Sempre que um crime hediondo é praticado, os meios de comunicação de massa exploram a questão da violência no nosso país. Jornais, televisão, rádio e internet. Uma profusão de matérias, depoimentos, artigos de especialistas em Direito, Antropologia, Sociologia etc.
A forma como isso acontece depende do veículo e do público a ele direcionado. Todavia, percebe-se que, depois de alguns dias, aquela notícia é substituída por novas notícias e a sociedade parece esquecer, talvez pelo fato de já estar acostumada (anestesiada) pela repetição de notícias sobre a violência sem que medida alguma seja concretamente tomada por parte das instituições governamentais, sem que mudança alguma no quadro social seja sequer vislumbrada.
O recente caso do menino João Hélio, uma crueldade que ‘escapa do merecimento humano’, como escreveu o antropólogo Roberto DaMatta num artigo no jornal O Globo (‘Entre cinzas e impunidade’, 21/2/2007, pág. 7), serve como exemplo. Apesar de um crime como este não ser mais um acontecimento isolado e excepcional, mas um acontecimento que se repete diariamente em nossas cidades – como ônibus sendo queimado com passageiros dentro, jornalistas sendo torturados e mortos por traficantes, entre muitos outros casos de barbárie – corre o risco de cair no esquecimento. Crimes brutais, crimes que de forma alguma deveriam ser banalizados, são praticados e nada parece ir contra este mal.
Cidadãos mais conscientes
A mídia tem o dever de levar ao público a notícia, mas deve também fomentar o debate na sociedade. No caso da violência, algumas indagações emergem atualmente: Tais crimes não escapam do merecimento humano? Não é urgente fazer alterações na legislação para tornar o Código Penal mais rigoroso? É justiça poder retroagir benefícios quando não se pode retroagir uma lei? Uma pessoa de 16 anos tem discernimento para votar numa eleição, mas não pode responder judicialmente à sociedade por seus atos como qualquer outro cidadão responsável? Por que se exaltam direitos e se ignoram os deveres inerentes do contrato social? Quais são os limites (de brutalidade e de banalidade) suportáveis? Tais limites ainda existem?
Portanto, parece-me que o comportamento da mídia, se às vezes extrapola no sensacionalismo, cumpre de forma satisfatória seu compromisso de informar a sociedade, mas deve procurar ir além e promover o debate na sociedade, ajudando a formar cidadãos mais conscientes.
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Estudante de Jornalismo da Facha, Rio de Janeiro, RJ