O Globo publica na edição de terça-feira (7/8) uma manchete que capta intenções e consequências das defesas apresentadas no dia anterior por advogados no julgamento do mensalão: “Só Delúbio assume crime. E já prescrito. Réus usam a tática de empurrar a responsabilidade uns para os outros”.
A Folha de S. Paulo não poderia ter sido mais infeliz na manchete, expressão de algo que em outros tempos seria chamado de cretinismo judiciário: “Acusação é afronta à lei, diz defesa de José Dirceu”. E seguiu assim nas reportagens. Repetindo o que os advogados disseram.
O melhor retrato da sessão apareceu na primeira página do Estado de S. Paulo. Eram retratos, mesmo. De ministros do Supremo dormindo ao som da fala de defensores.
>> Mensalão, mensalões
O ministro Joaquim Barbosa, informa Mônica Bergamo na Folha, avalia que o risco de prescrição de crimes é maior no caso do mensalão mineiro do PSDB, origem imediata do mensalão petista. E questiona o fato de repórteres que o procuram não fazerem perguntas sobre os recursos usados na fracassada campanha de Eduardo Azeredo pela reeleição ao governo de Minas Gerais, em 1998.
Barbosa tem razão. A mídia até trata do assunto, mas sem nenhum empenho.
>> Plano da TIM
A Folha de S. Paulo traz na terça-feira (7/8), em reportagem de Estelita Hass Carazzai, acusação gravíssima da Anatel à operadora de telefonia TIM. Segundo a agência reguladora, ligações de clientes que têm plano cobrado por chamada caem quatro vezes mais do que ligações cobradas por minutos.
Segundo a Anatel, a TIM, no período monitorado, de março a maio, derrubou o sinal de propósito nas ligações do plano Infinity. Em um só dia de março caíram 8 milhões de ligações, o que rendeu à empresa faturamento extra de 4,3 milhões de reais. E, diz a Anatel, a TIM continua usando o mecanismo para extrair mais receita de seus usuários.
É um assunto que só por milagre não terá desdobramento em todas as mídias jornalísticas.
>> Revista Senhor
Será lançado na terça-feira (7/8), em São Paulo, o livro O Melhor da Senhor, revista que circulou entre 1959 e 1964 e caprichava no conteúdo e na forma. O desenho da Senhor foi feito por Bea Feitler e era o que havia de mais inteligente numa época de explosão artística no Brasil. E o rigor com o texto era tão grande que o próprio criador da revista, Nahum Sirotsky, rejeitou a si mesmo como colaborador: “Eu não era bom o bastante para a Senhor”.
>> A crítica de Janio de Freitas
O entrevistado de segunda-feira (6/8) no programa Roda Viva, da TV Cultura, Janio de Freitas, chamou a atenção para erros elementares cometidos todo dia em jornais. Não invocou nenhuma teoria complicada. Falou de coisas simples, como legendas que fazem o leitor de idiota, diagramações que tornam as páginas praticamente incompreensíveis. Coisas que, como o próprio conteúdo, são as que mais importam no jornalismo impresso.
O Observatório da Imprensa gravou um trecho da fala de Janio de Freitas:
Janio de Freitas – Os jornais têm que olhar para dentro de si, as revistas têm que olhar para elas. Ver o que nelas é bom, o que não é. E estudar o suficiente para poder corrigir. Ler jornal com olhar crítico é absolutamente fundamental para a formação do jornalista.
O jornalista não está lendo jornal. Isso eu vejo. “Você viu tal matéria?” “Não, onde é que saiu?” “No seu, no seu jornal.” “É, hoje eu não tive tempo de ler jornal, estou com muita pressa.”
Mário Magalhães (um dos entrevistadores) − Os jornalistas iniciantes…
Janio – Iniciantes, não. Não estou falando de iniciantes. Estou falando de gente com muito tempo de jornal. Que não lia antes e continua não lendo. Nem o próprio jornal. Mas ler jornal é preliminar. O jornalista perdeu o olhar crítico. Por isso é que ele se preocupa com a internet e não com o próprio jornal.