Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Interior dita movimentos na mídia de SC

Os sinais já alertavam há tempos, mas muita gente nem ligou. Pior: há aqueles que ainda se recusam a enxergá-los. O fato é que as cidades do interior serão determinantes nos próximos movimentos do mercado midiático em 2007. Pelo menos em Santa Catarina. Algumas mudanças são de ordem política, deslocando o eixo das decisões do empresariado para longe de Florianópolis e da sua região de entorno. Outras modificações dizem respeito à distribuição de verbas publicitárias, investimentos em nichos de mercado e disputa de públicos.

Brusque manda

A primeira evidência de que o interior vai pesar na balança vem do Vale do Itajaí. Dois empresários de uma mesma cidade – Brusque – assumiram simultaneamente as mais importantes associações empresariais do mercado midiático local: a Associação dos Diários do Interior (ADI-SC) e a Associação Catarinense de Emissoras de Rádio e Televisão (Acaert). A primeira (http://www.adisc.com.br) reúne 22 jornais publicados em todas as regiões do estado, alcançando 81% dos municípios e quase 4 milhões de habitantes. Uma população que tem alto índice de alfabetização (93,9%), mais do que interessante para proprietários de jornais. A Acaert (http://www.acaert.com.br), por sua vez, congrega 14 emissoras de TV, 88 de rádio FM e 106 AM, cobrindo todo o estado.

Cláudio José Schlindwein, que dirige o jornal Município Dia-a-Dia, assume a ADI-SC, enquanto que Marise Westphal Hartke, da Diplomata FM, toma a frente da Acaert. Aliás, ela é a primeira mulher a ocupar a presidência nos 26 anos da entidade.

Investimentos espalhados

Este parece ser um ano decisivo para algumas apostas no interior do estado. Em Joinville, a Gazeta de Joinville tenta se consolidar ao mesmo tempo em que divide espaço nas bancas com a versão local do Notícias do Dia, o caçula da maior cidade do estado. Isso sem contar o poder massivo de A Notícia naquele município e na sua região. Em Itajaí, o Diário de Itajaí reforça o time para fustigar o hegemônico Diário do Litoral. Na mesma cidade, a TV Univali entra com sinal aberto no segundo semestre, expandindo suas operações e diversificando seu público, antes majoritariamente universitário. Em outros cantos do estado, também acontece a disputa pelo público e pelas verbas publicitárias. Tanto nos meios impressos quanto nos eletrônicos. Aliás, na TV, aumenta cada vez mais o desconforto das concorrentes da RBS TV frente ao seu alcance e apetite por anunciantes. Um movimento que chamou a atenção foi a Rede Record comprar os direitos de transmissão dos jogos do Campeonato Catarinense deste ano. Enquanto isso, RBS exibe jogos dos campeonatos gaúcho, carioca e paulista…

Dial pode mudar

Em 2007, poderemos ter novidades na radiodifusão. Pelo menos doze emissoras de rádio catarinenses terão que renovar suas outorgas até dezembro. Sem elas, as emissoras não podem operar na legalidade. Embora a Constituição Federal preveja que concessões possam expirar ou ser cassadas, isso é raro de acontecer, só mesmo em casos extremos. De qualquer forma, vale acompanhar a situação do dial catarinense. Veja a lista das rádios:

** Namba AM, de Ponte Serrada, outorga vence em 29/04

** Fraiburgo AM, de Fraiburgo, que vence em 1º/06

** São Bento AM, de São Bento do Sul, em 21/06

** Fronteira Oeste AM, de Dionísio Cerqueira, em 15/07

** Rainha das Quedas AM, de Abelardo Luz, em 16/07

** Porto Feliz AM, de Mondai, que vence em 19/09

** Centro-Oeste AM, de Pinhalzinho, em 8/11

** Araranguá FM, de Araranguá, em 19/11

** Raio de Luz FM, de Guaraciaba, 30/11

** 99 FM, de Balneário Camboriú, em 2/12

** Menina do Atlântico, de Balneário Camboriú, em 2/12

** Studio Radiodifusão FM, de Blumenau, em 21/12

Além delas, a RBS TV, de Florianópolis, também tem sua outorga prevista para vencer em 4 de julho próximo.

Perda de memória

Ainda no interior, em Joinville, um detalhe chamou a atenção de alguns internautas: o Portal AN já não é mais o mesmo. Parte de seu arquivo foi para o espaço! Vamos explicar: com a aquisição de A Notícia pelo Grupo RBS, o Portal teve que migrar seus conteúdos do UOL para um provedor do conglomerado sulista, operação que enxugou o arquivo do jornal joinvillense. Se antes era possível acessar conteúdos gratuitamente desde 1997, agora só mesmo a partir de 2005. Segundo o site do Sindicato dos Jornalistas, ‘as matérias publicadas entre 1998 e o final de 2004 somente podem ser encontradas pela data de publicação, o que praticamente inviabiliza a pesquisa jornalística’.

Antes, o Portal AN tinha suas páginas indexadas no Google, o que permitia a pesquisa por tema ou palavra. Com a migração, essas ligações se perderam. Aparentemente, este é o primeiro efeito colateral da compra de A Notícia pela RBS, em agosto do ano passado. Temia-se por mudanças que descaracterizassem o tradicional diário do norte ou mesmo demissões em massa, o que até agora não aconteceu.

Vem a calhar

Logo no primeiro final de semana após a posse dos novos parlamentares, o Diário Catarinense trouxe uma oportuna reportagem sobre a importância de fiscalizar os passos dos representantes públicos. Em duas páginas editadas no domingo, 4 de fevereiro, a reportagem ‘Fiscalizar é a arma para vigiar parlamentares’, orientou como observar a produção dos novos eleitos, exemplos de eleitores que não deixam por menos e até mesmo box com os telefones de todos os deputados federais e senadores catarinenses. Para cobrar mesmo!

Não é nada de novo, mas é um tipo de matéria que precisa voltar ao noticiário com freqüência. Jornalismo também é orientação ao cidadão…

Edição terminal

A mesma edição do DC trouxe outro exemplo de reportagem oportuna e relevante. Trata-se de um diagnóstico feito por repórteres do jornal sobre as condições dos mais movimentados terminais rodoviários do estado. Embora a matéria pudesse sair antes mesmo do início das férias (para levar as autoridades a promover mudanças a tempo), sua edição no final da temporada também tem sua importância. ‘Rodoviárias de SC com estrutura precária’ é bem elaborada, mas sofre na edição. O problema é a interrupção da matéria com a inclusão de duas páginas de anúncio (de um curso de pós-graduação!?) na seqüência. A reportagem começa na página 29 e só termina na 32, e o enxerto das páginas de anúncio corta o fluxo da leitura. Um desperdício…

******

Monitor de Mídia