Saturday, 16 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Chegou a hora da autorregulação

 


Muita opinião – e pouca informação – atrapalham a discussão sobre a mídia no caso Cachoeira. Os depoimentos fechados na CPI só pioram a guerra das versões. Quem acha que a imprensa deve ser questionada é “petista querendo cercear o jornalismo”. Quem não vê o “conluio entre o bicheiro e a maior revista do país” está vendido para os “barões da mídia”. Pobre leitor que não desistiu desse noticiário.

O desabafo da ouvidora da Folha de S.Paulo Suzana Singer (domingo, 13/5, pág. A-8), merece a solidariedade dos seus leitores. E um aditamento sobre a observação da imprensa.

O acompanhamento do desempenho da mídia jornalística tem dois objetivos básicos: promover paradigmas de excelência jornalística e funcionar como contrapoder ao poder da imprensa. O fanatismo tão bem delineado por Suzana Singer nas linhas acima não atende nem uma coisa nem a outra.

Este Fla-Flu canibal, verdadeiro arranca-rabo, anula qualquer possibilidade de exercitar o metajornalismo. Desqualifica-o, faz dele mero tacape na guerra tribal, desserve a sociedade, deseduca o leitor. Um passeio pelos comentários ao último texto deste observador ilustra o clima preconceituoso e a disposição linchadora (ver “Fontes corruptas são corruptoras; submeter-se a governos é aceitar suborno”).

 

O dado alentador é que alguns analistas políticos começam a se convencer que a praga “fiteira” subverte nosso jornalismo investigativo. Eliane Cantanhêde (“Fatos e fitas”, Folha), Ana Cristina Fernandes (“A delação, o prêmio e a notícia”, Valor Econômico) e Merval Pereira (“Novas fitas na CPI”, O Globo) – para citar os que mais recentemente se manifestaram a respeito – chamaram a atenção para o emaranhado de parcerias entre arapongas profissionais e jornalistas. 

Necessidade do CCS

O caso do ex-sargento da Aeronáutica Idalberto Martins de Araujo, vulgo Dadá, tornou-se um clássico porque há fortes indícios de sua participação em bombásticos desvendamentos de escândalos de grande porte (caso Waldomiro Diniz, Operação Satiagraha e Dossiê Privataria). E por que não imaginar que esta maestria não teria servido igualmente à produção de outras inesquecíveis cenas do nosso acervo político-cinematográfico como o suborno nos Correios e na Câmara Legislativa do Distrito Federal?

A expressão “jornalismo fiteiro” pretendia designar a conjugação de duas anomalias: (1) a entrega às redações de denúncias gravadas em fitas, vídeos, CDs, DVDs por elementos estranhos à profissão; e, (2) caracterizar como enganosos os furos soprados para as redações sem qualquer checagem jornalística.

Fiteiro, segundo o dicionário Houaiss, é algo fingido. Fazer fita é o mesmo que dissimular. Ou aldrabar, como dizem os portugueses. No caso, espionagem a serviço de interesses escusos e não do interesse público. Os fatos denunciados podem ser verdadeiros, mas os métodos para obtê-los não foram legítimos. O diabo mora nesta proximidade.

Nossa sociedade e o nosso jornalismo já estão maduros o suficiente para merecer um sistema de autorregulação que começa com a multiplicação de ouvidores e defensores do leitor (como os da Folha, O Povo, Agência Brasil e do El País) e se completaria com a adoção de uma entidade proativa como aquela proposta pela Comissão Leveson no parlamento inglês.

A ideia de convocar jornalistas para depor na CPI do Congresso é uma chinesice totalitária, aberrante – ficaria muito bem na própria China, Ucrânia, ou Rússia de Vladimir Putin. Precisamos ressuscitar urgentemente o Conselho de Comunicação Social como fórum para identificar problemas e discutir soluções. Nada mais do que isso. Está previsto na Constituição, já o tivemos em 2003, por que não o merecemos mais?

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A indicação do jurista José Paulo Cavalcanti Filho para integrar a Comissão [da busca] da Verdade alegrou sua legião de admiradores. E frustrou aqueles que aguardavam a sua anuência ao convite para comandar o renascimento do Conselho de Comunicação Social.