Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Adeus, Manoel Carlos!

A central de entretenimento das Organizações Globo prepara um anúncio bombástico. Trata-se do afastamento compulsório do autor de novelas Manoel Carlos por tempo indeterminado e seu retorno dependerá de mudanças processadas no seu estilo dramatúrgico e estético. São normas da empresa e todos os trabalhadores globais que pretendem zelar pelos seus honorários deverão seguir as novas diretrizes divulgadas recentemente pela família Marinho.

É emblemático, no entanto, o caso do querido Manoel Carlos e suas locações externas representando a Copacabana princesinha do mar, o Corcovado e os areais de Ipanema e Leblon, onde reside. Nas suas tramas amorosas admiradas Brasil afora com suas Helenas, nunca faltaram bonitões brancos de olhos claros desfilando pela Zona Sul, carros importados, shoppings e mansões filmadas por dentro e por fora.

Mas são tempos de crise econômica mundial batendo na porta brasileira e crise de hegemonia midiática, na qual o enfraquecimento global perante os gostos televisivos brasileiros se dá com a mesma velocidade. Uma sombra incômoda que já obrigara a família Marinho a adotar práticas impensáveis uma década atrás, como a promoção de espetáculos musicais evangélicos, sob o risco iminente de ser considerada uma emissora dos católicos, parcela cada vez menor da sociedade brasileira. Flexibilização religiosa, em nome da tentativa de garantir o prestígio perdido para os “evangélicos de carteirinha” da família Macedo.

Popularização forçada

O próximo passo, como se demonstra com o afastamento de Maneco, é redirecionar esteticamente toda a produção das novelas. Em lugar dos rasantes de helicóptero sobre Ipanema e a tomada dos prédios na Vieira Souto, entram a estética suburbana e da favela, adicionando, é claro, o seu estilo de vida. As vans, os comércios de rua, o bar, os motoboys, a laje, a Avenida Brasil, o despojamento suburbano agora ganha as telas com maior seriedade, diferenciando-se daquela visão estereotipada da favela enquanto local da carência, da não cultura e da marginalidade.

Cenário reconfigurado, agora basta incluir personagens capazes de gerar identificação com o a vida da maioria dos trabalhadores assalariados, a nova classe média, de TV de plasma e se esforçando para pagar as prestações do carro popular. Quem melhor que as empregadas domésticas para expressar este novo protagonista de características populares para atender aos interesses da nova tendência? Dá-lhe, empregadas! Ou melhor, empreguetes. Foi-se o tempo, Maneco, de colocá-las servindo as patroas socialites em suas salas de jantar.

Pra completar a receita, copiada da sua adversária evangélica, a trilha sonora deve obedecer à onda do momento. “Vem dançar comigo” no estilo tecnobrega ou eletroforró, é o povão que dá o tom, não deixando saudades da melancolia da bossa nova muito atrelada ao modo de vida “não me toque” das dondocas do Leblon. Está pronta a fórmula da tentativa da retomada do prestígio global através das telenovelas. Enquanto o pagode suburbano esquenta na laje, regado a muita cerveja, pela porta dos fundos parte o Maneco e seu estilo Zona Sul, dando início ao novo ciclo global de popularização forçada em prol da sedução de novos clientes.

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[Téo Cordeiro é professor, Rio de Janeiro, RJ]