O indiano Raju Narisetti, editor executivo do Digital Network do Wall Street Journal, fez na terça-feira, 22, no segundo e último dia do 9.º Congresso Nacional de Jornais, em São Paulo, o contraponto do debate sobre cobrar ou não pelos conteúdos da internet. Voz solitária contra a maioria de palestrantes que defenderam o sistema paywall, Nasiretti disse que essa decisão não pode ser apressada. “É preciso ir devagar”, advertiu. Pois nem todos têm a força, o prestígio, de um New York Times ou do próprio WSJ – onde ele trabalha e dirige um serviço digital que nasceu pago e assim continua.
Ao defender sua fórmula, que chamou de freewall, Narisetti avisou que “ela demanda muito planejamento” – para se chegar, mais tarde, a um patamar em que o serviço se torne rentável, sem pesar para os usuários. “O que precisamos é reexaminar o tema, não seguir cegamente em frente. O que funciona para grandes jornais não vai funcionar para muitos outros.”
Em outras mesas, vários convidados disseram o contrário. O mais entusiasmado pela ideia de cobrar foi o alemão Mathias Dopfner, diretor-presidente da Axel Springer, uma grande rede de jornais e revistas que tem como carro-chefe o diário Bild. Festejado por tirar o grupo de uma situação difícil, há alguns anos, para um faturamento de 600 milhões em 2011, Dopfner afirmou que é preciso olhar para o futuro, quando o jornal “será como um guardanapo, leve, flexível, para se guardar no bolso”.
Sua provocação: se o cidadão já paga por telefone, por celular, por aplicativos, por que não pagaria pelo site? O meio tecnológico, daqui a 50 anos, resumiu, “estará tão adiantado que o único que importará será, de fato, o conteúdo”. O meio digital “oferece um espaço ilimitado, é muito mais rápido, elimina custos como papel ou distribuição, e não há por que imaginar que será malfeito”. E acrescentou: “Há muita imbecilidade mas também muita qualidade no digital, se você contar com bons jornalistas”.Convencido disso, ele leva adiante, no seu grupo, planos de adotar a cobrança nos próximos meses. “Se houver erros, vamos entender e corrigir. Mas é preciso tentar.”
Organização
Na sua exposição, o indiano Narisetti condicionou a ideia de seu freewall a muita organização. Lembrou que com internet livre o jornal terá mais matérias lidas, mais tempo do leitor olhando seus anúncios, mais fidelidade desse leitor – e isso não se pode jogar fora.
Mas é preciso, junto a isso, trabalhar duro, entendendo bem a intersecção entre conteúdo e tecnologia, até levando desenvolvedores para junto das redações. Estas devem criar “planos de impermanência”, criar espaços e serviços focados. Por exemplo, para um leitor que só quer ler manchetes. Ou que só quer ler números do mercado. Perguntado se pretende adotar esse projeto no Wall Street Journal, explicou: “Não, por enquanto é só uma ideia. Mas insisto que não se pode punir, cobrando, exatamente o seu leitor mais fiel”.
No debate final, o diretor-geral de jornais do grupo RBS, Marcelo Rech, defendeu a busca de qualidade e de capacidade crítica, como metas essenciais para o futuro. “Credibilidade é a palavra-chave”, avisou. Depois dele, o ex-diretor-presidente do Grupo Estado, Silvio Genesini, constatou que “estão cada vez mais claros os caminhos para os novos modelos de negócios”. Separou uma internet que já começou paga – smartphones, tablets – de outra que era livre “e resta saber se a mudança para o paywall vai funcionar”. O desafio é que o sistema “está se movendo para uma dependência maior da publicidade”.
Nesse último dia do congresso, foram ainda discutidos temas como “planejamento econômico-financeiro em um cenário de transformação estrutural do negócio”, inovações no jornalismo impresso e a autorregulamentação da mídia no País.