Onde está a ‘comoção nacional’? E a mídia sensacionalista [ver abaixo]? Quando a violência é cometida por um adolescente, a população indigna-se. Mas quando a violência é praticada contra a criança ou um adolescente nada acontece. Nenhum parlamentar envia PL (Projeto de Lei) para votação, nenhum jornalista publica textos exaltados, nenhum governador se manifesta. Nem sequer é divulgada a notícia.
Atualmente, morrem 250 jovens para cada 100 mil habitantes e não há emoção por parte da sociedade. O massacre dos jovens acabou sendo absorvido e transformando-se em um fato comum.
‘Comoção nacional’
O adolescente tornou-se o bode expiatório da violência. Todos os casos que acontecem envolvendo-os, que não são a regra, mas a exceção, tomam proporções desnecessárias. Vale ressaltar que apenas 150, dentre os mais de 15.500 adolescentes infratores, cometeram crimes hediondos, ou seja, menos de 1%. A violência é um grito de liberdade do adolescente para reconhecimento e valorização. É a sua forma de expor a situação na qual está inserido.
A nossa sociedade é adultocêntrica e hipócrita. Em vez de cobrar melhorias na infra-estrutura do país para proporcionar chance igualitária, prefere apontar a punição como forma de resolver todos os problemas.
A chamada ‘comoção nacional’ tem muitos interesses por trás. E isso é triste e preocupante.
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Menina morre baleada
Danilo Almeida # copyright Folha de S.Paulo, 27/2/2007
A menina Vitória Gabrielly Silva de Carvalho, de três anos, foi morta com um tiro no peito durante uma tentativa de assalto quando estava no colo do avô, José Solange da Silva, 55, na porta de casa, em Mauá (Grande São Paulo).
Embora a bala tenha perfurado a criança, não atingiu o avô, que saiu ileso. O crime aconteceu por volta da 0h de ontem.
O filho de José, Paulo André dos Santos Silva, 26, tinha acabado de chegar à casa que divide com os pais, no Jardim Salgueiro, após encerrar o expediente na pizzaria da qual é dono, em sociedade com o pai, em um bairro vizinho.
Ao abrir o portão para guardar seu Pointer, foi abordado por dois desconhecidos que o chamaram gritando ‘Ô, rapaz’. Paulo, que tinha sido assaltado no mesmo local no dia 17, se jogou no chão.
‘Ela não agüentou’
Os criminosos então fizeram um disparo. Segundos antes, ao ouvir o carro, o pai do comerciante havia aberto a porta da sala, que dá acesso à garagem. No colo, carregava a neta. O tiro perfurou o peito da criança, que é sobrinha de Paulo – filha de sua irmã Adriana, 28.
Separada do marido, Adriana mora na casa dos pais com a filha e o irmão. Ela estava dentro de casa quando o crime ocorreu. ‘Eu ouvi o barulho do tiro e depois ouvi minha filha gritando. Corri até ela, que já estava toda ensangüentada. Corremos para levar Vitória ao hospital, mas ela não agüentou’, contou.
Menino de 4 anos baleado
No desespero para levar a sobrinha ao hospital, o comerciante chegou a arrancar o portão da garagem com o carro. A menina chegou viva ao hospital, mas morreu minutos depois. Foi enterrada ontem à tarde num cemitério de Mauá.
Os criminosos fugiram, aparentemente a pé, sem levar nada. Paulo disse não ter visto o rosto deles, devido à escuridão.
A família desconfia que os ladrões sejam os mesmos autores do roubo sofrido por Paulo no dia 17. Naquela noite, uma dupla encapuzada rendeu o comerciante na garagem de casa e levou R$ 1.200 (o movimento da pizzaria) e um celular.
Poucas horas antes desse crime, houve outro assalto na vizinhança. A polícia civil não se manifestou sobre o caso.
Na noite de sábado, um menino de quatro anos morreu depois de ter sido baleado na cabeça, durante a perseguição do vigia de um posto de gasolina a um ladrão. O tiroteio ocorreu em Santo André (ABC).
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Estagiário na Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República e estudante do 2º semestre de Jornalismo, Brasília, DF