Gostaria de parabenizar o programa Observatório da Imprensa pelo seu papel único na TV brasileira. Fiquei indignado ao assistir ao programa Fantástico da Rede Globo (11/2) e acredito que o único lugar onde eu possa fazer essa reclamação talvez seja no site do OI.
Quando comecei a ver a matéria da Fátima Bernardes entrevistando a mãe que perdera o filho que foi arrastado pelo carro após assalto no Rio, parecia um ato de crueldade da TV Globo, explorando as recentes emoções da mãe desconsolada para atingir altos índices de Ibope. No auge da dor, é pouco provável que os pais já estejam preparados para dar uma opinião equilibrada sobre o que aconteceu e que mudanças devem ser feitas na nossa sociedade.
Minha sensação foi a de o Fantástico fez uma exploração grosseira da desgraça alheia, que traz como conseqüência apenas indignação popular, mais nada. Se o objetivo fosse o de rediscutir fórmulas para reduzir a violência, outras formas menos sensacionalistas e mais efetivas seriam possíveis. Naquele momento, o Fantástico imitava os programas televisivos das 18h que, com ajuda de seus helicópteros, agem como verdadeiros urubus da TV, cuja sobrevivência depende da morte alheia.
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Pequena reflexão sobre uma barbárie recente e outra que parece ter ficado no esquecimento: os autores do monstruoso crime que resultou na morte brutal de um menino de seis anos, no Rio, devem ser colocados lado a lado com os rapazes de classe média alta que há cerca de dez anos queimaram vivo um índio morador de rua, em Brasília. Os dois grupos merecem a mesma execração pública, o mesmo tratamento inclemente da mídia e a mesma punição da justiça.
Os pais dos rapazes de Brasília, em vez de ficarem usando de artifícios espúrios para descolar empregos públicos com salário inicial de 6 mil reais para seus filhos criminosos (que deveriam estar cumprindo pena), devem mirar-se no exemplo do porteiro que denunciou o próprio filho à polícia no caso ocorrido no Rio. Ou será que o crime de Brasília foi menos monstruoso e menos estarrecedor que o daqui? As razões que motivaram os rapazes de Brasília são por acaso mais compreensíveis que aquelas que levaram ao crime os adolescentes do Rio? O índio que morava na rua tinha menos direitos que o garoto assassinado no Rio?
E alguém ainda acredita que o crescente clima de violência que apavora as cidades brasileiras vai ser resolvido punindo-se apenas aqueles que já nascem castigados por um esquema cada vez mais excludente, cada vez mais injusto, cada vez mais concentrador de renda? (Jaime Elias Coelho, Arquiteto, Rio de Janeiro, RJ)
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A mídia deixa de cumprir o seu dever de informar com isenção, como deveria, quando o assunto é o valor dos salários no setor público. Deixa de informar que nem de longe o presidente da República vive com 8 mil reais e os deputados com 12 mil reais por mês. E que embora o salário de um magistrado possa ser ‘n’ vezes o salário mínimo, este não é um absurdo quando comparado com um funcionário de alto escalão de uma empresa privada ou um pequeno empresário. Quando convém, segundo o ex-sindicalista Jair Meneghelli, 19 mil reais não é muito pois a Xuxa ganha muito mais. O jornalista Carlos Heitor Cony recebe 19 mil reais sem imposto a título de uma indenização por ‘tortura psicológica’. Se fosse de fato tão absurdo, por que tal valor? O fato de se justificar a discrepância entre o salário público e privado não se sustenta, pois como ter o melhor do país, isento de pressões ganhando muito menos em relação a importância de sua ocupação. Que o salário de um ministro do Supremo Tribunal Federal na realidade não é este absurdo. Só quando convém. Proponho a este Observatório uma matéria tratando deste assunto. (Leonardo Falcão Koblitz, engenheiro, Rio de Janeiro, RJ)
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Acho um absurdo este tipo de matéria que a Rede Globo vem colocando em discussão – comportamento sexual da mulher de meia idade, estatísticas de traição das mulheres. Afinal qual é o tipo de serviço de utilidade pública que se está querendo prestar com essas reportagens? Estas demonstram retrocesso, provincianismo e mediocridade. Com certeza os editores e repórteres estão se esquecendo que a maioria dos espectadores deste tipo de programa não tem condições de avaliar as informações e as recebem incondicionalmente. Tenho percebido um machismo absurdo nas ruas; por exemplo, taxistas se achando no direito de invadir a privacidade de suas passageiras perguntando sobre suas vidas pessoais.
Qual é a desta equipe de reportagem? Lavar suas roupas sujas através de um psicodrama coletivo? Incentivar a violência e a repressão contra as mulheres? Vulgarizar ainda mais a figura feminina do Brasil no imaginário coletivo? O que a equipe de pauta desta emissora tem por objetivo quando invade a vida pessoal das mulheres? Aumentar a taxa de determinado hormônio no cérebro dos espectadores?
Acho tudo isso uma grande cafajestice. A figura do adultério foi extinta do Código Penal. Então que tipo de ‘punição’ está se buscando para este comportamento? A lei das ruas? Ficarei atenta para ver o possível aumento de violência contra as mulheres após estas reportagens. (Ana Viegas, estudante de Direito, São Paulo, SP)
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Essa é a segunda vez que não concordo com os resultados instantâneos da pesquisa, após votar. Acredito que a imprensa brasileira pode e deve assumir um grande papel de transformação cultural através da inclusão pela informação. O patrimônio do nosso país, antes de mais nada é cultural. Nós temos influências de todo o mundo, mas desenvolvemos, graças à nossa capacidade criativa, características próprias. Nós reinventamos a dança de onde quer que tenha vindo, combinando estilos. A tornamos mais feliz, mais gingada, mais plástica. E assim foi tudo.
Acredito que a mídia brasileira seja capaz de sustentar uma pauta ambiental. Ecológica, prefiro considerar. Notamos na imprensa internacional setores especializados em falar bem de seus países. Por mais ‘isenta’, ‘pró’, ou ‘contra’ que sejam, todos os veículos internacionais têm setores especializados em defender o patrimônio nacional e a falar bem de seus respectivos países. A imprensa internacional faz muito bem seu papel ambiental, e não poderia ser diferente. Divulgar pesquisas, entrevistar especialistas, mostrar avanços que cientistas brasileiros desenvolvem como o biodiesel e a transmissão de informações e dados através de cabos de energia elétrica (leia-se internet banda larga para todos), enfim, reconhecer e alardear nossos valores independentemente de quem quer que esteja no poder.
A imprensa pode e deve estimular os valores nacionais com amplos debates. E, aí sim, cobrar das autoridades atitudes que promovam o desenvolvimento sustentável, que antes de ser negócio ou politicagem é causa de cultura. Dessa disseminação cultural que carecemos no momento e qualquer atitude ambiental (no ambiente de cada um) se reverterá ajudando a frear os efeitos maléficos de nosso próprio lixo. (Eugenio Pacelli, fotógrafo, Uberlândia, MG)
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Assisti a três jogos de futebol pela TV, nas três primeiras rodadas do Campeonato Carioca: Cabofriense x Botafogo, Flamengo x Boavista e América x Vasco. Os três foram decididos por erros dos juízes. Nos dois últimos casos, os juízes foram entusiasticamente elogiados pelos comentaristas especializados da emissora monopolista das transmissões (e pelos jornais no dia seguinte). No primeiro, os elogios tiveram de ser interrompidos somente porque o juiz voltou atrás na decisão – que já estava sendo elogiada – de validar um gol.
Os direitos exclusivos sobre alguns campeonatos foram adquiridos, há alguns anos, por uma poderosa empresa de comunicação, em transações muito aplaudidas. Não desejo opor-me a essa empresa, cuja enorme influência sobre os três poderes da República só a História poderá dar o devido valor. O fato é que, desde que essa exclusividade se estabeleceu, são raros os anos em que escandalosos erros de arbitragem não desviam os campeonatos dos seus cursos. Ao mesmo tempo, cresce a violência nas arquibancadas e em torno dos estádios.
Acho que chegou a hora de aceitar a interrupção por alguns minutos para a revisão dos lances decisivos, como no futebol americano. Conceda-se aos técnicos, nos campeonatos importantes, o direito de contestar algumas decisões do juiz durante cada jogo. O juiz passará a esperar a conclusão das jogadas, aumentando a beleza do espetáculo. (Annibal Parracho, professor, Rio de Janeiro, RJ)
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Físico, São José dos Campos, SP