Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Melindres jornalísticos

A imprensa nacional tem demonstrado que tanto sua felicidade como sua dor são as maiores do mundo. A morte de um jornalista é maior e mais importante do que qualquer outra morte, como se os demais brasileiros fossem menores. O prêmio de um jornalista é maior e mais importante do que o prêmio que qualquer outro brasileiro possa ganhar aqui ou no exterior. Em resumo, o ‘feito’ de um jornalista é sempre maior, melhor ou mais importante e noticiado do que qualquer outra coisa que possa acontecer neste nosso Brasil.

Por diversas vezes a mesma notícia é dada de forma diferente, mesmo contendo número, local e data, o que deveria tornar o relato mais preciso. Sou de opinião que nossa imprensa consegue trabalhar bem apenas quando está a serviço do país e do povo brasileiro, o que infelizmente vem se tornando raro de acontecer. Entendo ainda que a imprensa utiliza, autoritariamente, dois pesos e duas medidas nos casos de seus próprios erros. Basta constatar como são dados os destaques dos desmentidos e das erratas…

Cansei desse assunto de bebida do presidente, como se mais nada fosse importante em nosso país. Chega a ser nojenta a utilização da notícia pelos que são contra ou a favor do que foi escrito e dito. Verifiquem o número de páginas de jornais e revistas e os minutos de noticiário gastos com essa notícia e seus desdobramentos.

Entendo que muita coisa evoluiu rapidamente nos últimos anos em todos os setores e em todo o mundo, mas parece que a imprensa nacional – se não toda, uma boa parte – continua fabricando seu produto para um povo idiota, sem estudo, como se ninguém soubesse o que mudou. Como se ainda fosse verdade que a maioria dos brasileiros não tem memória, é um povo omisso etc. etc. etc.

Ao lado do presidente

Exemplificando: eu gostaria de ler, ver e ouvir que as filas de pessoas esperando atendimento médico diminuíram (em qualquer governo), tenho 53 anos e nunca consegui isso. Por quê? Porque, entre outras coisas, a imprensa não fez uma campanha honesta e ininterrupta – envolvendo os responsáveis e o povo brasileiro – destes fatos que matam brasileiros diariamente em todo território nacional. Também nesta linha pode-se constatar por tudo que já foi publicado que a imprensa deixa muito a desejar.

Poderia citar inúmeros exemplos, pois sou assinante de três jornais, leio algumas das melhores revistas de notícias, assisto a alguns canais de TV e ouço algumas rádios. Apenas se dêem ao trabalho de observar o destaque da notícia quando há um jornalista envolvido ou quando é o caso de um brasileiro qualquer, tenha ele profissão ou não, seja ele rico ou pobre…

De maneira que acredito no seguinte: a imprensa brasileira precisa urgentemente de treinamento tanto profissional como ético, para que nós brasileiros não sejamos obrigados a engolir intermináveis ‘notícias’, quando o meio jornalístico está envolvido. Ou então reflitam, na seguinte hipótese, por exemplo: diria o Jabor (que é ótimo) tudo o que diz do Bush se vivesse nos Estados Unidos? O que significa liberdade de imprensa? Falar o que quiser e publicar uma ‘notinha’ insignificante ou fazer um ‘comentariozinho’ que estava errado? O que realmente está ameaçado?

Será que a atitude do Sr. presidente – certa ou errada – feriu assim tantos brios principalmente porque fez jornalistas internacionais e nacionais pararem para pensar? Ou será que um presidente que foi contra a invasão do Iraque, que é amigo de Fidel Castro e Hugo Chávez poderia, de alguma forma, contrariar interesses americanos? Por que será que ninguém criticou o jornalista, só a matéria que ele escreveu?

Se caso semelhante a este da bebida tivesse acontecido nos Estados Unidos, mesmo porque motivos não faltam, o jornalista estrangeiro seria imediatamente colocado num avião e os americanos – jornalistas ou não – ficariam ao lado do presidente, porque o patriotismo falaria mais alto.

Não só com o corpo

Mas aqui – eternamente uma colônia, pelo menos para a imprensa – o estrangeiro tem sempre razão e o brasileiro se esquece que é seu país que está passando por esse ridículo, que é de seu presidente que estão falando, numa demonstração profissional de falta de patriotismo.

A imprensa esquece também que apesar de premiado o jornalista parece ser o mesmo que falou mal do nosso Carnaval, que é o melhor do mundo, e que tentou ridicularizar duas figuras nacionais importantes para os brasileiros e reconhecidas no exterior, numa demonstração de ignorância da realidade do nosso país.

Ainda para refletir: democracia e cultura funcionam da mesma forma em países diferentes? Liberdade de imprensa é, na prática, igual em todos os países? Significa a mesma coisa? O aprendizado – quero dizer, a formação acadêmica – é o mesmo em todos os países? Quantos jornais/revistas/rádios/TVs e cursos de aperfeiçoamento esses profissionais costumam ler, ouvir, ver e participar? É costume isso? Será que alguns profissionais de jornalismo esqueceram o quanto é importante e nobre a profissão que exercem?

Pena que todos os envolvidos tenham visto o fato de forma isolada… Pena que a imprensa esteja tão fechada em suas salas, com seus computadores, telefones e fax, o que talvez contribua para a realidade virtual que tentam passar aos brasileiros.

Faz aproximadamente 20 anos que se sabe que aquela historia que aprendemos na escola de – cabeça, tronco e membros, separadamente – está errada. O corpo é um só, com tudo que tem dentro e qualquer coisa errada o corpo todo sofre.

Isso não acontece só com o corpo humano. Sabiam?

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Secretária aposentada