Um satélite espião do Serviço de Informações Espaciais da GRU (inteligência militar russa) teria identificado pelo menos dois assassinos da jornalista Anna Politkovskaya [ver remissão abaixo]. Os dois presumíveis criminosos são chechenos e já estariam detidos. É o que afirma o diário Komsomolskaya Pravda, jornal que pertence a um empresário ligado ao Kremlin. O título é a manchete da primeira página, ilustrada por uma foto feita a partir do satélite. Um furo, porque foi o único jornal a informar o fato.
A Procuradoria Geral russa não se manifestou. O jornal russo noticia que a informação transpirou graças a uma fonte ‘muito próxima ao núcleo de investigações’. A reputação do Komsomolskaya Pravda não é aquela de uma publicação de escândalos, muito pelo contrário: o que publica é quase sempre é confirmado. Presume-se que alguém tenha querido difundir a noticia para mostrar que as autoridades russas estariam trabalhando seriamente para desvendar o mistério do assassinato da jornalista. Mas, sobretudo, para responder às crescentes acusações internacionais de que o governo esteja querendo varrer o caso para debaixo do tapete.
Tráfego insólito
No sábado (10/2), numa entrevista coletiva em Munique, o presidente russo Vladimir Putin mostrou-se contrariado quando lhe perguntaram pela enésima vez quais eram as responsabilidades de Moscou na morte da jornalista, e secamente respondeu: ‘Jornalistas são assassinados na Rússia, mas no Iraque são mortos muitos mais. Nós estamos fazendo de tudo para punir os responsáveis por tal crime’.
Dmitri Muraov, diretor da Novaya Gazeta, publicação bissemanal onde trabalhava Anna, não acredita na identificação obtida pelo satélite: ‘Para mim é tudo mentira. Nem o grupo do inquérito, nem nossa redação dispõem de qualquer informação sobre a detenção de alguém envolvido no assassinato de Anna, que tenha sido visto por um satélite dos militares’.
Ao que tudo indica, as ‘tropas espaciais’ estavam fazendo rastreamento para a segurança de Putin, durante a festa de seu aniversário, e encontraram um tráfego insólito junto à casa de Anna, no dia do assassinato. Estas pistas teriam identificado traços de chechenos, o que poderia vincular o crime ao premiê Ramsam Kadyrov, aliado da Rússia. Se isso for confirmado, colocará o Kremlin em dificuldades.
[Texto de apoio: Coen, Leonardo em la Repubblica, 11/2/07]