A Wikipedia e outros sites muito visitados transformaram suas homepages em protestos virtuais ontem [18/1], como parte de uma campanha contra a legislação para a pirataria na internet em trâmite no Congresso americano.
A estratégia pareceu dar resultados e, no fim do dia, a aprovação da legislação já não parecia tão certa quanto antes do protesto.
A enciclopédia on-line, o décimo site mais visitado dos Estados Unidos, tirou do ar a maioria de suas páginas em inglês, substituindo seu conhecido layout branco e cinza por uma página de fundo negro com informações sobre os projetos de lei. Conhecidas como Sopa e Pipa, nas siglas em inglês, a Lei Contra a Pirataria On-line e a Lei de Proteção ao Direito Autoral – que têm o apoio das maiores empresas de comunicação dos EUA – permitiriam ao Departamento de Justiça obrigar que os navegadores de busca retirem certos resultados de seus sites, entre outras medidas antipirataria.
“Essa lei é mal construída, muito perigosa e não resolve o verdadeiro problema da pirataria”, disse Jimmy Wales, cofundador da Wikipedia, numa entrevista ao The Wall Street Journal. “As regras da internet não devem ser ditadas por Hollywood.”
Páginas pretas
Pelo menos 10.000 sites haviam prometido desligar ou deixar suas páginas pretas, segundo uma organização americana chamada Fight for the Future.
A Google Inc. também aderiu ao protesto, mas não tirou seu site do ar. Por volta de meia-noite, ela cobriu o logotipo na homepage americana com uma tarja preta, e divulgou um link pedindo às pessoas que enviem mensagens ao Congresso pedindo: “Por favor não censure a web”.
O Craigslist Inc., o popular site de classificados, também colocou no ar uma homepage negra oferecendo informação sobre as leis e exigindo que os “tesoureiros das empresas […] tirem suas mãos sujas da internet!”
Wales disse que lançou em dezembro a ideia de tirar a Wikipedia do ar em protesto, e que ela foi colocada em ação depois de semanas de discussões entre os editores do site, todos voluntários. “A comunidade se reuniu e teve um grande diálogo e decidiu que precisávamos dar um basta”, disse Wales.
Opinião diferente
Fechar o site por um dia tem a meta de forçar o Congresso a ouvir uma opinião diferente sobre a questão, disse Wales. “Até agora eles só tinham ouvido mesmo os lobistas profissionais e Hollywood, e não tinham consultado as pessoas sobre como elas usam a internet e por que ela deve continuar do jeito que é”, disse Wales.
Ao tirar seu site do ar, a Wikipedia também assume a frente de uma causa ligada aos interesses empresariais de grandes firmas de tecnologia. “Nossa visão é que o Google é grande o suficiente para se cuidar sozinho”, disse Wales. “Nosso interesse é na estrutura dos fundamentos da internet.”
O blecaute na Wikipedia afetou apenas seu site em inglês para visitantes do mundo inteiro. As versões em outras línguas e formatadas para celular continuaram no ar.
Os participantes do protesto se agarraram a uma declaração do governo que ofereceu suporte parcial à causa deles, e rapidamente aderiram ao plano de blecaute driblando as empresas de comunicações.
A legislação em questão, destinada a impedir que sites baseados fora dos EUA vendam filmes, músicas e outros produtos pirateados, tem o apoio de estúdios de cinema, empresas de jornalismo e outras instituições que vendem conteúdo.
Apesar de esse ser um setor poderoso, o movimento de ontem deu uma mostra da influência dos sites, que não querem ter restrições impostas a seu conteúdo.
Empresas como Facebook Inc. e Google hoje têm conexões poderosas. O ex-assessor de imprensa da Casa Branca Joe Lockhart, por exemplo, hoje trabalha para a Facebook.
Empresas tradicionais
Parte do problema é que a mensagem das empresas tradicionais de comunicação – a de que as pessoas devem pagar por programas de TV, filmes e livros – não cai bem entre consumidores habituados a obter conteúdo gratuito na internet. Mas a batalha também demonstra como empresas da Web estão adaptadas a usar a internet, particularmente as redes sociais, para determinar uma agenda.
As indústrias de TV, cinema e música gastaram mais de US$ 91 milhões em lobby nos EUA nos três primeiros trimestres de 2011, segundo o Centro para Política Responsável. Entre elas está a News Corp., que além de dona dos estúdios Fox também publica o The Wall Street Journal.
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Em parceria com o The Wall Street Journal Americas