Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Lula toma café da manhã com jornalistas


Leia abaixo a seleção de sexta-feira para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Sexta-feira, 21 de dezembro de 2007


LULA E A IMPRENSA
Letícia Sander


‘Se o Estado cede, o Estado acaba’, diz Lula sobre bispo


‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou ontem a greve de fome do bispo de Barra (BA), d. Luiz Cappio, e afirmou que as obras de transposição de parte das águas do rio São Francisco vão sair. ‘Se o Estado cede, o Estado acaba’, afirmou o presidente, em referência à greve do religioso.


Lula falou a jornalistas em um café da manhã no Planalto. Ele classificou as obras da transposição de ‘projeto mais humanitário do governo’ e disse ter aprendido que a greve de fome vai contra os preceitos da igreja. Contou que ele próprio já se valeu dessa forma de protesto, durante seis dias na década de 80, quando estava preso. Mas foi convencido por d. Cláudio Hummes, ex-arcebispo de São Paulo que está hoje no Vaticano, a interromper o jejum.


‘Aprendi com meus companheiros da Igreja Católica que só Deus dá e pode tirar a vida’, disse. E relembrou a experiência: ‘Dá uma fome…’.


Na hora e meia de conversa, o presidente fez projeções otimistas sobre a economia, mas admitiu que a única coisa que o deixará de ‘antena ligada’ neste fim de ano é a crise financeira nos EUA, porque, segundo ele, ‘ninguém sabe’ o tamanho do problema. Falou sobre política interna e externa.


Lula fumou uma cigarrilha e tomou dois cafés expressos. Rejeitou pão -só come aos domingos-, comeu frutas e bolo de coco. Só demonstrou irritação quando questionado se o senador Edison Lobão (PMDB-MA) assumirá o Ministério de Minas e Energia.


Reclamou que todo mundo tira férias, menos o presidente, e admitiu que poderá tirar alguns dias de descanso na primeira semana de janeiro. À exceção de uma rápida entrevista que deu ao final, a conversa não foi gravada, a pedido da Secretaria de Comunicação Social da Presidência. Também não foram permitidas anotações.


GREVE DE FOME


O presidente afirmou que entre a greve de fome do bispo d. Luiz Cappio e os 12 milhões de nordestinos que serão beneficiados com o projeto, ficará com a população, garantindo a continuidade das obras. ‘Só quem carregou lata d’água e viu sua cabrinha morrer sabe o que é o problema da seca.’ Lula disse esperar que a igreja diga ao bispo o que disse a ele: que não se mete em questões técnicas. Afirmou que o bispo deveria seguir os preceitos cristãos e emendou: ‘Espero que ele tenha juízo’. Disse que o projeto ajudará a acabar com a indústria do caminhão-pipa no país. E acrescentou que, se o Estado cedesse à greve de fome, outros grupos também a fariam.


BOLÍVIA


O presidente atribuiu parte da crise na Bolívia ao ‘preconceito’ de que o presidente Evo Morales seria vítima. Defendeu a ascensão de um indígena: ‘Num país onde 80% da população é de índios, não pode ter governante de olho verde que fala inglês’. Lula contou que, até as 10h de segunda, quando estava na Bolívia, os técnicos da Petrobras e da estatal boliviana não tinham chegado a um acordo sobre o retorno dos investimentos do Brasil naquele país, e que ele disse a Morales: ‘Vai ser muito ruim para a Bolívia e o Brasil e para mim e para você se não tiver acordo’.


Após mais de quatro horas de reunião, Lula e Evo acabaram anunciando que a estatal investirá até R$ 1 bilhão em projetos para extração de gás na Bolívia nos próximos anos. Afirmou que não tem divergências com Evo, ainda que ‘muita gente aposte numa guerra’ entre eles. Considera o radicalismo do boliviano uma reação ao suposto preconceito contra ele.


TARSO


‘Achei que o Tarso tinha morrido’, contou Lula, a respeito do desmaio do ministro da Justiça, durante cerimônia em La Paz no último domingo. O presidente disse que o incidente impressionou a comitiva brasileira e que, naquela noite em La Paz, ele próprio dormiu com ‘a porta aberta e a luz acesa’, com medo de ter ‘um piripaque na Bolívia’. Segundo boletins médicos, Tarso foi vítima do ‘mal das alturas’ -a capital boliviana está 3.600 metros acima do nível do mar.


CHÁVEZ


Lula disse ontem que ‘é fácil, muito fácil’ negociar com o venezuelano Hugo Chávez. Atribuiu isso ao fato de Chávez ter uma vontade política muito grande em relação à América do Sul. O presidente culpou a burocracia dos dois países pelas dificuldades nos acordos entre a Petrobras e a PDVSA.


MERCOSUL


Lula defendeu o bloco, elogiou a recente reunião ocorrida em Montevidéu e disse: ‘O filho pode não ser a criança mais bonita. Mas é nosso, e os outros não podem colocar defeitos’.


SENADO


Admitiu que, apesar de os integrantes da base aliada somarem 53 senadores, só conta com 45 aliados no Senado -número que permite aprovar qualquer projeto, menos mudanças na Constituição. ‘Sabemos qual é a base, quem está com a gente e quem não está.’


REFORMAS


Lula afirmou que a reforma tributária será enviada até fevereiro. Sobre a reforma política, disse que tem provocado os partidos, mas que essa é uma atribuição do Congresso.


CAOS AÉREO


O presidente reconheceu que problemas devem ocorrer nos aeroportos neste fim de ano, mas disse acreditar que será em dimensão menor do que em 2006. Questionado se faltou planejamento, tergiversou, dizendo que está há cinco anos no poder e que ‘isso é coisa para médio e longo prazos’.


MINAS E ENERGIA


Lula reagiu irritado ao ser questionado se o senador Edison Lobão (PMDB-MA) viraria ministro de Minas e Energia, como dizem peemedebistas. ‘Você vai indicá-lo?’, rebateu o presidente à Folha, acrescentando: ‘Nunca falei isso’. Lula afirmou que ‘não sabe de onde saem essas notícias’. Cauteloso, também disse ter aprendido o ‘peso’ de suas palavras.


IMPRENSA


Reclamou que não há a palavra ‘desculpa’ no ‘dicionário da imprensa’, em referência a 2004, quando citou ‘espetáculo do crescimento’ para se referir a avanços econômicos. Disse que passou aquele ano ‘apanhando’ da imprensa e que o crescimento se confirmou.


POLÍTICA


Afirmou não ter ‘problema político’ pela frente. Citou, no contexto da CPMF, que a oposição e os aliados terão o mesmo tratamento, e exemplificou: disse que anteontem liberou R$ 300 milhões para a construção do Rodonel em São Paulo e R$ 1,5 bilhão para a construção do metrô no Estado governado por José Serra (PSDB).


GIL


Lula disse que o ministro Gilberto Gil (Cultura) ficará no cargo. Contou ter jantado anteontem com ele -os dois jogaram cartas até as 2h. ‘O Gil é uma pessoa leve’, afirmou.’


 


 


PRESIDENTE CONCEDEU 152 ENTREVISTAS EM 2007, DIZ MARTINS


‘O ministro Franklin Martins (Comunicação Social) disse ontem que Lula concedeu 152 entrevistas em 2007 -60 a mais que no ano anterior. Desconsiderando as entrevistas de improviso, o número cai para 79 (50 exclusivas, 13 para órgãos nacionais, 2 para regionais e 9 para internacionais).’


 


Letícia Sander


‘Ninguém sabe o tamanho’ da crise nos EUA, afirma presidente


‘Apesar das projeções otimistas sobre a economia brasileira feitas ontem durante café da manhã com jornalistas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu que está preocupado com a crise financeira nos Estados Unidos. Ele afirmou que ‘ninguém sabe o tamanho’ do problema até agora.


Segundo Lula, a crise ‘ainda não atravessou o Atlântico’ -repetindo a metáfora incorreta, do ponto de vista geográfico, visando dizer que o Brasil está a salvo da turbulência. Mas ponderou que os problemas com os ‘subprimes’ (hipotecas de alto risco) começaram num banco de desenvolvimento e já atingem bancos importantes.


Disse também ter pedido aos ministros Henrique Meirelles (Banco Central) e Guido Mantega (Fazenda) que acompanhem o desenrolar dos fatos nos EUA ‘diariamente’.


O presidente previu que, se o IBGE apontar neste ano crescimento econômico inferior a 5%, na atualização feita posteriormente ‘vai passar para mais de 5%’. Também disse que, no ano que vem, o Brasil ‘crescerá mais um pouquinho’.


Deixando para trás o discurso catastrofista anterior à derrota da CPMF, Lula disse que a arrecadação de R$ 38 bilhões fará falta, mas que não ficou ‘nem um pouquinho nervoso’ com o fim do imposto. ‘Não tenho razão para perder nem meio minuto de sono.’


Foi evasivo sobre a possibilidade de aumentar impostos. ‘Essa pergunta é tão antiga quanto Confúcio [filósofo chinês que viveu entre 551 a.C. e 479 a.C]. Qualquer coisa que eu disser, vão escrever: ‘o presidente admite que…’ Apesar de ter insistido que só após o fim de ano se debruçará sobre o problema, Lula não descartou lançar mão de ‘medidas administrativas emergenciais’.


Chamou de ‘pobreza de espírito’ o fato de senadores, segundo ele, votarem contra a CPMF achando que ele ficaria forte e faria sucessor em 2010. ‘Dá pena.’ Rejeitou a hipótese de lançar um pacote para compensar a perda e disse ter ojeriza à palavra. ‘O Brasil já foi vítima de vários pacotes.’


Ele minimizou eventuais falhas do governo na negociação da CPMF, negou que tenha agido tarde e disse que acordos são feitos até o último minuto.


Lula afirmou que Mantega está mantido. ‘É um grande companheiro de mais de 30 anos, da mais alta qualificação, credibilidade e competência. É o mesmo que o Corinthians ganhar de 5 a 0 do Grêmio, e a gente tirar o técnico. O Mantega fica.’’


 


EDUCAÇÃO
Eliane Cantanhêde


Por que, para que, para quem?


‘BRASÍLIA – É emocionante ver uma mãe chorando num programa eleitoral porque o filho pobre chegou à universidade? Sem dúvida. É ótimo que jovens com poucas chances de estudo tenham diploma universitário? Com certeza.


Mas a principal questão da educação não é essa, nem são de todo graves os dados do MEC mostrando que 12% dos jovens de 18 a 24 anos estão matriculados no ensino superior, quando o Plano Nacional de educação prevê 30% até 2011.


O grave começa no ensino fundamental. O Brasil foi competente no rumo da universalização, mas não é preciso fazer prova em cima de prova para mostrar que os alunos saem das escolas sem aprender.


E o grave continua no ensino médio, até com a falta de escolas técnicas para os milhões de jovens que, em vez de anos e anos numa universidade teórica, precisam e querem empregos reais. O percentual de jovens no ensino técnico nos EUA é de 60%; no Brasil, de 9%.


Quem não tem um parente, amigo, filho que fez universidade por fazer e ocupa função técnica, com salário de técnico e vai continuar técnico? É legítima a vontade da mãe e do estudante de ter um diploma superior na mão -ou melhor, na parede. Mas quem de fato lucra com isso são as universidades particulares, muitas com ensino sofrível e preços escorchantes. O ‘doutor’ gasta o que tem e o que não tem por um sonho fugaz -e inútil.


Falta estratégia de educação no país, e não é de hoje. É preciso saber para quem, por que e para que abrir vagas no ensino superior, combinando o arbítrio pessoal e o interesse nacional. Ou seja: vagas com mercado de trabalho.


É melhor investir num ensino que dê oportunidades iguais para todos e trate a universidade como o que é: centro de excelência. Até lá, levar a sério as escolas técnicas, para que o aluno tenha opções reais e orgulho da sua profissão, em vez de ter um diploma vazio e uma frustração travestida de orgulho.’


 


MEC descredencia 39 cursos de pós no país


‘O Ministério da Educação descredenciou ontem 39 programas de pós-graduação -especialização, mestrado ou doutorado- do país por terem obtido baixos conceitos na avaliação realizada a cada três anos pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).


Entre as instituições que tiveram programas descredenciados estão a USP (Universidade de São Paulo), Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), UFRJ (Universidade Federal de Rio de Janeiro), UnB (Universidade de Brasília) e UFF (Universidade Federal Fluminense).


Na escala de zero a sete, os programas reprovados atingiram no máximo dois. Com essa avaliação, os cursos são classificados como não-recomendados pela Capes. Ao todo, funcionam no país 2.257 programas de pós-graduação. Os reprovados representam 1,7% do total, segundo informação do Ministério da Educação.


Dos 39 programas, 18 se referem às áreas de saúde, medicina e biologia. A USP teve o mestrado e doutorado em cirurgia plástica descredenciados. Foram 21 programas descredenciados em instituições federais.


A Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) teve seu programa de especialização em morfologia descredenciado. A especialização em engenharia mecânica e o mestrado em odontologia legal e deontologia da Unicamp também.


O mestrado em física, o mestrado e o doutorado em dermatologia e cirurgia geral da UFRJ foram descredenciados, assim como o mestrado em lingüística aplicada da UnB. De acordo com a assessoria do Ministério da Educação, os programas são avaliados tanto pela qualidade dos cursos que oferecem aos alunos quanto pela produtividade de artigos ou patentes produzidos em determinado período, por exemplo.


A avaliação foi feita por 45 grupos de especialistas em distintas áreas, totalizando 700 examinadores, além do CTC (Conselho Técnico Científico).


Os cursos descredenciados não podem mais receber matrículas e, segundo nota do MEC, a avaliação divulgada ontem é final e já levou em consideração os recursos possíveis.


‘Os alunos que estão cursando mestrado ou doutorado nesses programas terão seus diplomas validados, mas se a instituição admitir novos estudantes, eles não terão seus diplomas reconhecidos’, explicou o diretor de avaliação da Capes, Renato Janine, segundo nota do MEC. Dos 595 recursos enviados para revisão de conceito, 154 foram aceitos e tiveram as notas revistas.


Na última avaliação trienal, o Ministério da Educação avaliou um total de 1.819 programas.


Na ocasião, foram descredenciados 36 programas. O equivalente a 2% do total.’


 


DOM LUIZ CAPPIO
Fernando de barros e Silva


Águas republicanas


‘SÃO PAULO – Não consigo ter simpatia pela greve de fome de d. Luiz Cappio. Sua atitude, de quem se submete à privação e ao martírio, pondo em risco a própria vida em nome de uma causa superior, parece-me uma manifestação extrema do masoquismo católico -um dos traços definidores dessa religião.


Associado à sorte dos pobres, em nome de quem sempre falou, o sofrimento que o bispo se auto-infligiu teve o efeito de provocar uma corrente de identificação e solidariedade pelo país. O engajamento de artistas na luta em ‘defesa do rio’ acabou por converter a transposição num caso de grande apelo emocional, um drama mexicano.


Está fora de dúvida que sejam pessoas de boa-fé, ou movidas por bons sentimentos. Mas emoção e desinformação andam de mãos dadas -e neste caso certamente não são boas companhias. Pareceria até cômico, não fosse antes trágico, que uma liderança religiosa se torne o ponto de referência da discussão de um tema que exige a mobilização de tantos conhecimentos técnicos.


O maniqueísmo católico não costuma ser amigo do pensamento. E a igreja, lembre-se, é uma das grandes responsáveis pelo lobby obscurantista em relação ao aborto, além de sustentar posição criminosa ao proibir o uso da camisinha. Não sei o que Cappio diria a respeito.


A obra do São Francisco consta do programa de governo de Lula. Foi discutida em audiências públicas. Obteve a licença ambiental e removeu todos os entraves legais. É controvertida? Não há dúvida.


Há quem considere seus efeitos socialmente escassos ou muito duvidosos diante de investimento tão faraônico. O grande beneficiário, diz-se, seria o agronegócio.


Há ainda quem veja na transposição uma mina de ouro para o financiamento de futuras campanhas. É, de fato, a maior obra do PAC, injeção bilionária de dinheiro do Orçamento no cofre das empreiteiras.


O governo fez sua escolha e tem seus argumentos. O país é laico e o regime, republicano. Melhor assim.’


 


Fábio Guibu e Luiz Francisco


Bispo deixa UTI e encerra greve de fome


‘Menos de 24 horas depois de ser removido inconsciente para Petrolina (PE), o bispo de Barra (BA), dom Luiz Flávio Cappio, 61, voltou ontem a Sobradinho (BA) para formalizar o fim da sua greve de fome contra as obras de transposição do rio São Francisco e agradecer ao apoio da população nos quase 23 dias de jejum.


Em uma missa campal em frente à igreja de São Francisco, onde d. Luiz jejuou, um assessor do bispo leu um manifesto assinado pelo religioso, que acompanhou a declaração sentado em cadeira de rodas e com soro no braço. ‘Depois de 24 dias, encerro meu jejum, mas não a minha luta, que é nossa’, disse o manifesto.


O texto criticou a decisão do Supremo Tribunal Federal a favor da transposição. ‘Vimos ontem [anteontem] com desalento os poderosos festejarem a demonstração de subserviência do Judiciário.’


A leitura do manifesto foi aplaudida pelas cerca de 800 pessoas que, segundo a PM, estavam no local. ‘Precisamos ampliar o debate, espalhar a informação verdadeira, fazer crescer a mobilização até derrotarmos esse projeto de morte e conquistarmos o verdadeiro desenvolvimento para o semi-árido e o São Francisco. É por vocês, que lutaram comigo e trilham o mesmo caminho, que encerro meu jejum.’


Durante a bênção final, d. Luiz se dirigiu ao público. ‘Perdão por tudo que fiz vocês sofrerem nesses dias.’ Antes de retornar à ambulância, desejou um feliz Natal e um ‘abençoado ano de 2008’ a todos.


Gilberto Carvalho, chefe-de-gabinete da Presidência, afirmou ontem, após saber do fim da greve de fome de d. Luiz, que o governo vai fazer uma campanha para explicar o que foi feito nas obras de transposição. Segundo ele, o diálogo com a igreja e o bispo continua.


‘Para o governo, o episódio foi um aprendizado. Primeiro, porque a obra precisa ser mais divulgada. Segundo, precisamos intensificar o diálogo com entidades sociais porque muitas vezes, mal informadas, elas se prendem a mistificações e equívocos’, afirmou ele.


Ambulância


Acompanhado por uma equipe médica, o religioso viajou de ambulância os 70 quilômetros entre Petrolina e Sobradinho. Após a cerimônia, voltou ao hospital Memorial Petrolina, para onde foi levado anteontem no início da noite.


D. Luiz permaneceu na UTI até as 6h30 de ontem, quando foi transferido para um apartamento. Seu estado de saúde ao chegar foi classificado como de ‘extrema fragilidade’.


D. Luiz recebeu soro de reidratação intravenosa e medicação para restabelecer as funções renais. Ele deve receber alimentos sólidos apenas em uma semana. Seu estado de saúde foi classificado de ‘regular’. Não há previsão de alta.


A Folha apurou que houve discussão na igreja sobre a necessidade ou não de remover d. Luiz para um hospital, após o desmaio. No hospital, o movimento de pessoas foi grande. Índios dançaram em frente ao prédio. Religiosos e políticos também foram ao local.’


 


Mônica Bergamo


‘Um lago fedido’


‘O ator Wagner Moura, que apoiou a greve de fome do bispo dom Luiz Flávio Cappio, falou à coluna sobre a transposição do rio São Francisco.


FOLHA – Por que assinou o manifesto em favor de dom Cappio?


WAGNER MOURA – Minha família é de Rodelas, sertão da Bahia, uma das cidades inundadas pela barragem de Itaparica na década de 80. Posso dizer que os danos ecológicos ali foram gritantes. Era uma cidade que tinha um rio caudaloso e hoje tem um lago fedido. Os peixes não existem mais. Dom Cappio é sério, preocupado com os ribeirinhos do Nordeste. Está colocando sua vida em risco. Acho que, por aí, já vale a pena a gente ouvir o que ele quer dizer.


FOLHA – Quais danos ambientais você teme?


MOURA – Cara, se você tira um pedaço significativo de água e transporta para outro lugar, me parece evidente que haverá algum transtorno. As grandes obras não beneficiam quem necessita. Essa obra vai favorecer os grandes exportadores ou a agroindústria.


FOLHA – O que acha da postura do governo Lula diante do bispo?


MOURA – Acho intransigente. O governo não está dialogando com os movimentos sociais que estão apoiando dom Cappio e que ajudaram a elegê-lo [Lula].


FOLHA – Você votou no Lula para presidente?


MOURA – Votei, sempre votei no PT. Pô, a gente não espera que o governo esteja sempre de acordo com a gente. Mas podia estar um pouco mais.


FOLHA – A Letícia Sabatella diz que tentaram cortar o microfone dela quando lia carta do bispo num evento do governo da Bahia.


MOURA – Eu soube que ela conversou com o [governador da Bahia] Jaques Wagner. E ele foi bastante ríspido. Disse qualquer coisa como ‘vou botar uma ambulância para o bispo’. Apoiei a candidatura dele. Mas fico decepcionado por ter sido tão insensível, sabe, cara?


FOLHA – Mudando de assunto: sua participação em um comercial de cerveja, logo depois de interpretar o capitão Nascimento em ‘Tropa de Elite’, gerou alguma polêmica por causa da cena em que a Juliana Paes te manda ‘matar’ a bebida e você pergunta: ‘Matar quem?’.


MOURA – O capitão Nascimento virou uma coisa meio pop. As pessoas têm que levar isso menos a sério. Não soube da polêmica. Nem pensei que fossem achar ofensivo. Achei que era uma brincadeira com o personagem.


FOLHA – O que acha de o ministro da Saúde tentar proibir os comerciais de cerveja?


MOURA – Não sei, sabia, cara? Eu fiz o comercial, eu gosto de cerveja, eu bebo. Acredito que haja pessoas que tenham problema com bebida e que não deve ser vendida em estradas, por exemplo. Mas não tenho opinião formada. Não sou muito a favor de proibições, sou a favor de legalizações.


FOLHA – Em caso de proibição, o cachê fará falta?


MOURA – Você ganha um dinheiro bom. Para mim, que não sou contratado de TV, é ótimo fazer comercial. Mas muito mais importante que falar de cerveja é falar de dom Cappio.’


 


HOMENS E BICHOS
Nelson Motta


Nosso mundo animal


‘SÃO PAULO – Guardo as piores memórias desses filmes sobre o mundo animal que passam para crianças na televisão. Leões perseguindo e estraçalhando um antílope indefeso. Leopardos atacando as zebras, estripando-as e rasgando suas carnes. Hienas disputando carniça com ratos e urubus.


Com as modernas tecnologias de filmagem, o sadismo e a crueldade encontraram no gênero, considerado ‘educativo’, um dos campos mais férteis para toda a sorte de brutalidade, afinal, a natureza é assim, não é?


Nesses mesmos ambientes selvagens, nos filmes de caçadas, são os humanos que dão o show de selvageria, violência e covardia, perseguindo e matando belos animais pelo prazer de matar, de destruir a beleza e transformá-la em obscenidade ao exibir suas cabeças como troféus e cobrir seus corpos com suas peles.


E, no entanto, o corpo de uma mulher ou de um homem nus, dois seres humanos se abraçando e se beijando, são proibidos para as crianças, por obscenos. Afinal, a natureza humana é assim, não é? Melhor para os bichos, que não conhecem a hipocrisia.


Lembrando esses aterrorizantes filmes da vida animal, o que ainda me chama atenção é que na natureza não há o que chamamos de ‘justiça’, uma invenção humana que não existe nem na terra, nem no céu, nem na história, na biologia ou no cosmo. Não há justiça no amor nem na guerra. Em seu nome, todas as atrocidades são aceitas e cometidas. Para reparar injustiças, outras maiores são praticadas. A selvageria humana não tem limites, pela ‘justiça’ nos nivelamos aos animais mais ferozes.


Resta-nos o eco distante do poeta Mário Faustino: ‘Não conseguiu firmar o nobre pacto / entre o cosmo sangrento e a alma pura / gladiador defunto, mas intacto / (tanta violência, mas tanta ternura)’.’


 


ESCULTURA POLÊMICA
Elisa Bracher


Cuidado público


‘EM FINS de 2002, a pedido de Ruth Cardoso, fiz uma escultura que foi colocada no Palácio da Alvorada. A idéia da então primeira-dama do Brasil era formar um conjunto de obras que desse visibilidade a um setor da produção visual mais preocupado com os espaços públicos e que dificilmente encontra acolhida.


Como o projeto não contava com dotação pública, minha galerista, Raquel Arnaud, cedeu a escultura em comodato -portanto, sem contrapartida em dinheiro governamental.


No início de 2003, o Gabinete de Arte Raquel Arnaud recebeu um telefonema da secretária de dona Marisa, a nova primeira-dama, pedindo que a obra fosse retirada imediatamente do palácio. O gabinete começou a procurar, primeiro em Brasília, algum lugar em que a escultura pudesse ficar, conciliando as dificuldades práticas do retorno a São Paulo com o desejo de mantê-la acessível ao público.


Algum tempo depois, o gabinete recebeu outro telefonema, este dizendo que a partir do mês seguinte teria que pagar o aluguel pelo depósito que guardava a obra. Insisti com Raquel Arnaud que isso era demais.


Uma mudança no pessoal que trabalhava no palácio e uma mudança na equipe da galeria tornaram o processo de retirada ainda mais lento, com erros de parte a parte.


No começo deste ano, a Secretaria da Cultura de São Paulo aceitou a doação da obra, que seria instalada no parque do Trote, na Vila Maria. Na última quinta-feira, a escultura chegou a São Paulo. Seu estado de deterioração era muito grave. Os parafusos que unem as toras, elementos decisivos para a organização do trabalho, foram arrancados com tal violência que chegaram a se partir.


As toras de madeira, pelo contato com a umidade, apodreceram em muitos lugares estruturalmente decisivos. Não foi possível instalar a obra.


Não é a primeira vez que tenho uma escultura retirada de um lugar público. Da primeira vez, no largo do Arouche, houve manifestações públicas contra e a favor da retirada. O DPH decidiu que a obra seria transferida para o Centro Cultural Vergueiro.


Não cabe aqui discutir a propriedade da decisão. O que importa é que foram consideradas as condições de sua conservação e visibilidade.


Parece-me infrutífero atribuir esse desmazelo apenas ao capricho de alguém que, com ou sem razão, se recusa a conviver com uma escultura que o desagrada. Compromissos de governo estão acima de gostos pessoais. E, no mínimo, isso exigiria zelo por parte daqueles que têm por objetivo máximo zelar pelo bem público, obra de arte ou leis.


Em relação ao caso em questão, não importa nem mesmo discutir os méritos ou deméritos da escultura em foco. O fato é que não se trata assim uma obra de arte, goste-se dela ou não, sobretudo quando foi tomada sob a tutela do Estado. Não me sinto desrespeitada pelo fato de a nova primeira-dama ter um gosto diverso do meu. A escultura estava, afinal, em sua casa, ainda que provisória. O que não me parece aceitável é o tratamento que veio a ser dado a um trabalho que, como todo trabalho de arte, traz em si elementos de polêmica e discordância.


E se se tratasse de uma lei? Quais as conseqüências desse desleixo? Cultural, material ou institucional, um bem público supõe uma consideração sem a qual a continuidade legal de um país é posta em xeque.


Quando a arte passa a ser tratada como uma coisa descartável, que, por sua insignificância, não diz respeito à República, me pergunto se não chegamos às raias de um regime para o qual vale só aquilo tristemente livre de qualquer polêmica ou ambigüidade.


As esculturas de grande porte são públicas por natureza e deveriam estar acessíveis a todos. As coleções públicas poderiam ter acervos mais completos, mas há sempre o medo, justificado, de que as obras possam se deteriorar por descuido.


As esculturas cumprem seu papel no momento em que levantam questões importantes sobre os espaços e têm a possibilidade de ser um ‘embrião de reflexão sobre a natureza do espaço público’. Este é facilmente tomado como privado. As pessoas se apropriam desses espaços públicos como se fossem delas.


No caso dessa escultura, a obra era um bem público -o palácio também, embora residência oficial.


De toda maneira, os bens públicos não devem ser destruídos de modo nenhum, muito menos por desleixo.


Mas temo que a destruição dessa obra faça parte de uma lógica nacional, histórica, não apenas deste governo, mas eterna, em que tudo vai se deteriorando: rios, matas, hospitais, escolas etc.: todos bens públicos. Acima de tudo, uma população abandonada.


ELISA BRACHER, 42, é escultora e educadora. Tem dois livros publicados: ‘Madeira sobre Madeira’, com texto de Rodrigo Naves, e ‘Maneira Branca’, com textos de Lorenzo Mammì e Sônia Salzstein.’


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


‘Picasso no Brasil’


‘Amanheceu e Mônica Bergamo postou ontem que ‘Criminosos levam Picasso e Portinari do Masp’, na Folha Online.


O dia avançou com as hipóteses policiais, por portais e telejornais, de que o ‘Masp não tinha alarme’, foi ‘quadrilha suspeita outras vezes’, ‘falta de infra-vermelho impede imagens’ etc. A TV apelou a ‘storyboard’. Adib Jatene, o presidente do conselho, afirmou ao Terra que ‘acontece’ em outros e o museu ‘é seguro’. Porém ‘não faço parte da administração’.


Pelo mundo, com destaque nas agências de Google e Yahoo, no espanhol ‘El País’, BBC, até na financeira Bloomberg, o enunciado era um só, ‘Ladrões levam Picasso no Brasil’. Mais abaixo, ‘também Portinari’.


2008, O TESTE DE FORÇA


No café com jornalistas, ontem, Lula disse só estar ‘de antena ligada’ na crise de crédito dos EUA. CPMF, não.


Em longa reportagem de Joanna Chung desde Londres, ontem no ‘Financial Times’, ‘Emergentes encaram teste de força’ em 2008. É ‘consenso’ que Brics e outros estão estruturados, ‘mas também se reconhece que ainda não foram testados’. Com o desaquecimento de EUA e Europa agora, terão que provar sua força com ‘demanda interna’.


5% E SUBINDO


‘Agora só penso no Natal e no Ano Novo’, falou Lula no café, segundo a Veja On-line. Nada de ‘pacote’. Nas festas, destacou a Agência Brasil, só interessa a Lula a ‘convicção’ do crescimento de 5% e ‘um pouquinho mais a cada ano’.


‘BOM À BEÇA’


Pouco depois, o IBGE trazia mais boa nova. No destaque da Reuters Brasil, ‘Mercado de trabalho bate recordes’. Para o órgão, foi um resultado ‘fantástico’, até ‘bom à beça’.


Repercutiu por Bloomberg e Dow Jones, esta em longa reportagem, encerrando com o registro de que a taxa não é ‘inteiramente comparável’ à dos desenvolvidos, pois aqui existe ‘muito subemprego’.


OTIMISMO LATINO


BBC e sites no exterior dão pesquisa global da Gallup que flagrou os latino-americanos como ‘os mais otimistas com 2008’: para 54%, será melhor. A média mundial foi de 33%.


‘VALORES’ E O ETANOL


FHC fechou o ano dizendo a um usineiro, segundo o blog de Luis Nassif, que ‘perder R$ 40 bi afeta qualquer governo’.


E dando conselhos aos EUA na ‘Newsweek’, como postou o blog de Sérgio Dávila. No enunciado, ‘Esqueçam ajuda e comércio: o que a América Latina quer dos EUA é que se lembrem dos seus valores’. Mas lá pelo fim pediu ‘prova tangível de generosidade, por exemplo, reduzir subsídio que impede o acesso’. De etanol.


MEMÓRIA


Para celebrar os 75 anos do serviço mundial da BBC, a ex-correspondente Sue Branford lembrou o Brasil dos anos 70. Um episódio: após presenciar na USP a invasão militar, abrigou com relutância um aluno que ‘implorou’. Ele acabou morto. E ela chegou a ser ‘levada pelo Dops’.


COLETIVA DO TERROR


AP e outras deram convocação de coletiva pela Al Qaeda, com sites para o envio das perguntas. Para um especialista, ‘a capacidade de mídia’ do grupo só faz crescer


GIL FICA


Lula jantou com Gil e, diz o blog de Lauro Jardim, deu ‘fim à novela’. Ele ‘fica’. A conversa ‘até a madrugada’ acertou ‘licença para tratar da voz’. E ele vai ‘até o fim, pelo andar da carruagem’.


O CINEMA CRESCE


O ‘Hollywood Reporter’ deu relatório apontando a ‘indústria de exibição’ da América Latina como ‘pronta para cinco anos de festa’, até 2011. Brasil e México são os países que ‘lideram a festa’.’


 


EUA
Folha de S. Paulo


Bush ficará calado sobre fitas da CIA


‘O presidente dos EUA, George W. Bush, disse ontem que não se pronunciará sobre a destruição de vídeos de interrogatórios pela CIA (agência de inteligência do país) até que diversas investigações sejam concluídas. A destruição, no final de 2005, de gravações que mostrariam práticas de tortura contra dois suspeitos de terrorismo está sendo investigada pelo Departamento de Justiça, pela própria CIA e por diversas comissões do Congresso.


Em colaboração com a investigação da Comissão de Inteligência da Câmara, a CIA abriu ontem a seus membros os arquivos com documentos relacionados à destruição das fitas. A agência também prometeu permitir que seu mais graduado advogado, John A. Rizzo, testemunhe sobre o caso. Bush manteve a linha de argumentação da Casa Branca, de que ele não sabia da existência das gravações ou de sua destruição até Michael Hayden, o diretor da CIA, o ter informado dos fatos no começo deste mês.


Um juiz federal convocou advogados do Departamento de Justiça para que discutam com ele hoje se a destruição representa violação de uma ordem judicial de 2005, sobre a preservação de provas em um processo aberto em nome dos prisioneiros em Guantánamo. Bush disse crer que as investigações em curso ‘permitirão que todos nós descubramos o que aconteceu’. ‘Até que essas investigações estejam concluídas, eu não darei opiniões.’


Tratando de assuntos internos, em uma coletiva em Washington, Bush criticou o Congresso por haver incluído em um projeto de Lei Orçamentária, de US$ 555 bilhões, centenas de itens que ele qualificou de perdulários. Mas elogiou a Casa por não ter previsto o aumento de impostos para 2008.


Crise e política externa


O presidente também se manifestou sobre os efeitos da crise de crédito imobiliário no país. ‘Preocupa-me o fato de os americanos estarem vendo alta em seus custos. Estamos tratando dessas questões.’ Bush ainda falou, cautelosamente, da democracia na Rússia de Vladimir Putin. O presidente russo acaba de ser eleito a ‘personalidade do ano’ pela ‘Time’. ‘Presumo que ele tenha sido escolhido porque é um líder influente’, disse Bush. ‘E a pergunta é determinar que forma tomará essa influência (…) Minha esperança é que a Rússia seja um país que compreenda a necessidade de equilíbrio entre os poderes’. Quanto ao Iraque, declarou que resta muito a fazer, especialmente em termos de melhorias políticas no país.


Tradução de PAULO MIGLIACCI’


 


TV DIGITAL
Folha de S. Paulo


Empresa diz que venderá conversor digital a R$ 250


‘O ministro das Comunicações, Hélio Costa, reuniu-se ontem com representantes da empresa Comsat, uma joint venture com a indiana Encore, que apresentaram um conversor para TV digital que poderá chegar ao consumidor por R$ 250. De acordo com o presidente da empresa, Jakson Sosa, o equipamento estará no mercado no fim de janeiro.


Costa disse que será possível baixar ainda mais o preço com novas ações de desoneração para a indústria, como redução de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) nos Estados. ‘Esse custo ainda pode baixar’, disse Costa.


O preço anunciado pela empresa é próximo dos R$ 200 que o ministro previa. Até agora, porém, o conversor mais barato é vendido por R$ 350.


Costa disse ainda que assinará na próxima semana o contrato de consignação de canais digitais com emissoras de Belo Horizonte (MG), o que significa que o sinal digital estará disponível na capital mineira a partir de julho do ano que vem. A expectativa é assinar contratos também com as emissoras do Rio de Janeiro, Brasília (DF), Salvador (BA) e Fortaleza (CE) no início do ano.’


 


INTERNET
Folha de S. Paulo


Google tem aval para comprar a DoubleClick


‘O Google, que opera a ferramenta de busca mais utilizada da internet, obteve autorização antitruste dos Estados Unidos para a aquisição, pelo valor de US$ 3,1 bilhões, da DoubleClick, após uma investigação que demorou oito meses.


Por quatro votos a um, a Comissão Federal do Comércio (FTC, pelas iniciais em inglês), decidiu que a transação provavelmente não ‘reduzirá substancialmente’ a concorrência no setor de anúncios na internet, segundo comunicado divulgado ontem por e-mail pelo órgão.


A autorização para a compra faz com que o Google fique mais perto de concretizar sua maior aquisição e prepara o cenário do confronto decisivo da empresa com as autoridades reguladoras européias, que determinaram a realização de uma investigação profunda sobre o Google em novembro passado.’


 


Google, Yahoo! e Microsoft são punidas


‘Microsoft, Google e Yahoo! concordaram com o pagamento de 31,5 milhões para se livrar das acusações de que promoviam apostas ilegais na internet, afirmou o Departamento de Justiça dos Estados Unidos.


As empresas eram acusadas de receber dinheiro de negócios de apostas on-line para fazer propaganda de jogos ilegais desde 1997 até este ano.


Como parte do acordo, as três empresas oferecerão milhões de dólares em anúncios de serviços públicos que informarão aos usuários que apostas via internet é prática ilegal.


A Microsoft será a que irá pagar a maior multa : US$ 21 milhões. A companhia afirmou que parou de aceitar anúncios de sites de apostas on-line há cerca de 4 anos.


O Yahoo! vai pagar US$ 7,5 milhões de dólares, e o Google, US$ 3 milhões.’


 


Leonardo Souza


PF prende 3 em ação antipedofilia na rede


‘A Polícia Federal deflagrou ontem a Operação Carrossel, pela qual cumpriu 102 mandados de busca e apreensão em casas e escritórios de pessoas suspeitas de trocar ou fornecer pela internet fotos e vídeos contendo imagens de pornografia infantil e adolescente.


Até o começo da tarde, pelo menos três pessoas haviam sido presas em flagrante -duas em São Paulo e outra no Ceará.


É a quarta operação contra a pedofilia no país, mas a primeira que a polícia executa a partir de informações levantadas pela corporação no país. A PF desenvolveu tecnologia própria para rastrear os computadores.


As operações anteriores haviam sido com base em dados fornecidos por outros países.


Ao todo, a PF rastreou cerca de 3.800 acessos de computadores à internet em conexões para a troca de material contendo imagens de pedofilia, em 78 países e 14 Estados no Brasil, mais o Distrito Federal.


Segundo o delegado responsável pela operação, Adalton de Almeida Martins, da Unidade de Repressão a Crimes Cibernéticos, foram detectadas imagens de atos de abuso sexual de crianças de até dois anos de idade aproximadamente.


O delegado afirmou que, nessa primeira fase da operação, a polícia se concentrou somente na tentativa de confirmar a troca de material com imagens de pedofilia, o que constitui crime pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. A pena para o crime varia de dois a quatro anos.


Depois, a PF analisará o material para tentar identificar se os atos de abuso sexual foram cometidos pelos detentores das imagens. Nesses casos, os crimes podem ser caracterizados como atentado violento ao puder, com penas mais severas. Os dados sobre computadores de outros países serão encaminhados à Interpol.’


 


ROUBO NO MASP
Afra Balazina e Kleber Tomaz


Ladrões invadem o Masp e levam obras de Picasso e de Portinari


‘Com a ajuda de um macaco hidráulico e de um pé-de-cabra, ladrões levaram dois quadros, dos pintores Pablo Picasso e Candido Portinari, do Masp (Museu de Arte de São Paulo), o museu mais importante da América Latina. O crime demorou cerca de três minutos -os seguranças do museu nada perceberam.


Foram furtadas as telas ‘O Lavrador de Café’ (da década de 30, óleo sobre tela, 100 x 81 cm), do pintor brasileiro Portinari (1903-1962), e o ‘Retrato de Suzanne Bloch’ (1904, óleo sobre tela, 65 x 54 cm), do artista espanhol Picasso (1881-1973).


O museu, cujo acervo é avaliado em mais de US$ 1 bilhão e inclui obras de Claude Monet e Vincent Van Gogh, não possui alarme nem sensores em suas obras. A segurança era feita por quatro vigias desarmados.


Esse foi o maior roubo de arte na história do país em razão da importância das obras e de seu valor de mercado.


Não há um consenso sobre o valor das obras furtadas. Para a Sotheby’s no Brasil, a maior casa de leilões do mundo, a obra de Picasso está avaliada em US$ 25 milhões (mais de R$ 45 milhões) e a de Portinari, em US$ 2 milhões (pouco mais de R$ 3,6 milhões). Já Jones Bergamin, da Bolsa de Artes do Rio, afirma que o Portinari está avaliado em US$ 5,5 milhões (R$ 10 milhões) e o Picasso, em US$ 50 milhões (R$ 90 milhões).


O Masp informou que é a primeira vez, nos 60 anos de fundação, que teve uma obra furtada. Não há previsão de quando ele será reaberto ao público.


A ação, filmada pelo sistema de segurança do museu, durou das 5h09 às 5h12- justamente durante a troca de turno dos vigias. O problema é que o sistema não tem infravermelho -as imagens não são nítidas.


Os quatro seguranças estavam no subsolo do vão livre do Masp – os quadros foram levados do segundo andar e estavam distantes um do outro.


O macaco hidráulico foi usado para arrombar uma porta de aço na avenida Paulista e o pé-de-cabra, para quebrar uma porta de vidro que deu acesso às obras furtadas.


Segundo o delegado Marcos Gomes de Moura, do 78º DP (Jardins), ‘foi um serviço de profissional, não é coisa de bandido pé-de-chinelo’. Ele diz que investiga se funcionários do Masp estão envolvidos no crime. Três dos vigias disseram não ter visto ou ouvido nada.


O delegado acredita que os ladrões são os mesmos que tentaram, há 45 dias, roubar o museu. Na época, um grupo invadiu o prédio, rendeu dois seguranças e não conseguiu entrar no acervo do museu.


‘Dessa vez, eles utilizaram outro método. Há fortes indícios de ter participação desse mesmo grupo’, diz o delegado.


As imagens mostram três homens entrando no prédio. Mas como foi achado um fone de ouvido do lado de fora do museu, a polícia acredita que possa haver mais envolvidos. ‘Provavelmente, tinha gente de fora passando informação para eles.’


O crime, diz ele, foi encomendado. ‘É encomenda para alguém que é apreciador de arte, que tem dinheiro, mas não tem como comprar uma coisa que pertence a um museu.’


A direção do Masp não quis dar entrevistas. Por meio de nota, afirma que ‘ao longo dos seus 60 anos de atividades ininterruptas (…) nunca sofreu uma ocorrência desta natureza, razão pela qual foi instaurada uma sindicância interna’.


O texto diz ainda que, como as obras estavam ‘em salas separadas e distantes’, eram alvos específicos da ação. ‘Ações semelhantes, infelizmente, têm ocorrido não só em grandes museus do mundo como também nos brasileiros, razão pela qual o Masp está acionando, além de nossa polícia local, a Interpol, a Polícia Federal e o Itamaraty para as providências devidas’, diz a nota.


Colaborou MARIO CESAR CARVALHO, da Reportagem Local’


 


Mario Cesar Carvalho


Masp não dispõe de alarme, sensor e seguro para as obras


‘Não soou nenhum alarme quando os ladrões levantaram com um macaco hidráulico uma das portas do Masp. Não havia sensores a proteger o Picasso e o Portinari, que soariam ou avisariam uma central de segurança do furto. A câmera de vídeo do museu não dispõe do recurso infravermelho, específico para cenas noturnas, e as imagens do furto de ontem são pouco mais do que borrões.


O acervo do museu, avaliado em mais de US$ 1 bilhão (R$ 1,8 bilhão), de acordo com as estimativas mais conservadoras, não possui seguro porque seu preço seria inviável. Só o prédio é segurado.


Qualquer colecionador mediano coloca dispositivos de segurança em suas obras mais caras, mas nos museus públicos do país esse dispositivo é luxo.


O Masp tem o mais importante acervo da América Latina, mas seu sistema de segurança é igual ao do Louvre em 1911, quando roubaram a ‘Mona Lisa’ de Da Vinci, como diz um dos conselheiros do museu sob a condição de que seu nome não seja revelado.


O Masp informou que o sistema de rondas é mais eficiente do que os alarmes.


Segurança precária ou inexistente não é uma exclusividade do Masp. Dos principais museus de São Paulo, só o MAC (Museu de Arte Contemporânea) da USP tem sensor de aproximação, aquele que faz soar um alarme assim que alguém cruza uma linha luminosa próxima à parede. O MAC investiu cerca de R$ 500 mil no sistema de segurança em 2000.


Dos 12 museus federais que receberam neste ano investimentos de pouco mais de R$ 1 milhão em dispositivos de segurança, nenhum ganhou sensores que soam quando alguém chega perto de uma obra valiosa. Entre esses museus estão a Chácara do Céu no Rio, de onde foram roubadas obras de Picasso, Dalí e Matisse, e o Museu Nacional, que perdeu obras raras do seu acervo.


O investimento de R$ 1 milhão para 12 museus pode soar ridículo, mas o diretor do Departamento de Museus do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), José Nascimento Jr., cita a cifra como uma conquista. ‘É um começo. O mais importante é que os museus continuem a investir em segurança. As instituições não podem ficar paradas porque as quadrilhas são cada vez mais sofisticadas’, diz.


Há outras medidas para melhorar a segurança dos museus que custam barato ou quase nada. O Departamento de Museus tem dois projetos nesse sentido: a criação de delegacias especializadas em roubo de bens culturais e a ligação dos museus com a a polícia.


Polícia especializada


O Departamento de Museus do Iphan afirma que essas medidas precisam ser adotadas porque é injusto atribuir só aos museus toda a responsabilidade pela segurança.


‘Não é possível que a mesma delegacia que investiga o batedor de carteira investigue o roubo de um Picasso. É óbvio que não vai dar certo’, afirma Nascimento Jr.


O governo federal defende a criação de delegacias especializadas porque o tráfico de bens culturais no mundo ocupa a quarta posição quando se contabiliza os valores envolvidos, atrás do tráfico de drogas, de armas e de animais silvestres.


Ele diz ter enviado carta aos governadores pedindo a criação de delegacias especializadas no roubo de bens culturais.


O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), informou por meio de sua assessoria que nunca recebeu tal documento.


Outra proposta do governo federal é que os principais museus do país sejam interligados com as polícias, como ocorre em cidades como Madri, Paris, Londres e Berlim.


Se ocorrer alguma tentativa de furto no Louvre, em Paris, ou na Tate Gallery, em Londres, soa um alarme na delegacia mais próxima.


No caso do Museu do Prado, em Madri, as regras são severas até com o diretor da instituição. Para entrar no museu fora do seu horário de expediente, ele precisa comunicar a polícia, que envia um carro até o local para abrir o prédio.’


 


MASP: RESERVA TÉCNICA DO MUSEU TEM PORTAS DE COFRE DE BANCO


‘A reserva técnica do Masp, onde ficam as obras que não estão em exposição, é considerada pela administração do museu como um cofre -nem a sua localização exata é divulgada. Desenhada pelo atual presidente do Masp, Júlio Neves, e construída na reforma realizada em sua gestão, a reserva técnica tem 600 metros quadrados. É uma casamata, circundada por um corredor com espelhos e fechada com portas semelhantes à de cofres de banco. Temperatura e umidade são controladas. Dentro, há três subdivisões, cercadas por grades e com portas, onde são guardados pinturas, esculturas, papéis e objetos.


 


Julio Wiziack


Maior parte dos acervos dos museus do país não tem seguro, dizem corretores


‘A maior parte dos acervos dos museus brasileiros não está segurada. É o que afirmam corretores de seguro consultados pela Folha. Segundo eles, o Brasil entrou na rota dos traficantes de obras de arte e a falta de segurança das instituições afasta as seguradoras.


Estima-se que o Masp, cujo acervo está avaliado em cerca de US$ 1,2 bilhão, teria de pagar algo entre US$ 24 milhões e US$ 60 milhões anualmente por uma apólice completa.


Esse número varia de acordo com o risco oferecido pelos museus. Instituições que já tiveram histórico de furtos ou incêndios pagam mais caro.


Segundo Ricardo Chilelli, especialista da RCI First Security and Intelligence Advising, só 20% dos acervos culturais do país está catalogado. ‘Isso incentiva os ladrões, que somem com essas obras para esquentá-las depois’, afirma.


Em geral, eles vendem essas obras que ficam circulando na surdina pelo mercado paralelo durante 20 anos, tempo de prescrição dos crimes. Depois, elas retornam ao mercado nas mãos de conhecidos colecionadores e até em casas de leilão.


Atualmente já existem exceções. No ano passado, o Museu da Chácara do Céu, no Rio de Janeiro, perdeu duas obras valiosas. Uma delas, ‘O Jardim de Luxemburgo’, de Henri Matisse, esteve à venda pelo site russo Mastak, por US$ 13 milhões.


Segundo Marcelo Elias, diretor de vendas e marketing da Marsh Corretora, a falta de segurança espanta as seguradoras. ‘Só as principais obras costumam ser seguradas’, afirma. ‘O risco é muito elevado. Em casos de roubo, a seguradora tem de pagar cerca de 70% do valor ao segurado,’ afirma. ‘O restante vem das companhias de resseguro, que compartilham o risco com as seguradoras.’ Atualmente, a corretora APR tentou vender um seguro integral para um museu paulista mas não encontrou empresas dispostas a fechar o negócio. ‘Está cada vez mais difícil’, afirma o corretor Paulo Alves.’


 


Obras roubadas no Rio seguem desaparecidas


‘Quase dois anos depois do roubo de quatro quadros de Salvador Dalí, Pablo Picasso, Claude Monet e Henri Matisse no Museu Chácara do Céu, em Santa Teresa, no Rio, nenhum dos ladrões foi preso ou identificado. E nenhum quadro foi recuperado.


A Polícia Federal prendeu apenas um motorista, cujo nome não foi divulgado, que disse ter sido obrigado pelos criminosos a ajudar o grupo a fugir.


O roubo, ocorrido na véspera do Carnaval, permanece cercado de mistérios. O grupo se aproveitou da confusão provocada por um bloco carnavalesco para roubar o museu.


Foram roubados ‘Os Dois Balcões’ (1929), de Dalí, ‘A Dança’ (1956), de Picasso, ‘Marine’ (1880-1890), de Monet, e ‘Jardim de Luxemburgo’ (1903), de Matisse. Estão avaliados, segundo Jones Bergamin, da Bolsa de Artes, em US$ 25 milhões.’


 


Tereza Novaes


Filho de Portinari isenta Masp de responsabilidade


‘João Candido Portinari, 68, filho do artista, levanta a hipótese de seqüestro da tela ‘O Lavrador de Café’ e, por ora, não responsabiliza o Masp. ‘Não manifestaria de pronto nenhuma crítica à segurança nem à administração do museu. Digo isso com toda a isenção, não tenho obrigação de preservar ninguém. Fatos como esse acontecem nos maiores museus do mundo’, disse. João Candido diz acreditar na tese de seqüestro da obra porque, para ele, não seria possível vender um quadro tão conhecido, e espera por um pedido de resgate. ‘É uma verdadeira tragédia’, lamentou o filho do artista.


‘Portinari pintou todos os aspectos do Brasil, mas mais de 95% de sua obra é invisível para o público [por pertencer a coleções privadas]. Saber que algo dessa parcela ínfima que está nos museus foi subtraída é uma tragédia’, afirma.


Matemático de formação, ex-professor da PUC-RJ, João Candido dedica-se hoje ao Projeto Portinari, que preserva e cataloga a obra do artista. Desde 1979, a instituição já inventariou 5.300 trabalhos. Segundo ele, a tela roubada remete às origens do pintor no cafezal. ‘Fala também da saga da imigração, principalmente italiana, e dessa riqueza que é o café para o Brasil. Todo o sangue, toda a alma dele, ele colocou naquela obra.’


João Candido se diz ‘aflito’ com a possibilidade de o quadro estar sendo mal cuidado pelos ladrões. ‘Será que eles arrancaram o chassi [estrutura de madeira que estica a tela], será que eles enrolaram ou dobraram a tela? Será que já há danos irreparáveis?’, indaga-se.


Leia a seguir os principais trechos da entrevista concedida por ele, por telefone, do Rio.


FOLHA – Os ladrões têm como vender a obra?


JOÃO CANDIDO PORTINARI – Não acho que seja possível vender uma obra tão conhecida. A hipótese que eu tenho é a de um seqüestro. Não consigo imaginar vender isso, nem dentro do Brasil nem fora. E acho muito fantasiosa a hipótese de um colecionador milionário, que fica em uma sala hermeticamente fechada onde só ele poderá contemplá-la, [ter encomendado o crime].


FOLHA – O sr. reviu a tela que foi roubada há dois anos em SP?


PORTINARI – Desse caso eu não me lembro muito bem. Tiveram outros episódios, como as telas que foram furtadas [em 1993] da Capela Mayrink, na Floresta da Tijuca. O altar da capela eram quatro painéis de Portinari. O painel do centro era Nossa Senhora do Carmo com o Menino Jesus no colo; de cada lado havia um santo, São Simão Stock e São João da Cruz, os santos carmelitas, e embaixo, o Purgatório. Essa igreja estava em um lugar muito ermo e com um vigia apenas. Durante anos, nós avisamos o Ibama [responsável pela manutenção do local] que havia probabilidade muito grande de acontecer um furto ou um roubo ali. Aquelas obras deveriam ser retiradas ou a segurança, reforçada. O Ibama não tomou nenhuma providência e, de fato, os dois santos foram furtados. Felizmente, a polícia conseguiu deter os ladrões quando eles estavam se preparando para levá-los para a Itália. O Ibama atendeu à nossa sugestão e pôs essa obra em comodato no Museu Nacional de Belas Artes [no Rio] e réplicas na capela.


FOLHA – O senhor imaginaria que um museu da importância e do tamanho do Masp pudesse passar por um problema desses?


PORTINARI – Há uma coisa muito delicada aí. Eu me lembro quando houve um incêndio no Museu de Arte Moderna no Rio [em 1978], queimaram-se inclusive obras importantes de Portinari. E, naquele momento, a diretora foi crucificada. As pessoas diziam: ‘Como é possível acontecer uma coisa dessas em um museu?’ Daí, fui nos arquivos do Projeto Portinari e vi que o MoMA, o Museu de Arte Moderna de Nova York, teve um incêndio no qual morreu um bombeiro e foi queimada uma obra enorme do Portinari.


Ninguém levantou essa informação. Temos tendência, até pelo fato de sermos submetidos a muitos desenganos do poder público, de achar que todo mundo é corrupto, irresponsável, ladrão, e, às vezes, sair acusando à ligeira. Eu não manifestaria de pronto nenhuma crítica à segurança nem à administração do museu. Digo isso com toda a isenção, não tenho obrigação de preservar ninguém. Fatos como esse acontecem nos maiores museus do mundo.


FOLHA – Quanto vale o quadro?


PORTINARI – Não sei. É difícil ter parâmetro de avaliação de uma obra dessa importância, que esteve praticamente desde o início na coleção de um museu. Ela teve só um proprietário e depois foi doada ao Masp.


FOLHA – Quantas obras de Portinari já foram perdidas?


PORTINARI – É difícil falar. Tem algumas que foram incendiadas e se perderam por completo, tem obras desaparecidas…


FOLHA – E por roubo?


PORTINARI – Em todos os casos de furto, as obras foram encontradas. Espero que seja o caso dessa também.’


 


Fabio Cypriano


Tela que mostra cantora wagneriana foi a última obra da fase azul de Picasso


‘‘Retrato de Suzanne Bloch’ é a última obra de Pablo Picasso (1881-1973) em sua fase azul, considerada um momento de transição em sua carreira. Entre 1901 e 1904, ele viveu entre Barcelona e Paris, e foi na capital francesa que ele elaborou o retrato de Suzanne Bloch, importante cantora wagneriana e irmã do violinista Henri Bloch.


Ela posou para o artista em seu ateliê, no número 13 da rua Ravignan, em Paris, introduzida pelo poeta e pintor Max Jacob, no fim de 1904. Além do quadro a óleo do Masp, Picasso fez ainda um retrato de Bloch desenhado com bico de pena e com realces a guache, que pertence à coleção Neubury Coray, em Ascona, na Suíça.


Na pintura do Masp vê-se uma clara influência da estrutura pictórica de Paul Cézanne (1839-1906), que construía suas obras por meio de planos geométricos da cor, o que, para alguns críticos, vai levar ‘Retrato de Suzanne Bloch’ a ser uma obra de âmbito pós-impressionista.


Essa preocupação, de como a forma da construção é mais importante do que o realismo da representação, e, nesse sentido, o azul dominante nesta tela é um bom exemplo, é uma das características precursoras do cubismo, que tem em Picasso um de seus principais líderes, ao lado de George Braque.


Com o cubismo, que tem início com Picasso na pintura ‘Les Demoiselles d’Avignon’ (1907), rompe-se com todas as formas tradicionais de representação, que irá culminar com a idéia de autonomia da arte, um dos princípios do modernismo.


‘Retrato de Suzanne Bloch’ já participou de mostras em várias partes do mundo, entre elas no próprio Museu Picasso de Paris, em 1994, tendo sido vista ainda em cidades como Berlim (1913), Buenos Aires (1939), São Francisco, nos EUA (1940), Los Angeles (1941) e Berna (1992).’


 


De temática social, obra deu a Portinari o seu primeiro prêmio no exterior


‘Há uma discrepância na datação de ‘O Lavrador de Café’, de Candido Portinari (1903 1962): segundo a ficha técnica do Masp, ela é de 1939, enquanto no site do Projeto Portinari, que tem à frente o professor João Candido Portinari, filho do artista, a obra seria de 1934.


Pela semelhança de estilo -’O Mestiço’, também do artista, que pertence à Pinacoteca do Estado, tem as mesmas características de ‘O Lavrador de Café’, o provável é que a obra seja mesmo de 1934.


O fato é que a temática social foi uma das mais recorrentes em Portinari. Só sobre o café, o pintor realizou 56 obras, de acordo com o Projeto Portinari.


Com ‘Café’, que hoje pertence ao Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, o artista conquistou seu primeiro prêmio estrangeiro, a 2ª Menção Honrosa do Carnegie Institute, em Pittsburgh, nos EUA, em 1935. E, até em 1960, dois anos antes de sua morte, ele seguiu pintando essa temática.


Vítima de sua própria obra, pois morreu precocemente em decorrência da intoxicação com tintas, Portinari foi um trabalhar contumaz, deixando mais de cinco mil obras catalogadas. Membro do Partido Comunista, ele incorporou as classes trabalhadores e os tipos nacionais, como índios, negros e mestiços, e heróis como Tiradentes em suas obras.


Depois do prêmio nos EUA, ele tornou-se um espécie de pintor oficial do país, realizando murais e painéis externos de azulejos, como no Ministério da Educação, da equipe liderada por Oscar Niemeyer, no Rio, em 1943, e a Igreja da Pampulha, em Belo Horizonte, em 1944, do mesmo arquiteto.


‘Lavrador de Café’ já foi exibida em vários países, como Chile (1980), Japão (1982) e Suíça (1993), além de ter participado de exposições em várias cidades brasileiras, entre elas, Salvador (1963) e Curitiba (1985).’


 


Mario Cesar Carvalho e Kleber Tomaz


Para museu, uso de vigias é mais eficiente


‘O Masp informou por meio de sua assessoria de imprensa que considera o uso de vigilantes em sistema de ronda a mais eficiente forma de segurança para as obras de arte.


Vigilantes, na avaliação da direção do museu, ouvem, olham e falam -e esse tipo de intervenção humana funciona melhor do que sensores ou alarmes. Tanto que o museu nunca havia sofrido nenhum roubo ou furto em 60 anos.


De acordo com o Masp, esse modelo de segurança segue os mesmos padrões internacionais adotados em outros museus pelo mundo.


Para o delegado Marcos Gomes de Moura, titular do 78º Distrito Policial, nos Jardins, que investiga o furto, ‘a segurança do Masp é boa’.


O museu tem planos de incluir um sistema misto de segurança, que mescla equipamentos eletrônicos e ação dos vigilantes. A Folha apurou, no entanto, que o Masp não dispõe de recursos para fazer esse tipo de investimento.


As verbas que a prefeitura dá ao museu são suficientes apenas para o pagamento de funcionários e custeio da instituição, segundo o Masp.


O presidente do Masp, Julio Neves, não quis dar entrevistas ontem para comentar o furto nem falar sobre o sistema de segurança do museu, o mais importante da América Latina.


Incentivo


O museu conseguiu no último dia 14 um meio para implantar um novo sistema de segurança. O Ministério da Cultura aprovou um projeto de incentivos para o Masp, por meio da Lei Rouanet, segundo o qual o museu poderá captar até R$ 8,1 milhões para uso na infra-estrutura do prédio.


Os recursos desse programa devem ser usados para reformar o edifício e implantar o novo sistema de segurança, segundo a Folha apurou.


Outro problema no sistema de segurança são as câmeras de monitoramento de TV. Elas não possuem um sensor infravermelho para captar imagens com qualidade e nitidez no escuro. A qualidade das imagens é tão precária que a sua resolução terá de ser melhorada por equipamentos do Instituto de Criminalística da Polícia Civil.


A Polícia Militar já chegou a manter carros dentro do vão livre do museu durante dias de grande concentração de pessoas no local.


Ontem, a PM informou que somente o entorno do Masp foi patrulhado por carros oficiais e da Força Tática.


A polícia informou também que não entra com seu carro no vão livre porque a segurança do Masp é privada e cabe a eles vigiar o local.’


 


ÍCONES: QUADROS APARECEM EM JOGO DA ESTRELA


‘Os dois quadros furtados do Masp fazem parte do jogo ‘Leilão de Arte’, da Estrela, lançado em 1974. Segundo a empresa, já foram vendidos 2 milhões de exemplares do produto. A tela do pintor brasileiro Candido Portinari ‘O Lavrador de Café’ é um dos sete quadros que estampam a caixa do jogo. Nele, os jogadores fazem lances sem saber qual obra estão comprando -em cada cartão há a imagem de um quadro e informações sobre obra e autor. O jogador só sabe se levou a obra que queria, e se ela não é uma falsificação, quando cobre a oferta. Vence quem tiver o maior valor em quadros e dinheiro.’


 


Rafael Targino


Segurança de museu deve ter equipamento e pessoal qualificados, afirma especialista


‘Especialistas ouvidos pela Folha dizem que museus como o Masp precisam tomar precauções adicionais quando a questão é a segurança do acervo. Entre os cuidados, mais investimentos em equipamentos e em qualificação de pessoal.


Para Eugênio Pacele, especialista em segurança de museus, um complexo como o Masp, que ‘chama público’, precisa investir em sensores, alarmes e câmeras de segurança. ‘Um local com as dimensões do Masp não pode prescindir disso. Um museu desse porte precisa ter equipamentos e pessoal qualificados’, diz.


Pacele defende que os vigilantes tenham capacitação específica para ocupar o cargo em museus. ‘O gestor de segurança desses locais precisa ter a mesma qualificação de um gestor de um banco’, afirma.


Segundo ele, uma das medidas que administrações de museus como o Masp podem tomar para atenuar os problemas de segurança é a de orientar funcionários a não comentarem sobre o que há no acervo fora do trabalho.


O especialista participou, em novembro, de um evento em Minas que discutiu justamente a segurança em museus. Segundo Pacele, estavam presentes dois integrantes do Masp. A assessoria do museu não confirmou a informação.


Para o diretor-presidente do Comitê Brasileiro do Conselho Internacional de Museus (Icom), Carlos Roberto Brandão, a crise financeira pela qual o Masp passa pode ter ajudado a deixar o museu vulnerável. ‘Com certeza, um museu que não consegue pagar sua conta de luz tem problema de recursos. Isso reflete em todas as áreas -inclusive na segurança’, afirma. ‘Não adianta simplesmente chamar uma empresa de segurança para cuidar do museu. A questão é mais ampla: tem que se ter cuidado com as pessoas que entram nele’, diz.’


 


Mario Cesar Carvalho


‘São pé-de-chinelo’, diz ex-diretor da Biblioteca Nacional


‘O editor e bibliófilo Pedro Corrêa do Lago não comunga com a hipótese da polícia segundo a qual a maioria dos furtos de obras de arte é atribuída a grupos organizados ou encomenda de colecionadores. ‘Esse tipo de roubo é coisa de pé-de-chinelo’, diz Corrêa do Lago, representante no Brasil da Sotheby’s, a maior casa de leilões do mundo.


Segundo ele, os quadros roubados do Masp são ‘invendáveis’ porque não há receptadores que comprem obras tão carimbadas como essas. Ex-diretor da Biblioteca Nacional, ele já foi acusado de compactuar com os furtos que ocorriam na instituição. Com o tempo, sua tese de que os furtos da Biblioteca eram coisa de amadores foi comprovada pela polícia. Leia os principais trechos da entrevista.


FOLHA – Sempre que há um roubo de arte, a polícia diz que foi coisa de de grupos organizados, encomenda de algum colecionador. Faz sentido?


PEDRO CORRÊA DO LAGO – Não. Esses roubos de quadros no Brasil são casuais, de ocasião. Os ladrões acham que haverá receptação para grandes obras de arte assim como há receptação de celular ou de jóia roubada. Aí descobrem que esse mercado não existe. Esse tipo de roubo é coisa de pé-de-chinelo.


FOLHA – Pé-de-chinelo?


CORRÊA DO LAGO – Ladrão sofisticado não usa pé-de-cabra. Os quadros escolhidos mostram também que não há sofisticação nenhuma no roubo. A escolha de Picasso e Portinari mostra que eles são amadores. Os ladrões pegaram os nomes mais óbvios da coleção do Masp, os mais famosos para os brasileiros.


Eles devem ter ouvido falar que um Picasso pode valer US$ 50 milhões e perceberam que não havia muita dificuldade para conseguir um no museu. Mas, se tivessem o mínimo de conhecimento, eles saberiam que esses quadros são invendáveis. Se fosse um ladrão pseudo-informado, teria talvez roubado o Velásquez, o Chardin, o Mantegna, ou um Van Gogh, que são alguns dos trabalhos mais valiosos do Masp. Com o tempo, os ladrões vão descobrir que não têm o que fazer com o Picasso e o Portinari. O meu maior medo é de que destruam esses quadros.


FOLHA – Por que essas duas obras são invendáveis?


CORRÊA DO LAGO – No mercado aberto ninguém compra, pois há um cadastro na internet das obras roubadas. No mercado negro, ninguém nunca achou um colecionador onanista que fica admirando obras roubadas em uma câmera secreta. Isso é ficção. Só o Hitler, talvez, fizesse isso [com obras saqueadas de colecionadores judeus]. Colecionador, por princípio, gosta de exibir o que tem.


FOLHA – Por que o roubo de arte tem se tornado uma rotina no país?


CORRÊA DO LAGO – Os ladrões de bibliotecas eram uma só quadrilha que já foi desbaratada. Na arte sacra há ocorrências em todo o Brasil. Já os roubos de quadros são obra do acaso, não há uma organização por trás. É só analisar os roubos mais famosos dos últimos tempos. A polícia dizia que o Portinari roubado há dois anos na galeria Thomas Cohn era uma encomenda de colecionador, que valia US$ 1 milhão. Depois, encontraram o quadro sendo vendido pelos ladrões numa pracinha numa cidade da Grande São Paulo por R$ 10 mil. Ora, que ladrão sofisticado vende quadro numa pracinha?’


 


Catia Seabra


Furto no Masp revela ‘imperfeições’ na gestão, diz Sayad


‘O secretário estadual de Cultura, João Sayad, disse ontem que o roubo das telas evidencia ‘imperfeições’ na administração do Masp (Museu de Arte de São Paulo). Frisando que o museu é uma instituição privada, Sayad disse que a situação é preocupante.


‘Estamos muito chateados e preocupados. Esse roubo complica a situação da administração do museu, já que vive uma crise financeira bastante grave’, afirmou.


De acordo com ele, a segurança do museu ‘deveria ser revista, não está em ordem’.


‘A segurança do museu deveria ser preocupação número um. Aquele é um acervo preciosíssimo. Já estávamos preocupados com a situação financeira e agora estamos preocupados com a segurança’, declarou o secretário da Cultura.


Procurada pela reportagem, a direção do Masp não quis se manifestar sobre as declarações de Sayad.


O secretário conta que o governo do Estado tentou, sem sucesso, uma negociação pela qual ajudaria no pagamento das dívidas da instituição, desde que pudesse participar da escolha da direção do museu. A eleição, disse, deveria ser feita por um ‘conjunto mais amplo’ de pessoas. A idéia, entretanto, não vingou.


Parece filme


Ao saber que os ladrões teriam entrado pela porta da frente do museu, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), comentou:


‘Parece filme, né?’


Lembrando que a investigação do roubo de acervo da Biblioteca Municipal Mário de Andrade, que ocorreu no ano passado, havia sido bem sucedida, Serra prometeu empenho da Polícia Civil.


‘Vou conversar com o secretário [de Segurança, Ronaldo Marzagão] e com o delegado-geral [Maurício José Lemos Freire] para que façam todo esforço para descobrir isso. Espero que as obras tenham seguro. Vou botar a polícia para trabalhar muito firmemente. Nossa Polícia Civil é competente para investigar e espero que tenha boa sorte neste caso’, disse ele, apostando nas chances de recuperação das obras. ‘Acho que sim. Não é uma obra fácil de guardar.’


Fragilidade


Para o secretário municipal da Cultura, Carlos Augusto Calil, o furto no Masp revela a ‘fragilidade das instituições culturais em preservar seus acervos’. ‘Só mostra como estamos frágeis, todas as instituições, das maiores às menores, mais ocultas às mais visadas.’


Calil disse que, se instada a fazê-lo, a prefeitura ajudará. ‘Mas o Masp é uma instituição privada. O acervo é privado. No caso da dissolução do Masp, ele passaria para a Pinacoteca do Estado’, afirmou.


O secretário disse achar, até então, que o Masp tinha uma ‘proteção natural’ contra roubos justamente por causa da notoriedade do acervo.


‘Não que o Masp que tivesse melhores condições que as outras instituições, Biblioteca Nacional, Museu Histórico Nacional, que também foram roubados, ou mesmo a Biblioteca Mario de Andrade’, disse.


‘É mais fácil roubar um Rugendas da Biblioteca Mario de Andrade, que alguém pode comprar inadvertidamente, do que comprar um Candido Portinari. Quem não conhece ‘O Lavrador de Café’? Mas o mercado de arte tem lá suas regras, que eu não conheço.’’


 


PLAYBOY
Mônica Bergamo


Deu zebra


‘A ‘Playboy’ de Mônica Veloso, ex-amante de Renan Calheiros, não rendeu o esperado. Vendeu menos que a edição campeã do ano, com a ex-BBB Íris Stefanelli na capa, e que a da bandeirinha Ana Paula Oliveira. Disputa o bronze com a ex- BBB Fani Pacheco.’


 


TV RECORD
Mônica Bergamo


Cadê a Brasília?


‘Um aposentado estuda processar a TV Record por tomar emprestada sua Brasília ano 76 e nunca mais devolver. Uma reforma do carro foi mostrada no programa ‘Hoje em Dia’, de Ana Hickmann. ‘Ofereceram desmontado de volta’, diz Maria do Carmo Alves, filha do dono do veículo. A TV diz que vai ‘resolver o problema’.’


 


LITERATURA
Tereza Novaes


Trajetória de Anita Malfatti é revista em livro


‘Há exatos 90 anos, em dezembro de 1917, a ‘Exposição de Pintura Moderna de Anita Malfatti’ causava furor em São Paulo. As telas da jovem pintora, recém-egressa de uma temporada de estudos nos EUA, receberam contundente crítica de Monteiro Lobato -que ficaria célebre com o título ‘Paranóia ou Mistificação’.


O episódio, que marcou a carreira da artista e a história do modernismo brasileiro, é relembrado no livro ‘Anita Malfatti – Tomei a Liberdade de Pintar a Meu Modo’ (editora Magma, 152 págs., R$ 120), de Luzia Portinari Greggio.


‘Anita foi protagonista de momentos de ruptura e essencial para a Semana de Arte Moderna de 1922. Apesar dos imigrantes, São Paulo não estava preparada para aquilo [a mostra de 1917]’, diz Luzia. ‘Havia muitas polêmicas em torno da sua obra e de sua vida, uma cobrança muito grande porque ela fez ou deixou de fazer algo.’


Sobrinha de Candido Portinari, a autora foi curadora de uma exibição da pintora no Espaço da BM&F, em 2004, e dirigiu também o documentário ‘Lembranças de Anita’.


O livro reúne mais de 140 imagens, entre elas, ‘O Farol’ e ‘O Homem Verde’, que participaram da mostra de 1917, além de ‘A Boba’, outro ícone da obra de Malfatti. Há também retratos, flores e paisagens.


Depois de fazer obras seminais para o modernismo brasileiro, a artista realizou trabalhos de caráter mais acadêmico, um aparente retrocesso.


‘Ela atenua sua obra para temas mais femininos, que era, por outro lado, o que ela podia vender. Ela dependia da clientela que existia naquela época. Retrato, flores eram coisas que as pessoas gostavam de colocar na parede’, explica Greggio.


‘Se Anita tivesse a independência econômica como Tarsila [do Amaral], muito provavelmente continuaria no caminho expressionista’, especula.


A influência do expressionismo tinha relação com sua formação. Filha de mãe americana, descendente de alemães, Malfatti foi estudar primeiro na Alemanha, depois nos EUA e não em Paris, a capital cultural daquele período. ‘Isso é importante na vida dela. Paris refletia o pós-impressionismo.’’


 


AUTORA FAZ ANÁLISE DAS ASSINATURAS


‘Um estudo de Luzia Portinari Greggio sobre as assinaturas de Anita Malfatti faz parte de seu livro. ‘O Farol’ tem duas assinaturas: uma é ilegível, no fundo escuro com tinta escura; do outro lado, há uma no fundo claro com tinta forte.’ Greggio acredita que a pintora não gostava de assinar seus trabalhos. ‘Era uma maneira de ela se esconder um pouco. Apesar de ter enfrentado grandes polêmicas com posições firmes, ela era muito tímida. Mas isso não explica tudo’, afirma a autora. Greggio também analisou as assinaturas de Di Cavalcanti.’


 


CINEMA
Laura Mattos


Xuxa é rainha dos baixinhos só na ficção


‘Na entrada dos jornalistas para a entrevista coletiva com Xuxa, sua assessora grita: ‘Perguntas só sobre o filme, tá?’.


O desespero era evitar que a saia justa viesse à tona. Em ‘Xuxa em Sonho de Menina’, que estréia hoje nos cinemas, a personagem da loira vira apresentadora infantil no final.


Na semana passada, poucos dias antes da exibição do filme à imprensa, a Globo anunciara o fim de seu programa diário para crianças. A baixa audiência levou a emissora à decisão de reformular a sua programação matinal para o próximo ano.


Na coletiva sobre o filme, como já é praxe, as perguntas devem ser encaminhadas por escrito, em um pedaço de papel distribuído pela assessoria, que obviamente seleciona quais serão respondidas por Xuxa.


Ao anunciar o início da entrevista, José Carlos Oliveira, da distribuidora Warner, ainda reforçou: ‘As perguntas devem ser a respeito do filme’.


Mas Xuxa queria falar. Na primeira questão, sobre a ‘falta de investimento em filmes nacionais para crianças’, já disparou seu recado à Globo: ‘Não é só no cinema. Na telinha também há pouco espaço para o público infantil. As pessoas sonham em começar a trabalhar com crianças, depois passar para adolescente e adultos. Não querem ficar sempre com o infantil, como a Disney, por exemplo. Eu queria muito ficar com o meu público, mas parece que não estão acostumados com isso. Ficam me perguntando quando vou trabalhar com adolescentes e adultos’.


E Xuxa veio também com a sua versão para essa opção: ‘Um dos motivos é financeiro. Gasta-se muito com programas infantis e ganha-se pouco’.


Em 2008, ela terá um programa ‘para a família’ nas manhãs de sábado, e a gincana ‘Conexão Xuxa’ aos domingos.


‘O pedido da casa [Globo] foi que eu fizesse algo parecido com o ‘Show da Xuxa’. Se eu conseguir chegar àquele público que assistia ao programa e que agora virou pai e mãe, ótimo. E há ainda os filhos deles.’


Flávio de Souza (‘Ilha Rá Tim Bum’), que trabalha com Xuxa desde 2003, será roteirista da nova atração. Ele também fez o roteiro de ‘Xuxa em Sonho de Menina’, dirigido por Rudi Lagemann. A loira é Kika, garota do interior que sonha em ser atriz. No fim, vira apresentadora infantil e percebe que ‘sua missão é estar na TV e passar a sua mensagem às crianças’. Apesar de Xuxa ter trocado a produtora Diler, sua antiga parceira, pela Conspiração (‘2 Filhos de Francisco’) com a intenção de não produzir mais filmes ‘pizza’, o novo é uma de mussarela da padaria.’


 


TELEVISÃO
Cristina Fibe
Seu Jorge leva CD mais recente à TV


‘Sem a parafernália que enfeitou sua turnê mais recente, Seu Jorge apresenta as músicas do CD ‘América Brasil’ em show sem frescuras, mas também sem surpresas, no programa ‘Bem Brasil’ que a TV Cultura exibe amanhã, às 17h30.


Se a turnê viu um Seu Jorge eufórico, fantasiado e teatral, este show, gravado no Sesc Pompéia, em São Paulo, tem um cantor correto e calmo que, de camisa listrada, divide o repertório entre as músicas novas e antigos sucessos.


Ele começa sentado, com jeito um pouco preguiçoso, cantando ‘América do Norte’ e ‘Trabalhador’. Levanta-se para ‘Burguesinha’ e ‘Mina do Condomínio’, e depois dá à platéia o gosto de ‘Tive Razão’, um de seus maiores hits.


‘São Gonça’, sucesso de sua época com o Farofa Carioca, também está lá, mas em versão lenta, mais parecida com a do DVD com Ana Carolina.


Entre as músicas, o apresentador Wandi Doratiotto conversa rapidamente com o cantor/ator, que repete o que já disse em entrevistas que deu ao lançar o CD, em setembro -é um disco ‘doméstico’, para tocar ‘no churrasco’, o Brasil é ‘da América’ etc.


Para fechar, a boa e velha ‘Carolina’ dá as caras. E uma das filhas de Seu Jorge sobe ao palco, super à vontade, para dançar a música do pai.


BEM BRASIL – SEU JORGE


Quando: amanhã, às 17h30


Onde: TV Cultura ‘


 


 


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O Estado de S. Paulo


Sexta-feira, 21 de dezembro de 2007


LULA E A IMPRENSA
Lisandra Paraguassú


Franklin comemora 152 entrevistas do presidente no ano


‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu 152 entrevistas este ano, 60 a mais do que em 2006. A contabilidade foi apresentada ontem pelo ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência, Franklin Martins, aos jornalistas que fazem a cobertura do Palácio do Planalto. O número foi comemorado pelo ministro como prova de melhora na relação do governo com a imprensa.


‘O presidente disse que este ano vocês iam cansar de fazer entrevistas com ele e se pode dizer que cumpriu’, afirmou Franklin.


Na conta da Secom entram todas as conversas do presidente com jornalistas, incluindo entrevistas de improviso, ao fim de eventos, para órgãos de alcance restrito ou jornais regionais e outras concedidas apenas por escrito. Entrevista coletiva formal, a todos os veículos credenciados para a cobertura no Palácio do Planalto, Lula deu apenas uma, em maio.


‘Do ponto de vista da Secretaria de Imprensa, esse foi um resultado extremamente satisfatório’, disse Franklin. ‘Acho que o modelo que se implantou vem dando certo, de uma relação pessoal do presidente com os jornalistas, e o saldo é positivo.’


A comparação com 2006 não levou em conta as entrevistas de Lula como candidato à reeleição. Foi justamente no ano passado, quando começou a se aproximar a campanha eleitoral, que ele começou a tornar-se mais acessível aos jornalistas. Até então, pouco falava além dos discursos tradicionais.’


 


Leonencio Nossa


Este ano, só um ministro no café


‘Descontraído e sem expressar contrariedade com o fim da CPMF, o presidente Lula, antes da conversa com os jornalistas na manhã de ontem, fez questão de ele mesmo se servir na mesa de sucos, pães, bolos e frutas. Só colocou no prato duas rodelas de abacaxi e uma fatia de mamão. Depois, comeu um pedaço de bolo de coco e tomou duas xícaras de café, agora servido por um garçom. Ainda fumou uma cigarrilha holandesa, da marca Café Crème (R$ 10 cada lata com dez unidades).


Durante o primeiro mandato, nos cafés de fim de ano com a imprensa, ele não dispensava garçons para nada, uma atitude, segundo pessoas próximas, de quem demonstrava a preocupação com o cerimonial e um certo gosto pelo ritual.


Diferentemente dos encontros anteriores, Lula dispensou ontem não apenas garçons mas ministros que trabalham fora do Planalto. Até porque, observou um interlocutor do palácio, acabou a época dos ministros superpoderosos. Somente Franklin Martins (Comunicação Social) o acompanhou. Dos antigos amigos íntimos, restou no palácio e no café Gilberto Carvalho, chefe do gabinete pessoal.


Estrela solitária e única do encontro com os jornalistas que passam o ano entre empurrões e tapas para arrancar dele entrevistas, Lula contou casos cotidianos e de viagens e traçou perfis de outros presidentes, como o boliviano Evo Morales e o venezuelano Hugo Chávez.


Na avaliação de participantes do encontro, Lula foi firme em suas colocações. Só se irritou diante da pergunta sobre se o senador Edison Lobão (PMDB-MA) seria ministro de Minas e Energia e de um comentário sobre previsão não confirmada de aumento do PIB. ‘Isso é coisa para especialista’, respondeu. ‘Aliás, mesmo os que estudaram muito erram nas previsões.’


Lula relembrou o desmaio de Tarso Genro (Justiça), em La Paz (Bolívia), em razão da altitude de 3.600 metros. ‘Pensei que o cara, o Tarso, tinha morrido’, contou. ‘Dormi naquela noite de luz acesa e a porta aberta com medo, ao menos alguém ia me ver’, completou. ‘Pela primeira vez pensei que iria morrer, ter um piripaque.’


Posou ainda para fotos com parte dos jornalistas e tirou ele mesmo algumas fotos. O clima de descontração, sem gravadores e canetas – como exigia a assessoria de imprensa -, foi quebrado no final, quando os holofotes das emissoras de TV foram acesos. O único gravador que permaneceu ligado todo o tempo foi o de um assessor, que depois disponibilizou a transcrição.’


 


Lula pede juízo a d. Luiz e declara que não vai recuar na transposição


‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou ontem que as obras de transposição do Rio São Francisco vão ser retomadas. Em entrevista de fim de ano no Planalto, e antes de o bispo de Barra (BA), d. Luiz Flávio Cappio, anunciar o fim de sua greve de fome, Lula disse que, como cristão, considera essa forma de protesto contrária aos princípios da Igreja e não pode ser acolhida por um governante. ‘Se o Estado ceder, o Estado acaba. Espero que ele tenha juízo.’


Na conversa com os jornalistas, Lula lembrou da greve de fome que fez com colegas do Sindicato dos Metalúrgicos, em maio de 1980, na prisão. ‘Sei o que é greve de fome. Dá uma fome danada’, disse. ‘Aprendi com meus companheiros da Igreja Católica que só Deus pode dar e tirar a vida.’ Na expectativa de que Cappio encerrasse o protesto ontem, Lula cobrou posicionamento mais firme da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil em relação ao caso.


‘Espero que a Igreja diga para ele o que disse para mim e ele cumpra os preceitos cristãos. A Igreja não se envolve em questões técnicas.’ Lula aproveitou a entrevista para justificar a disposição de fazer a obra do São Francisco. ‘É o projeto mais humanitário do governo’, avaliou. ‘Quero acabar com a indústria da seca e do caminhão-pipa. Só quem carrega lata de água na cabeça e viu sua cabrinha morrer de sede sabe o problema da seca. Como nordestino que carregou lata de água quando era menino sei o que significa a água.’


O presidente afirmou que, na quarta-feira, recebeu a informação de que um cidadão da Paraíba também tinha entrado em greve de fome a favor do projeto. ‘Daqui a pouco eu vou dar uma entrevista e um jornalista vai resolver fazer greve de fome para eu não dar entrevista. O governo não tem como ceder, a obra de transposição vai continuar.’


AGENDA


À noite, o chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, disse que, mesmo com o fim greve de fome de d. Luiz, o governo vai cumprir os seis pontos da agenda acertada com o grupo contrário à transposição do São Francisco. ‘São propostas que aceitamos porque são complementares à própria obra’, afirmou Carvalho ao chegar para o jantar de Natal oferecido por Lula a seus ministros.


De acordo com Carvalho, as obras da transposição serão reiniciadas em 7 de janeiro, quando termina o recesso de Natal e ano novo dos militares. A idéia de uma suspensão de dois meses, que chegou a ser discutida, não está mais nos planos. Carvalho dissse que essa foi uma proposta que surgiu durante a negociação, mas nunca chegou a ser aceita nem mesmo pelo bispo e seu grupo.


Agora, o governo pretende lançar uma campanha publicitária defendendo a transposição. A avaliação é de que os contrários às obras ocuparam espaço e convenceram pessoas, e o governo não soube reagir.


LICITAÇÃO


Ontem mesmo, o Diário Oficial publicou o resultado da concorrência para execução das obras do Lote 1 do Projeto de Integração do São Francisco com Bacias do Nordeste Setentrional. O vencedor foi o Consórcio Águas do São Francisco, formado pelas empresas Carioca S.A., Paulista e Serveng.


O valor global do lote é de R$ 238,8 milhões. O consórcio será responsável pela execução das obras civis de instalação, montagem, testes e comissionamento dos equipamentos mecânicos e elétricos.


COLABOROU LISANDRA PARAGUASSÚ’


 


DOM LUIZ CAPPIO
O Estado de S. Paulo


O jejum do bispo de Barra


‘A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), dando ao governo o sinal verde para retomar as primeiras obras da chamada transposição do Rio São Francisco – a construção de dois canais que levarão parte de suas águas para leitos secos no semi-árido de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará -, baseou-se numa questão de fato e numa questão de direito. Conviria tê-las em mente, tanto mais pelo caráter polêmico desse projeto que remonta ao tempo do Império e pela repercussão da greve de fome de três semanas do bispo de Barra, na Bahia, dom Luiz Flávio Cappio. Em julho último, o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, pediu a paralisação dos trabalhos, sob o argumento de que o governo não cumprira as exigências legais para a sua execução. Em outubro, o juiz Antonio Souza Prudente, do Tribunal Regional Federal do DF, concedeu liminar em outro recurso do gênero.


No plano dos fatos, a Corte entendeu, por 6 votos a 3, que nenhum dos requisitos havia sido desrespeitado, estando de acordo com a lei a licença ambiental concedida pelo Ibama para o empreendimento, orçado em mais de R$ 5 bilhões. Os canais deverão capturar uma ínfima parcela da vazão do rio, que varia de 1.850 m³ por segundo a 3.850 m³ por segundo. O volume máximo canalizado, para beneficiar presumíveis 12 milhões de pessoas, não passará de 63 m³ por segundo. Na esfera conceitual, o relator Carlos Alberto Menezes Direito deixou claros os limites da intervenção do Judiciário em matéria de atos governamentais. ‘Cabe ao Executivo’, afirmou, ‘a exclusiva responsabilidade de avaliação, definição, execução e portanto opção de políticas públicas diante das necessidades sociais da população.’ Não precisou acrescentar que a legitimidade do Executivo para tanto deriva do mandato recebido por seu titular em eleições livres e limpas.


Obviamente, daí não se deduz que o governo é dono da verdade. Nem significa, no caso concreto, que os adversários dessa obra, que é uma das prioridades da administração Lula com execução atrasadíssima, não devam ou não possam combater a sua decisão de levá-la a cabo. A ordem democrática não apenas legitima o conflito entre atores sociais ou entre eles e o Estado, mas proporciona aos opositores de políticas de governo amplo repertório de oportunidades de expressão, pressão e protesto para demover os governantes de seus intuitos. À luz desses dados singelos da realidade, a greve de fome do bispo de Barra, a segunda, por sinal, representou uma perversão – o termo, infelizmente, é o apropriado – do direito de confrontar o poder público. Primeiro, porque o governo não enfiou o seu projeto goela abaixo da sociedade. Justiça se lhe faça, modificou o esquema original, cercou-se de impressionante massa de pareceres técnicos, não saltou nenhuma etapa dos ritos indispensáveis ao processo decisório e não se furtou ao diálogo.


Em artigo publicado ontem no Globo, o deputado Ciro Gomes, ex-ministro da Integração Regional, lembra que, depois de ter faltado a dois debates para os quais havia sido especialmente convidado, dom Cappio foi a uma audiência com o presidente, na qual ele, como ministro, expôs o projeto por mais de uma hora, com o bispo em silêncio. Concluída a apresentação, dom Cappio teria dito que não estava interessado em discutir a iniciativa. Queria ‘um plano completo para o semi-árido’. Em segundo lugar – e muito mais importante para se entender por que a sua conduta é condenável -, ele tentou acuar o governo, valendo-se de sua condição de religioso. Fosse ele um leigo anônimo, o seu jejum seria relegado pela mídia ao rodapé das bizarrices do dia-a-dia. Mas, sendo um prelado católico, com o sacrifício auto-imposto, abusou da autoridade moral da sua Igreja que o povo brasileiro, em sua maioria católico, reconhece e acata.


O resultado desse abuso foi o espetáculo midiático em que se transformou o seu jejum, digno do clássico do cinema de Billy Wilder, A Montanha dos Sete Abutres.


Deixe-se de lado, por se tratar de assunto da alçada exclusiva dos seus correligionários, a contradição do ato que poderia custar-lhe a vida com os mandamentos do credo que professa. A sua transgressão, insista-se, foi a tentativa de prevalecer sobre o governo de uma nação em que Estado e Igreja são entes distintos.’


 


IMPRENSA NOS EUA
O Estado de S. Paulo


Venda do grupo Tribune é concluída


‘A venda do grupo Tribune, proprietário de jornais como o Los Angeles Times, foi concluída ontem, depois que o bilionário Sam Zell assegurou o financiamento necessário para a operação, avaliada em US$ 8,2 bilhões. O fechamento da operação chega oito meses e meio após seu anúncio, e foi concretizado após o Tribune ter obtido o financiamento dos quatro bancos envolvidos no acordo: JP Morgan Chase, Merrill Lynch, Citigroup e Bank of America.’