Começou a propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão. Que político prudente escreveria hoje uma palavra honesta sobre si? Os marqueteiros se aproveitam do esvaziamento político do espaço público para impor o princípio midiático da indiferenciação, que busca homogeneizar os postulantes a cargos eletivos. Políticos de vista curta e mãos velozes tiram proveito da desmobilização política da sociedade para ocupar os espaços de poder. Os seus olhos de cifrão veem na vida pública um meio de enriquecer, seja de modo lícito (altos salários, auxílios, verbas) ou ilícito (corrupção).
A política desagregadora se beneficia da fraqueza da classe média, sempre submissa às elites dominantes, sonhando com o dia em que pretensamente também alcançará o topo da pirâmide social. Desse modo, a corrupção, a violência e a injustiça social, heranças dos padrões sociais implantados com a colonização, permanecem sempre atualizadas pelas elites brasileiras.
Na propaganda eleitoral gratuita vemos as aberrações de sempre: o acumpliciamento do público e do privado no âmbito do Estado é tratado com normalidade; candidatos evangélicos não cansam de envolver Deus nas mínimas aflições em que vêm se encontrar; até mesmo as ideias mais subversivas dos candidatos de extrema-esquerda precisam se manifestar através dos meios disponíveis no mercado, não escapando à ambiguidade de estarem vinculadas ao aparato do capital.
É hora de liquidar os políticos corruptos, todos concordam em uníssono. Mas a redenção posta em um poder externo a nós sustenta o sistema dominante. Ao invés de achar que a culpa é do outro, precisamos apostar em nossa capacidade de autolibertação. Quem escolhe os políticos que nos representam somos nós. Portanto, enquanto as equipes dos partidos vendem as imagens dos candidatos a vereadores e prefeitos, nós devemos distinguir o raro trigo em meio ao abundante joio. Que cada um de nós dê sentido à política. Um significado que a engrandeça e a fortaleça, tornando a política digna de ser vivida pela sociedade brasileira. Só assim poderemos alcançar a paz, a liberdade e um país mais justo.
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[Vitor Cei é formado em Filosofia, Comunicação Social e mestre em Letras, Belo Horizonte, MG]