Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Paulo Rogério

“Quando ainda estava na Redação, até 2009, havia uma senha para garantir prioridade nas pautas. Para garantir fotógrafo e carro era só falar a palavra mágica: É pra capa! Todas as portas se abriam. Talvez agora – perdoem-me os editores – não funcione mais. Relembro a historinha para ressaltar a importância que a 1ª página tem no processo de confecção do jornal. Uma tensão diária. Estar naquele espaço é o máximo para o jornalista. É quase a certeza de que a matéria ou foto ganhará grande repercussão.

Diante dessa importância, tudo o que é publicado requer tratamento diferencial. Títulos e chamadas devem ser precisos, atraentes. A meta é prender a atenção do leitor e levá-lo para as páginas internas. Mas será que vale tudo nessa tentativa? Vamos com calma. A meu ver cada coisa tem seu lugar. O tema, aliás, não é novo. Já abordei na coluna do dia 19 de junho de 2011 após chamadas como ‘A terra do Padim Ciço beliscando o centenário’ ou ‘Não é pássaro, nem avião: é o novo trem do Metrofor’. Volto agora depois da chamada para matéria do Vida & Arte: ‘Seis Grammy pra Adele esfregar na cara do ex’.

Famosos quem?

Se o objetivo era chamar a atenção, conseguiu. Informar, não. O Vida & Arte não deu uma única linha sobre o ex – namorado, marido ou sabe-se lá – da cantora Adele. Só falou da entrega do Grammy. O leitor Anchieta Silveira não gostou. ‘Duas manchetes (chamadas) causaram-me repulsa diante de tamanha imbecilidade’. Além dessa, ele citou a do dia 9, que informava a morte do cantor Wando: ‘O feio mais bonito da música dá adeus’. A jornalista Edwirges Nogueira teve que recorrer à Internet. Ora o leitor não e obrigado a saber tudo. Afinal, quem é ele e o que houve?. Em tempo: o tal ex é o músico Slinky Winfield. Até sexta-feira o leitor do O POVO continuou sem saber.

Há dois pontos distintos. Um é a informação errada para Adele. Outro é o estilo, às vezes ‘irreverente’ adotado para a capa de um jornal com 84 anos. Essa dualidade comandou o tom de um intenso – e tenso – debate interno. Para a Chefia de Redação, a chamada precisa informar e ser atraente. ‘A discussão deve ser realizada em torno da eficiência comunicativa’.

Por esse aspecto, o papel foi cumprido. Muita gente correu atrás de saber quem era esse ex. E a eficiência acabou quando não trouxe a informação. Por outro aspecto, o estilo criou outra polêmica. É verdade que ninguém quer um jornal sisudo, o que O POVO, até pelo seu projeto gráfico nunca foi. Muito menos popularesco. Mas é preciso evitar excessos. O fato do Vida & Arte e Esportes informarem assuntos ‘leves’ não justifica, a meu ver, uso de expressões como ‘Adíiiiilson retorna hoje ao Vozão’ (8/2). Deixa isso para o Galvão Bueno. O ridículo acaba chamando a atenção tanto quanto o criativo. Fico com a última opção.

Da arquibancada

O leitor Reginauro Catunda se diz decepcionado com O POVO. Para ele o jornal errou ao publicar em Esportes, no sábado, 11, véspera do clássico Ceará x Fortaleza, a matéria envolvendo os presidentes da Cearamor, Jeysivan Santos (foto), e da Torcida Uniformizada do Fortaleza, Eliézio Almeida (foto). ‘Como pode o jornal dar notoriedade a diretores de organizações envolvidas em todo tipo de notícias de violência’. Para ele, o jornal deveria discutir, por exemplo, a influência dessas organizações na evasão de público.

Para o editor-adjunto do Núcleo de Cotidiano, Rafael Luís, a pauta era importante, pois ambos se encontraram para promover a paz. ‘O POVO não é Justiça para julgá-los’. De fato, o editor tem razão. Como líderes de torcida a postura – ainda mais naquele momento – era importante. Não cabe ao jornalista julgar, mas denunciar, cobrar e informar ao leitor/torcedor. Ele que decida como agir. Já as sugestões de pauta – repassadas ao editor – merecem ser aprofundadas.

FOMOS BEM

FIM DO BOATO

Série de matérias que revelou aumento de assassinatos no Ceará durante greve na PM

FOMOS MAL

VERBAS

Jornal chegou atrasado na crise en- volvendo Cid Gomes e José Pimentel”