No início dos anos 90, a Editora Abril desfrutava de uma confortável posição no emergente mercado de TV por assinatura no Brasil. Sua operadora TVA havia entrado em operação em 2001 e a Abril controlava alguns novos canais, como o Showtime, a Superstation e a Bravo Brasil. Por essa época, a empresa planejou sua própria rede de jornalismo, o CNA (Canal de Noticias Abril).
Um dos vários desenhos propostos para o CNA era o de transformar suas revistas em programação, uma em cada dia. Num dia a Veja, no outro a Exame e assim por diante. Montou para isso um avançado estúdio no Sumaré, em São Paulo; mas os negócios não prosperaram e a Abril, aos poucos, teve que se desfazer de quase toda a sua participação no setor.
Transformar revistas em programas de televisão não teria sido, de qualquer forma, a melhor opção para a montagem de um canal jornalístico. A CNN, fundada em 1980 – mais de uma década antes da implantação da TV por assinatura no Brasil – já havia definido um formato que ao longo do tempo serviria de modelo para todas as redes do gênero, da Fox News a Al Jazeera, da GloboNews à BandNews.
O TV Folha, a julgar pelo programa de estreia, acredita mais na natimorta ideia da TV do que no modelo que depois se consagrou. É um programa semanal de 30 minutos, não um canal, mas apóia-se na ideia de dividir o espaço em editorias idênticas ao do jornal, com resultados evidentemente irregulares.
Ao trazer o jornal para a TV, a Folhaminimizou o que de melhor ela tem: seu material humano. Pior: baixou o patamar de alguns de seus colunistas, cuja presença na tela é quase tosca em relação a seus textos conhecidos.
Talvez a melhor experiência jornalística da história da televisão brasileira, o “Jornal de Vanguarda”, criado ainda em 1963 por Fernando Barbosa Lima, amparava-se justamente nos seus cronistas. Nomes como Sergio Porto, Fausto Wolff, Villas-Boas Correa, Newton Carlos, Jacinto de Thormes, Millor Fernandes, Tarcisio Hollanda e outros.
O videotape acabara de ser inventado, o programa era quase sempre ao vivo. Mas nunca se fez jornalismo tão bom na televisão brasileira. O Jornal de Vanguarda exibia a inteligência que tinha. A Folhaoptou por esconder a inteligência que tem.
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[Nelson Hoineff é documentarista]