No mínimo, três ou quatro por dia. São os convites eletrônicos que recebo para me tornar “amigo” de fulano ou para “fazer parte de sua rede profissional”. São convites amáveis, endereçados a mim pelo primeiro nome. Mas, apesar do tratamento personalizado, têm um ar de mensagem disparada a 100 ou 200 pessoas ao mesmo tempo. Sempre que recebo esses convites, embatuco. Não tenho Facebook, nem sei como funciona, e as únicas redes profissionais a que pertenço são as empresas a que presto serviços como escritor ou jornalista. Não sei, por exemplo, qual é a “rede profissional” de um querido amigo que, aos 70 anos, nunca teve uma carteira de trabalho assinada, nem acordou como assalariado um único dia em sua vida – e ele me convidou a me juntar à sua “rede”.
Como não sei para que servem essas redes, também não sei o que responder e, pior, temo que tais mensagens sejam pegadinhas marotas contendo vírus. Assim, ou as apago ou deixo que morram de velhice na lista de mensagens. O problema é que, com isso, posso estar passando por esnobe ou antissocial para quem se deu ao trabalho de me convidar a ser seu “amigo” ou juntar-me à sua “rede”. O ridículo é que os que me convidam a tornar-me “amigo” deles já são meus amigos. Têm meu telefone, sabem onde moro, já saímos juntos para pândegas, discutimos futebol, fomos até sócios no passado e, se calhar, um tomou a namorada do outro e vice-versa. Então, por que tal formalismo engessado?
Acredito que os programadores dessas maravilhas eletrônicas tenham pouca prática de vida real. Por serem muito jovens e já terem nascido com um mouse na mão, talvez não saibam que as relações humanas podem se formar a partir de um encontro casual, um aperto de mão, um brilho no olhar.
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[Ruy Castro é jornalista, escritor e colunista da Folha]