A organização Repórteres sem Fronteiras protestou contra o anúncio feito pelo Ministério da Justiça brasileiro sobre a expulsão de Larry Rohter, correspondente do New York Times em Brasília. A organização solicitou que as autoridades ‘ajam com sensatez’, anulando a medida.
‘Estamos surpresos com esta decisão, que consideramos indigna de um regime democrático. Sobretudo, ela pode causar um prejuízo maior à sua imagem no exterior que o próprio conteúdo do artigo incriminado’, ressaltou Repórteres Sem Fronteiras em uma carta ao Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
‘Os processos de difamação devem ser julgados diante dos tribunais. Este tipo de medida autoritária não resolve nada: com a expulsão de Larry Rohter, o Brasil não prova nada. Além disso, essa medida poderia coagir à autocensura os correspondentes da imprensa estrangeira, que sabem, doravante, que correm o risco de serem expulsos quando falarem do Presidente’, acrescentou a organização, que também solicitou uma entrevista ao embaixador do Brasil na França.
Repórteres sem Fronteiras lembrou que existem no Brasil problemas de liberdade de imprensa mais graves, como os assassinatos, no final de abril de 2004, de Samuel Roman e José Carlos Araújo, dois jornalistas de rádio dos Estados de Mato Grosso do Sul e Pernambuco.
No dia 11 de maio de 2004, o Ministério da Justiça anunciou a expulsão de Larry Rohter, correspondente no Brasil do cotidiano americano New York Times, em razão da publicação neste jornal, em 9 de maio, de um artigo intitulado ‘Ato de bebericar do líder brasileiro se torna preocupação nacional’.
Em nota oficial, o Ministério da Justiça qualificou de ‘inconveniente a presença em território nacional do autor do referido texto’ e anunciou que o visto do jornalista havia sido cancelado. Larry Rohter dispõe de oito dias para deixar o país. A expulsão é justificada pelo caráter da reportagem, considerada ‘leviana, mentirosa e ofensiva à honra do Presidente da República’.
No artigo, Larry Rohter afirmava que o Presidente ‘nunca escondeu ter um fraco por uma boa cerveja, um whisky ou, melhor ainda, uma cachaça, bebida brasileira fortemente alcoolizada, à base de cana de açúcar. Mas alguns de seus compatriotas começam a questionar se a forte predileção do Presidente pelo álcool não estaria afetando o seu desempenho no cargo’.
No dia 11 de maio, o New York Times publicou uma carta do embaixador brasileiro nos Estados Unidos, na qual ele exprimia sua ‘indignação’, considerando ‘surpreendente e lamentável que o jornal The New York Times tenha dado crédito a uma história tão ofensiva e totalmente infundada’.
No mesmo dia, o jornal manteve suas alegações. ‘Acreditamos que as informações contidas no artigo estejam corretas’, declarou um porta-voz do jornal à Agência France-Presse. Se o Brasil ‘está tentando expulsar um jornalista por ter escrito um artigo ofensivo em relação ao Presidente, o compromisso do país em favor da liberdade de expressão e da liberdade de imprensa estaria seriamente abalado’, declarou Bill Keller, Diretor Executivo do New York Times na edição eletrônica de 12 de maio deste jornal.
Em 20 de abril de 2004, Samuel Roman, proprietário da estação Conquista, foi assassinado em Coronel Sapucaia, pequena cidade de Mato Grosso do Sul, situada na fronteira com o Paraguai. O jornalista vinha denunciando o tráfico de drogas e a criminalidade que reinam na região e acusando a classe política local. Três suspeitos foram presos. Quatro dias mais tarde, José Carlos Araújo, da Rádio Timbaúba FM, foi assassinado em uma pequena localidade do Estado de Pernambuco. Seu assassino foi igualmente preso.