A estreia do Facebook ontem [sexta-feira, 18/5] na bolsa eletrônica Nasdaq movimentou o mercado financeiro ao mesmo tempo em que marcou um momento histórico na área de tecnologia – os mais de US$ 100 bilhões em que a rede social foi avaliada já representam a maior transação de uma empresa dessa natureza na história. Mas, mesmo que a cara sorridente de Mark Zuckerberg continue aparecendo no noticiário nos próximos dias, nada garante que o Facebook seja uma empresa com um futuro brilhante. Pelo simples fato de que o Facebook é e será uma empresa grande num mercado ainda em desenvolvimento, que é o mundo digital.
Lembre-se que, como o Facebook, empresas como Netscape, Nokia, Microsoft, Sony, BlackBerry e Yahoo já tiveram seus dias de glória, em que pareciam ser imbatíveis e prontas para dominar diferentes pontos de nossas vidas entre o computador, a internet e o celular. Até o Google, que se vê a cada dia mais ameaçado pela expansão do Facebook, já foi considerado inatingível.
O que acontece? Surge uma nova tecnologia, uma nova linguagem ou um novo aparelho e o público a abraça antes que os titãs percebam a mudança. Foi assim, por exemplo, que a Apple derrubou a Research in Motion, fabricante do BlackBerry, e a Nokia depois de lançar o iPhone e a economia dos aplicativos. De repente, empresas que eram sinônimos de smartphone parecem obsoletas.
O mesmo pode acontecer com o todo-poderoso Facebook. Seu calcanhar de Aquiles já existe e chama-se internet móvel.
Excesso de entusiasmo
Qualquer um que já tenha tentado usar o Facebook em sua versão móvel sabe como a rede social fica muito aquém do esperado se comparado ao formato original, via browser. E, cada vez mais, a internet móvel torna-se dominante em nossa rotina. Para muitos, ela ainda não é uma realidade, mas sua presença é irreversível: em dois ou três anos, estaremos acessando a web em dispositivos portáteis, sejam eles celulares, tablets ou qualquer outro aparelho que possam inventar (lembre-se que, até 2010, a categoria tablets não existia).
E é aí que mora o perigo para o Facebook. Talvez seu rival futuro – o Facebook da internet móvel – ainda nem tenha sido criado, e muitos cogitam que o fato de ter pago US$ 1 bilhão para comprar o Instagram talvez tenha sido um movimento para impedir que o aplicativo crescesse a ponto de interessar compradores concorrentes ou de ele mesmo se tornar gigante.
Por isso, é bom ter um certo ceticismo em relação ao oba-oba em torno do Facebook em 2012. O próprio crescimento da rede já diminuiu – e, lentamente, vemos surgir uma repulsa ao excesso de entusiasmo que parece ser a regra na linha do tempo de todos seus usuários. Que eles são a maior rede social do mundo e uma das empresas mais importantes do mercado de tecnologia hoje, não há a menor dúvida. Resta saber por quanto tempo eles conseguirão manter esse tamanho e essa importância.
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[Alexandre Matias é editor do suplemento “Link” do Estado de S.Paulo]