Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Um ano a ser esquecido

As organizações não governamentais (ONG) nacionais e internacionais de defesa da liberdade de imprensa são unânimes em seus balanços: 2011 foi trágico para a mídia.

A ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) informou que pelo menos 66 jornalistas foram mortos no mundo todo durante o ano passado (http://es.rsf.org/). Cerca de 1.044 profissionais da imprensa foram presos, quase duas vezes mais do que no ano anterior. Muitas das mortes aconteceram durante as revoluções árabes, na cobertura da criminalidade no México e nos distúrbios políticos no Paquistão, este que foi considerado o país mais perigoso para o exercício do jornalismo. O número de profissionais mortos no Oriente Médio chegou a 20.

Já o Comitê de Proteção aos Jornalistas acrescenta que o número de jornalistas mortos “em situação de risco” foi o maior desde o início da aferição feita pela ONG, em 1992. No total, foram 43 profissionais de comunicação mortos, “com relação direta ao seu trabalho”, em 2011. A quantidade de profissionais mortos em cobertura de conflitos, como protestos de rua, foi a maior já registrada. Segundo o CPJ, 16 jornalistas foram mortos em conflitos, principalmente em manifestações da “Primavera Árabe” e na Líbia. Oito repórteres foram mortos em “situações de combate”. Em contrapartida, o número de assassinatos “planejados” caiu. Foram registrados 19 óbitos provocados por emboscadas ou “encomendas”.

O estudo apresentado pela Federação Internacional de Jornalistas apontou que as perdas entre profissionais da mídia chegaram a 106 nos últimos 12 meses, contra 94, em 2010. O estudo feito com mais de 600 mil jornalistas, em 131 países, avalia que a maioria destes profissionais trabalhava na cobertura de conflitos e guerras. Além disso, 20 comunicadores e outros funcionários do setor morreram em desastres naturais ou acidentes. A violência contra a mídia foi “mais grave” no Paquistão, Iraque e México, onde foram registradas, em cada um desses países, 11 mortes.

Desafiadores e trágicos

A Associação Mundial de Jornais – Wan-Ifra considera que as revoltas – e a consequente repressão dos regimes – no norte da África e no Oriente Médio fizeram do mundo árabe a região mais perigosa para a imprensa no ano passado. Quase metade das 64 mortes de profissionais no exercício de sua atividade aconteceu no Paquistão, no Iraque, na Líbia e no Iêmen, segundo a entidade empresarial.

A Campanha Emblema de Imprensa – PEC, contabiliza 106 mortes de comunicadores em 39 países. Como todos os demais organismos profissionais ou empresariais, o instituto ressalta que o crescimento das mortes é preocupante. Em 2010, a entidade registrava 105 perdas.

Nas Américas, o balanço da Sociedade Interamericana de Imprensa – SIP apontou 2011 como um dos mais “desafiadores e trágicos” anos para a maioria dos jornalistas da região. Conforme a SIP, 24 jornalistas morreram nas Américas, sendo sete no México, cinco em Honduras, quatro no Brasil, três no Peru e um em cada dos seguintes países: Colômbia, República Dominicana, El Salvador, Guatemala e Paraguai.

Um balanço macabro

O levantamento também destaca ataques de governos contra a imprensa, por meio de leis, regulamentos e ações judiciais. Cita a Argentina que pressiona para declarar o papel-jornal um bem público, e o presidente equatoriano Rafael Correa que processa executivos de jornais e jornalistas por difamação, com pedidos de indenização exageradamente onerosos.

No território nacional, a crescente violência contra jornalistas no Brasil é um desafio a ser enfrentado coletivamente, avalia a Federação Nacional dos Jornalistas – Fenaj, acompanhando os números já revelados pelos organismos internacionais. Uma das alternativas para combater esta situação é o projeto de federalização de crimes contra jornalistas, que tramita na Câmara dos Deputados, defende a entidade.

Como se vê, neste macabro balanço, está cada vez mais perigoso e trágico o exercício da profissão de jornalista ou de comunicador em todo o mundo, quaisquer que sejam as formas de análise feita pelas entidades. E, efetivamente, se comprova que 2011 é um ano a ser esquecido pela mídia nacional e internacional e pelos profissionais, no que tange aos atentados à liberdade de imprensa.

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[Vilson Antonio Romero é jornalista e diretor da Associação Riograndense de Imprensa]