Numa medida que pode sacudir a área de rádio, que vem crescendo na internet, a Apple planeja criar um serviço que vai competir com Pandora Media, e oferecer música sob medida adaptada ao gosto do usuário, segundo três fontes envolvidas no projeto.
A Apple, que já domina o campo da música digital com sua loja iTunes, está no estágio inicial de negociação com grandes selos musicais tendo em vista o serviço de rádio. O escopo do projeto, porém, ainda não está claro, segundo as fontes.
O serviço provavelmente assumirá a forma de aplicativo pré-instalado em aparelhos como iPhone e iPad, podendo ser ligado à conta do usuário no iTunes para avaliar seu gosto musical.
Oferecendo música de acordo com o gosto de cada usuário, o programa da Apple pretende competir com outros serviços de rádio pela internet, como Pandora, Slacker e o iHeartRadio, oferecido pela gigante do setor, a Clear Channel Communications.
Mas, enquanto muitos serviços operam com base em licenças limitadas, que restringem o que eles podem fazer – por exemplo, limitando o número de vezes que a música de um determinado artista pode ser tocada num período de uma hora -, a Apple está tentando obter licenças diretamente das gravadoras, o que daria à companhia mais flexibilidade de uso das músicas.
Como o Pandora, o serviço de rádio da Apple terá propaganda, apresentada pela plataforma iAd. Não está claro se ela dividirá parte da receita de publicidade com os selos ou pagará uma taxa de licença.
Também não se sabe ao certo se o serviço será gratuito ou implicará uma assinatura. O serviço Pandora com publicidade é gratuito, mas os usuários podem pagar uma taxa de US$ 36 por ano por um serviço que elimina toda a propaganda. O porta-voz da Apple, como também os representantes da Sony Music, EMI e Warner Music Group não quiseram comentar a respeito.
Futuro
O planejado serviço da Apple não deverá ser implementado imediatamente. Na verdade, diante do tempo que ela vai necessitar para negociar as licenças com os grandes selos musicais, pode levar meses.
Na quarta-feira, a Apple deve lançar seu mais novo smartphone, o iPhone 5, mas, segundo membros da empresa, o serviço de rádio não deverá fazer parte da apresentação.
Complicando um pouco mais o processo de licenciamento está o fato de que grande parte dos negócios do setor de música estão quase paralisados, uma vez que os selos aguardam decisão dos órgãos regulamentadores na Europa e Estados Unidos sobre a aquisição da EMI Music pelo Universal Music Group, por US$ 1,9 bilhão.
A decisão da Apple deixou perplexos alguns analistas, que observaram que operações de rádio por internet parecem muito pequenas – representando menos de US$ 1 bilhão ao ano em receita, segundo algumas estimativas – para a Apple se preocupar com isso. Rádios estabelecidas, como a Pandora, já estão distribuindo seus serviços por meio de aplicativos em aparelhos ds Apple.
“O que representa isto para a Apple?”, indaga Michael Pachter, analista da Wedbush Securities. “A Pandora já faz um bom trabalho, como também o iHeartRadio e Last.fm. Por que precisamos de mais uma?”
Mas a influência da Apple na área musical, que começou a se firmar quando a empresa lançou o iPod em 2001, pode ficar ameaçada à medida que os consumidores preferirem ouvir música pela Internet e não comprá-la. O ex-presidente da Apple Steve Jobs muitas vezes descartou apelos para a empresa oferecer serviços de assinatura de música, dizendo que muitos consumidores não gostariam de pagar para ouvir música.
Nos últimos anos, porém, com a proliferação dos smartphones, iPads e o acesso à internet sem fio, que conecta perenemente esses aparelhos a fontes online de música, a iniciativa do iTunes de vender música a um dólar cada, parece antiquado comparado com serviços como Spotify e outros.
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[Ben Sisario e Nick Wingfield, do New York Times]