.
Encher de estatísticas não adianta, porque elas não dizem nada ao leigo, e os especialistas têm acesso aos dados pormenorizados. Mas seria útil a reportagem mostrar como empresas, prestadores de serviço e o comércio estão enfrentando uma situação pior: pararam de contratar? Pensam em demitir? Em baixar preços para desovar estoques? Não havia nada disso na Folha, nem nos dias seguintes.
Aos empresários seria importante saber os planos do governo federal para aquecer a economia, mas isso foi tocado só de relance. A quem serviu, enfim, a cobertura?
‘Ela não foi superficial ou irrelevante. Procuramos nos concentrar no que era essencial e destacamos projeções que apontam para uma recuperação lenta da economia nos próximos meses, ajudando a olhar mais para frente’, diz Ricardo Balthazar, editor de ‘Poder’.
O jornal ainda está sofrendo os efeitos da divisão de assuntos econômicos entre ‘Poder’, ‘Mercado’ e ‘Mundo’, estabelecida em março deste ano. Até agora, a prometida integração entre noticiário político e econômico não deu resultado e o que se vê é um amassamento de temas no ‘Primeiro Caderno’, enquanto ‘Mercado’ dispersa atenção em uma série de assuntos de menor importância.
A Folha precisa acertar o passo em economia, tema fundamental em um veículo que se pretende de influência nacional.
Até fofoca tem limite
A Folha.com tem dedicado bastante espaço para fofocas de televisão que se prestam mais ao entretenimento do que ao jornalismo. Mesmo levando isso em conta, o site extrapolou o bom senso na semana passada.
Primeiro, deu uma nota dizendo que Fátima Bernardes teria deixado o ‘Jornal Nacional’ por medo do HD, a imagem de alta definição que torna, por exemplo, as rugas mais visíveis. A fonte eram ‘maldosos da Globo’.
Noticiou também que um aspirante a ator acusa um diretor da emissora de seduzi-lo e depois não cumprir a promessa de colocá-lo em um papel na novela.
‘Não é fofoca. O processo trata de acusações pesadas contra um diretor famoso, além de ser um caso, no minímo, curioso. Nos 11 anos em que cubro TV, nunca vi um ator admitir que fez o ‘teste do sofá’. Por se tratar da maior emissora de TV do país e de um diretor notório, não vejo como ignorar o assunto’, diz a colunista Keila Jimenez.
A explicação não convence. O denunciante é um desconhecido, que perdeu na Justiça e postou um vídeo na ‘merdtv.net’ com suas ‘acusações’. O fato de envolver alguém ‘famoso’ não implica carta branca para publicar qualquer coisa. A afirmação de que se trata da ‘maior emissora do país’ passa a impressão de que a Folha tem um viés contra a ‘Globo’.”