I
No capitalismo moderno ainda não são poucas as empresas que tratam de chupar o sangue dos seus funcionários até a última gota, cortando não só salários, benefícios e horas-extras como até mesmo os próprios empregados, deixando que o serviço que antes era desempenhado por três ou quatro acabe nas costas de um só, que, mesmo assim, considera-se felizardo porque teve preservado o seu emprego. Não é, obviamente, a esse tipo de empresa que o último livro do jornalista Rivaldo Chinem é dirigido.
Pelo contrário, Comunicação empresarial – uma nova visão da empresa moderna (São Paulo, Discovery Publicações, 2012) trata de fornecer dados da empresa responsável do ponto de vista social, a sustentabilidade e sua relação com a comunicação. Para Chinem, jornalista com vasta experiência não só nas redações das principais publicações brasileiras como em assessorias de imprensa de empresas, fundações e associações da classe empresarial e de trabalhadores, o objetivo do livro é atingir tanto os empresários como o profissional de qualquer área de gestão que tenha por objetivo atender e desenvolver uma relação do meio corporativo em que atua.
“Empresa social responsável”, diz o autor, “é aquela que se preocupa com todos os segmentos que com ela se relacionam no dia a dia, e não apenas com seus clientes e acionistas”. Em outras palavras: sua preocupação envolve seus colaboradores, fornecedores, entorno sócio-comunitário e todos os interlocutores e parceiros considerados relevantes para o seu desempenho como empresa-cidadã.
Segundo Chinem, tal empresa atua pró-ativamente no campo social, por meio do apoio a outras organizações ou criando seu próprio braço social. “Se as empresas se preocuparem com questões éticas, mais fácil será implementar mudanças no contexto social. A busca da sobrevivência pelas empresas é, em certa medida, reflexo da busca de cada pessoa por uma vida em plenitude”, acrescenta o autor, deixando claro que, nos dias de hoje, não há espaço para aquela empresa que está focada apenas no lucro e que não se preocupa com o rastro de miséria e degradação do ambiente que pode deixar atrás de si.
II
Dividido em dez capítulos e escrito numa linguagem coloquial, que pode ser entendida até mesmo pelos analfabetos funcionais que hoje freqüentam a universidade no Brasil sem dominar habilidades básicas de leitura e escrita – que são 38%, segundo pesquisa do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), divulgado pelo Instituto Paulo Montenegro (IPM) e pela ONG Ação Educativa –, o livro descreve ambientes, cita os balanços sociais, fala do marketing social, da governança corporativa, dos padrões a serem adotados, das parcerias necessárias, do voluntariado, o que isso tudo custa, ressaltando a diferença sempre presente entre gastos e investimentos em comunicação.
“Se o empresário pensar em fazer da ação social, ambiente e de responsabilidade social de sua empresa apenas um marketing promocional vai se dar mal”, avisa o jornalista, lembrando que, hoje, a empresa moderna exige investimento nessas áreas, principalmente se quiser permanecer no mercado.
III
Chinem lembra ainda que, hoje, no mercado onde tudo se transforma em commodity, saber se comunicar é cada vez mais um grande diferencial. Com as redes sociais e os movimentos de base da Internet, não dá mais para enganar todo mundo o tempo inteiro. Ou seja, se a pesca de atum mata golfinhos, o casaco da madame é resultado do sacrifício de animais ou o brinquedo da criança é fabricado em condições desumanas em algum lugar perdido do planeta todo mundo vai saber disso. E, portanto, os agentes econômicos precisam levar essa possibilidade em consideração ou vão sentir uma dor profunda no seu “órgão” mais sensível: o bolso e/ou a conta bancária.
Diante disso, a comunicação hoje integra o alto escalão de qualquer empresa, formulando estratégias de negócios de longo prazo e, muitas vezes, liderando mudanças de rumo fundamentais, diz Chinem, ao destacar que sustentabilidade, direitos humanos e justiça social constituem hoje vocábulos indissociáveis do discurso empresarial. “Foi a área da comunicação corporativa que operou a transformação e é ela que tem mostrado os caminhos – e construído pontes – que possibilitam um diálogo proveitoso para todas as partes envolvidas no negócio, do cliente à comunidade do entorno”, acrescenta.
IV
O jornalista Rivaldo Chinem (1952) começou a trabalhar como repórter no extinto jornal Cidade de Santos e, depois, foi para a Agência Folha,Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e revista Veja. Dirigiu o jornalismo da TV Gazeta e da Rádio Tupi, em São Paulo. Foi ainda um dos jornalistas que enfrentaram a ditadura (1964-1985) colaborando com a imprensa alternativa, tendo passado pelas redações do Repórter, Versus, Opinião, Movimento e de O São Paulo, então combativo jornal da Cúria Metropolitana de São Paulo, que tinha à frente o cardeal Dom Paulo Evaristo Arns.
Apresentou o programa Imprensa e Comunicação em Debate na Rádio Bandeirantes. Foi articulista da Agência Estado com a coluna “Leitura do Empresário”, do site Topnegócios, do portal Terra, com a coluna “Marketing Empresarial”, e do portal Megabrasil, com a coluna “O dia a dia das assessorias de comunicação”.
Prestou assessoria de imprensa para empresas multinacionais, associações de classe, empresários, políticos em São Paulo e em Brasília, governo e embaixada. Foi assessor de imprensa do ex-presidente Jânio Quadros (1917-1992). Ganhou o Prêmio Wladimir Herzog de Reportagem, instituído pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj). Deu cursos no Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB), Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje), Pontifícia Universidade Católica (PUC), de São Paulo, e Universidade de São Paulo (USP).
Publicou os livros Terror policial (São Paulo, Editora Global, 1980), em co-autoria com o jornalista Tim Lopes (1950-2002), Sentença: padres e posseiros do Araguaia (Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1983), Imprensa Alternativa – jornais de oposição e inovação (São Paulo, Editora Ática, 1995),Assessoria de imprensa – como fazer (São Paulo, Summus, 2003), Jornalismo de Guerrilha – a imprensa alternativa brasileira da censura à Internet (São Paulo, Editora Disal, 2004), Comunicação empresarial – teoria e o dia a dia das assessorias de comunicação (Vinhedo, Editora Horizonte, 2006), Marketing e divulgação da pequena empresa (São Paulo, Editora Senac, 2009), Introdução à comunicação empresarial (São Paulo, Editora Saraiva, 2010) e Comunicação corporativa (São Paulo, Editora Escala, 2011).
***
[Adelto Gonçalves é doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo e autor de Gonzaga, um Poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002) e Bocage – o Perfil Perdido (Lisboa, Caminho, 2003)