Leia abaixo a seleção de terça-feira para a seção Entre Aspas.
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Folha de S. Paulo
Terça-feira, 15 de abril de 2008
FRANÇA
Greve inédita contra cortes tira ‘Le Monde’ das bancas
‘O vespertino francês ‘Le Monde’ deixou ontem de circular pela segunda vez nos 64 anos de sua história, em razão de uma greve de 24 horas pela qual os funcionários protestam contra o plano de recuperação econômica da empresa, que prevê a demissão de 130 pessoas, entre elas 87 jornalistas, ou um quarto da Redação.
O jornal havia deixado de circular uma vez em 1976, mas não por problemas internos. Na época os jornalistas protestaram contra a compra do concorrente ‘France Soir’ pelo grupo de mídia Hersant, o que, argumentavam, oligopolizaria a mídia escrita na França.
O atual presidente da empresa, Eric Fottorino, disse que o plano de recuperação é fundamental para a sobrevivência do jornal e que pior seria sua entrega ao controle acionário de terceiros. Dois grupos de mídia, o espanhol Prisa e o francês Lagardère, estariam interessados em ampliar sua participação.
A imprensa escrita mundial, de forma geral, passa por uma crise por conta da queda no número de anunciantes e da ascensão dos meios on-line e de jornais de distribuição gratuita.
O plano de recuperação do ‘Monde’ foi anunciado no dia 4, e a greve, decidida por 251 votos a zero, com quatro abstenções. Fottorino argumenta que há sete anos o jornal dá prejuízo. No ano passado ele perdeu US$ 31,6 milhões, o dobro do que em 2006. A dívida acumulada é de US$ 273 milhões.
Além das demissões, às quais se somam as 90 aposentadorias do ano passado, o grupo que edita o jornal quer se desfazer de uma editora, das revistas ‘Cahiers du Cinéma’ e ‘Télérama’ e publicações católicas, todas, em conjunto, deficitárias.
Estrutura peculiar
O ‘Monde’, criado no final de 1944 por um grupo de jornalistas liderado por Hubert Beuve-Mery, a partir do confisco de uma gráfica pertencente a um jornal conivente com a ocupação nazista da França, tem uma estrutura empresarial peculiar.
Seu maior acionista (22%) é a Sociedade dos Redatores, formada pelos próprios jornalistas do grupo. No ano passado ela foi responsável por uma crise, ao se recusar a reeleger para a presidência o veterano jornalista Jean-Marie Colombani. Alain Minc demitiu-se pouco depois da presidência do Conselho de Administração.
Fottorino, 47, que foi diretor de Redação a partir de 1998, assumiu a direção da empresa no início deste ano, com a missão de tornar o jornal lucrativo.
Em sua edição de sábado (ele não circula aos domingos) o jornal anunciou que não circularia ontem. A edição online prosseguiu no ar, mas sem textos da Redação.
Com uma média diária de 354 mil exemplares, o ‘Le Monde’ é lido por estimados 2 milhões de franceses. É tido como um jornal de centro-esquerda, respeitado nos círculos empresariais e acadêmicos.
Mas seus problemas econômicos, com a paralela redução do número de sucursais e correspondentes, tornou-o bem mais dependente das agências de notícias e o fez perder a antiga exclusividade de enfoque na busca de informações.
Com agências internacionais’
IMUNIDADE
Em debate no Rio, Miro defende ‘imunidade’ para jornalistas
‘O deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) defendeu ontem, em um debate no Rio, que os jornalistas não sejam acusados de calúnia, injúria ou difamação no exercício da profissão. Segundo ele, esses são tipos penais que exigem a intenção de praticar o crime, e o jornalista não sai para trabalhar com essa intenção.
Miro disse que sua idéia é fixar, por súmula vinculante, que não cabe a imputação desses crimes a jornalista no exercício da atividade. A súmula é um mecanismo pelo qual os juízes são obrigados a seguir o entendimento adotado pelo Supremo ou por tribunais superiores sobre temas que já tenham jurisprudência consolidada.
O deputado comparou essa ‘imunidade’ a que os jornalistas teriam no exercício da profissão à de advogados, que não podem ser acusados de ofender outro advogado ou uma parte nas discussões relativas a um processo.
Miro argumenta que os jornalistas são quase sempre processados por autoridades, que aproveitam para intimidar. Ele citou as ações dos fiéis da Igreja Universal contra a Folha e ‘O Globo’.’
CASO ISABELLA
Cadeia não é catarse
‘É QUASE impossível não acompanhar o andamento desse trágico assassinato da pequena Isabella.
Todo esse episódio merece algumas reflexões, até porque o Brasil é um país de catástrofes diárias. Infelizmente, estamos vivendo em um círculo de giz imaginário, em que o Estado policial e a exaltação da barbárie cada vez mais alijam os direitos individuais e as garantias constitucionais conseguidas a duras penas.
O medo substitui a segurança jurídica e a cadeia é apresentada como solução fácil para os problemas nacionais. O discurso do direito penal do terror ganha espaço e cada vez mais adeptos. O sigilo do processo é uma arma contra o investigado: divulga-se tudo o que em tese incrimina e amordaça-se a hipótese do exercício pleno do contraditório público e da ampla defesa.
Escrevo na condição de um dos milhões de brasileiros que acompanham o desenrolar da trama sem ter tido acesso a nada dos autos. Muitas são as circunstâncias que merecem ser comentadas.
Em primeiro lugar, a prisão. No Brasil, infelizmente, a prisão temporária, que, necessariamente, só poderia acontecer em situações excepcionais -pois a prisão é sempre uma exceção-, virou a regra. Há uma banalização da prisão. Ouvi o promotor de Justiça dizer na televisão que era necessária a prisão porque Alexandre Nardoni (o pai) e Anna Carolina Jatobá (a madrasta) poderiam voltar para casa e, em tese, ter contato com testemunhas importantes, influenciando-as.
Ora, em tese, todo investigado pode ter contato com testemunha. É necessário, para justificar a prisão, qualquer prisão, sob esse fundamento, que se aponte um fato concreto: no dia tal, às tantas horas, tentou influenciar fulano ou sicrano. Caso contrário, a prisão seria obrigatória.
Imagine se o investigado for um jornalista que tem influência em determinado jornal, ou um político que tem forte poder, ou, pior, um ministro do Supremo Tribunal Federal, que, em tese, detém fortíssima possibilidade de intimidar ou influenciar pessoas. Nesses casos, se investigados, teriam que necessariamente ser presos temporariamente, pois, em tese, teriam o poder evidente de influenciar. Tal paroxismo levou à ingênua, porém, profunda, observação de um jovem de dez anos que ao meu lado viu a prisão do casal pela televisão: ‘Espero que eles sejam culpados, caso contrário, se forem inocentes, essa prisão será a morte para eles’.
Outro fato digno de reflexão é a divulgação que se deu da já famosa cena no supermercado: a família andando em perfeita harmonia passou a ser uma prova da inocência, da impossibilidade de serem, o pai e a madrasta, os responsáveis pela morte.
É de se indagar: tivesse aquela doce criança feito uma travessura, normal naquela idade -tal como puxar o cabelo do irmão ou mesmo abrir na hora errada um iogurte-, e a madrasta, no papel de educadora, chamado-lhe a atenção, até mesmo de dedo em riste, devido ao cansaço ou a uma irritação humanamente compreensível, seria esse vídeo prova de que ela matara a criança? Teria o país inteiro feito como fez uma delegada no momento da prisão e gritado: ‘assassina!’.
São muitas as nuances que nos deixam perplexos. O pai não ligou primeiro para o socorro. Ligou para o pai dele. Tudo devidamente registrado, hora, minuto e segundo. Não é um pedido de socorro ligar para o pai? Será que todas as pessoas que estão vendo e acompanhando esses fatos sabem qual é o número da polícia ou do Corpo de Bombeiros?
Pode-se exigir de alguém que se depara com um filho, ou um irmão, ou algum ente amado em estado grave que siga um ‘manual de instrução sobre como agir em caso de perigo ou morte’?
E a ânsia de apontar contradições entre os depoimentos dos porteiros, vizinhos, amigos? Faço uma provocação: conversem determinado assunto em um grupo de oito pessoas e, daí a uma hora, peça às oito pessoas para descreverem a cena de uma hora atrás: lugar onde cada um sentava, roupa, forma de falar e o que cada um falou. Quase certamente veríamos oito prisões temporárias pelas contradições que se apresentariam.
Não quero com isso diminuir a importância de acompanhar passo a passo o desdobrar de fatos que chocam a todos nós. Mas é necessário que sejamos todos mais humanos, menos julgadores e possamos aprender com o poeta Leão de Formosa nessas horas: ‘Aperfeiçoa-te na arte de escutar, só quem ouviu o rio pode ouvir o mar’.
ANTÔNIO CARLOS DE ALMEIDA CASTRO , 50, o Kakay, é advogado criminalista.’
CAMPANHA
Folha de S. Paulo
Com o apoio do PR, Crivella tem mais tempo na TV
‘Em busca de tempo na TV na propaganda eleitoral, o senador Marcelo Crivella (PRB), pré-candidato à Prefeitura do Rio, ganhou oficialmente o apoio de mais um partido, o PR.
Com isso, o bispo licenciado da Igreja Universal ganha mais um minuto em cada um dos dois blocos diários de meia hora na TV. Sozinho, Crivella teria pouco mais de um minuto. Com as alianças já anunciadas, o pré-candidato deve contar com pouco mais de três minutos.’
DEBATE
Folha e instituto FHC fazem debate sobre TV pública
‘A Folha, em parceria com o iFHC (Instituto Fernando Henrique Cardoso), promove na quinta-feira, dia 17, às 17h, um debate sobre TV pública. O evento será no auditório da Folha (al. Barão de Limeira, 425, 9º andar, Campos Elíseos, São Paulo). Os interessados em participar devem telefonar para (0/xx/11/3224-3473), até quinta, das 14h às 19h, ou mandar um e-mail para eventofolha@folhasp.com.br. As inscrições são gratuitas.’
TODA MÍDIA
Pode ser, pode ser
‘Meio da tarde e era o topo do Google Notícias, que busca sites brasileiros, e manchete da Folha Online (‘pode ser cinco vezes maior que Tupi’) ao Terra (‘pode ser a maior descoberta desde 1987’). Nas buscas de Brasil por Google News e outros em inglês e espanhol, a mesma coisa, ‘pode ser grande descoberta’.
Daí ao ‘Wall Street Journal’, postando que um dos ‘grandes ganhadores’ do dia era a Petrobras, que saltou 8% em Wall Street. Citava, do diretor da agência de petróleo, ‘pode ser a maior descoberta jamais feita no mundo’. Depois, registrou o ‘WSJ’, ‘porta-voz esclareceu que Mr. Lima estava comentando notícias’.
Pode ser, mas então, por Google Notícias, Reuters Brasil etc., o destaque já era que, segundo a Petrobras, ainda faltam ‘dados conclusivos’. E a Comissão de Valores Mobiliários já cobra ‘explicações sobre a divulgação pelo diretor da agência’, Mr. Haroldo Lima.
OPORTUNIDADE
A entrevista de um relator da ONU, o controverso Jean Ziegler, chamando os biocombustíveis de ‘crime contra a humanidade’, foi até manchete do ‘JN’. Mas pouco ecoou, fora.
Por outro lado, o ‘WSJ’ deu que, com a alta do milho usado na produção dos EUA, ‘Demanda por etanol do Brasil pode subir’. É uma ‘janela de oportunidade’ para escoar a safra ‘recorde’ de cana. Segundo o ‘WSJ’, ‘mesmo com a tarifa de importação’, o etanol brasileiro já está mais barato do que o americano.
‘FT’ E OS JUROS
Um dos correspondentes do ‘Financial Times’ postou que o Banco Central pode elevar os juros esta semana, ‘mas há um crescente consenso entre economistas de que o BC está preocupado demais com o aquecimento potencial’. De todo modo, sem reformas, ‘faltam condições para crescimento sólido e duradouro’ e o Brasil ‘deveria se preparar para tempo ruim’.
E ‘O BISPO VERMELHO’
O ‘FT’ também postou sobre a possível eleição de Fernando Lugo no Paraguai. Diz que ‘é inexperiente, tira inspiração da Teologia da Libertação e não deve seguir as políticas de que o país precisa’. Mas ‘sua vitória seria boa para a democracia’, por tirar do poder os colorados após 61 anos. Diz que o Brasil tem um ‘papel importante’, de ‘garantir estabilidade política’.
ATAQUE POR TERRA E AR
A home da Folha Online noticiou, também os telejornais. E repercutiu mundo afora, com destaque só abaixo da Petrobras por Yahoo News e demais, a informação de que ‘Grupo armado ataca prisão brasileira’. Não foi um simples ataque. Abrindo o despacho, ‘homens armados atirando de pick-ups e voando helicóptero atacaram a prisão mais segura do Brasil, mas foram rechaçados’. Entre os presos, Juan Carlos Abadía e Fernandinho Beira-Mar.
INFERNO
O trânsito paulistano foi parar no tablóide ‘The Sun’, de Londres, com descrições como ‘inferno em São Paulo’ e a avaliação de que é ‘prova da infra-estrutura que range’ diante do crescimento maior do Brasil
SOLITÁRIO
No ‘New York Times’, na BBC, nos londrinos ‘Guardian’, ‘Times’ e nos jornais australianos, corre mundo o escândalo das memórias de um escritor de guias turísticos, em que ele diz ter tratado de locais que nem visitou, ao escrever sobre o Brasil’
IRAQUE
EUA libertarão fotógrafo da AP preso há 2 anos
‘O Exército americano anunciou que libertará amanhã Bilal Hussein, fotojornalista da agência Associated Press preso há dois anos sob suspeita de ligação com insurgentes no Iraque. Na semana passada, comissões judiciais iraquianas anistiaram Hussein, que, apesar do longo cárcere, jamais foi a julgamento.
‘Após a ação das comissões iraquianas, nós revisamos as circunstâncias da detenção de Hussein e determinamos que ele já não representa um risco imperativo de segurança’, afirmou o general Douglas Stone, chefe das operações de detenção dos EUA no Iraque. Hussein e a Associated Press negam que o fotojornalista, parte da equipe vencedora do prêmio Pulitzer em 2005, tenha tido contato impróprio com insurgentes.
Outro fotojornalista, o britânico Richard Butler, foi libertado ontem no sul do Iraque. Uma patrulha iraquiana encontrou o cativeiro do funcionário da rede americana CBS, resgatado após troca de tiros com os seqüestradores.
Poucas horas após o resgate, a TV estatal transmitiu imagens de Butler rindo abraçando os seus libertadores, aos quais agradeceu. Nenhum grupo reclamou a autoria do seqüestro, ocorrido há dois meses em Basra.
Com agências internacionais’
CUBA
Cubanos fazem fila pelo primeiro celular
‘Centenas de cubanos fizeram fila ontem em frente a escritórios da companhia estatal de telefonia Etecsa para adquirir um telefone celular. A venda foi autorizada à população pela primeira vez por Raúl Castro, que assumiu o poder em fevereiro após quase 50 anos de regime do irmão, Fidel. Até então, o serviço era restrito a estrangeiros e a alguns funcionários do governo.
Obter uma linha móvel, porém, custa 111 pesos conversíveis (CUC), ou cerca de US$ 120, enquanto a média de salários no país é de US$ 17.
Em frente a uma vitrine com celulares com preços entre 60 e 260 CUCs, Elena, dona-de-casa de 53 anos, contou que compraria um aparelho graças ao dinheiro enviado pela sogra, que mora na Espanha. ‘Não tenho dinheiro, mas minha sogra vai me emprestar’, afirmou.
Segundo dados oficiais, cerca de 60% da população recebe divisas de parentes no exterior.
As linhas disponíveis são pré-pagas. Também poderão ser regularizados e postos em nome próprio os serviços contratados por estrangeiros -cerca de 200 mil cubanos têm hoje conta de celular em nome de terceiros.
Embora um cartão pré-pago de 20 CUCs renda uma ligação de apenas seis minutos aos EUA, muitos querem celular só para receber chamadas ou enviar mensagens de texto. Nos 30 escritórios da Etecsa, os cubanos encontram seis modelos de celular e cartões de até US$ 42,20. Em uma loja, 68 linhas foram vendidas em duas horas.
Desde que assumiu, Raúl tem suspendido restrições, como à venda de computadores, em pequenas concessões a uma emergente classe média. Também anunciou medidas para estimular a produção agrícola, como o arrendamento de terras a produtores privados.
Com agências internacionais’
FUSO
Adriano Ceolin
Lula deve aprovar lei que muda fuso em 3 Estados
‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve sancionar nos próximos dias a lei que reduz de quatro para três o número de fusos horários usados no Brasil. A mudança, prevista em projeto aprovado na semana passada no Senado, atinge 46 municípios da região Norte localizados nos Estados do Acre, Amazonas e Pará.
Com a alteração, todos os 22 municípios do Acre, hoje com com duas horas a menos em relação ao horário oficial de Brasília, terão o fuso adiantado em uma hora -mudança que vai incluir ainda os municípios da parte oeste do Amazonas, na divisa com o território acreano. Desse modo, os Estados do Acre e do Amazonas não terão mais diferença de fuso.
O Pará, que atualmente tem dois fusos horários, passará a ter um único horário.
Em princípio, o projeto apresentado em 2006 pelo senador Tião Viana (PT-AC) não previa mudanças no horário dos municípios paraenses. Contudo, a deputada Elcione Barbalho (PMDB-PA) pediu, e o Estado foi incluído. Com isso, os relógios da parte oeste do Estado serão adiantados em mais uma hora, fazendo com que todo o Pará fique com o mesmo horário de Brasília.
Emissoras
Aprovado no Senado no começo de 2007, o projeto de Viana sofreu pressão das emissoras de televisão ao tramitar pela Câmara. Isso ocorreu, sobretudo, depois que o governo determinou a exibição dos programas em horários de acordo com a classificação indicativa, o que faz com que as emissoras não funcionem em rede. Voltou ao Senado porque foi alterado pelos deputados.
‘O meu projeto é anterior a essa classificação indicativa. Inicialmente, eu só queria que o Estado do Acre ficasse igual ao do Amazonas’, disse Viana. ‘Quando chegou à Câmara, o projeto foi vítima de uma forte pressão das redes de comunicação’, completou.Ontem, o líder do governo Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), confirmou que o presidente Lula vai sancionar o projeto de lei sem alterações.
No entanto, ele reconhece que a questão da classificação indicativa será discutida com o Ministério da Justiça. ‘É uma iniciativa importante. Ajuda a resolver um pouco o problema das grandes das redes de televisão. Mas a questão da classificação indicativa ainda temos de resolver. Amanhã [hoje] eu devo ter uma reunião com o ministro Tarso Genro [Justiça].’
A Abert (Associação Brasileira de Rádio e Televisão) chegou a defender um fuso só para todo o país, quando o projeto foi relatado pela deputada Rebecca Garcia (PP-AM).’
Laura Mattos
Lobby das TVs está por trás da mudança
‘Por trás da mudança de fusos horários do país está o forte lobby das TVs. A medida está relacionada a uma portaria, de 2007, que obrigou as emissoras a respeitar os diferentes fusos.
Isso significa que a novela ‘Duas Caras’, por exemplo, classificada como imprópria a menores de 14 anos e liberada a partir das 21h, não poderia ir ao ar mais cedo nos sete Estados que têm o horário atrasado em relação a Brasília.
As TVs trabalharam para derrubar essa norma e conseguiram prorrogar o seu início, que passou para 7 de abril -foram nove meses de prazo.
Quando perceberam que a obrigatoriedade não iria cair, passaram a atuar para mudar o fuso do país. E queriam mais do que a alteração que se dará agora: tentaram propor que o país inteiro tivesse um único horário. A sugestão foi feita à deputada Rebecca Garcia (PP-AM), dona da Band de Manaus, que não a levou adiante, ao ser alertada sobre os danos que a mudança traria à saúde. Diante disso, o jeito foi agilizar a aprovação da proposta de Viana, que reduz as diferenças de horário e, portanto, as mudanças nas programações locais.
O lobby era tão claro que, na segunda passada, quando a obrigatoriedade de respeito aos fusos entrou em vigor, a Record, questionada pela Folha sobre quais alterações faria, disse aguardar ‘a tramitação do projeto de lei que iguala o fuso horário do Acre ao do Amazonas’. A Globo criou uma programação diferente para os locais com uma hora a menos que Brasília e passou a exibir tudo gravado, com duas horas de atraso, no Acre.’
TELEVISÃO
SBT vai à Justiça para ver contrato de ‘Ídolos’
‘O reality show ‘Ídolos’ virou alvo de guerra judicial. Na semana passada, o SBT entrou com ação contra a FremantleMedia, empresa que detém o formato do programa. Simultaneamente, a Fremantle conseguiu na Justiça impedir que o
SBT usasse a marca ‘novosídolos’, obrigando a emissora a reeditar às pressas o programa de estréia, na última quarta.
Em sua ação, a rede de Silvio Santos pediu à Justiça para ter acesso ao contrato firmado no mês passado entre a Fremantle e a Record. Quer saber o valor que a Record pagará para ter os direitos do reality show.
O SBT exibiu as duas primeiras temporadas de ‘Ídolos’.
Por isso, teria o direito de preferência na renovação de contrato. Se souber o valor pago pela Record, o SBT poderá exercer judicialmente esse direito de preferência, ao oferecer a mesma quantia, e retomar o formato de ‘Ídolos’.
O SBT diz que a Fremantle ignorou faxes e e-mails em que a emissora manifestava interesse em manter ‘Ídolos’. A Fremantle afirma que Silvio Santos abriu mão do programa, que foi, então, negociado com a Record. A rede de Edir Macedo pretende estreá-lo em agosto.
A Folha apurou que a Fremantle prepara uma nova ação contra o SBT por suposta violação do formato de ‘Ídolos’. É que o programa do SBT traz elementos idênticos aos de ‘Ídolos’, como a avaliação dos calouros por quatro jurados.
FALTOU Q 1
Laura Cardoso vai fazer em ‘Desejo Proibido’ o papel da mulher que detém o segredo sobre o filho de Viriato (Lima Duarte) e Cândida (Eva Wilma). Na história de Walther Negrão, Cândida doou o filho sem sequer saber seu sexo.
FALTOU Q 2
Coincidentemente, em ‘Belíssima’, exibida há apenas dois anos, Fernanda Montenegro fez a mesma coisa com Claudia Abreu. O pai também era interpretado por Lima Duarte. E foi a mesma Laura Cardoso quem esclareceu o mistério.
PROVOCAÇÃO
Desde ontem, a Record está se referindo à Globo, em seus comunicados sobre vitórias no Ibope, como emissora Q. Antes, era G. Como se sabe, Q, para a Record, é de ‘queda’.
MENOS Q 1
Ex-diretor do ‘Domingão do Faustão’, o jornalista Alberto Luchetti escreveu ontem, no site ‘Adnews’, artigo em que destrói a propaganda do Q da Globo. Ele aponta redundância na expressão ‘pequeno detalhe’, dita por Marco Nanini.
MENOS Q 2
‘É uma pena que ex-funcionário da TV Globo, quando se refere à emissora, não consiga esconder seu ressentimento gratuito’, respondeu a Central Globo de Comunicação.
REPLAY
Com o caso Isabella, a Globo anda reprisando reportagens em seus telejornais.
DO ALÉM
A Record fundiu na última sexta a série ‘CSI’ ao ‘Falo que Eu Te Escuto’, da Universal.’
Bruna Bittencourt
Rapper procura namorada na TV
‘Flavor Flav ficou conhecido por ecoar as rimas de Chuck D na linha de frente do Public Enemy, notabilizando-se como precursor do ‘hype man’, espécie de backing vocal do rap que, além de repetir as rimas do principal MC, convoca uma resposta do público em suas apresentações.
Mas, com um relógio pendurado no pescoço -que ficaria melhor fixado em uma parede-, Flav sempre foi a parte mais bem-humorada do grupo.
Sem conseguir emplacar um álbum solo, seu humor encontrou espaço na TV. O ‘hype man’ fez sua estréia em ‘A Vida Surrealista’, reality show no qual celebridades dividiam uma mansão. Lá, conheceu a ex-modelo e ex-mulher de Sylvester Stallone, Brigitte Nielsen, com quem surpreendentemente engatou um romance. A relação deu em mais um reality show, ‘Strange Love’ (estranho amor). Mas Nielsen voltou para um ex-namorado, e Flav descolou mais um programa, ‘Flavor of Love – Os Sabores do Amor’, que estréia amanhã no VH1.
Nos moldes de ‘The Bachelor’, Flav pretende encontrar a substituta de Nielsen, entre 20 candidatas que disputarão provas em uma mansão. Faz seu début de fraque rosa-choque, amparado por seu guarda-costas e distribuindo flores. Bom humor nunca faltou a ele. FLAVOR OF LOVE
Quando: estréia amanhã, às 23h
Onde: no VH1′
ALMANAQUE
Década de 90 é revista em almanaque com olhar ‘jovem’
‘Dando seqüência à sua franquia revisionista, a editora Agir lança o ‘Almanaque Anos 90’ hoje, no Rio de Janeiro. A série estreou com um livro dedicado aos anos 80, seguido por outro que retomava a década de 70. A retrospectiva dos anos 90 coube ao jornalista Silvio Essinger, autor de ‘Batidão: Uma História do Funk’ e ‘O Baú do Raul Revirado’ (org.), que chama atenção para o caráter subjetivo da série.
‘Os dois primeiros são almanaques com perspectivas absolutamente diferentes. O dos anos 80 tem claramente a visão de quem foi criança na época’, disse à Folha. ‘O meu recorte é de alguém que foi jovem no período.’
A explosão do mangue beat, do pagode, do axé, a morte de Kurt Cobain. O nascimento da MTV brasileira, o sucesso ‘Twin Peaks’ e ‘Pantanal’ na TV. Os filmes de Tarantino, a retomada do cinema brasileiro; o sucesso de Paulo Coelho e de Carla Perez, a morte de Senna e os gols de Romário. São esses alguns dos destaques.
Há quem acredite que foi uma década perdida. Essinger, evidentemente, discorda: ‘Foi justamente a época em que se teve um salto tecnológico nunca antes visto.
Começamos batendo em máquinas de escrever, ouvindo vinil, e terminamos baixando MP3 no Napster e digitando no Word, com a internet para tirar qualquer dúvida’.
O autor também chama a atenção para o espírito sarcástico do período, alimentado pelo fim das utopias políticas. ‘As pessoas ficaram muito mais cínicas, debochadas. Não é à toa que você tem desenhos como ‘Simpsons’ e ‘South Park’, o que o 11 de Setembro colocou um ponto final, segundo ele. ‘Ali acabou a festa’, afirma.
ALMANAQUE ANOS 90
Autor: Silvio Essinger
Editora: Agir
Quanto: R$ 49,90 (304 págs.)
Lançamento: Saraiva Rio Sul (r. Lauro Müller, 116, 3º piso, 0/xx/21/2543-7002), às 19h30′
INTERNET
Pastorinha do YouTube prega de gloss e saltinho
‘Ela é a única alma feminina em um altar com 15 homens de terno e gravata, 50 anos em média. De vestido floral decotado, saltinho alto e gloss -aquele batom que deixa os lábios molhados-, Ana Carolina Dias, 13, abre a Bíblia e anota palavras na palma da mão enquanto espera ser chamada ao púlpito.
Celebridade no meio evangélico, a menina ganhou fama em 2007, quando foi parar no YouTube um vídeo em que ela, aos sete anos, prega aos berros para uma multidão de fiéis, a quem chama de ‘meirmão’. As imagens foram remixadas por um DJ e transformada no ‘Funk da Menina Pastora’, que concorreu na categoria web hits, do VMB, da MTV, com ‘Vai Tomá no C…’ e Eduardo Suplicy cantando rap no Congresso.
De lá para cá, a pastorinha divide a vida entre pregações em favelas, hospitais e presídios do Rio, onde mora, e igrejas de todo o Brasil e até do exterior -já esteve nos EUA e na Alemanha.
No último domingo, após ser anunciada com pompa pelo pastor local, passou duas horas no comando de um culto na Catedral das Assembléias de Deus de Limeira (151 km de São Paulo), para onde viajou de ônibus, acompanhada do pai e da mãe.
Com o microfone na mão, Ana Carolina se transforma. Um metro e meio de altura, cabelos abaixo da cintura, não chama mais os fiéis de ‘meirmão’ e sim de ‘querido’, mantendo o carioquês em alto (muito alto) e bom som. ‘Quando pensar em desistir, querido, lembre que Deus sofreu muito por você’; ‘Vai dando glória, querido, alto, vai abrindo a boca e glorificando, querido’. E olha para o controlador de som o tempo todo: ‘Agora sobe o som, querido [faz sinal com a mão para cima]’; ‘A faixa três do branquinho, querido, isso’.
Em poucos minutos, está descalça. Desafinada, canta hinos com os olhos fechados voltados para cima e o dedo indicador apontado para o teto, no caso, o céu. Lê um trecho sobre Abraão na Bíblia, que carrega em uma bolsinha de alça preta com brilho, e interpreta a passagem: ‘Depressão não pega em crente? Pega, querido. E não vai curar com remédio ou psicanalista [agora berrando] Quem vai preencher esse vazio se encontra hoje aqui. É Jesus!’
Não veeendo, não trooco!
Seu pai, pastor Ezequiel, 50, funciona como um assistente. Enquanto Ana Carolina sai em meio aos fiéis para abençoar alguns escolhidos por ela (‘por Deus’), ele canta no altar. Na platéia, a garota coloca as mãos na cabeça e no peito de alguns homens e mulheres, que choram. De volta ao altar, o culto está no fim, e ela se posta ao lado do púlpito, onde apóia o cotovelo. ‘Levanta as mãos… Não, vâmo provocar o satanás!’, provoca, para euforia dos fiéis, que repetem várias vezes. ‘Satanás, minha bênção eu não dooou, não veeendo e não trooco!’
O pastor local agradece Ana Carolina, diz que os fiéis têm que comprar não um, mas três CDs dela, à venda na porta da igreja (um por R$ 15, dois por R$ 25, três por R$ 30). Enquanto autografa pôsteres, Ana Carolina conversa com a Folha. Fala que só gosta de música de igreja, navega pouco na internet e nunca teve namorado (‘É cedo, preciso estudar’) e admite, rindo, ser ‘B.V.’, gíria adolescente para ‘boca virgem’, ou seja, nunca beijou na boca. ‘Tu tá por dentro, hein!’, comenta.
Sobre o funk que a celebrizou, é sincera: ‘Não é minha praia, mas confesso que foi interessante’. Destaca o novo filme de Walter Salles, para o qual cedeu imagens suas em ação, e lista veículos que a entrevistaram, entre eles, TVs de Portugal, Itália e Inglaterra.
E se pintasse convite para a ilha de ‘Caras’? ‘Se for de Deus, a gente vai’, diz o pai. ‘Bora’, concorda a pastorinha.’
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O Estado de S. Paulo
Terça-feira, 15 de abril de 2008
PROFISSÃO PERIGO
Dois jornalistas são libertados no Iraque
‘Foram soltos ontem no Iraque um jornalista britânico seqüestrado havia dois meses e outro iraquiano, que os EUA mantinham detido desde 2006 por suspeita de ajudar insurgentes. Em Basra, militares iraquianos resgataram o britânico Richard Butler, da TV americana CBS. Em Bagdá, uma decisão judicial forçou os EUA a libertar o fotógrafo Bilal Hussein, da agência AP.’
TELEVISÃO
Nada de polêmicas
‘Nada de eutanásia, suicídio, gays … Ciranda de Pedra, novela das 6 da Globo, que estréia no dia 5, eliminou do seu texto original todo e qualquer assunto polêmico que possa comprometer a emissora com a classificação indicativa, e a audiência, claro.
Baseada na obra homônima de Lygia Fagundes Telles, Ciranda de Pedra, de Alcides Nogueira, teve muitos dos destinos de seus personagens modificados para que pudesse ir ao ar. A personagem de Ana Paula Arósio (Laura), por exemplo, no original morreria de eutanásia praticada pelo médico Daniel (Marcello Antony). Se Laura morrer na trama (o que não é certeza ainda ), será de tristeza. Já Antony, que no livro pratica suicídio , não irá morrer na novela.
A personagem Letícia, de Paola Oliveira, lésbica na obra original, será heterossexual na trama. Outro que perdeu a polêmica é Conrado (Max Fercondini). O personagem não será impotente sexual, como previsto.
Segundo Alcides Nogueira, as mudanças foram necessárias para deixar o folhetim ‘mais leve’ e ‘adequado ao horário’. O autor conta que conversou muito com Lygia Fagundes Telles antes de fazer as alterações.’
Ariel Palacios
Depois do Brasil, ‘Os Simpsons’ provocam os argentinos
‘Juan Domingo Perón, general e ex-presidente argentino, continua sendo centro de polêmicas mesmo após 34 anos de sua morte. O fundador do peronismo, partido atualmente no poder, foi alvo de piadas na série americana de desenhos animados Os Simpsons. Num episódio da 19ª temporada da série – que ainda não foi transmitida na Argentina -, Perón é caracterizado como um ‘ditador que fazia desaparecer pessoas’.
A brincadeira não agradou aos peronistas. O deputado Lorenzo Pepe, secretário-geral do Instituto Nacional Juan Domingo Perón, pediu ao Comfer, organismo que fiscaliza o conteúdo das emissoras de TV e rádio no país, que proíba a transmissão do episódio. Pepe argumentou que as brincadeiras com Perón causariam ‘danos à sociedade’, que seria ‘envenenada’.
Na série, dois dos personagens, Carl Carlson e Lenny Leonard, conversam sobre a eventual abolição da democracia. Lenny diz que gostaria de uma ‘ditadura como a de Juan Perón, que, quando ele fazia você desaparecer, você ficava desaparecido’. Carl arremata, afirmando que o ex-presidente argentino era casado com Madonna, confundindo Eva Perón com a cantora, que interpretou o papel da mulher de Perón na versão cinematográfica do musical Evita.
Perón, presidente entre 1946 e 1955 e, depois, entre 1973 e 1974 – quando morreu -, governou o país com mão de ferro. Ele censurou jornais e recebeu criminosos nazistas após o fim da 2ª Guerra. No entanto, mesmo os historiadores críticos de seu governo não o caracterizam como ditador, mas como autoritário, populista ou caudilho.
O seriado também causou polêmica no Brasil, quando, em 2002, mostrou a família Simpson sendo assaltada nas ruas do Rio, entre outras cenas que irritaram os brasileiros. Em abril, a emissora venezuelana Televén suspendeu a transmissão de Os Simpsons, após considerar que o seriado ‘não era apropriado’ para crianças. Em seu lugar, entrou a pouco infantil série Baywatch.’
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