Na semana passada, na Fox News, o âncora Shepard Smith exibiu um vídeo do presidente americano Barack Obama expressando seu apoio ao casamento gay e disse, em seguida: “O presidente dos EUA, agora no século 21”. Logo depois, um site conservador administrado pela Fox teve um olhar diferente sobre a fala do presidente e afirmou: “Obama vira a casa e declara guerra ao casamento” – que foi mudado para “Obama vira a casaca sobre casamento gay”. As manchetes chamativas nas telas da TV ajudaram a reafirmar o status do casamento gay como uma fixação da mídia, algo que estava evidente nos últimos dias, quando o tema dominou muito do discurso público nos EUA.
Em 2004, a opinião de Obama era bem diferente. Em uma entrevista de rádio, ele – na época senador – disse: “minhas crenças religiosas dizem que casamento é algo santificado entre um homem e uma mulher”. Quatro anos depois, em uma entrevista no Hardball, da MSNBC, Obama declarou: “Não sou a favor do casamento gay”. Já em resposta a uma pergunta durante uma coletiva na Casa Branca, em 2010, ele mencionou que seus pontos de vista estavam evoluindo.
Efeito cascata
Então, há duas semanas, o entrevistador da NBC, David Gregory, deu o pontapé ao debate sobre o tema ao perguntar ao vice-presidente Joseph Biden sobre casamento gay em uma entrevista gravada para oMeet the Press. Quando a entrevista foi ao ar, com o vice dizendo se sentir confortável com o casamento entre pessoas do mesmo sexo, criou-se uma cascata de atenção sobre o assunto, que levou à declaração do presidente. “Reconheci na hora que ele tinha ido longe no tema, como nunca havia feito antes”, disse Gregory, em relação ao vice-presidente. “Acho que não foi um esforço pensado da Casa Branca. Ele falou o que veio à cabeça”.
No dia seguinte de a entrevista de Biden ir ao ar, Mark Halperin, do Morning Joe, perguntou ao secretário de Educação, Arne Duncan, se ele acredita que casais gays poderiam se casar – e ele respondeu que sim. Um dia depois, a Casa Branca convidou Robin Roberts, da ABC, para entrevistar Obama. Horas antes da entrevista, Janet Napolitano, secretária de Segurança Nacional, foi indagada por um repórter da Metro Weekly, jornal gay, se ela apoiava casamento do mesmo sexo. Segundo o repórter, ela não respondeu e saiu. Robin e seus produtores esperavam que Obama dissesse algo novo sobre casamento gay quando chegassem à Casa Branca, mas um produtor relatou que isso só ficou claro quando ele falou.
Simpatia pelo tema
Por anos, críticos de mídia conservadores declararam que muitos jornalistas da grande mídia favorecem o casamento gay e tendem a cobrir o tema de maneira parcial. Mark Halperin, da revista Time, concorda. “Ele [Obama] não vai ter cobertura negativa da mídia”, opinou. Robert Lichter, professor de comunicação na Universidade George Mason e diretor do Centro de Mídia e Relações Públicas, reforça este ponto de vista. “Membros da mídia nacional já vêm tendo, há muito tempo, atitudes liberais sobre direitos de gays e expressão sexual, de maneira mais generalizada”, analisou. “Mas não acho que seja um esforço consciente na maior parte das redações para ajudar na luta por direitos gays, mas sim um simpatia geral de maneira pessoal na cobertura”.
Em 1980, Lichter realizou uma pesquisa com jornalistas de grandes veículos, incluindo The New York Times, The Washington Post, The Wall Street Journal, redes de TV comerciais e a PBS. Na época, apenas 25% concordaram com a declaração: “É errado que adultos do mesmo sexo tenham relações sexuais” e 97% concordaram que o governo não deveria “tentar regular as práticas sexuais das pessoas”. Informações de Brian Stelter [The New York Times, 10/5/12].