Futebol ou carnaval? É claro que o Brasil é conhecido mundialmente por esses dois itens, mas é fato que o que mais atrai o brasileiro e o prende na frente da televisão é a novela. Produto que mexe com o imaginário e emoções do público. Mais uma vez, a dramaturgia desequilibrou, e desta vez foi para o SBT.
“Um programa muda a audiência de um horário. A novela muda a posição de uma emissora”, disse José Bonifácio de Oliveira, o Boni, ex-todo poderoso da Rede Globo, em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, meses atrás. E não é que é verdade?
Em 2004, começaram os investimentos da Record “rumo à liderança” com a novela A Escrava Isaura, adaptação de Tiago Santiago e Anamaria Nunes e, embora muito da sua subida no Ibope tenha tido grande demérito do SBT, foi exatamente ali que aconteceu uma reviravolta no panorama do ranking das emissoras abertas.
Investindo errado?
Silvio Santos “bufou” para a Record e dizia que ela estava investindo errado. E, pouco tempo depois, lá estava o canal dos bispos brigando efetivamente pelo segundo lugar, depois de sucessivas falhas na programação do SBT. Quanto mais mexia, pior ficava. E hoje, o feitiço virou contra o feiticeiro.
Prova de Amor, em 2005 e 2006, só consolidou o núcleo de dramaturgia da Record, chegando a ameaçar por muitas vezes a audiência do Jornal Nacional. Nessa época, a liderança absoluta do segundo lugar do SBT já estava com os dias contados. O tempo provou que Silvio Santos estava errado.
Parecia que a vice-liderança nunca mais pertenceria ao SBT. Os investimentos não faziam valer essa expectativa. No que tange a novelas, a emissora adquiriu um valioso material de Janete Claire e produziu Vende-se um Véu de Noiva da autora em 2009, sem grande sucesso, bem como as sucessoras de Íris Abravanel e Amor e Revolução, de Tiago Santiago, que foi tirado a peso de ouro da Record e foi um fracasso retumbante.
Ora, qual o público alvo do SBT? Aquele que sempre acompanhou o canal? O infantil! Tuchê! A produção de Carrossel começou e muitos desconfiaram, inclusive eu. Logo começou a imensa divulgação e estardalhaço. A coisa começou a mudar um pouco de figura. O SBT apostava todas as suas fichas nesse clássico mexicano, produzido originalmente em 1989 pela Televisa e exibido no Brasil em 1991, com grande sucesso.
A novela não chega a ter uma hora no ar, mas durante o tempo em que ela é exibida, é suficiente para que o SBT chegue a ser segundo lugar no prime-time (18h-00h) e a vice-liderança na média já foi alcançada, como no último dia 24 e 28/5, o que não acontecia em “dias úteis” há pelo menos cinco anos. Viram como a frase do Boni faz sentido? Uma novela, mais uma vez, foi capaz de tirar o SBT, mesmo que momentaneamente, do terceiro lugar e do marasmo.
Promessa de dores de cabeça
A Record vive sua pior fase dos últimos tempos. A nova novela Máscaras, de Lauro César Muniz, não empolgou o telespectador, tampouco a reprise de Vidas Opostas. Com isso, toda a grade desmoronou. Para piorar a situação, estão cometendo o mesmo erro do SBT de outrora: “voar” com a grade de programação em demasia e desesperadamente. Para quem quer ser líder, solidez na estrutura da grade é essencial, e isso está passando longe da Barra Funda. A Fazenda, no entanto, pode ajudar a emissora a respirar um pouco melhor. Não só pode, como está ajudando. Sem ela, a situação estaria mais complicada, como já vinha acontecendo nessas duas últimas semanas.
Enquanto isso, o público já está reembarcando em Carrossel, que está apenas na sua sexta semana de exibição e promete fortes dores de cabeça à Record.
***
[Thiago Forato é jornalista, Ribeirão Preto, SP]