“Corrigindo os outros para o bem dos nossos ouvidos’’, comenta certa usuária do Facebook em uma página destinada a agregar pessoas que se denominam engajadas no propósito de escrever e falar corretamente a língua portuguesa. Provavelmente tal pensamento está atrelado à crença de que o falar bem é consequência do domínio da gramática. A criação desses grupos reflete bem a concepção errônea de alguns brasileiros que pressupõem ser a norma culta a variação linguística correta. Os membros dessa comunidade mais se assemelham a uma espécie de liga da justiça cuja árdua missão é homogeneizar a língua.
As redes sociais têm se configurado como meio de disseminação de preconceito linguístico. Nesses ambientes, a forma de falar das classes sociais menos favorecidas é alvo de piadas de péssimo gosto que só contribuem para estigmatizar e segregar aqueles que falam diferente do português padrão ensinado nas escolas. Os pseudo-intelectuais defensores desta norma reproduzem mitos criados em torno do idioma que geram atitudes discriminatórias tanto nos aspectos sociais quanto culturais. A maioria das pessoas ignora o fato de que a variação linguística é um fenômeno natural e comum a todas as línguas. Em um país miscigenado e com dimensões continentais como o Brasil é impossível impor uma forma homogênea de se falar. Como em toda sociedade, existem fatores que interferem na maneira como as pessoas desenvolvem a comunicação, sejam eles de natureza econômica, geográfica ou histórica.
É lamentável que pessoas que se dizem “letradas e instruídas” mantenham arraigados ao pensamento, o conceito de que existe uma forma correta de se falar, uma vez que a língua não é estática, mas dinâmica e que ela vai se adaptando as diferentes realidades sociais. Todas as diversidades linguísticas são válidas e corretas porque atendem as necessidades especificas das comunidades das quais estão inseridas. Quanto à usuária do Facebook, seria mais fácil corrigir sua postura preconceituosa do que investir em um projeto arrogante que inevitavelmente caminha para o fracasso.
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[Sheila Feyt’s é estudante, Juazeiro, BA]