Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Tecnologia da informação na exclusão digital

Qual seria o resultado de uma pesquisa que apontasse o maior problema do Brasil? Difícil dizer, afinal vivemos em um país do terceiro mundo, com diversos problemas que precisam ser resolvidos. Mas quais seriam os principais ou mais emergenciais problemas que precisariam ser resolvidos? Será que há algum grande problema que poderia passar despercebido na pesquisa?

O que podemos fazer é tentar imaginar quais problemas se destacariam nesta pesquisa. Com certeza, boa parte da população apontaria a violência como um desses problemas, principalmente se esta pesquisa fosse realizada nos grandes centros. Outro grande votado seria a fome – vivemos em um país onde grande parte da população sobrevive abaixo da linha da miséria. Sem dúvida, teríamos também a saúde – basta vermos a qualidade de alguns hospitais públicos. Mas será que, nesta pesquisa hipotética, em algum momento a exclusão digital seria lembrada?

Acredito ser bem provável que a exclusão digital não aparecesse nos resultados, não pelo fato de não ser um problema importante, mas sim por vivermos em um país onde existem problemas mais emergenciais, que se não forem resolvidos com premência, continuarão causando mazelas ao Brasil. Mas se o Brasil pensar somente em atacar os problemas que são mais emergenciais, quando tentar resolver os outros problemas mais estruturais pode ser tarde demais e, conseqüentemente, perderemos o jogo.

A globalização proporciona ao mundo a possibilidade de diminuir os espaços entre as pessoas. O conhecimento que é gerado na França pode ser adquirido por uma pessoa que está no Japão, no exato momento. O problema é que essa mesma TIC (Tecnologia da Informação e Comunicação) que deveria, por seu poder de integração multimídia online, on-time, reduzir os gaps sociais, no fundo os aumenta. Em suma, é pena que, ainda hoje, a referida diminuição de espaços não é para todos.

O que aparentemente poderia significar a grande saída para a diminuição da pobreza mundial, infelizmente está servindo como vetor principal para aumentá-la. A grande gama de conhecimento gerada no mundo não chega nas mãos dos países pobres, porque esses não têm dinheiro para acessá-la. Ou seja, quanto mais o país rico investe em TIC, mais rico fica o país. Quem tem a possibilidade de adquirir esse grande conhecimento é, justamente, quem já tem uma condição financeira privilegiada.

Jogo do mundo

Mas vamos ao que interessa: como essa corrente poderia ser invertida no Brasil, uma vez que entendo ser premissa começarmos a resolver a inclusão digital e empresarial internamente para podermos tentar nos posicionar como país integrado digitalmente à comunidade internacional de negócios futuramente?

Acredito que as empresas e os profissionais da área de TI devem ter uma atuação maior sobre esse problema, além de contarmos com políticas públicas de inclusão digital, empresarial, fomentos ao software livre e ao desenvolvimento de comunidades regionais digitalizadas. Com um trabalho em conjunto com ONGs, essas empresas podem disponibilizar máquinas e profissionais capacitados para ensinar a parcela excluída da sociedade. Nada melhor que proporcionar a inclusão digital no Brasil via pessoas que ‘respiram’ tecnologia. Afinal, além da inclusão digital em si, eles ainda poderiam passar alguns conhecimentos técnicos básicos para os alunos, o que poderia acentuar o processo de inclusão profissional.

Outro fator que deve ser levado em consideração para a redução das taxas de exclusão digital no Brasil é a utilização do software livre. Em um país carente como o nosso, fica praticamente inviável criarmos uma política de inclusão digital encarecida por custos de licenças de software e pagamento de propriedade intelectual. No fundo, a economia de investimentos gerada com a adoção dos softwares livres poderia ser usada para outros fins, como a compra de máquinas, melhorias nas instalações, treinamento profissional, dentre outros.

Sem duvida a exclusão digital é um problema sério que atinge o Brasil. Acredito, porém, que com a ajuda dos profissionais de TI, podemos, de maneira socialmente organizada (como voluntários), atuar como os agentes fundamentais de transformação social nesse quesito, além de sermos o fiel da balança que irá definir se o Brasil, além de conseguir entrar, conseguirá ser um dos ganhadores do jogo do mundo digitalmente globalizado.

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Consultor de tecnologia aplicada e coordenador de conhecimento do Tech Lab da E-Consulting.