Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Alguns avanços na luta pela sustentabilidade

O programa Observatório da Imprensa (26/06/2012) que tratou da Rio+20 foi muito interessante (ver aqui). O tempo disponibilizado permite aprofundar mais do que os usuais 30 minutos da maioria dos programas televisivos. De tudo resultou um consenso entre os participantes do programa de que a ideia inicial, de o evento ser o espaço planejado para estabelecer os prazos de implementação das propostas gestadas em 1992, foi atropelada e deixada de lado pelos governos em face da crise da Europa e dos EUA. Sergio Abranches ponderou que – além das questões candentes da crise financeira e econômica que atinge o G-7 e que tende a se alastrar para os demais países, com destaque para os países do Bric, face ao caráter globalizado da economia – a agenda ampla foi um complicador a mais para a tomada de decisão. No seu entender, os países conseguem tomar decisões quando a questão é mais pontual. Como exemplo citou o caso da decisão sobre o problema gerador do buraco de ozônio, quando se chegou a uma conclusão bem sucedida graças justamente à delimitação do problema, à existência de tecnologia para a solução etc…

Mesmo que o tom desanimado e frustrado seja o mais presente quando se fala dos resultados da Rio + 20, ainda assim, segundo Sérgio Besserman, Sérgio Abranches e a presidente do Conselho do Greenpeace, Ana Toni, dá para apontar alguns pontos positivos, como a própria divulgação do evento que tomou conta dos meios impressos e televisivos. Mesmo aqueles que não esposam as ideias ambientalistas tiveram que dar lugar de destaque com cadernos especiais tratando do evento.

Uma decisão na contramão

Outro fato importante ocorrido na Rio + 20, segundo os participantes do programa, foi a manifestação dos prefeitos de 59 das maiores cidades do mundo, o grupo C40, que se comprometeram com metas e programas ambientais, isto é, foi estabelecida uma redução de 1 bilhão de toneladas em emissões de carbono até 2030.

A presidente do Conselho do Greenpeace, Ana Toni, concluiu que houve avanço, representado pela própria presença maciça no evento de ambientalistas de todo mundo, além das inúmeras decisões importantes tomadas nas discussões em fóruns paralelos, como a dos prefeitos, apesar do fracasso político da Rio +20 representado pelo documento final sem qualquer compromisso efetivo, no qual os governantes mundiais, qual Pilatos, lavaram as mãos, deixando para a sociedade civil o encargo de levar adiante a luta pela sustentabilidade.

Como todo governo acossado por problemas econômicos prementes, o governo brasileiro, por estar incapacitado de usar das mesmas soluções de antes, adotou um subsídio para a compra de carros zero que é um verdadeiro desastre sob a ótica da sustentabilidade. Houve, talvez, justamente por esta tomada de posição, uma impossibilidade real de liderança do Brasil, um país talhado para a assumir sem o ônus dos outros países emergentes, segundo todos os participantes do programa. Um país com uma frota diesel, combustível relativamente fácil de ser substituída por um menos poluente, conforme lembrou Sérgio Besserman. Acrescentaria a este fator, outros que, talvez, premido pelo tempo de uma conversa com vários interlocutores e pela dinâmica de uma gravação televisiva eles não tiveram oportunidade de citar, que é a matriz energética hídrica do setor elétrico, o biocombustível. Enfim, como alguém que toma uma decisão tão na contramão, como é o caso do subsídio, teria condições de se apresentar como defensor da sustentabilidade. Isto ficou evidente para todos e não representa uma condenação in totum do governo brasileiro. Até porque houve por parte da presidente, na votação do Código Florestal, uma postura louvável ao vetar pontos importantes do projeto de lei, com claro desgaste das suas bases de sustentação política que ou são indiferentes à questão ambiental ou são inimigas declaradas, como os ruralistas.

O risco visível

Neste particular, vale registrar o esforço pessoal da presidente que, a ser verdade as notícias veiculadas na imprensa, se dispôs a ter aulas sobre ambientalismo para melhor decidir acerca do assunto. Isto é inédito. Não me ocorre uma cena similar tendo como protagonista um chefe de Estado que nestas situações, se for um democrata, geralmente ausculta as bases, e se for pragmático, no máximo, reúne um petit comité dos mais próximos para se aconselhar politicamente e montar um cenário futuro das implicações possíveis resultantes de sua tomada de decisões. Nunca, que eu me lembre, alguém com estas credenciais se dispôs a receber aulas como Dilma. Tal fato se reveste de importância maior se se considerar que a presidente tem uma formação de economista com visão de mundo desenvolvime ntista, que prima por antagonizar o viés ecológico. É uma mudança ideológica que devemos saudar.

No término do programa o economista Sergio Besserman aproveitou o questionamento de Alberto Dines sobre um artigo de Ferreira Gullar, que se reporta a uma manifestação de cientistas que negam o aquecimento global. O grande poeta que ultimamente, tem se notabilizado menos por sua poesia e mais por ter se bandeado para a direita e por isso, a todo o momento, como agora, procurar mostrar serviço aos seus novos parceiros ideológicos. Disse Sérgio Besserman que opinião de cientista tem o mesmo valor que a opinião de qualquer um. Outra coisa é apresentá-la em um fórum cientifico, exposto a todas as etapas rigorosas do chamado método cientifico. Em sequência, tocou no que considero o núcleo da questão que é o risco que toda uma civilização corre caso não levar a sério o problema que se apresenta. Concordo integralmente com o economista. Até porque, diferentemente do que ocorreu com outras civilizações, como a romana e a grega, não estamos diante da decadência de uma civilização a ser suplantada por outra, como nos casos estudados por Arnold Toynbee, no seu livro Helenismo, História de Uma Civilização, e sim, da raça humana.

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[Jorge Alberto Benitz é engenheiro e consultor, Porto Alegre, RS]