Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Por pura falta de assunto

A revista Época merece a duvidosa primazia de ter sido o primeiro veículo da grande imprensa a oferecer refletores para a brasileira Andreia Schwartz, depois que foi desmentida a farsa segundo a qual ela teria sido a responsável pela renúncia do ex-governador do Estado de Nova York, Eliot Spitzer.


Mesmo duas semanas depois que a revista mensal Joyce Pascowitch demoliu a história, Época apresenta nesta edição uma entrevista na qual a jovem aventureira reconstrói o enredo fantasioso que fez circular na imprensa americana e que foi comprado, com embalagem e tudo, pela imprensa brasileira.


Com quatro páginas, incluído um ensaio fotográfico conduzido pela própria entrevistada, Época dá a ela mais espaço do que à reportagem política da mesma edição, sobre o caso do vazamento de informações sobre gastos privados com cartões corporativos do governo.


Andreia Schwartz posa de vítima, nega que tenha atuado como prostituta e cafetina em Nova York. Disse que apenas apresentava amigas bonitas para homens ricos. Ela também desmente que tenha sido informante da polícia americana no escândalo que envolve Eliot Spitzer, versão que ela mesma havia inventado.


Vitrine privilegiada


Sobre o patrimônio que acumulou nos Estados Unidos, que foi na sua maior parte confiscado antes de sua deportação, disse que foi resultado de presentes ou empréstimos de homens poderosos com os quais se relacionou. Na versão comprada pela revista Época, ela é uma vítima dos homens, que sempre a acostumaram mal.


Entrevistas e perfis são parte do arsenal do jornalismo para levar ao leitor informações sobre personagens interessantes do cotidiano. No entanto, devem ser sempre contextualizadas à relevância do personagem e conduzidas com senso crítico.


Se a revista queria esclarecer a história, que achou interessante, comeu barriga ao comprar sem reservas a versão da protagonista Se pretendia ser irônica, faltou talento.


Andreia tem contrato com a revista Playboy para posar nua. Também pretende lançar um livro em português e inglês, mostrando como uma jovem brasileira pode se dar bem no exterior.


Época acaba de lhe dar uma bela vitrine. Talvez por falta de assunto mais interessante.