Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Em crise no campo, Corinthians é sucesso na mídia

Leia abaixo a seleção de segunda-feira para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 7 de janeiro de 2008


FUTEBOL
Eduardo Arruda e Paulo Galdieri


Em ano de queda, Corinthians vale R$ 2 bi na mídia


‘No ano do maior vexame de sua história dentro de campo e de inúmeros escândalos protagonizados por sua diretoria, o Corinthians apareceu, e bastante. O espaço ocupado pelo clube nas TVs e nos jornais nos dez primeiros meses de 2007 equivale a mais de R$ 2 bilhões.


É o que aponta estudo formulado pela Informídia Pesquisas Esportivas, empresa especializada em quantificar o valor da exposição de marcas e que desde 1997 faz relatório anual sobre clubes brasileiros.


A análise é vendida aos departamentos de marketing das equipes. Sua última edição, que abrange o período de janeiro a outubro do ano passado -os relatórios dos últimos dois meses ainda não foram fechados-, aponta uma exposição maciça do rebaixado Corinthians.


Os R$ 2.139.175.358,48 são referentes a quanto o clube teve de propaganda ‘gratuita’, ou seja, o valor que teria de gastar se quisesse ocupar o mesmo espaço nas TVs abertas e fechadas e em jornais com anúncios publicitários diretos.


Segundo a empresa, o Corinthians costuma liderar o ranking dos 12 clubes mais expostos anualmente, fator potencializado pelo calvário corintiano durante o Brasileiro-2007.


‘Normalmente o Corinthians lidera esse ranking. Só perde, às vezes, para o São Paulo’, explica Antônio Lauletta, diretor da Informídia. Segundo a empresa, o índice de exposição de um clube aumenta de acordo com sua campanha. Para o bem ou para o mal.


O interesse dos veículos de comunicação por um determinado clube cresce se ele estiver disputando um título ou se estiver correndo risco de um grande fracasso. ‘A mídia fala mais de quem está no topo ou na rabeira do que de quem está no meio da tabela’, diz Lauletta.


A análise de exposição leva em conta o número de jogos, ao vivo e em VT, e as reportagens transmitidos pelas emissoras e o espaço ocupado pelo clube em publicações impressas. E usa valores que seriam cobrados pelos veículos de comunicação por uso de espaço equivalente para aferir quanto vale o total dessa exposição na mídia.


Para o Corinthians, o relatório serviu para fazer a diretoria cobiçar melhores patrocínios.


O presidente Andres Sanchez se mostrava insatisfeito com os US$ 485 mil (cerca de R$ 850 mil) mensais pagos pela Samsung. Depois do rebaixamento, a empresa tentou reduzir ainda mais o valor, e o contrato acabou rescindido.


De posse do estudo, o Corinthians pleiteou no mercado contrato melhor. Fechou acordo com a Medial Saúde, por R$ 16,5 milhões anuais e espera outros R$ 5 milhões com publicidade nas mangas da camisa.’


 


Nome do time aparece todos os dias na TV


‘A exposição do Corinthians nas TVs e jornais em 2007 não foi só cara, mas também contínua.


O relatório de exposição que a Informídia enviou ao clube aponta que o time do Parque São Jorge teve seu nome citado, sua marca mostrada ou seus jogadores, dirigentes e comissão técnica entrevistados nos 304 dias que abrangem o período estudado – de janeiro e outubro.


A pesquisa aponta que 66 dos 76 jogos do time no período foram transmitidos. Isso abrange todas as competições, inclusive a Copa São Paulo de juniores, que tem os jogos mostrados pelas TVs.


Segundo a Informídia, mais de um terço dessas partidas, 26 confrontos, foi mostrado ao vivo pela TV Globo, a maior emissora do país, detentora dos direitos de transmissão das principais competições da elite, como o Paulista e o Brasileiro.


O estudo indica, com dados fornecidos pelo Ibope, que a audiência média dos jogos corintianos ficou em 24 pontos (cada ponto equivale a 55 mil domicílios na Grande São Paulo), com um ‘share’ (quantidade de TVs sintonizadas num determinado programa) médio de 42%.


Nos veículos impressos, os números indicados pelo relatório também são altos. A análise identificou que o espaço ocupado pelo Corinthians em 2007 nos jornais é o equivalente a 2.108 páginas inteiras.


‘Com relação à TV, nós contabilizamos todo o tempo de um jogo, além das reportagens sobre o time, mesmo que a marca não apareça’, diz Antônio Lauletta, diretor da Informídia. ‘Para jornais, levamos em conta não apenas uma foto na página, mas também o tamanho do texto.’’


 


Patrocinador paga só 10% da exposição


‘A exposição do Corinthians ajudou bastante as marcas de seus patrocinadores a ficarem em evidência no ano passado.


Segundo o estudo da Informídia, os espaços ocupados na mídia pela Samsung e pela Nike, principais patrocinadoras do clube no ano passado, equivalem, somados, a quase R$ 162 milhões.


De janeiro a outubro, a empresa de produtos eletrônicos teve 81.337 aparições de sua marca ligada ao Corinthians em TVs e jornais. Isso corresponde a mais de R$ 86 milhões.


Por essa publicidade, a Samsung gastava cerca de US$ 6 milhões (aproximadamente R$ 10 milhões) ao patrocinar o clube.


Já a fabricante de materiais esportivos registra 78.889 exibições, em valor de exposição que supera os R$ 76 milhões.


O valor desembolsado pela Nike ao Corinthians é de R$ 5 milhões anuais mais R$ 1,8 milhão em material esportivo.


Ambas demonstram ter ficado muito satisfeitas com o custo-benefício de seus investimentos.


‘Marketing esportivo é uma ferramenta muito interessante’, disse Ricardo di Sora, gerente de marketing da Samsung, que rescindiu com o time do Parque São Jorge.


Em comunicado via assessoria de imprensa, a Nike se diz ‘satisfeita’ e ‘reafirma compromisso de manter acordo’ com o clube até 2009.


Os números de exposição do ano passado deixaram a Medial Saúde, novo patrocinador corintiano, ávida pelos resultados de 2008. ‘Temos certeza de ter iniciado uma parceria de sucesso e que nos trará resultados muito positivos’, afirma o presidente da empresa, Luiz Kaufmann.’


 


EDUCAÇÃO
Ruy Castro


De volta à sala de aula


‘RIO DE JANEIRO – O historiador e diplomata Alberto da Costa e Silva deu, como sempre, uma ótima entrevista, esta para a repórter Mariana Filgueiras, no ‘Jornal do Brasil’, em que fala de quatro atividades essenciais que praticávamos na sala de aula e que, pelo visto, a escola brasileira abandonou.


Uma, a leitura em voz alta. Um aluno lia alto e os outros o acompanhavam no mesmo texto, em silêncio. Depois se revezavam. ‘Quem lê em voz alta toma gosto pela leitura’, diz ele. ‘Ler alto ensina a virgular, ensina as respirações da fala.’ Outra, o ditado. ‘Ele educa o ouvido’, observa Da Costa e Silva, além de exigir do aluno o conhecimento da palavra e da estrutura da frase, a destreza e a clareza caligráficas. Quantas crianças no Brasil de hoje serão capazes de tomar um ditado sem cometer grossas batatadas com seus garranchos?


Uma terceira, a cópia. O simples ato de copiar um texto estimula a concentração para a grafia, os acentos e a pontuação. Não que os garotos não estejam entregando trabalhos baseados em textos que copiam liberalmente da internet -mas a cópia na sala de aula é outra coisa. Ali é que, diante do professor, a onça bebe água. E, por fim, a redação -ou composição, como se chamava, baseada na observação de objetos. ‘A composição estimula os sentidos. A criança aprende a pôr no papel, com palavras, o que vê’, diz Alberto. ‘A descrição de quadros de natureza-morta, por exemplo, é essencial.’ Ou a visita ao zoológico, diria eu, ou à fábrica de sorvete.


Alguém dirá que o próprio conceito de sala de aula mudou e que o importante agora é enchê-la de computadores. Mas a mecânica elementar do conhecimento em nossos meninos terá se sofisticado a esse ponto? Por enquanto, o que estamos produzindo são crianças que marcam xis no chute em testes de múltipla escolha.’


 


YOUTUBE
Cristiano Cipriano Pombo


Pela internet, Jade espanta a China


‘Jade Barbosa inicia hoje, quando retoma os treinos em Curitiba, a temporada mais importante de sua carreira. E não serão só os treinadores ucranianos da seleção feminina de ginástica artística que estarão de olho nos passos da carioca.


Tudo porque, antes de sair para a folga de final de ano, Jade protagonizou façanha que a credencia ao rol de fortes candidatas a medalha na Olimpíada de Pequim, em agosto. E que a colocou na mira dos chineses.


Em sua última exibição na temporada 2007, no último dia 15, em Foz do Iguaçu, em etapa do circuito nacional, Jade Barbosa fez um dos saltos de maior alto grau de dificuldade no código de pontuação e que, até então no mundo, só a chinesa Fei Cheng, tricampeã mundial de salto, fora capaz de exibir.


‘O salto não é tão difícil. É como um dos que eu já faço. Valeu pela estréia em torneio. Após o Mundial, vi que tinha que trocar um dos saltos [são dois] para ficar de igual para igual com a Fei Cheng’, afirma Jade.


No último Mundial, no único grande duelo entre as duas ginastas, a brasileira ficou em desvantagem, já que seus saltos tinham notas de partida de 16,500 e 15,600, enquanto os da chinesas alcançavam 16,500.


Para Jade, o novo salto, que consiste em rodante com meia volta mais mortal para a frente com pirueta e meia, exige bem mais técnica do que explosão.


‘Já o treinava com o Oleg Ostapenko [ucraniano que treina a seleção]. É mais jeito. Tem que ser tudo certo. Mas não fui perfeita em Foz do Iguaçu.’


Realmente, na exibição no Paraná, que durou cerca de dez segundos, ela saiu campeã do salto, mas viu desconto de 1 ponto na nota de partida, que é 16,500 -só outros dois saltos no código superam esse valor, um de 16,700 e outro de 17,100, comuns nas provas masculinas.


‘Ela foi fantástica. Tiramos 1 ponto. Mas, por ter sido a estréia, foi maravilhoso. Se limpar o movimento, tem grandes chances de disputar pódio inédito para o país na Olimpíada’, diz Alice Tanabe, presidente do Comitê Técnico da Confederação Brasileira de Ginástica.


A confiança se dá pelo fato de que, no último Mundial, o mais difícil da história, só duas atletas ostentavam dois saltos de 16,500: Cheng e a norte-coreana Su Jong-hong. E Jade, agora.


O que a deixou na mira da China. ‘Não sei quem pôs o salto no YouTube. Mas os chineses viram, ligaram, queriam saber desde quando Jade fazia o salto, falaram que o técnico de lá acha o salto dela melhor que o de sua atleta. Estão pasmos, pois acreditavam no ouro da Cheng’, diz Eliane Martins, supervisora de seleções da CBG.


Copiar movimentos difíceis não é novidade para Jade. Em 2003, só três meses após Daiane dos Santos sagrar-se campeã mundial de solo e consagrar o duplo twist carpado, Jade virou a mais jovem do planeta a fazer a acrobacia, com 13 anos.


E ela não descarta o sonho de criar um movimento. ‘Isso é especial. Mas é muito difícil. Não vou desistir. Só não posso ter isso como prioridade agora.’ A prioridade, diz, é ‘chegar com tudo afiado à Olimpíada’.’


 


TELEVISÃO
Mônica Bergamo


‘As novelas estão ficando cansativas’


‘O novelista Silvio de Abreu diz que a teledramaturgia está ‘ficando cansativa’. Em entrevista à coluna, ele afirma que as novelas ‘estão mais preocupadas com a tecnologia do que com as histórias’. Supervisor da próxima trama das sete, ‘Beleza Pura’, Abreu diz também como é escrever sob censura.


FOLHA – Em que ‘Beleza Pura’ será diferente das novelas que estão atualmente no ar?


SILVIO DE ABREU – Queremos recuperar a emoção, focar no elemento humano da trama. As novelas de hoje estão mais preocupadas com tecnologia do que com as histórias. Efeitos especiais e explosões todo mundo já está cansado de ver. Novela é assim: termina uma, começa outra e só. Está ficando cansativo.


FOLHA – Você se refere aos altos investimentos da Record em ‘Caminhos do Coração’ ou da Globo?


ABREU – Falo de um modo geral.


FOLHA – Você concorda que o dramaturgo tenha que mudar a trama da novela para segurar a audiência?


ABREU – Vamos falar a verdade, vai: novela é feita para fazer sucesso. Quando não cai na boca do povo, o autor se frustra. Você não imagina a tristeza que é sentar na frente do computador para escrever o capítulo 30 e saber que ainda tem que inventar até o 200, mas que ninguém quer ver. O ator vai decorar o texto, vai dar o maior trabalhão para a produção… Isso aconteceu comigo. Poucas vezes, mas aconteceram.


FOLHA – O que acha da decisão da Justiça de mudar a classificação indicativa de ‘Duas Caras’ de 12 para 14 anos?


ABREU – Sou contra esse modo de classificação em que não há diálogo. Nas décadas de 70 e 80 existia a censura, mas era clara. Falar de adultério era proibido, por exemplo. Na década de 90, a TV perdeu o controle com tanta liberdade. Hoje, não sabemos até onde podemos ir. Falamos sobre drogas, homossexualismo, mas não temos a medida exata.


FOLHA – ‘Duas Caras’ exagerou nas cenas sensuais da personagem de Flávia Alessandra?


ABREU – Não vou poder responder. Não vejo a novela porque eu estava nos Estados Unidos.’


 


Adeus, sotaque


‘A atriz Grazielli Massafera está só esperando terminar a novela ‘Desejo Proibido’ (e, com ela, sua personagem interiorana) para se livrar do sotaque paranaense. Fará sessões com uma fonoaudióloga. ‘Adoro meu jeito de falar, mas quem vai me agüentar na terceira novela fazendo uma caipira?’, diz.’


 


Laura Mattos


Sete Estados terão problemas com a interatividade na TV


‘Telespectadores de sete Estados terão problemas para participar de brincadeiras e pesquisas interativas na TV a partir desta quarta. Nessa data, as redes passam a ser obrigadas a exibir a programação com uma ou duas horas de atraso para respeitar os diferentes fusos do país.


Regiões com fusos diferentes do de Brasília perceberão a mudança especialmente com a estréia, amanhã, do ‘Big Brother’, que investe em interatividade. Ficarão fora, por exemplo, do ‘Big Boss’, que dá dois blocos para que o público vote (telefone, SMS ou internet) em que ‘mico’ os participantes pagarão por alguns dias (coisas como usar peruca ou dar três pulos a cada 15 minutos). Também não entram em sorteios ao vivo e outras votações que duram só o tempo do programa, como as do ‘Fantástico’. Participarão só de votações prolongadas, como a eliminação do ‘BBB’.


A determinação do governo visa o respeito à classificação etária. Até a mudança, novela das 21h (liberada a maiores de 14 anos), por exemplo, entra às 20h ou 19h nessas regiões (sem contar o horário de verão). Roraima, Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, oeste do Pará e a maior parte do Amazonas verão tudo com uma hora de atraso. Acre e oeste do Amazonas, com duas.’


 


Folha de S. Paulo


Uri Geller busca ‘sucessor’ em programa de TV


‘Uri Geller, famoso por entortar colheres e arrumar relógios, segundo ele, ‘só com o poder da mente’, escolherá um ‘sucessor’ eM um programa de TV que estréia nesta quarta, na Alemanha. Ele já fez concursos semelhantes nos EUA, Canadá e Israel, chamados ‘O Sucessor’, e planeja realizar o show em outros países.’


 


Mariana Botta


MTV estréia programação de verão


‘Sem novidades, exceto pela estréia de uma nova VJ, Kika Martinez, começa hoje o ‘Verão MTV’. Serão oito atrações, no ar durante sete semanas.


Com a batida estratégia de levar programas de estúdio às praias brasileiras, o ‘Covernation’ (sábados, às 22h), de Marcos Mion, transfere a ‘batalha’ entre covers para Ubatuba. Também ao ar livre e nas praias de Ubatuba, Florianópolis, Arraial d’Ajuda (BA) e Atlântida (RS), Felipe Solari estréia hoje o ‘Minuto VJ’ (de segunda a sexta, às 18h), em que os banhistas podem pedir clipes.


Na série ‘mais do mesmo’, o ‘Luau MTV’ (quartas, às 22h30) está de volta, mas sem nada inédito. Serão apresentados os melhores momentos da atração, criada em 1995.


O ‘Top Top’ (domingos, às 20h), de Marina Person e Léo Madeira, também está na programação, com rankings divertidos, como ‘cornos’, ‘estilosos’, ‘fiascos’ e ‘feios’.


João Gordo não fica de fora e, na praia do Arpoador, no Rio, apresenta o ‘Caveirão do Gordo’ (segundas, às 22h30), com entrevistas e musicais.


A VJ Kika estréia hoje no comando do ‘40 C’ (de segunda a sexta, às 19h), apresentando clipes que tenham alguma relação com a estação do ano.


No verão, a televisão sempre mostra que o melhor mesmo é aproveitar o calor fora de casa.


VERÃO MTV


Quando: hoje, a partir das 18h


Onde: MTV’


 


Nelson Archer


De volta ao futuro


‘ALGUMAS DAS séries de TV (sitcoms) mais divertidas e inteligentes que apareceram, ‘Sex and the City’, ‘Friends’, ‘Seinfeld’, são produto típico dos anos 90, década que, a rigor, começando com a queda do Muro de Berlim, em 1989, chegou ao fim com os atentados de 11 de setembro de 2001.


As sitcoms traduziam o espírito de seu tempo. Correndo o risco de generalizar, pode-se dizer que tratavam exclusivamente da vida privada de jovens adultos pertencentes à classe média ocidental. Embora suas atividades profissionais fossem discutidas, não era a seu respeito que as séries falavam. Concentravam-se nas ‘after hours’, o tempo livre quando as relações interpessoais ocupam o centro do palco.


Quase nada da esfera pública intervinha na vida privada dos personagens e a impressão que se passava era a de que o pano de fundo mais amplo seria, em geral, tão estável que, graças a isto, a privacidade conquistara uma autonomia absoluta. A passagem do tempo se marcava apenas pelo envelhecimento, sem intervenção de fatores externos.


Os personagens dessas séries habitam, para todos os efeitos, um presente histórico perpétuo. As crises do passado se resolveram e tudo o que um futuro pacificado ou domesticado lhes promete são alterações incrementais: mais doenças que se tornarão curáveis, trânsito e poluição que piorarão. É tudo. Nada conta, salvo quanto ocorre entre as paredes do apartamento ou do restaurante, espaço no qual vigora uma liberdade total.


O universo em que a classe média ocidental, aquela cuja visão de mundo predomina no planeta, vive é precisamente esse, a esfera privada que, livre dos ditames de clérigos e déspotas presentes ou passados, alheia ao peso da tradição ou de instituições intrometidas, estabeleceu-se, no último meio milênio, à sombra e devido a uma esfera pública cada vez mais moderna, liberal. A liberalidade tolerante de uma esfera pública que, ao contrário do que caracterizou a maior parte da história e ainda prevalece em boa parte do mundo, respeita a recém-surgida privacidade tem levado seus beneficiários a acreditarem que esse é o estado normal, definitivo das coisas, não uma anomalia frágil e cancelável.


Em todo caso, a privacidade habitada pelas personagens das sitcoms assemelha-se claramente ao universo final e definitivo evocado pela tese do ‘fim da história’, tese que deixa, portanto, de parecer opinião isolada para se mostrar como o que de fato era, ou seja, um clima de opinião que seu autor tão somente traduziu ou explicitou.


Eventos variados da década seguinte, na qual ainda estamos, alertaram um número crescente de pessoas para a obviedade de que a visão sedutora que prevalecia talvez não passasse de ilusão provinciana, lembrando que a máquina do mundo é complexa e caprichosa. E, como costuma acontecer, a alteração perceptiva vem se manifestando não tanto através das descrições exatas de profetas interconectados, quanto por meio de ‘insights’ desencontrados.


Se as sitcoms captaram o tom dos anos 90, o deste início de milênio foi flagrado por uma minissérie totalmente distinta, ‘Roma’, que não somente trouxe de volta a história, reconectando-nos com uma narrativa à qual ainda há pouco sabíamos pertencer, mas recolocou igualmente em foco a teia confusa que enreda as minúcias aparentemente irrelevantes da vida privada nas questões e escolhas da esfera pública.


Os acontecimentos macrohistóricos narrados não poderiam ser mais familiares: foram assunto de romances e dramas, filmes e cursos. No entanto, justapondo às ocorrências públicas um denso novelo ficcional, a série conseguiu tornar visível a mescla de acidente e inevitabilidade de que se faz a história, história que, por seu turno, delimita o espaço em que vivem e as opções abertas ao indivíduos, sejam eles monarcas ou escravos.


Não se trata de afirmar que uma obra de ficção televisiva como ‘Roma’ tenha transformado o modo como seu público experimenta o próprio mundo. É antes o caso de resgatar antigas noções segundo as quais a ficção materializa a seu modo idéias, noções, sentimentos que brotam mais ou menos simultaneamente de várias cabeças, incompletas, parciais, embora às vezes potencialmente complementares como os fragmentos de um futuro mosaico. E a oferta de um mosaico tal também responde à procura suscitada por inquietações e alterações nebulosas de ‘mood’. As inquietações que distinguem a Nova York de Carrie Bradshaw da Roma de Júlio César são, ao que tudo indica, as que nos acompanharão no futuro próximo.’


 


LIVROS
Raquel Cozer


Livro mostra Hollywood como universo à parte


‘Ao passar das HQs para o cinema, Peter Parker abandonou as teias artificiais e passou a ejetar fios produzidos por seu próprio organismo. Uma evolução e tanto -não fosse o efeito colateral, ignorado pelo ‘Homem-Aranha’ de Sam Raimi, de o herói perder um volume considerável de seu corpo a cada voltinha dependurado em prédios de Nova York.


Como o personagem vivido por Tobey Maguire não definha ao abandonar metros de seu organismo por aí, só dá para concluir que ele cria matéria do nada, desafiando a física. A conclusão está no livro ‘Insultingly Stupid Movie Physics’ (física ofensivamente estúpida de filmes), do norte-americano Tom Rogers, lançado no fim do ano passado nos EUA.


A obra compila material da coluna virtual homônima (intuitor.com/moviephysics) do professor de física, criada em 1997 com o penoso propósito de cativar alunos adolescentes com temas ‘arrebatadores’ como as leis de Newton.


Entre uma e outra resenha, Rogers confirmou que Hollywood é um universo à parte, em que quaisquer pontas de cigarro em poças de gasolina causam explosões homéricas e tiros na perna incomodam tanto quanto um arranhão.


‘A ficção científica quase sempre tem de expandir ou dar nós nas leis da física para que a história faça sentido. Não vejo problema, mas acho que deveriam fazer isso só quando houvesse propósito artístico. E sem perder tempo com explicações estúpidas’, diz Tom Rogers à Folha, por e-mail.


Entre seus alvos, estão obras impecáveis como ‘2001: Uma Odisséia no Espaço’ (1968), de Kubrick; entretenimento como o ‘King Kong’ (2005) de Peter Jackson; e bobajadas do início ao fim, como ‘Armageddon’ (1998), de Michael Bay, e ‘O Dia Depois de Amanhã’ (2004), de Roland Emmerich.


Liberdade artística


Isso é podar a liberdade artística, dizem os críticos que bombardeiam o professor com e-mails. Liberdade artística, contra-argumenta Rogers no livro, é o que há na pintura ‘O Bar de Folies-Bergère’ (1882), de Edouard Manet (1832-83). A obra mostra uma jovem na frente de um espelho -a imagem é realista; o reflexo é deliberadamente absurdo. ‘Há diferença entre quebrar regras de forma inteligente e criteriosa e a falta de graça de um amador que não tem perspectiva, proporção nem visão de física’, diz.


Fã ‘muitas vezes desapontado’ de ‘Guerra nas Estrelas’ e ‘Jornada nas Estrelas’, Rogers lhes dedicou um capítulo inteiro. Uma tabela lista tópicos como ‘batalha espacial’ e ‘gravidade artificial’. Os dez filmes e cinco séries de TV de ‘Jornada’ saem na frente dos seis longas de ‘Guerra’ -ficam com -12 pontos numa conta em que a pontuação cai a cada absurdo; ‘Guerra’ amarga os -20. Os filmes de George Lucas perdem graças a lorotas como os sabres de luz, ‘ilógicos’ e detentores de ‘física desconhecida’.


A trilogia original de ‘Guerra’ ganha um desconto do autor na comparação com os três filmes mais recentes, por ter sido ‘uma piada interna feita para pôr alguma graça em Hollywood’ nos anos 70. ‘Pode parecer ficção científica, mas é um misto de paródia e fantasia.’


Promoção ao nonsense


Rogers diz que dá dicas quando consultado por produtores, mas que não revisa roteiros e tampouco quer seu nome em créditos. ‘Consultores de ciência geralmente têm pouco poder sobre a forma final de um filme. Eu poderia acabar ajudando a promover o nonsense.’


Ele chegou a testemunhar uma dessas situações quando sua crítica de ‘Missão ao Centro da Terra’ (2003) foi publicada e um roteirista lhe escreveu, indignado, argumentando que ‘a ciência do filme é a mais acurada’, já que os produtores tinham contado com um cientista Ph.D. como consultor.


Justo ‘Missão ao Centro da Terra’, que ganhou de Rogers o título de pior física de filmes de todos os tempos. Tudo bem, é só um filme sobre o dia em que a rotação da Terra parou e seu campo magnético ficou ameaçado, o que levou um grupo de cientistas a adentrar o planeta para reativar o seu núcleo… ‘É tão ruim que é bom’, conclui Rogers, que poderia cobrar participação nos lucros: por razões óbvias, o filme vira assunto em várias de suas aulas e é recomendadíssimo no livro.


INSULTINGLY STUPID MOVIE PHYSICS


Autor: Tom Rogers


Editora: Sourcebooks (importado)


Quanto: US$ 10,17 (cerca de R$ 18, mais taxas, pelo site www.amazon.com; 325 págs.)’


 


Pedro Cirne


Primeiros anos revelam ‘outro’ Superman


‘O uniforme já era azul com um ‘S’ no peito e uma esvoaçante capa vermelha, e ele já atendia pelo nome de Clark Kent, sua identidade secreta. Entretanto, quando Jerry Siegel e Joe Shuster criaram o Superman, sete décadas atrás, ele era bem diferente do ícone pop que é hoje, como mostram as histórias de ‘Superman – Crônicas – Volume Um’.


O lançamento traz as 16 primeiras histórias do último filho de Krypton na ordem em que foram originalmente publicadas, de junho de 1938, quando Superman surgiu no primeiro número da revista ‘Action Comics’, a julho de 1939, mês em que foi lançada a revista mensal do personagem (que está em circulação até hoje e já ultrapassou o número 670).


Essas histórias trazem não só os primeiros passos do Superman mas também do gênero de super-heróis. Já existiam, antes dele, personagens com identidade secreta, ‘superpoderes’ e uniformes coloridos, mas foram nas aventuras do kryptoniano que estas e novas características se juntaram, fazendo com que ele fosse considerado o primeiro super-herói.


E Superman não era tão ‘super’ assim, comparado ao que é hoje. Não voava, mas dava grandes saltos; era forte o suficiente para levantar um carro com as mãos e destruir paredes, mas incapaz de, por exemplo, tirar a Lua de órbita ou transformar carvão em diamante com um apertão. Também era à prova de balas e mais veloz que uma locomotiva, mas parava por aí. Muitas de suas habilidades (viajar no tempo, ‘super-hipnose’, ‘supermemória’ etc.) só seriam criadas com o passar dos anos.


Mas a maior diferença para o personagem de hoje, considerado a grande referência a todos os outros super-heróis, está no seu comportamento. O Superman do final dos anos 30 não tinha limites: mentia, metia-se em brigas, cometia ‘vinganças’ e, se achasse necessário, seqüestrava um inocente e assumia o seu lugar.


Eram outros tempos, com outros perigos. Ainda não havia o conceito de supervilão, como Lex Luthor. Em uma aventura, Superman resolve combater os motoristas imprudentes. Em outra, derruba uma favela para obrigar o governo a construir casas melhores para os moradores.


Há um momento em que Superman impede um linchamento. Questionado sobre quem é, ele, de uniforme e tudo, responde: ‘Um repórter’. O nome ‘Superman’ e sua roupa típica ainda não significavam nada. E foi em cenas inocentes como essa que tudo começou.


SUPERMAN – CRÔNICAS – VOLUME UM


Autores: Jerry Siegel e Joe Shuster


Editora: Panini


Quanto: R$ 56 (212 págs.)’


 


MUDANÇAS
Folha de S. Paulo


Mônica Bergamo ganha mais espaço e colunistas mudam


‘A partir de amanhã, a coluna de Mônica Bergamo passará a ocupar toda a página 2 da Ilustrada. Com isso, o leitor ganhará mais conteúdo, tanto sob a forma de notas como de fotos.


As colunas que eram publicadas na área inferior da página mudarão de lugar e algumas serão extintas.


Também a partir de amanhã, o colunista João Pereira Coutinho, que escrevia neste espaço às quartas, passará a ocupar semanalmente o alto da última página da Ilustrada. Coutinho, que reside no Porto, em Portugal, substituirá os escritores Bernardo Carvalho e Fernando Bonassi, que se revezavam quinzenalmente.


A escritora Cecilia Giannetti, que era publicada às terças, passará a ser colunista do caderno Cotidiano.


As colunas assinadas pelo jornalista Thiago Ney, voltada para o universo da música pop, e pelos críticos Fábio de Souza Andrade e Manuel da Costa da Pinto, dedicadas a assuntos literários, passarão a ser editadas, respectivamente, nas páginas de música e livros do caderno, às sextas e sábados.


Deixam de ser publicadas as colunas do jornalista Marcos Augusto Gonçalves, que escrevia às quintas, e do crítico Guilherme Wisnik, às segundas.’


 


GREVE EM HOLLYWOOD
Folha de S. Paulo


Indicados ao Globo de Ouro devem boicotar cerimônia


‘Os mais de 70 atores indicados ao Globo de Ouro deixarão seus assentos vazios na noite do próximo domingo, dia 13, sem passar pelo piquete que os roteiristas em greve do Writers Guild of America (WGA) pretendem montar em Beverly Hills, onde acontece a cerimônia de entrega do prêmio.


A informação é do presidente do Screen Actors Guild, o sindicato dos atores de Hollywood, Alan Rosenberg, que declarou apoio à paralisação dos escritores e pediu aos competidores que não compareçam à festa.


A Dick Clark Productions, empresa responsável pela produção do evento, tentou sem sucesso um acordo com grevistas nos mesmos moldes da negociação fechada entre David Letterman e os roteiristas de seu talk-show.


O evento terá transmissão da rede norte-americana NBC, um dos principais alvos da greve que já dura dois meses. Mesmo sem as estrelas, a emissora não pretende alterar a data da premiação.


O presidente da associação de críticos da imprensa estrangeira, responsável pelo Globo de Ouro, Jorge Camara, disse que ainda busca um acordo com os grevistas e que espera encontrar em breve uma solução.’


 


 


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O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 7 de janeiro de 2008


TELECOMUNICAÇÕES
O Estado de S. Paulo


A recriação da Telebrás


‘O governo Lula quer reativar a Telebrás – antiga empresa holding das 27 operadoras do sistema estatal de telecomunicações que foram privatizadas a partir de 1998 – para promover a inclusão digital e a universalização da banda larga. Na realidade, a empresa só não foi extinta porque ainda tem 293 funcionários cedidos à Anatel e responde a várias ações judiciais. Numa delas, movida por uma empresa cujo capital era de apenas R$ 1.000, a Telebrás foi condenada a pagar uma indenização de mais de R$ 274 milhões, sem que o governo tenha recorrido da decisão.


Há vários ângulos para se analisar o projeto de recriação da Telebrás. Um deles é o do modelo institucional em vigor, que resultou de duas decisões bem fundamentadas do Congresso. A primeira, quando aprovou a Emenda Constitucional nº 8, de agosto de 1995, e a segunda, quando elaborou a Lei Geral de Telecomunicações, em julho de 1997. O significado dessa política foi mostrado de forma cristalina na exposição de motivos que acompanhou o projeto da Lei Geral de Telecomunicações ao Congresso. Ainda hoje, a exposição continua sendo um dos documentos mais completos e consistentes sobre o significado do novo marco regulatório em vigor nos últimos 9 anos.


Em sentido amplo, quando um país privatiza suas telecomunicações, a primeira garantia que se dá à sociedade e aos investidores é a de que o Estado se retira da condição de operador, de empresário e de prestador de serviço, para assumir o papel de regulador e fiscalizador isento do funcionamento do setor, visando ao pleno desenvolvimento do País e ao atendimento do usuário.


O artigo 21, inciso XI, da Constituição Federal, com a redação dada pela emenda de agosto de 1995, faz a ressalva de que o Estado pode voltar à condição anterior de operador e empresário. Mas esse retorno só pode ocorrer em três circunstâncias: a) quando as operadoras privadas não são capazes de cumprir suas obrigações contratuais; b) para corrigir graves desequilíbrios econômicos ou sociais; e c) em casos de emergência, guerra ou de ameaça à segurança nacional.


Nenhuma das três situações ocorre hoje. Por isso, conforme mostrou o jornalista Ethevaldo Siqueira em sua coluna de 30 de dezembro no Estado, citando a opinião de especialistas – entre os quais ex-ministros das Comunicações e ex-diretores da Anatel e da Telebrás -, a idéia de recriar a Telebrás ou de fundi-la com a Eletronet é uma das piores que poderiam ocorrer ao governo Lula na área de telecomunicações. Há alternativas muito mais lógicas e convenientes para promover a inclusão digital e a universalização da banda larga.


As razões alegadas pelo governo não têm qualquer fundamento. Em primeiro lugar, nem a Telebrás nem a Eletronet dispõem de acesso direto aos domicílios dos usuários, chamado tecnicamente de ‘última milha’ e essencial para qualquer projeto social de universalização dos serviços. Em segundo lugar, a Telebrás foi holding controladora de 27 subsidiárias e nunca operou diretamente os serviços, faltando-lhe, portanto, a necessária experiência. Em terceiro lugar, porque a empresa não conta com nenhuma equipe técnica capaz de atuar nas áreas de banda larga, redes sem fio ou inclusão digital.


Além disso, é preciso considerar que a criação – no caso, recriação – de uma estatal na área de serviços públicos traz mais riscos do que vantagens. O ex-ministro das Comunicações Juarez Quadros do Nascimento faz uma clara advertência sobre tais riscos: ‘A Telebrás, hoje, seria uma estatal inútil, cara, ineficiente, ineficaz e um grande e potencial cabide de empregos.’ Nos projetos de inclusão digital, diz ele, ‘o que falta é o estabelecimento e a implementação de políticas públicas e não a volta ou a criação de uma empresa estatal’. Na realidade, soluções estatais sérias e eficazes são necessárias, sim, mas nas áreas de saúde, educação e segurança pública. O setor de telecomunicações, se o Estado não atrapalhar, continuará muito bem.


Diante de tantos argumentos, o mínimo que se pode esperar é que o plano de reativação da Telebrás seja arquivado.’


 


INTERNET
Marili Ribeiro


Blogueiros se unem em busca de receita


‘Os blogueiros no Brasil começam a se unir embaixo de uma marca única, que funciona como uma espécie de condomínio, para assim criar condições de comercialização de seus espaços e gerar receita para seus bolsos. Nos EUA, o caso mais bem-sucedido de guarda-chuva de blogs, reunindo mais de 90 blogueiros, é o Weblogs, Inc, que acabou sendo comprado pelo provedor AOL, em outubro passado, por US$ 25 milhões.


No Brasil , não há perspectivas de negócios desse vulto ainda. Mas a organização em rede já ganha adeptos. O mineiro Wagner Fontoura, por exemplo, comanda há dois meses a rede NossaVia, que abriga 28 blogueiros escrevendo sobre variados temas. O carioca Bruno Alves está firme no propósito de juntar 50 especialistas no Blog Coaching, que tem a ambição de ser se firmar como uma rede de ‘blog de nicho’, onde o internauta possa achar com quem conversar sobre o que lhe interessa. Já o paulista Edney Souza, que tem seu próprio blog desde 1997, formou, em fevereiro de 2007, a rede Interney, hoje com 21 blogueiros e lotada no portal iG.


A Interney já vem comercializando espaços de anúncios diretamente com anunciantes e também com agências de publicidade. ‘É importante ter em mente qual o perfil da rede a ser montada e reunir um time que comungue dos mesmos ideais’, explica Souza. ‘A blogosfera é um grupo completamente heterogêneo, e as redes de blogs criam blocos homogêneos.’


A tendência do agrupamento, na opinião do especialista em experiências do usuário da Microsoft, René de Paula Jr., remete ao velho drama dos canais de comunicação: a eterna necessidade de correr atrás de audiência. ‘A nova praga virtual é receber e-mails de blogueiros avisando que postaram alguma coisa afim de estimular visitação em seus sites’, diz ele. ‘Os blogueiros estão percebendo as regras básicas de mercado. Em um condomínio que tenha 20 ou 30 pessoas escrevendo, há condições de atrair mais audiência. Com isso, há mais argumentos para se convencer os anunciantes.’


Mesmo na Microsoft, os blogs cumprem um papel importante como ferramenta de trabalho entre os profissionais da casa. ‘Há mais de quatro mil blogueiros na empresa, porque através da conversa que ali se estabelece pode-se debater online e informalmente muitos assuntos do interesse cotidiano do escritório’, diz Paula Jr.


O ambiente blogueiro chama também a atenção do universo empresarial e já rende novos negócios. ‘Desenvolvemos um serviço que monitora e gerencia a internet, avaliando o que blogueiros e redes sociais falam sobre as marcas de, pelo menos, 18 clientes’, diz a sócia-diretora do Grupo Máquina de Comunicação Corporativa, Maristela Mafei.


Companhias como Telemar, C&A e AmBev, entre outras, segundo Maristela, estão atentas ao que se fala delas no espaço virtual. O Grupo Máquina monitora mais de 300 blogs. ‘Sempre que achamos necessário, abrimos uma discussão na blogosfera sobre temas essenciais às empresas clientes desse serviço’, explica ela.


O crescimento desses fóruns de discussão faz com que a formação de redes sob uma mesma bandeira seja tendência, mesmo que ainda tenham um longo caminho comercial a perseguir no Brasil, na opinião de Carlos Merigo, analista de tendências da agência Fischer América e criador do blog Brainstorm #9, voltado ao meio publicitário. ‘Grandes portais, ao atraírem a turma dos blogs, sabem que vão acrescentar conteúdo produzido com um frescor diferente do que se faz em sites de notícias convencionais, além de agregar outro tipo de audiência para seu negócio’, diz Merigo.


Wagner Fontoura, do NossaVia, acha mesmo que os conteúdos de blogs não substituirão os das redes tradicionais de notícias. ‘Na verdade, vão complementá-los e ambos coexistirão de forma independente’, diz. ‘Há um novo tipo de audiência que busca interação com os fatos. E os blogs já nasceram sabendo fazer isso.’


FRASES


Edney Souza


Rede Interney


‘É importante ter em mente qual o perfil da rede a ser montada e reunir um time que comungue dos mesmos ideais’


Carlos Merigo


Fischer America


‘Grandes portais, ao atraírem a turma dos blogs, sabem que vão acrescentar conteúdo produzido com um frescor diferente do que se faz em sites convencionais’’


 


TEATRO DA VERTIGEM
Beth Néspoli


BR3, do Tietê às telas


‘Tendo como cenário a cidade e como palco as águas e margens do Rio Tietê, o espetáculo BR3, do Teatro da Vertigem, fascinou artistas como José Celso Martinez Corrêa – ‘‘um dos maiores impactos de minha vida’’ – e frustrou quem não correu para ver. As apresentações – para 40 espectadores por sessão, lotação do barco que conduzia o público pelos 4,5 km de percurso pelo rio – foram encerradas apenas dois meses depois da estréia, por conta do alto custo das embarcações.


Felizmente o espetáculo arrebatou também um espectador muito especial, o documentarista Evaldo Mocarzel, autor de filmes premiados como Do Luto à Luta e À Margem da Imagem. ‘‘Eu vi num dia quente, o cheiro do Tietê era muito forte, choveu, havia raios. Fiquei siderado por aquele espetáculo que era intervenção urbana e era teatro, que incorporava o espaço de forma inusitada e tinha fotogenia única.’’ O passo seguinte foi enviar uma mensagem ao diretor do Teatro da Vertigem, Antônio Araújo. Quase dois anos depois da primeira conversa, os criadores do espetáculo teatral estão reunidos diante da TV numa noite de segunda-feira, na casa de Mocarzel, para ver o 1º tratamento do filme.


Rigoroso, Mocarzel distribui a todos papel e caneta. Na sala estão o autor do texto Bernardo Carvalho, o iluminador Guilherme Bonfanti, a diretora de cena Eliana Monteiro e os atores Sérgio Siviero, Roberto Áudio e Luciana Schwinden. ‘‘Quero que anotem tudo o que incomodar, o que acharem excessivo ou ausente’’, avisa Mocarzel. O montador Willem Dias, que não viu o espetáculo, mas apaixonou-se pelas imagens, também está preocupado. ‘‘O som ainda vai ser tratado, há alguns problemas de gravação, mas tudo tem solução’’, avisa. A conversa é descontraída, mas há uma certa tensão no ar. Que se agrava quando a sala escurece para o início da exibição. E desaparece por completo logo depois.


‘‘Adorei. Falo sinceramente, está muito bonito’’, diz Bernardo Carvalho. ‘‘E olha que eu, confesso, não estava dando nada, vim por vir, mas imaginei que iria embora como quem viu um registro e pronto, nada demais.’’ A reação de todos é semelhante. ‘‘Eu já vivi situações traumáticas com peça filmada, estava com muito medo. Fiquei muito feliz. A captação das imagens está muito boa, e também a edição’’, diz Antônio Araújo. ‘‘Ficou muito bom, é cinema, mas também é teatral’’, observa Siviero. ‘‘Há diferentes texturas mescladas e isso, como linguagem, me parece muito interessante’’, diz Bonfanti.


O entusiasmo se mantém quando começam a ser lidas as anotações, que foram muitas. ‘‘Evaldo, gostei muito e minhas anotações são detalhes, coisas de gosto pessoal’’, começa Araújo. E aponta, por exemplo, a ausência do som da buzina do barco. ‘‘Senti falta, são três apitos antes de o público entrar, é bobagem, mas é a convenção teatral dos três toques.’’ A sugestão de acréscimo é imediatamente aprovada por Mocarzel. O diretor também contesta o momento em que a câmera desvia o foco da imagem do ator tirando lixo das hélices da voadeira, o pequeno barco que transitava ao redor da embarcação do público e a toda hora parava por conta dos detritos. ‘‘A sujeira está no sentido fatídico de nossa interrupção, acho importante que essa ação seja vista.’’ Mocarzel e Willem anotam tudo. A versão retrabalhada deve ficar pronta em breve.


‘‘Na verdade, serão dois filmes. Esse aí, praticamente pronto, é o registro do espetáculo, na íntegra. Quero fazer ainda outro, um documentário, em que vou inserir o processo de criação do grupo nas cenas da montagem’’, diz Mocarzel. Matéria-prima não falta. São 80 horas de gravação feitas por Mocarzel e sua equipe no Tietê, em três dias distintos, com oito fotógrafos gravando com câmeras em pontos estratégicos. Dois na margem direita, dois na esquerda, dois no alto do barco do público, um no meio do público, um numa outra embarcação, o Iracema. Mocarzel entrevistou toda a equipe de criação. E ainda captou novas imagens na Baía de Guanabara, onde BR3 também fez curta temporada, a convite do Riocenacontemporânea, o festival internacional de teatro do Rio de Janeiro. Sem contar as imagens colhidas pelos atores em dois anos de preparação desse espetáculo, o que incluiu meses de oficinas no bairro de Brasilândia, na periferia de São Paulo, e uma viagem longa Brasil adentro.


A busca do que seria uma ‘‘identidade’’ brasileira levou o Teatro da Vertigem do litoral a Brasília, no coração do Brasil, dali à cidade de Brasiléia, no Acre e, depois, de volta, ao Rio Tietê. ‘‘A idéia de um palco móvel se ajusta à nossa abordagem de identidade nacional, que não é algo fixo, pelo contrário, é algo que não se pode reter’’, disse o diretor em entrevista ao Estado em fevereiro de 2005. Terminada a chamada trilogia bíblica – O Paraíso Perdido, O Livro de Jó e Apocalipse 1.11 -, a trupe havia decidido debruçar-se sobre esse novo tema no qual o sagrado é ausência, e sua falta é manipulada por diferentes ‘‘mercadores’’ de religião.


A idéia de ‘‘mobilidade’’ também atraiu Mocarzel. ‘‘Um documentário é a arquitetura do acaso. É preciso criar uma estrutura de linguagem que possa interagir com alguma coisa viva, imponderável. Há sempre milhões de possibilidades e a estrutura criada tem de ser adaptável. BR3 fascinou-me também por ser um espetáculo aberto ao imponderável. A passagem de um rato, as marés, enchentes, chuva, algo que poderia escorrer pelas gargantas d’’água – havia muita interação.’’ E mais. ‘‘A trilha animal de Thiago Cury e Marcos Siqueira era feita de fractais captados pela mesa de som e devolvidos de acordo com a intensidade da voz do ator. Nunca era igual.’’


Por tudo isso, ele fez questão de gravar o espetáculo em apresentações normais, com o público presente, o que triplicou a complexidade da já intrincada logística. ‘‘Teatro sem espectador é morto. Apresentação para a gravação não rola; a câmera flagra a verdade e quem polariza o olho do ator é o público.’’ Até as entrevistas com os criadores ele fez questão de fazer no barco. ‘‘A locação tem alma; a câmera capta alguma coisa que o olho humano não consegue, como o peso da destruição no lixo que se arrasta pelas águas. O documentário tem de ser um river movie.’’


De todos os dias de filmagem, o primeiro foi o mais atribulado. ‘‘Um fotógrafo derrubou um refletor, por medo de atrapalhar os atores, a aproximação não foi suficiente. Fiz uma reunião, e no 2º dia eles se soltaram mais.’’ Antes de iniciar as filmagens, Mocarzel decupou o espetáculo e criou um ‘‘documento’’ de 11 páginas (leia nesta pág.), com instruções para que fossem captadas imagens da cidade, dos bastidores, do olho dos atores. ‘‘A logística era uma loucura, eles ora iam nos barcos que conduziam os atores, ora pelas margens, foi complicado decidir como seria feito. E eu queria captar o som direto. Claro que é possível dublar, mas queria evitar, é teatro.’’


O público talvez tenha acesso ainda este ano ao filme do espetáculo. Já o documentário deve demorar mais um pouco. ‘‘Por exemplo, há uma entrevista do Sérgio Siviero em que ele comenta a imagem que lhe vinha à mente numa das cenas – era da destruição em Rondônia. Eu tenho a entrevista dele e imagens da cena no Tietê e da destruição por ele vista em Rondônia. Quero uni-las na edição do documentário.’’


Se os atores estão felizes, Mocarzel não está menos. ‘‘Valeu a pena. Eu mesmo queria muito rever esse espetáculo pelo olhar da câmera. A primeira vez que vi BR3 tive a sensação de estar diante de um Macunaíma, do Antunes, ou de um Rei da Vela, do Zé Celso. Um espetáculo histórico. Uma apropriação poética do urbano de extrema importância. Que tem de ser visto também em vídeo, como se podem ver todos as criações do Théâtre du Soleil.’’


Aviso do Cineasta aos Navegantes


OBSERVAÇÃO A TODOS OS FOTÓGRAFOS: O teatro é o templo da palavra e do ator. Por mais que as imagens criadas pelo Teatro da Vertigem sejam exuberantes e inusitadas, os fotógrafos não podem deixar de investir no rosto dos atores, no brilho do olhar, em detalhes que, às vezes, podem parecer imperceptíveis diante da imensidão da encenação, mas que são captáveis pelas lentes das câmeras, que devem e precisam estar sempre em busca de olhares e pequenos esgares que vão, com certeza, ajudar muito a atmosfera dramática do filme sobre o espetáculo BR3.


ATENÇÃO, FOTÓGRAFOS: BR3 é um espetáculo, como raras vezes se viu no mundo… A prioridade máxima são as cenas do espetáculo, suas luzes, sua cenografia, a sua interação com o espaço urbano e, principalmente, a atuação dos atores. No entanto, em momentos ociosos… precisamos registrar… ratos, raios no céu, a poluição líquida e sólida do Tietê, com seus ‘‘tapetes’’ de garrafas de plástico; as ‘‘gargantas’’ de esgoto no rio, um helicóptero passando, as marginais com seus carros e caminhões, a imensidão dos viadutos e suas bases carcomidas pelas águas poluídas do rio… tudo isso interessa.


OUTRA COISA IMPORTANTE: Em momentos de ociosidade, em que, por exemplo, a ação da peça está se desenrolando na margem esquerda do rio e o câmera estiver na margem direita, não deixar de registrar toda a movimentação dos contra-regras do espetáculo, espalhados nas voadeiras, no barco Iracema e também nas margens. Essa movimentação dos contra-regras logicamente não é vista pelo público, mas interessa ao filme.’


 


TELEVISÃO
O Estado de S. Paulo


Multishow lança Blind Trip, da Mixer


‘O Multishow estréia dia 13, às 21h15, a série Blind Trip, que acompanha um grupo de amigos que cai na estrada rumo ao litoral de São Paulo, do Rio e da Bahia para aproveitar o verão. A atração da Mixer mistura ficção com realidade e conta com seis episódios.


O programa recebeu o nome de Blind Trip, ou viagem às escuras, porque os seis atores não receberam roteiros nem programação prévia de que praias iriam visitar. Quase tudo o que está na série foi feito de improviso. Em Blind Trip, os atores interagem com o público nas praias, casas noturnas e albergues – lugares reais que viraram locação para a equipe.


O primeiro episódio tem São Paulo como cenário. Os amigos decidem pegar a estrada até Maresias, no litoral norte. O site Globo.com vai exibir trechos do programa a partir de sexta-feira.


NOVA TEMPORADA


Outra produção do Multishow, o programa Que Rock É Esse?, vai ganhar uma nova temporada ainda este ano. A atração comandada por Beto Lee fez a audiência do canal crescer 7% em seu horário de exibição, atingindo mais de 2,3 milhões de pessoas. A previsão de estréia é em outubro, com 13 episódios inéditos.’


 


 


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