Reproduzido da Folha de S.Paulo, 5/8/2012; intertítulos do OIUm porco-espinho, uma cadeira vazia, um farol no meio da escuridão, o letreiro de uma clínica onde foi parar um velho ditador. Assim, enigmáticos e irônicos, são os símbolos que identificam o novo jornalismo digital da América Latina.
O fenômeno se espalha por Argentina, Colômbia, América Central, México e Chile.
Reconhecidos pela Fundação Nieman, de Harvard, e apadrinhados por grandes nomes do meio, como o norte-americano Jon Lee Anderson, os sites de perfil político do continente começam a ganhar repercussão pelo conteúdo diferenciado.
No México, o “Animal Político” ofereceu uma ampla cobertura da relação entre o grupo midiático Televisa e o então candidato do PRI às eleições, Enrique Peña Nieto.
Na Argentina, o “El Puerco Espín” publicou reportagem sobre a história da fabricante de papel-jornal Papel Prensa e o jornal Clarín na ditadura. Na Colômbia, o “Silla Vacía” traz os bastidores da disputa entre o presidente Juan Manuel Santos e o seu antecessor, Alvaro Uribe.
Já os jornalistas do “El Faro”, de El Salvador, receberam ameaças após reportagem sobre uma negociação do governo com narcotraficantes.
Governo e mídia
Fundados e editados por jornalistas veteranos, na faixa dos 40/50 anos, e compostos por equipes jovens, os novos veículos seguem o modelo de “The Huffington Post”. Agregam blogs e conteúdos externos, mas apostam em longas reportagens e crônicas.
“O jornalismo tradicional não supre algumas carências do novo leitorado. Não está tão ativo nas mídias sociais e, geralmente, não trata de temas que saiam dos círculos de poder”, diz à FolhaDaniel Chávez, do “Animal Político”.
“Estamos na frente dos grandes jornais em temas de direitos humanos, narcotráfico e crime organizado. É mais difícil virarmos alvo da violência, porque somos pequenos, então temos mais liberdade”, completa.
O “Silla Vacía”, fundado pela colombiana Juanita León, ex-repórter do El Tiempo, chama-se assim por causa de uma marcha que indígenas fizeram para encontrar Uribe, mas ele não compareceu. “A imagem da cadeira vazia é muito forte na Colômbia, do poder que se ausenta”, diz.
Os editores aproveitam sua passagem pelos veículos grandes para usar contatos e pedir textos de colaboradores. Em geral, sem pagar nada.
O “Silla Vacía” também tem o apoio de entidades como Open Society Institute e National Endowment for Democracy. Outros, como o “El Puerco Espín” e o “Animal Político”, sobrevivem de aportes de seus fundadores.
“Em países em que há tantos problemas entre o governo e a mídia, sites como esses têm um importante papel”, diz Graciela Mochkofsky, do “El Puerco Espín”.
A jornalista cita a Argentina, onde o governo está em atrito com os principais jornais, e os lugares onde o narcotráfico é atuante, como o México e a América Central.
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[Sylvia Colombo, da Folha de S.Paulo em Buenos Aires]