Friday, 27 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O que mudou de 1891 para 2012?

Em artigo na revista The Atlantic intitulado “O estado do jornalismo contemporâneo, como revelado em uma carta de 1891”, Megan Garber [27/7/12] mostra uma mensagem escrita por Walter Hines Page, então editor de uma revista chamada The Forum, para o escritor e também editor William Roscoe Thayer, que havia submetido um artigo para aprovação na publicação. A carta é curiosa se comparada ao mercado atual do jornalismo:

“Meu bom senhor,

Agradeço por submeter seu interessante artigo sobre ‘O Frankenstein Militar da Europa’, que eu ficarei feliz em usar em um próximo número da The Forum. Peço que aceite nosso cheque com o valor que costumamos pagar por artigo – 75 dólares, o que não é uma grande quantia, com certeza. Poderemos dar ao senhor, entretanto, o alcance ao público mais apreciativo de qualquer periódico.”

A carta foi descoberta por Sydney Bufkin, aluna de literatura americana na Universidade do Texas em Austin, que fazia uma pesquisa sobre Page em uma biblioteca de Harvard – o jornalista americano foi também diplomata, e ocupou o posto de embaixador no Reino Unido durante a Primeira Guerra Mundial. Segundo Sydney, o pagamento de 75 dólares (pelo qual o editor sentiu a necessidade de se desculpar) equivaleria, em 2010, a cerca de 1.700 dólares. A carta não especifica o tamanho do artigo, mas a pesquisadora acredita que não tivesse mais de três mil palavras. No fim das contas, diz Sydney em seu blog, Page acabou enviando um cheque de 100 dólares a Thayer (equivalente a 2.395 dólares atuais).

No mercado atual de freelancers, diz Megan, dois mil dólares por um artigo não seria razão nenhuma para um pedido de desculpas – pelo contrário, ressalta, provavelmente ganharia o jornalista. “A ideia de um editor pedir desculpas por este pagamento é, dependendo da sua perspectiva, algo hilário ou trágico”, brinca. Curioso também, afirma ela, é o argumento usado por Page para convencer Thayer de que, apesar do pagamento insatisfatório, seu artigo teria um bom alcance de público. Não faça pelo dinheiro, faça pela visibilidade. Algum jornalista já ouviu isso antes?