Em um país onde há mais televisores do que geladeiras, usar o veículo como palanque político é essencial para se ter uma chance na disputa eleitoral. A um mês da eleição presidencial mexicana, marcada para 1º de julho, é difícil ligar a TV e não esbarrar em algum candidato em busca de votos. Mas, ainda que o alcance seja grande, o mercado audiovisual é bastante concentrado no país.
Se antigamente a mídia costumava adotar uma postura de subordinação ao Estado, esta tendência diminuiu na última década. O poder costumava ser centralizado na presidência, mas agora governos estatuais, indústria e organizações civis competem com o governo federal por espaço na cobertura jornalística. “Antes, a mídia precisava das fontes oficiais mais do que elas precisavam da mídia. Agora, isso se inverteu”, resume José Carreño, ex-porta-voz do presidente Carlos Salinas, que governou entre 1988 e 1994.
Os políticos, com o passar do tempo, começaram a tentar controlar a influência da mídia. Regras aprovadas em 2008 dão ao Instituto Federal Eleitoral (IFE) o poder de determinar se entrevistas são “genuínas” ou propagandas disfarçadas. Além disso, apenas o IFE pode organizar debates entre candidatos – jornais já foram multados ao tentar fazê-lo. O tempo de campanha política na TV também passou a ser limitado.
As emissoras não gostaram nem um pouco das regras. A TV aberta, dominada pelo duopólio Televisa e TV Azteca, decidiu reagir. As duas redes decidiram exibir o primeiro dos dois debates presidenciais, no início de maio, em seus canais de menor audiência – que não chegam nem a todas as regiões do país. O tiro saiu pela culatra: era dia de jogo de futebol, mas mesmo assim o debate teve maior audiência, e ambas as redes anunciaram que o segundo seria exibido nos canais principais.
Ligação controversa
A Televisa, que possui 70% da audiência no país, costuma ser associada ao Partido Revolucionário Institucional (PRI), que comandou o México por sete décadas, até 2000 – em 1990, o presidente da Televisa chegou a dizer que o canal era um “soldado do PRI”. Há quem acredite que ele continue por este caminho. Um jornal publicou no mês passado recibos sugerindo que o candidato presidencial do partido, Enrique Peña Nieto, gastou o equivalente a 6 milhões de reais por “menções” jornalísticas em seus seis anos como governador do Estado do México. Peña alega que os pagamentos foram por propaganda legítima.
Também no mês passado, o candidato foi vaiado por estudantes universitários que seguravam cartazes criticando o PRI e a Televisa. Seus assessores alegaram que se tratavam de manifestantes enviados à universidade por um partido rival, informação que foi reproduzida na TV e, no dia seguinte, em jornais. Os manifestantes reagiram na internet: 131 deles mostraram, em um vídeo postado no YouTube, suas identidades para provar que eram, de fato, estudantes.
Corrida
Aparentemente, os protestos teriam ajudado o candidato Andrés Manuel López Obrador, de esquerda, mas arranharam pouco o candidato do PRI. Pesquisas sugerem que Obrador passou Josefina Vázquez Mota, do Partido da Ação Nacional, de situação. Em uma gafe, o ex-presidente Vicente Fox, seu colega de partido, afirmou recentemente que a vitória dela seria um “milagre”. As tentativas de controle sobre a propaganda e sobre os debates políticos parecem ter dificultado os ataques dos rivais a Peña, que lidera a disputa. O Twitter ainda tem impacto limitado fora das grandes cidades – segundo uma pesquisa feita pelo instituto Mitofsky, apenas 9% dos eleitores mexicanos dizem que irão escolher seus candidatos com base no que lêem na internet, contra 39% que confiam na TV ou rádio para fazê-lo. Informações da Economist [2/6/12].