O jornalismo piauiense vive uma contradição. Enquanto os jornais e portais de notícias enriquecem às custas, principalmente, das gorjetas doadas pelo governo do Estado, os jornalistas empobrecem suas capacidades de produção de texto (e suas raras criatividades) e fornecem à população notícias fúteis, falsas, compradas, deturpadas, medrosas, sensacionalistas e, o pior: sem ser de interesse público.
Não é difícil de ver, diariamente, os portais esbanjando quantos acessos possuem, que é o primeiro lugar em visitas, que é o melhor em conteúdo, que é a opção inteligente, que tem de tudo, que é a informação verdadeira e todo um blablablá de slogans hipócritas e distantes da realidade. A verdade é que os meios de comunicação do Piauí criaram, nos piauienses, a cultura do sensacionalismo. Programas de TV como Ronda, que, com cerca de uma década de existência, zomba da informação, trazendo para a população o costume de ver a notícia como algo ridículo, humilhante etc. E os portais, como 180graus e Meio Norte (da mesma emissora do circo do Ronda) continuaram a dar às pessoas o mesmo lixo midiático, já que viram que a notícia sem qualidade, como falar da morte de alguém na rua e expor fotos degradantes, era um modo de receber muitas visitas.
A coluna ‘Gazetilha’, por exemplo, do antes reles desconhecido de uma escola mais desconhecida ainda, professor Roberto Alencar, que, no início, esperava-se ser uma coluna séria, até por ser de um professor (alguém de quem se esperam atitudes sérias), mas o que se vê é a barbárie, a revelação da vergonha. Todos os dias somos metralhados com imagens de brigas entre casais, de fotos de bandidos mortos e suas tripas que se espalharam pelo chão e diversas ‘notícias’ que não são de interesse público, mas apenas uma curiosidade popular de ver o polêmico.
Polêmica gratuita
Algo de que, se não todos, 99% dos meios são acusados: de julgarem os suspeitos do crime antes da Justiça. Talvez isso seja um mal do jornalismo no Brasil, mas o Piauí deveria mostrar o exemplo e fazer diferente. Mas não. Estampam todos os dias fotos de suspeitos e abrem a temporada de caça às bruxas contra, muitas vezes, pessoas pobres que não têm nem como se defenderem (muitas vezes, nem acesso à internet possuem). E quando se descobre a inocência de algumas dessas pessoas, a imprensa faz mea culpa e muda rapidamente de assunto.
Mas os piauienses não são idiotas, não são sem cultura, eles apenas foram ensinados a gostarem da falta de qualidade, graças aos diretores dessas empresas. E o pior é que quem possuía alguma qualidade está regredindo, pois estupidamente imagina que descer o nível da informação é um meio de obter mais visitantes (como se isso fosse o mais importante num bom jornalismo).
Um exemplo é o outrora respeitado e temido Arimatéia Azevedo, dono do portal AZ, que antes censurava as notícias forçadas, como de mulheres peladas e bobagens em geral, e agora busca justamente nas informações chulas um modo de alavancar o seu portal. Será mesmo essa a saída: prender os piauienses numa espiral de incultura?
Pergunta fácil: quem sabe, uma coluna de política que faz uma análise aprofundada do tema no Piauí? Análise verdadeira, e não apenas política de fofoca (fulano disse isso; sicrano rebate acusações). Desconheço. Vejam, por exemplo, o programa de boa audiência Jornal do Piauí, apresentado por Amadeu Campos na TV Cidade Verde. Ele leva os políticos apenas para atirarem contra outros e instiga à polêmica gratuita, da briga entre os políticos de partidos rivais. Apenas isso! Vê-se um monte de pseudo-intelectuais apenas procurando uma polêmica entre as brigas políticas para conseguir um pouco de espaço.
Interesses dos governantes
O jornalismo político do Piauí é covarde e preso. Todas as notícias políticas trazem, por trás, um interesse econômico ou vingativo. No primeiro caso, quando se quer ganhar um troco do governo e, por isso, elogia-se ou critica-se. No segundo caso, é a vingança justamente por não ter ganho um dinheirinho ou pelo político ter feito algo no passado que prejudicou o meio – como o caso das confusões geradas entre 180graus e governo do Estado, da qual o portal de notícias criticou duramente o governo por não lhe destinar nenhuma verba, apenas para os concorrentes.
Falando em governo, deveriam ser de conhecimento popular os critérios usados para a escolha do valor das publicidades para cada veículo. O portal Acesse Piauí, da secretária de Comunicação Social, Cristiane Sekeff, a mesma que regulamenta o pagamento para os meios de comunicação, recebe 18 mil reais por mês de propaganda. Isso é moral? Deve-se confiar na imparcialidade da equipe de Sekeff na hora de criticar o governo do Estado?
O jornal O Dia, que bate no peito afirmando ser o jornal em atividade mais antigo do Piauí, é o mais comprado de todos. Não se vê, como destaque, nenhuma matéria com o risco de manchar o mínimo possível a imagem do governo. Jornalistas dos meios citados, acordem: os meios de comunicação servem para ligar a população aos problemas e soluções sociais, e não para separá-los. Se vocês só trazem os interesses dos governantes (grande parte apenas copiada das assessorias de imprensa públicas) e raramente dos populares, qual a razão de existirem? Dêem uma razão social, que não seja de interesse próprio dos donos dos meios, de ainda existirem!
O churrasco da imprensa
Em 1996, o Correio Braziliense fez uma grande revolução e resolveu se desprender do governo, contratou equipe boa, demitiram os estagiários e revolucionaram o jornal com notícias de real interesse público. Adivinhem o que aconteceu? Cresceram consideravelmente suas vendas. Os meios de comunicação do Piauí têm que parar de contratar vários estagiários que nada sabem e deixarem de mão jornalistas formados e mais experientes para fazerem seus portais, jornais etc. Atualmente, contrata-se, no Piauí, apenas um formado para ‘assinar’ o meio e 10 estagiários inexperientes, que fazem jornalismo como acham que é melhor.
Os jornalistas se regozijaram ao irem para o churrasco à imprensa dado pelo empresário João Claudino, onde tinham direito até a sorteio de prêmios. Pergunta-se: existe algo mais vil que dar gracejos para a imprensa? Até ‘jornalistas’ sérios, como Arimáteia Azevedo, em sua coluna diária, elogiavam o feito de João Claudino. Como se pode confiar numa imprensa que adora um presentinho de um senhor que possui filho político?
Defesa de quem está errado
A compra da imprensa no Piauí é descarada e elogiada. A festinha dos Claudino é tida como algo bonito, respeitável, mas não passa de um modo de dar doce na boca dos jornalistas, que rapidamente correm para seus portais e jornais e enchem o ego do empresário com gracejos e babações. Sim, a maioria dos jornalistas do Piauí é feita de babões, gente sem personalidade, que pensa com o bolso, cuja única capacidade de mudar de opinião é quando se muda a fonte do dinheiro recebido. Nada contra o lucro, quando ganho pelo trabalho, mas que o ganho não seja a única justificativa do trabalho, e sim o resultado que o trabalho, principalmente na comunicação, gera para a sociedade.
Por último, a crítica à ignorância: a qualidade do texto da imprensa do Piauí é capenga, paupérrima. Os jornais – a maioria sem revisores nas redações – têm liberdade para jogarem textos com palavras erradas, com erros de concordância, cheios de gírias e expressões populares sem seus devidos significados. Ninguém ousa, testa, arrisca um modo novo de escrever. Afinal, não interesse o modo de escrever, interessa a polêmica que a notícia vai gerar, não é mesmo?
E os portais de notícias menores, sem visibilidade, não estão fora de todas as críticas feitas neste manifesto. Os pequenos querem apenas um espaço, querem entrar no bolo do governo, querem parecer diferentes, mas são mero reflexo do que aprenderam com os grandes. Querem ganhar dinheiro fácil e rápido e nunca, jamais, pensar nos problemas da sociedade. E sabem o que farão quando lerem este artigo: ignoram completamente ou contra-atacam. Mera defesa de quem está errado. Por que não tentam, digamos… ser bons jornalistas para a população?
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Estudante de Jornalismo do Centro de Ensino Unificado de Teresina (CEUT), Teresina (PI)