Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Cadê o jogo que estava aqui?

Em mensagem ao Congresso, enviada em fevereiro, o presidente Lula disse: ‘A regulamentação da atividade dos bingos vai organizar o setor e assegurar recursos para o esporte social’. Menos de uma semana depois, uma Medida Provisória assinada pelo mesmo Lula determinou o fechamento de todos os bingos do país.

A contradição foi amplamente noticiada pela imprensa. Mas só um colunista, Janio de Freitas, da Folha de S.Paulo, procurou explicá-la: com o fechamento dos bingos, criou-se o pretexto para que os parlamentares que votaram a CPI dos Bingos retirem sua assinatura. Sem bingo, para que CPI do Bingo? E o governo poderia sepultá-la tranqüilamente.

Se deve ou não haver CPI, este não é o problema. O problema é investigar a intromissão de um braço do crime organizado num dos mais altos escalões do governo. Se as investigações concluírem que Waldomiro Diniz não era agente do crime organizado, mas apenas aproveitou a oportunidade para ganhar algum; ou, mesmo sendo agente do crime organizado, não teve tempo de lançar raízes, tudo bem – poderemos dormir tranqüilos. Mas, se houve tempo para que o crime organizado se implantasse em algum setor do governo – e isso só uma boa investigação pode mostrar –, não poderemos descansar até extirpá-lo. E isso é do interesse do governo, que foi eleito para liderar o país e não para ser transformado em refém.



Os núcleos

Novela tem núcleo rico e núcleo pobre; tem núcleo do bem e núcleo do mal. Quando a imprensa fala em ‘núcleo duro’ do governo, estará insinuando a existência de um núcleo mole? E isso não soa vagamente indecente?



Jornalismo sem máscara

A Globo quer recursos do BNDES, a Record é contra. IstoÉ Dinheiro e UOL trocam chumbo grosso, sendo problemas financeiros o núcleo da disputa. Quem tem razão? O jornalista Sérgio Bártholo propõe uma saída absolutamente correta: que a imprensa se comporte com a transparência que exige dos outros. ‘Que tal começar com a publicação dos balanços financeiros? Que tal começar dizendo de onde vem o dinheiro que a mantém?’ E faz uma pergunta que este colunista transfere a quem deve respondê-la: ‘Por que os donos de empresas em dificuldades financeiros vivem como milionários?’

Há uma regra de jornalismo segundo a qual a pergunta nunca é inconveniente. Inconveniente – e como! – pode ser a resposta.



Sem álcool

Talvez por causa do Carnaval esta notícia tenha passado despercebida. O fato é que o colunista não a encontrou. Mas o juiz Alexandre Batista Alves, da 11ª Vara Cível de São Paulo, capital, determinou que a Kaiser retire do mercado, em 60 dias, a cerveja Bavária sem álcool. No Rio Grande do Sul, a Justiça retirou do mercado a cerveja Kronenbier, da Ambev. O motivo é o mesmo: as duas cervejas informam que não têm álcool, mas têm, embora em pequena quantidade.

O problema é que o álcool é incompatível com alguns remédios; é incompatível, também, com algumas religiões (como o islamismo). E, ao anunciar que as cervejas não têm álcool, há uma indução à compra por pessoas que não comprariam se soubessem a verdade.

Mas a dúvida deste colunista é outra: por que não encontrou a notícia? Terão sido notas pequenas que, ao lado de tão grandes anúncios de cervejarias, simplesmente desapareceram?



Olha o Cade!

No exterior, a DirecTV e a Sky já decidiram fundir-se. O motivo é simples: o controlador de ambos é o empresário Rupert Murdoch. No Brasil, a empresa resultante de uma eventual fusão ocupará mais de 90% do mercado de TV via satélite. Seria bom que o Cade começasse agora a estudar o assunto, para que a decisão seja o mais próxima possível do fato.

É hora, sem dúvida, de analisar a concentração de poder em poucas empresas de comunicação. Nada partidário, nada ideológico, mas levando em conta que a multiplicidade das fontes de informação é fundamental.

Racismo, de novo



Desta vez, a escorregada racista é do colunista Renato Mello, também dono do jornal A Notícia, de São Leopoldo (RS). Na edição de fevereiro, página 3, referindo-se a uma personalidade local que não aprecia e que esteve na Redação com dois antigos prefeitos da cidade, pergunta ‘o que quer um judeu com dois ex-prefeitos?’

A questão já foi levada ao Comitê de Ética do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul.



Rio x São Paulo

Deu na imprensa do Rio que turistas paulistas não vão à praia para não estragar o penteado. Deu na imprensa de São Paulo que turistas paulistas não vão à praia no Rio por medo de arrastões. Deu na imprensa do Rio, a propósito do assalto ao ministro Marco Aurélio Mello, que os paulistas lá podem andar com seus relógios Rolex em segurança. Deu na imprensa de São Paulo que os turistas paulistas podem andar com seus relógios Rolex porque os possuem.

Que pobreza, gente! Não dá para discutir na imprensa algum tema menos antiquado do que esse?

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Jornalista, e-mail (carlos@brickmann.com.br)