Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Ela rompeu os padrões das revistas femininas

Helen Gurley Brown, a editora que transformou a revista Cosmopolitan em uma referência mercadológica e cultural global, ao fazer dela uma cartilha sexual para consumo feminino antes de haver Madonna e Sex and the City, morreu ontem aos 90 anos em Nova York. Até pouco antes de ser internada (a causa da morte não foi revelada), Helen frequentava quase diariamente o escritório cor-de-rosa na redação que dirigiu por 32 anos. Helen “era um ícone”, escreveu em nota Frank Bennack, executivo-chefe da Hearst Corporation, que edita a revista. “Sua fórmula de conselhos diretos sobre relacionamentos, carreira e beleza revolucionaram a indústria.”

De 1965 a 1997, Helen – ou HGB – tornou a Cosmo um fenômeno de mercado ao trocar os temas domésticos em voga pelo binômio sexo e carreira, vendendo 2,3 milhões de exemplares por mês nos EUA (hoje são 3 milhões). Com sua sucessora, Kate White, levaria a abordagem sem recato da revista para 65 países, tão distintos como Coreia do Sul e Cazaquistão (no Brasil, é a Nova), e estimadas 100 milhões de leitoras.

Esguia, sexy e sem freios verbais, empenhou-se até a velhice em ser a “garota Cosmo” que ela mesma criara – sexualmente livre, financeiramente independente e pouco afeita a satisfações alheias.

Uma visionária

Suas ideias, para estudiosas de gênero como sua biógrafa Jennifer Scanlon, influíram no comportamento de ao menos duas gerações, embora sua defesa da companhia masculina constante e sua obsessão pela aparência façam as feministas estrilar. Helen atingiu esse status antes da Cosmo, ao lançar, em 1962, o então vanguardista Sex and the Single Girl (Sexo e a garota solteira, sem tradução no Brasil).

Filha de professores, viveu no interior do Arkansas até os dez anos, quando se mudou com a mãe e a irmã para Los Angeles após a morte do pai. Formada com louvor no ensino médio, trocou a faculdade por um curso de negócios e trabalhos de secretária para manter a casa. Foi assim que chegou a uma agência de publicidade, onde ascenderia a redatora aos 26 e, dez anos depois, seria a mulher mais bem paga do meio na Costa Leste. O casamento veio aos 37, com o produtor de cinema David Brown (morto em 2010), e não deixou filhos.

Considerada visionária ao longo da vida, neste ano doou US$ 30 milhões (R$ 60,7 milhões) para projetos de inovação em mídia nas universidades Columbia e Stanford.

***

[Luciana Coelho, da Folha de S.Paulo em Washington]