O jornalista Larry Rohter, do New York Times, não é principiante. Conhece os meandros da profissão, sabe pesquisar para fazer um texto, sabe escrever, essas qualidades levaram-no à condição de correspondente de um dos jornais mais importantes e influentes dos Estados Unidos. Por isso, estranhei a reportagem que escreveu sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E também estranhei a forma como a imprensa brasileira tratou do caso. Todos concordamos com o fato de a reação presidencial ter sido desproporcional. Houve grita geral. O bom senso acabou prevalecendo e o jornalista não foi expulso.
Larry Rohter, guindado momentaneamente à condição de estrela, teve seus 15 minutos de fama e retornou à mediocridade, que é seu lugar. Ele agora deveria escrever a verdade e corrigir o que afirmou anteriormente.
A nação brasileira não está nem nunca esteve preocupada com os hábitos etílicos do presidente. Os brasileiros estão cada dia mais politizados, a eleição do PT contribuiu para que isso acontecesse, a militância das bases do partido instiga o debate, nas escolas, nas fábricas, em todos os setores da sociedade. É por isso que eu afirmo categoricamente que a vida privada do presidente não está presente nas discussões sobre os rumos do país. Discute-se a taxa de juros, discute-se o MST, discute-se o ‘caso Waldomiro’, discutiu-se a compra do novo avião. São fatos que estão na boca do povo e nos jornais.
Rohter errou
Nunca participei de uma reunião que desse destaque ao fato de o presidente beber, salvo em rodas de jornalistas quando é lembrado o folclore que envolve o carismático ex-presidente Jânio Quadros. Nesses momentos também são costumeiras as histórias de um ex-governador de Minas Gerais que acabou apelidado de ‘Maverick’ em associação à sede do automóvel. Quando jornalistas estão reunidos, não é raro alguém dizer que Lula gosta de um trago. Todos concordam, mesmo porque a maioria nesses momentos está bebendo. Não há nada de mal em beber, faz parte da vida social. Alcoolismo é outra história, é um flagelo social, causa inúmeros problemas. Na verdade, excessos são prejudiciais, a ingestão desmedida de comida acarreta obesidade e com ela doenças como diabetes, hipertensão e outras mais.
Voltando ao jornalismo, que é o foco da questão: de onde o jornalista tirou as informações sobre o presidente e a bebida? A primeira é o ex-governador do Rio de Janeiro Leonel Brizola, que tem escrito sobre o tema. Brizola é opositor declarado de Lula, quando faz críticas está fazendo política. Cabe ao jornalista entender que nem tudo o que vem das fontes é verdade jornalística. Isso até ‘focas’ com dois meses de redação sabem, e é estranho que um experiente correspondente internacional não tenha levado em conta. Outro que toca constantemente na questão é Cláudio Humberto, aquele do ‘bateu-levou’ das épocas coloridas. Em sua coluna diária, o tema Lula e a bebida é sempre abordado.
Jornalistas de oposição são parte do sistema, e Cláudio Humberto escreve uma das colunas mais lidas do país. Muito do que ali aparece contém ironia e humor, deve ser portanto filtrado como tal. A matéria cita também o polêmico colunista de Veja Diogo Mainardi. Uma coluna assinada reflete a opinião do jornalista, podemos ou não concordar com ela, não podemos é dali inferir coisas que não-comprovadas. Se fosse feita uma pesquisa nacional antes da tal reportagem, e nela perguntado ao povo quais os itens preocupantes do governo Lula, certamente a questão do suposto apreço presidencial pelo álcool não teria aparecido nas respostas.
Depois dos acontecimentos recentes talvez isso mude. De todos aqueles que vivem próximos ao poder e se manifestaram, a coerência esteve presente nas palavras de Ricardo Kotscho: tivesse sido ele ouvido, provavelmente eu não estaria escrevendo estas linhas. Larry Rohter errou ao afirmar que o povo brasileiro está preocupado com o fato de Lula tomar uns tragos. Errou e colocou o presidente do Brasil em situação difícil e embaraçosa. Isso é o que eu chamo de mau jornalismo.
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Jornalista, Ubatuba, SP