Após dois meses de reprises, alguns dos populares talk shows americanos voltaram ao ar na primeira semana do ano – porém, sem os roteiristas. O sindicato da categoria mantém a greve, iniciada em novembro; a única exceção é o programa do apresentador David Letterman, na rede CBS, que conseguiu fazer um acordo independente. A maior parte dos roteiristas, no entanto, ainda não chegou a um consenso com os empregadores sobre o valor que os profissionais devem receber pelo material distribuído na internet e em plataformas digitais. Mesmo de volta ao batente no que parece ser um ‘fura greve’, produtores e apresentadores não deixaram de expressar o apoio aos grevistas. ‘Estou do lado dos roteiristas’, afirmou Jay Leno, do Tonight Show, da NBC.
Os talk shows, como o de Leno e o de Letterman, foram um dos gêneros mais prejudicados com a greve dos roteiristas – justamente por dependerem de roteiro atualizado diariamente. Leno chegou a ajudar a pagar os salários de dezembro de parte da equipe de seu programa, e alega que só voltou ao ar para evitar que os funcionários sejam demitidos. ‘Tivemos que voltar, pois temos 19 pessoas prejudicando o trabalho de 160’, resume.
Com a falta de opções de convidados estrelados – grande parte dos atores de cinema e TV se recusa a furar a greve –, a volta dos programas de talk show está se provando, no mínimo, criativa. Esta semana, Jay Leno e o também apresentador Jimmy Kimmel, da ABC, combinaram de fazer uma troca de convidados: um irá aparecer no programa do outro, na quinta-feira (10/1).
O show tem que continuar
Desde o início da paralisação, as redes de TV vêm perdendo lucros publicitários. Como os programas estão sendo reprisados, a audiência vem caindo. O Tonight Show, por exemplo, que rende cerca de US$ 50 milhões por ano em lucros, registrou queda de 40% na audiência. Outros apresentadores de talk shows, entre eles Conan O’Brien, da NBC; Jon Stewart e Stephen Colbert, do Comedy Central; e Craig Ferguson, da CBS, também voltaram ao ar, mesmo sem os roteiristas.
Disputa
David Letterman – que deixou a barba crescer em solidariedade aos grevistas – foi o único a voltar ao ar com um acordo independente feito entre sua produtora, a Worldwide Pants, e o sindicato Writers Guild of America, e terá seus roteiros escritos por sua própria equipe. Com isso, ele ainda tem a vantagem de conseguir convencer convidados de peso a comparecer ao programa. Na semana passada, o ator Robin Williams foi um dos presentes em Letterman, enquanto Leno contou com o presidenciável republicano Mike Huckabee. A disputa entre Letterman e Leno é antiga e o primeiro costuma amargar o segundo lugar na audiência desde 1995. A greve e o acordo exclusivo para não furá-la, no entanto, parecem tê-lo beneficiado.
Muitos dos apresentadores fazem parte do Writers Guild of America e, segundo as regras do sindicato, não podem escrever seus próprios roteiros. Aqueles que o fizerem correm o risco de ser expulsos do sindicato. Leno começou seu programa da semana passada afirmando que fora ele que escrevera o texto, que havia sido, inclusive, aprovado por sua esposa.
Globo de Ouro pode sofrer boicote de atores
Se um acordo semelhante ao de Letterman não for feito com o sindicato, a premiação do Globo de Ouro, no dia 13/1, pode virar o mico do ano. O Screen Actors Guild, sindicato dos atores americanos, está pedindo aos indicados que não compareçam à cerimônia, a segunda mais importante de Hollywood depois do Oscar. ‘Após amplas discussões com atores indicados aos Globos de Ouro e seus agentes nas últimas semanas, parece haver um acordo unânime de que estes atores não irão furar a greve do sindicato dos roteiristas’, declarou o presidente do Screen Actors Guild, Alan Rosenberg.
Segundo o jornal Daily Mirror, a atriz britânica Keira Knightley – cuja mãe é roteirista – foi a primeira indicada a confirmar ausência na cerimônia. Mesmo com a ameaça de não contar com celebridades de peso como Julia Roberts e Johnny Depp, a NBC confirmou que irá transmitir a 65º edição do prêmio. Informações de Matea Gold e Richard Verrier [Los Angeles Times, 3/1/08], Bill Carter [The New York Times, 6/1/08] e Bob Tourtellotte [Reuters, 4/1/08].