O fim da televisão já foi previsto inúmeras vezes, assim como ela já foi responsabilizada por todos ou pelo menos a maioria dos males do mundo. Também já foi considerada agente central de um setor econômico pouco importante, em detrimento de sua força ideológica: e não foi por outro motivo que, na Europa, a TV desenvolveu-se sob a gestão direta do Estado. No entanto, a televisão está mais viva do que nunca, com força econômica, política e sócio-cultural, em grande parte pela própria multiplicação de janelas que a inovação tecnológica proporciona a esta que ainda é a mais relevante mídia mundial.
A TV está potencializada, pelas múltiplas formas de acesso a seus conteúdos, a partir do avanço tecnológico. A televisão é a popularíssima aberta (hertziana), a conhecida por assinatura tradicional (cabo, satélite e microondas) e a pouco difundida IPTV. Mas hoje vai muito além disso. É igualmente aquela disponível fora do televisor clássico, em monitores de computador, via internet, em aparelhos de telefonia celular (com oferta de emissoras abertas e das operadoras de telecomunicações) e em dispositivos colocados em estabelecimentos comerciais, condomínios e meios de transporte, como ônibus, trem e avião.
Se os sistemas de distribuição mudam, o mesmo ocorre com os modelos de programação, cada vez mais o usuário podendo escolher dentre muitos programas e assisti-los na hora que melhor lhe convier, princípio em que os sítios de disponibilização de vídeo na internet são o paradigma. Os conteúdos televisivos encontram múltiplos espaços e tendem a acompanhar o receptor, onde ele esteja. Assim, há um deslocamento, de maneira que a TV não reina mais sozinha, como principal objeto da casa, com destaque nas salas e aglutinando todos em torno de um único programa. Seu consumo segmenta-se e tende à individualização.
Marco regulatório a ser construído
Essa televisão multiplicada, que acompanha o consumidor onde ele está, é o que o se está denominando de PluriTV. Está baseada na força da imagem na contemporaneidade, em especial em movimento, viabilizada por um conjunto de inovações que permitem múltiplos espaços de veiculação do audiovisual e pelas mudanças no plano comportamental, pelas quais os sujeitos demandam lazer e informação crescentemente. Isso deve ser visto como uma ampliação das possibilidades de negócios na área, independentemente do esgotamento da forma clássica de veiculação publicitária televisiva, o que não é algo novo.
É a TV da convergência, que é radiodifusão e, simultaneamente, telecomunicações. Acima de tudo, é comunicação e é nesse sentido que deve ser considerada, em um novo marco regulatório a ser construído. De um lado, há que se atacar a altíssima concentração da televisão aberta, que prejudica tanto a expressão da diversidade que constitui a sociedade brasileira quanto a entrada de novos capitais. De outro, é necessário dar conta dessa multiplicidade de janelas do audiovisual, em que, num ambiente de convergência, as plataformas se cruzam, inviabilizando regulações que abordem cada meio separadamente.
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[Valério Cruz Brittos é professor titular no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) e vice-presidente da Unión Latina de Economía Política de la Información, la Comunicación y la Cultura (ULEPICC-Federación)]