Uma coisa são os livros e teses acadêmicas carregados de pedagogês. Outra coisa são as (in)decisões palacianas em relação à permanência ou saída de ministros da Educação. E outra coisa, bem diferente, são as salas de aula, nas quais os professores deparam com a realidade, que inclui a presença de alunos, não só problemáticos e indisciplinados, mas também violentos.
São inúmeros os relatos que demonstram como a autoridade do professor vem sendo engolida pelas circunstâncias. Numa escola pública da periferia de São Paulo, professoras pedem ajuda ao aluno-traficante (o líder de uma ou mais classes) para manter a ordem durante as aulas. E o aluno-traficante manda seus colegas calarem a boca! Na boa…
Em outra escola, no subúrbio do Rio de Janeiro, um menino de 8 anos ouviu durante meia hora o ‘sermão’ da diretora. Filho de poderoso traficante da região, esperou pacientemente que o discurso edificante terminasse. Por fim, perguntou: ‘A senhora já acabou?’ E a diretora respondeu que sim. ‘Então’, concluiu o garoto, ‘agora vá se f…’
Há professores que temem entrar em sala de aula, e, lá dentro, tremem, por não conseguirem suscitar interesse, um mínimo de motivação. É certo, como diz Philippe Meirieu, que o professor apaixonado por sua disciplina tem grandes chances de obter disciplina. Belo pensamento… contrariado uma vez e outra pelos fatos cotidianos.
Fórmulas mágicas
Gilberto Dimenstein, ciente desta realidade, foi buscar em Nova York um pacote de soluções. Escreveu (na Folha de S. Paulo, 4/2) que uma boa sugestão para o Brasil, entre outras, seria, como fez o prefeito Michael Bloomberg, diante dos fracassos da escola pública local, contratar para ministrar as aulas profissionais da área de marketing, finanças, mídia e artes, sem necessidade de experiência pedagógica anterior.
Sem dúvida, nossos professores carecem de melhor formação inicial e permanente. Como bem sabe o educador Walter Takemoto, muitos deles foram preparados ‘para o exercício do discurso pedagógico de vanguarda, e não para uma atuação profissional competente’ (Caros Amigos, nº 119, fevereiro/2007). Agora, propor que esses professores sejam substituídos por outros profissionais é deixar implícito que aqueles foram os culpados de tudo, e que estes serão uma boa saída para a calamidade.
Para que professores, afinal de contas? E nós, professores, seremos responsáveis o bastante para dar e pôr em prática respostas concretas, eficazes, aos problemas reais, ou continuaremos aguardando as fórmulas mágicas?
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P.S. Quero agradecer o comentário de Helder Cordeiro da Conceição que me alertou sobre a lenda urbana das jararacas que, inadvertidamente, acabei reproduzindo em meu último artigo. Obrigado, Helder.
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Doutor em Educação pela USP e escritor; www.perisse.com.br