Segundo pesquisa divulgada por AP e CNBC no início da semana, 46% dos americanos acham que o Facebook é moda e que, ano desses, passa. Estão errados, cada um deles. A abertura de capital na Bolsa, ontem, cumpriu o papel de injetar US$ 18,4 bilhões na empresa e produzir algumas centenas de milionários. É o terceiro maior IPO da história americana, após GM e Visa. E, no entanto, desapontou porque quando chegou ao mercado o preço das ações não disparou. Essa discussão sobre o que configura sucesso na abertura de capital, porém, foge do ponto principal: o Facebook continuará a fazer parte de nossas vidas por muito tempo.
Existiram muitos sites de busca antes do Google: Altavista, Web Crawler, HotBot, Lycos. Um parecia melhor num ano, outro ia à frente no seguinte. Cada novo pequeno avanço fazia parecer que as garagens do Vale do Silício produziriam uma infinidade de melhorias. Só que não aconteceu. O Google certamente era melhor do que todos os anteriores. Mas seu domínio disparado nos últimos 12 anos não é explicado apenas por qualidade: é pelo efeito de rede. É o mesmo motivo que garante ao Facebook domínio num mundo que já teve Friendster, MySpace, Orkut e tantos mais.
A economia de rede funciona assim. No início, há várias empresas de tamanho mais ou menos equivalente. Nenhuma se destaca muito mais do que as outras. Quando uma ganha vantagem um pouco maior, a tendência é de que a grande maioria dos usuários flua para lá. O que torna uma empresa de rede útil para seus usuários é a presença de mais gente. Quanto mais gente busca no Google, melhor fica a qualidade da busca. Afinal, cada clique é um voto para um site. O Google é bom porque muita gente está separando sites bons de sites ruins a toda hora. Quanto mais gente está no Facebook, melhor o Facebook é. Intuitivamente, todos sabemos disso. É lá que está todo mundo.
Protagonismo do usuário
Economias de rede tendem ao quase monopólio. Sempre haverá empresas menores e gente que não se conforma em usar o líder. Mas esse terceiro maior IPO da história dos EUA, realizado hoje, não é acidental. Mark Zuckerberg garantiu o sucesso do Facebook quando criou uma estratégia de crescimento que o permitiu se sobressair no momento certo. Depois que atingiu os primeiros 100 milhões de usuários, o sucesso futuro já estava garantido. Hoje, somos quase 900 milhões de pessoas lá dentro. Seria o terceiro país do mundo em população.
Zuckerberg pode ter menos de 30 anos mas tem-se mostrado um estrategista de negócios brilhante. Provou isso em pelo menos dois momentos. O primeiro foi ao construir o crescimento da rede social de forma controlada e constante, garantindo que não ocorressem soluços de servidores, transmitindo sempre a impressão de confiabilidade.
O segundo foi ao negociar os investimentos iniciais. Garantiu alguns milhões de dólares sem nunca abrir mão do controle das decisões. É um bocado de responsabilidade para um CEO tão jovem. Mas investidores veteranos toparam, convencidos de que não podiam abrir mão de participar de sua empresa. O resultado é que o Facebook é a primeira gigante de capital aberto da história que funciona diferentemente: pode ter muitos donos, mas uma única pessoa controla todas as decisões.
Não quer dizer que o futuro seja fácil. Para que o crescimento continue, o Facebook tem dois desafios tecnológicos pela frente. O primeiro é óbvio. A sua é uma empresa da Web 2.0, a geração da rede na qual a participação do usuário predomina. Mas estamos no início da geração seguinte, em que a rede deixa a tela do computador para se tornar móvel. O Facebook é ainda fraco no celular ou no tablet.
Questões de privacidade
O segundo desafio é a busca. O Facebook vive de publicidade e a dificuldade de encontrar informação, lá, é gigantesca. Sem um bom sistema interno de busca, inúmeras oportunidades de exibição de propaganda se perdem. O site fica, também, menos útil. Não é um problema trivial de responder. Envolve tecnologia, sim, mas também e principalmente dilemas relacionados a privacidade. Sua rentabilidade passa por aí. É um problema que tem de ser encarado.
Este, porém, é o futuro. Segundo a mesma pesquisa de AP e CNBC, 43% dos americanos acham que o Facebook veio para ficar. Seus sucessos até aqui já são históricos.
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[Pedro Doria é colunista de O Globo]