Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Respostas para um cenário de incertezas

 

Há um elevado grau de incerteza nas redações dos principais jornais do país. Editores com muita experiência, que passaram pelos períodos da informatização das redações e cresceram profissionalmente no tempo da internet, confessam que se satisfazem com a possibilidade de seguir conduzindo as pautas do dia a dia, sem arriscar um palpite sobre o futuro. O novos projetos estão rareando e os cadernos especiais temáticos têm ficado mais magros e menos frequentes.

Com exceção do Valor Econômico, que praticamente monopoliza o jornalismo de negócios e segue faturando com publicações setoriais, o resto da imprensa tenta espremer ao máximo as condições ainda favoráveis da economia nacional.

A última grande cobertura com potencial de atrair anunciantes que mobilizou as principais redações foi a da Conferência das Nações Unidas pelo Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, ocorrida em junho. Mesmo as edições especiais e séries de reportagens sobre a questão ambiental não produziram a receita esperada, embora, em alguns casos, tenham apresentado produtos de alta qualidade jornalística.

Crescimento real

Ronda as empresas de comunicação o espectro da maré baixa de grandes anunciantes, que estão avaliando o valor real da mídia tradicional diante de alguns fenômenos que associam as tecnologias digitais e o comportamento da classe de renda que compõe a fatia mais gorda do mercado de consumo brasileiro.

Esse cenário não promete um futuro radiante para as mídias tradicionais, a menos que os gestores das empresas de comunicação se revelem capazes de reinventar seus negócios. Mas, infelizmente, criatividade e inovação reais andam longe dos salões da imprensa.

Mesmo a pauta dos grandes encontros para a discussão dos desafios do setor se revela uma eterna repetição de velhos temas. Pode-se ler, por exemplo, o enunciado de palestras e debates sobre “o futuro da imprensa diante das novas tecnologias” em quase todos os encontros de executivos do setor.

A imprensa tradicional parece sofrer de uma paralisia cerebral que a impede de entender a circunstância em que se encontra. Enquanto, para a maioria dos outros negócios, o impacto das tecnologias de ruptura significa uma grande oportunidade, para as empresas de comunicação isso parece representar um pesadelo.

A audiência do jornalismo aumenta nas mídias digitais, mas essa atividade não se reflete em mais receita para as empresas, em função de algumas novidades no comportamento do público.

Observe-se, por exemplo, a mudança que significa o fato de que já não é o pai de família que decide, sozinho, a maioria dos gastos domésticos. A figura do homem que lê seu jornal de papel no café da manhã pertence ao passado. Hoje, a imagem mais próxima de imprensa é a de um jovem ou de uma mulher consultando seu smartphone no metrô ou na calçada. E isso não parece representar uma boa notícia para os jornais e revistas.

O Brasil tem hoje, de acordo com o último Censo, 94,6 milhões de homens e 98,5 milhões de mulheres, e dos quase 194 milhões de brasileiros, mais de 55% têm menos de 35 anos de idade.

Apesar do pessimismo que ainda brota do noticiário econômico, há uma perspectiva real de crescimento da economia brasileira e de outros países da América Latina nos próximos anos, fundamentada principalmente no poder de compra das novas classes de renda média. Na maioria dos casos, esse cenário econômico que em tudo se diferencia da situação vivida pelas economias mais maduras, foi construído com base em pressupostos que a imprensa, majoritariamente, sempre condenou.

A pergunta essencial

A presença do Estado na organização, monitoramento e regulação da atividade econômica tem sido fundamental para a redução da pobreza e a consolidação de mercados mais dinâmicos. Mas as empresas de comunicação, assim como algumas grandes indústrias de alimentos, produtos de higiene e outros setores, não sabem se comunicar com esse público.

Segundo levantamento do Instituto Data Popular, a chamada classe C movimenta anualmente o total de R$ 1,03 trilhão, valor que é distribuído prioritariamente com gastos do lar (31,55%), serviços como consertos e lavanderia (23,16%), alimentação e bebidas (18,49%), saúde e beleza (8,32%), além de transporte, vestuário, educação, entretenimento e viagens.

Não aparecem declarações de gastos com informações, porque esse quesito permeia todas as demais necessidades de uma família.

Então, a questão fundamental para as empresas de comunicação é: quanto dessas necessidades é suprido com a ajuda da mídia tradicional?

A resposta correta vale um futuro.