Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Estadão coloca íntegra de seu acervo na internet

Para marcar o lançamento do acervo digital do Estado de S.Paulo na internet, o Grupo Estado promove na noite de quarta-feira (23/5), no auditório do Ibirapuera, uma cerimônia para convidados com a presença do governador Geraldo Alckmin, do prefeito Gilberto Kassab e de centenas de personalidades que fizeram parte da história do jornal e figuraram em suas páginas ao longo dos anos.

O cantor e ex-ministro da Cultura Gilberto Gil será um dos destaques da noite, que terá, entre outras atrações, uma viagem através da história com apresentação multimídia das páginas do acervo desde a edição de 4 de janeiro de 1875, quando o jornal circulou pela primeira vez ainda com o nome de A Província de São Paulo.

Na entrada do auditório, os convidados poderão navegar no portal do acervo digitalizado em totens com internet e tablets. Também receberão em primeira mão um caderno especial que vai circular encartado na edição do Estado de quinta-feira, dia 24, com reportagens e artigos que explicam como foi o processo de digitalização.

O caderno terá textos e fotos sobre a importância do acervo do jornal, que, ao longo de 137 anos, noticiou duas guerras mundiais, a mudança do Império para a República no Brasil e nove reformas monetárias.

Censura

A digitalização dará destaque à censura sofrida pelo Estado em vários períodos, especialmente após a edição do Ato Institucional n.º 5 (AI-5), em dezembro de 1968, quando o presidente Costa e Silva decretou o fechamento do Congresso.

O jornal recusou-se a mudar seu editorial “Instituições em Frangalhos” e teve sua edição apreendida. Mais de mil páginas foram mutiladas pelos censores no período do regime militar. Como o espaço das reportagens vetadas não podia ficar em branco, por ordem dos censores, os jornalistas publicavam versos de Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões, para desafiar a ditadura e expor a censura sofrida.

No portal digital será possível pesquisar as páginas censuradas e comparar como foram planejadas e como saíram publicadas.

Calculadora

No verdadeiro mar de informações formado por cerca de 50 bilhões de caracteres – suficientes para encher 2 mil DVDs –, o leitor poderá fazer pesquisas por data ou por palavras.

Um dicionário de grafia antiga embutido permite que o internauta localize matérias com a palavra farmácia, por exemplo, incluindo os textos do tempo em que se grafava “pharmacia”.

Uma calculadora no portal permitirá converter valores de produtos citados em textos ou anúncios antigos para saber quanto custariam atualmente em reais.

Esportes

A história do futebol está contada desde que os ingleses trouxeram o esporte para o País e contém, entre muitas outras informações, todos os 1.281 gols de Pelé.

No campo da economia e da tecnologia, a evolução do telefone pode ser pesquisada desde o dia em que o representante do inventor Graham Bell publicou um anúncio, em 1878, oferecendo “tympanos elétricos” e “telephonos”. Como não podia deixar o telefone de contato, divulgava o endereço onde estava, na Rua São Bento, na casa do pintor Jules Martin, que fez o primeiro projeto do Viaduto do Chá.

O objetivo do Estado ao investir na digitalização do seu acervo integral é o de colocar à disposição da sociedade um patrimônio cultural que poucos jornais no mundo podem oferecer.

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“Jornal contribui com o País”, diz historiador

Pablo Pereira

Para o historiador Carlos Fico, da UFRJ, a digitalização do acervo do Estado e sua colocação na internet é importante para a pesquisa e o ensino no País.

Acostumado a consultar as páginas do jornal disponíveis no arquivo de microfilmes da Biblioteca Nacional, no Rio, para sua pesquisa histórica, Fico destaca que a iniciativa do jornal tem especial relevância política. “A digitalização do acervo chega na hora em que o País está tratando exatamente da transparência nas informações”, diz, referindo-se à Lei do Acesso à Informação, que entrou em vigor nessa semana.

Para o historiador, que tem doutorado pela USP e leciona História Social na UFRJ, a colocação dos 137 anos de publicações do Estado na web reforça o clima de transparência não só dos entes públicos brasileiros, mas também das empresas. “Quando uma empresa toma essa iniciativa está contribuindo com o País.”

O professor lembra que jornais como Jornal do Brasil e Folha de S.Paulo têm conteúdos digitalizados e defende que outras empresas de comunicação, jornais, rádios e TVs também sigam o exemplo colocando na rede a memória de seus conteúdos.

Fico estuda atualmente “os sistemas repressivos das ditaduras militares argentina e brasileira nos anos de 1960 e 1970 e o papel dos Estados Unidos”.

Ele acrescenta que a abertura do acesso das publicações do Estado serve ainda para que o pesquisador conheça uma outra característica da publicação. “O jornal não permite só o conhecimento de detalhes dos acontecimentos relatados no texto jornalístico. No caso do Estado, o próprio jornal é parte da história da censura no País”, conclui.

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“Texto jornalístico é fonte essencial para pesquisas”

Especialista em análise de discurso, com ênfase em humor e mídia, o professor de Linguística da Unicamp Sírio Possenti diz que o texto dos jornais é fonte importante para suas pesquisas. “Insisto no plural: os jornais. É fácil comprovar que a mesma notícia tem versões diferentes em jornais diferentes”, diz, nesta entrevista concedida por e-mail.

O que o sr. acha de o Estadolançar seu acervo de 137 anos?

Sírio Possenti– Fundamental. Torna possível verificar não só versões sobre os fatos, mas posições do jornal, eventualmente em épocas diferentes. Eu, por exemplo, estou interessado em verificar as posições sobre a emenda relativa à reeleição de FHC e as notícias esparsas relativas à hipótese de uma mudança constitucional para dar um terceiro mandato a Lula, a diferença de tratamento dos mandatos sucessivos na Venezuela, execrados, e na Colômbia, vistos com simpatia. O interesse é pela forma de expressão das diferentes posições ideológicas.

Qual a importância do texto jornalístico para a pesquisa histórica?

S.P.– Os jornais são fontes tanto mais relevantes quanto maior for o número de jornais disponíveis. É comparando as muitas narrativas que se pode chegar perto de alguma verdade, ou mostrar que, em cada época, parecia haver diversas. (P.P.)